Incrível foto de dinossauros reais vivos!

O título deste post está correto, e não se trata de nenhuma armação. Eu irei de fato mostrar fotos de dinossauros reais vivos. Você, contudo, já supõe que irá se decepcionar, e isso é inevitável: as espécies de dinossauros que você esperava ver devem estar todas extintas há mais de 63 milhões de anos. As espécies que eu mostrarei costumam ser bem menores e, pelo facto de uma de suas características ser a capacidade de voar (mesmo aquelas que não voam descendem de ancestrais voadores), elas são muito mais leves e menos corpulentas. Bem, vamos à foto:

Dinossauros que aparecem diariamente em meu jardim.

Dinossauros que aparecem diariamente em meu jardim.

Certo, essa foto não tem nada de “incrível”, é só uma foto que tirei em um dia quente da panela com água que ponho para os passarinhos. Então, onde está a incrível foto de um dinossauro real vivo?

Aves são dinossauros. A maioria das pessoas que estuda biologia sabe disso mas, curiosamente, é um conceito que nós mesmos não costumamos utilizar.

A questão toda é relativamente simples. O problema todo, aqui, vem do facto de que somos capazes de compreender adequadamente as regras da sistemática filogenética, somos capazes de interpretar adequadamente as informações que um cladograma nos fornece e, felizmente ao meu ver, cada vez mais estudantes do ensino médio (ou mesmo do fundamental!) são apresentados aos cladogramas e ao inestimável serviço que eles fazem para mudar a concepção ultrapassada de evolução, nomeadamente a scala naturae, que ainda persiste.

Acontece que, em situações bem específicas, aparentemente não conseguimos aplicar os conceitos básicos da sistemática filogenética. Vamos começar pelo cladograma abaixo:

clado1

Num cladograma, os nós determinam os grupos monofiléticos que podemos formar. Além disso, as apomorfias presentes em cada nó (ou, para ser mais correto, entre um nó e outro, ou seja, num ramo) são excelentes para denominarmos o grupo monofilético em questão. No cladograma acima, por exemplo, todos os organismos que estão acima de “tetrapoda” têm quatro patas (os que não tem perderam-nas secundariamente…). Logo, chamamos de tetrápodos todos os organismos desse nó em diante, o que constitui um grupo monofilético. Do mesmo modo, todos os organismos que estão acima de “amniota” têm âmnion, e o grupo monofilético é chamado de amniota, ou em português, os amniotas… E assim por diante.

Agora, observe o dendrograma (que não é tecnicamente um cladograma) abaixo:

Filogenia dos dinossauros

Filogenia dos dinossauros

Procure pelas aves. Elas estão lá, representadas por uma águia (“tawny eagle”), bem em meio aos demais dinossauros. Esse dendrograma possui uma raiz, a esquerda. Daquele nó em diante, todos os organismos são dinossauros. A coisa fica mais clara nesse cladograma, bem mais técnico:

clado3

Perceba que de “archosaurs” para cima, todos os organismos são “arcossauros”. Do mesmo modo, de “dinosaurs” para cima, todos os organismos são “dinossauros”. Dinosauria é um grupo monofilético, e inclui esses bichos com penas que chamamos aves. Se excluirmos as aves de Dinosauria, o grupo fica merofilético (parafilético), do mesmo modo que Reptilia, Pisces, Invertebrata… O texto do site onde retirei essa imagem (da Universidade de Berkeley), por sinal, é bem interessante:

Archosaurs are a group of specialized reptiles which ruled the Earth during the Age of Dinosaurs. The only archosaurs that survive today are crocodiles and birds. Birds are the only group of dinosaurs that survived the extinction at the end of the Cretaceous period, 65 million years ago. Your holiday turkey is a saurischian dinosaur, like Apatosaurus, Tyrannosaurus, and Velociraptor.

Não há dificuldade alguma em dizer que as aves são dinossauros. Aliás, dada sua diversidade, seria de se espantar que nenhum grupo de dinossauros tivesse sobrevivido à crise cretáceo-terciário. As aves são dinossauros, e devemos tornar vulgar (comum) esse conceito, para que possamos compreender mais adequadamente as filogenias, não só na faculdade, mas também no ensino médio. Estou lendo o excelente “The ancestor’s tale”, de Dawkins (o título em português é tão ridículo e tão claramente uma jogada de marketing que me recuso a usá-lo), muito criativo e interessante, uma ótima leitura; porém, lá pelas tantas, ele vem com um infeliz “[…] que floresceram no paleoceno, logo após a extinção dos dinossauros.”… Mmmm, bola fora.

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