Falso debate

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Brian Cox deu uma palestra na Sociedade de Biologia, sobre alterações climáticas, mas que poderia ser alargada a qualquer assunto científico onde existem conceções erradas sobre a natureza da ciência.

Cox afirma que a ciência é probabilística. E isso é que nos dá as certezas que precisamos para construirmos o mundo moderno que vemos à nossa volta.

Assim, quando os cientistas discutem determinados detalhes de um assunto científico, e têm visões opostas, isso não quer dizer que na opinião pública possam existir dois pontos de vista diferentes.
Esta passagem da discussão científica para o público em geral leva a várias conceções erradas da ciência, que depois são exploradas pelos hipócritas que gostam de denegrir a ciência enquanto a utilizam.

Na verdade, quando dois cientistas, ou duas pessoas com bastante conhecimento do assunto em causa, discutem detalhes precisos (valores precisos) de uma determinada característica de um assunto científico isso quer dizer que concordam em praticamente todos os pontos desse assunto. A única discordância pode ser somente no valor preciso de um determinado fator. Nada mais.
Isso não deve ser interpretado na opinião pública como o assunto estar, na sua generalidade, a ser debatido pelos cientistas, como se não existissem certezas sobre ele.

Cox dá o exemplo do LHC, que se dizia que ia criar um buraco negro que ia engolir o planeta. Obviamente, havia discussão nos círculos científicos da consequência exata da experiência, porque sem a fazer não é possível saber que novas partículas, por exemplo, podem sair da colisão a altíssimas velocidades das partículas. Existem previsões, mas é preciso saber se elas estão corretas ou não, fazendo a experiência. Mas podia-se saber com uma certeza de mais de 95% que nada de mal iria acontecer. Popularmente, isto quer dizer que os cientistas tinham certeza que não iria acontecer nada de mal, mas que discutiam pequenos detalhes sobre algumas das consequências (que não nos afetavam minimamente).
Claro que os vigaristas aproveitaram a discussão entre cientistas sobre pequenos detalhes, para imediatamente dizerem que o mundo ia acabar. Mas isso é obviamente uma vigarice, porque os cientistas nunca disseram isso, e tinham a certeza do contrário.

Para Cox, o mesmo se passa na problemática das alterações climáticas.
Todos os cientistas e toda a ciência dizem que as alterações climáticas são reais. E todos os dados nos mostram que o planeta está, no seu todo, a aquecer.
As únicas discussões existentes são sobre detalhes concretos desse assunto (que explanei aqui e aqui), e que não colocam em causa as conclusões no seu todo.
Por exemplo, não se saber o valor exato da contribuição do Homem, não coloca em causa que o Homem influencia o aquecimento global nem coloca em causa a existência desse mesmo aquecimento global.
No entanto, existem pessoas que, por motivos ideológicos, políticos ou económicos, subvertem as conclusões científicas, de modo a enganar a população com a ideia de que existe um debate na ciência sobre as conclusões das alterações climáticas, quando a verdade é que esse debate não existe!

Cox considera que estas interpretações fruto de agendas pessoais são muito perigosas para a ciência, porque promovem a ideia que os factos científicos estão dependentes de debates políticos!
Isto obviamente enfraquece a ciência como uma fonte credível.

Promover a ideia, falsa, de que existe um debate, onde na verdade existe um consenso científico, enfraquece a ciência.
Quando o conhecimento é visto na população como algo controverso/problemático, é sinal que estamos a voltar aos tempos da idade das trevas…

Por fim, deixo as palavras de Brian Cox:

“I always regret it when knowledge becomes controversial. It’s clearly a bad thing, for knowledge to be controversial. We can trace back through history the times when knowledge was considered to be controversial. And that’s what we are actually saying when we talk about climate change. We’re saying that there’s something inherently problematic with knowledge.”

“Don’t undermine the science just because you don’t like the economics. That’s a dangerous slope, because the problem of course is you’re not undermining just that, you’re undermining the basis of rational decision-making in society.”

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