“Baby Boom” em Galáxia Vizinha

Um artigo publicado no número da revista Nature de 19 de Março por uma equipa multinacional de astrónomos descreve observações realizadas em comprimentos de onda sub-milimétricos da galáxia NGC5253, a cerca de 12 milhões de anos-luz, na vizinhança imediata do Grupo Local. A galáxia pertence a uma classe denominada de Anãs Azuis Compactas (Blue Compact Dwarf) — pequenas galáxias com regiões de formação estelar extremamente activas mas comparativamente pobres em elementos mais pesados do que o hidrogénio e o hélio. Os cientistas pensam que as nuvens moleculares (a partir das quais se formam novas estrelas) de NGC 5253 são muito semelhantes às que terão formado as primeiras gerações de estrelas do Universo e, em particular, da Via Láctea. Este facto torna o seu estudo importante para melhor entendermos essas estrelas primordiais.

A galáxia NGC5253 fotografada pelo Telescópio Espacial Hubble. A cor azul intensa do seu núcleo é devida à enorme abundância de estrelas muito jovens, quentes, maciças e luminosas. Os filamentos negros são formados por poeira interestelar. Crédito: ESA/Hubble & NASA, N. Sulzenauer.

A galáxia NGC5253 fotografada pelo Telescópio Espacial Hubble. A cor azul intensa do seu núcleo é devida à enorme abundância de estrelas muito jovens, quentes, maciças e luminosas. Os filamentos negros são formados por poeira interestelar. Crédito: ESA/Hubble & NASA, N. Sulzenauer.

A equipa realizou as observações com o Submillimeter Array, situado no topo do Mauna Kea, no Hawaii. Como o nome indica, este instrumento observa o céu em comprimentos de onda sub-milimétricos e é capaz de espiar directamente o interior das nuvens moleculares. Numa das várias nuvens moleculares de NGC5253, designada por “Nuvem D”, os astrónomos detectaram um enxame com mais de 1 milhão de estrelas muito jovens, ainda dentro do seu berçário. É o mais espectacular enxame de entre as centenas que existem na galáxia. Apesar de ser mil milhões de vezes mais luminoso do que o Sol, não é observável em luz visível pois está imerso numa nuvem de plasma a temperaturas muito elevadas e encoberto por um enorme casulo de poeira interestelar. De facto, os astrónomos ficaram espantados com a quantidade de poeira que rodeia o enxame, estimando a quantidade de carbono e oxigénio, dois dos constituintes fundamentais das partículas de poeira, em 15 mil massas solares!

A região central da galáxia NGC5253 observada pelo Hubble (azul e branco) e pelo Submillimeter Array (vermelho a amarelo). As manchas brancas são enxames de estrelas jovens. As manchas vermelhas são nuvens moleculares, a mais brilhante das quais, ligeiramente acima e à esquerda do centro, é a “Nuvem D”. Crédito: Jean Turner.

A região central da galáxia NGC5253 observada pelo Hubble (azul e branco) e pelo Submillimeter Array (vermelho a amarelo). As manchas brancas são enxames de estrelas jovens. As manchas vermelhas são nuvens moleculares, a mais brilhante das quais, ligeiramente acima e à esquerda do centro, é a “Nuvem D”. Crédito: Jean Turner.

O enxame é um objecto espantoso. Estima-se que contenha cerca de 7 mil estrelas de tipo espectral O, as mais maciças, quentes e luminosas de todas as estrelas. Com apenas 3 milhões de anos, é extremamente jovem, em termos astronómicos, naturalmente. À medida que as estrelas mais maciças do enxame forem explodindo como supernovas, a “Nuvem D” será gradualmente destruída pela radiação libertada por estes eventos e pelas respectivas ondas de choque. No entanto, tendo em conta as centenas de milhares de outras estrelas menos maciças do enxame, a equipa estima que este poderá manter-se coeso por pelo menos mais mil milhões de anos.

A Via Láctea tem também nuvens moleculares gigantes, mas nenhuma é comparável à “Nuvem D”, com o seu super-enxame central. A diferença parece estar na eficiência de formação de novas estrelas pelas nuvens. Na Via Láctea as nuvens moleculares transformam, em média, apenas 5% do seu material em novas estrelas. Na NGC 5253, especificamente na “Nuvem D”, e por razões ainda não completamente compreendidas, essa eficiência é de pelo menos 50%! Quando era mais jovem, a Via Láctea era certamente mais eficiente a formar estrelas. A existência de centenas de enxames globulares, gigantes com centenas de milhares de estrelas, é prova disso. Formaram-se a partir de nuvens moleculares que teriam de ter tido eficiências semelhantes às observadas na “Nuvem D” em NGC5253. De facto, o super-enxame da “Nuvem D” é uma janela para o passado, permitindo observar a génese de algo muito semelhante a um enxame globular. O estudo de galáxias como a NGC5253 pode ajudar-nos a perceber o porquê da Via Láctea não produzir enxames gigantes como estes há milhares de milhões de anos.

(Fonte: University of California, Los Angeles)

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