Vai uma banhoca em Ganimedes?

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O principal satélite do maior planeta do Sistema Solar tem um oceano salgado sob o espesso manto de gelo.

Oceano salgado. Lembra-vos alguma coisa?

Uma pequena braçada para um homem, uma braçada gigantesca para a Humanidade. Passe o exagero, é uma descoberta importante. Ou melhor: é uma importante confirmação de importantes suspeitas anteriores.

E onde foi feita essa descoberta? A 628 milhões de quilómetros de distância de Ganimedes, usando o telescópio espacial Hubble para monitorizar a atividade das auroras – estreitas faixas de luz nos polos criadas pelo campo magnético da lua. 620 milhões de quilómetros de distância! A Ciência é tramada.

Por falar em coisas tramadas: o Sistema Solar está mais encharcado do que pensávamos. Luís Lopes, professor no departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e astrónomo amador há 25 anos, descreve no AstroPT outra descoberta de duas equipas de cientistas: a partir de dados da sonda Cassini, deduziu-se a existência de fontes hidrotermais em Encélado, uma das luas do senhor dos anéis.

Estas fontes são semelhantes às que se observam no fundo dos oceanos da Terra. No caso de Encélado, estão no fundo de um oceano interior com 10 quilómetros de profundidade.

Sob a crosta de gelo de Ganimedes, os números ainda são mais impressionantes: calcula-se que o oceano terá 100 quilómetros de profundidade, ou seja, há mais água ali do que em todos os oceanos da Terra, combinados.

Júpiter e Ganimedes

Júpiter e Ganimedes

É tudo uma questão de swing

As auroras de Ganimedes são influenciadas pelo campo magnético de Júpiter, dada a sua proximidade. Quando há mudanças no campo do gigante gasoso, essas mudanças refletem-se no campo magnético da sua lua. É uma espécie de dança magnética: o satélite acompanha os movimentos de Júpiter.

Mas Ganimedes afinal também sabe dar uns passinhos de dança por conta própria.

Joachim Saur – geofísico e chefe da equipa responsável pela descoberta, andava a magicar uma forma de usar um telescópio para «ver» o interior de um corpo planetário.

Quando finalmente teve a ideia não gritou «eureka!», exclamou «Aurora!»

Como as auroras são controladas pelo campo magnético, é possível – caso as observemos de forma apropriada – aprender umas quantas coisas sobre o respetivo campo magnético. E se soubermos umas coisas sobre o campo magnético, ficamos a saber umas coisas sobre o interior da Lua.

Com o Hubble, os investigadores foram capazes de observar apropriadamente as duas auroras. Dado que nesta dança de auroras a de Ganimedes não balançava tanto como seria de esperar, os cientistas inferiram que o amortecimento se devia à presença de um oceano subterrâneo.

Representação artística de auroras em Ganímedes, com o gigante Júpiter à distância. Crédito: NASA, ESA e G. Bacon (STScI).

Representação artística de auroras em Ganímedes, com o gigante Júpiter à distância. Crédito: NASA, ESA e G. Bacon (STScI).

Ganimedes for the win! Sempre falámos mais de Europa e do seu oceano subterrâneo, mas há muito que os cientistas suspeitavam da existência de um oceano de água líquida sob a superfície gelada deste satélite – a medição do campo magnético feita em 2002 pela sonda Galileu já tinha fornecido dados suficientes para corroborar essa suspeita. Acontece que o trabalho da equipa de Joachim Saur é muito relevante porque contribui com dados ainda mais convincentes.

E depois temos ainda as implicações disto tudo: usando o que aprendemos com o Hubble, podemos partir para a caça de auroras em exoplanetas e identificar aqueles que potencialmente são ricos em água.

Se Ganimedes se comportasse como o Sheldon Cooper do «The Big Bang Theory», estava agora a entrar triunfalmente na sala das potenciais descobertas de vida extraterrestre, aproximando-se do lugar VIP no pequeno sofá reservado aos oceanos mais promissores do Sistema Solar e apontando um dedo autoritário à lua Europa: «This is my spot!»

4 comentários

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  1. Poderia Calisto também ter oceanos? Pois das luas descobertas por Galileu ela é a mais afastada, e seria a melhor opção para daqui alguns séculos o ser humano obter uma base,já que o seu nível de radiação é baixíssimo em comparação as outras 3 luas.

    Abraços e parabéns pelo conteúdo do site, simplesmente espetacular !!

    1. Por ser a mais afastada, também é a que sofre menos influências gravitacionais ao ponto de poder gerar oceanos interiores 🙂

      abraços

  2. Então a lista de astros com possíveis mares interiores passa a ser.

    Ganimedes, Europa, Plutão, Encelado
    esqueci algum?

  1. […] Conta o livro que na década de 80 um astrónomo da NASA ao serviço do SETI (cujo nome não se pode mencionar, claro) testemunhou um contacto direto com alienígenas estacionados numa das luas de Júpiter: Ganimedes. […]

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