A Teoria de Tudo

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The Theory of Everything é um filme biopic (filme e biografia) sobre a vida do famoso físico Stephen Hawking.
O filme centra-se na sua relação com a primeira esposa, Jane Wilde, nas fases iniciais da sua doença esclerose lateral amiotrófica (ALS), e no seu sucesso na área da Física.

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Pouco se esperava de Stephen Hawking, um desastrado e brilhante estudante de cosmologia, ao qual foi dado somente dois anos de vida após se ter diagnosticado uma doença fatal quando tinha 21 anos de idade (esclerose lateral amiotrófica é uma doença degenerativa que paralisa gradualmente os músculos, sem afetar o cérebro). No entanto, o amor de uma estudante de arte, em Cambridge, Jane Wilde, fez com que ele continuasse a acreditar, e tornou-se num marido, pai de 3 filhos, e quiçá o sucessor de Albert Einstein. No entanto, enquanto o seu corpo definhava, a sua relação conjugal era constantemente desafiada pela presença de médicos e enfermeiras, e o casamento terminou.

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A relação entre Stephen e Jane é bastante curiosa…
Stephen é ateu, cientista, muito racional, aparentemente adulto responsável, doente, e aparentemente alheio às frustrações de Jane.
Jane é católica fervorosa, estudante de arte, sentimental, com espírito juvenil e livre, saudável, e ciente das dificuldades mentais que Stephen estava a passar quando soube do diagnóstico terminal.
Os extremos atraem-se…

Pelos vistos, esta foi uma equação romântica que teve uma solução temporária…

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Vi o filme há várias semanas atrás, como penso que a maioria dos nossos leitores terá visto.
O que realço do filme?

Na minha opinião, foi muito mal atribuído o Óscar de melhor filme: deveria ter ido para Boyhood.
O Óscar de melhor atriz para Julianne Moore, por Still Alice, uma doente com Alzheimer, foi muito bem atribuído.
E o outro Óscar excelentemente atribuído foi a Eddie Redmayne, pelo seu papel de Stephen Hawking. O ator está brilhante neste filme!

Adorei as imagens finais, com o tempo a voltar atrás… como se fosse Hawking atrás do seu Big Bang (a cosmologia é um “olhar para trás no tempo”).

Adorei a Sala de Rutherford. Percebe-se que o jovem Hawking sentiu o peso da ciência ao entrar nessa sala. Foi um momento simbólico… pesado.

Adorei a parte da tese de doutoramento dele ser excelente, mas não perfeita.
Porque adorei? Porque é sempre a verdade.
Popularmente, pensa-se que as coisas têm que ser perfeitas, mas se estivermos à espera da perfeição, nunca se faz nada.

Adorei ele ter andado “perdido” durante algum tempo, sem saber sobre que iria ser o doutoramento.
E depois a ideia para a investigação de doutoramento ter chegado enquanto assistia a uma normal palestra de Roger Penrose.
Novamente, isto são situações que acontecem regularmente, apesar de não haver essa perceção por parte das pessoas fora da academia.

Adorei a parte de Hawking ter pensado na, agora conhecida, Radiação de Hawking, ao olhar para uma lareira. Apesar de não ter acontecido desta forma, aceito a interpretação poética…

Achei bastante interessante a mudança de voz de Hawking, de um ponto de vista social e psicológico.
Ele passou a ter uma voz com sotaque americano, o que não é bem visto por quem o conhecia.
Além disso, passou a ter uma voz robótica. Aliás, percebeu-se que faltava bastante sentimento à voz, sobretudo quando falava com a mulher.
Deu-me a ideia também que a mudança de voz, levou a uma perda da identidade passada…

Uma piada maldosa: quando Hawking tem o problema médico enquanto estava na ópera, o meu espírito maléfico fez-me imediatamente pensar em mensagens subliminares: será que o filme está a querer dizer que ópera faz mal à saúde?

Como já referi, existe uma enorme dicotomia entre Stephen e Jane, no que toca à religião.
E isto levou a algumas conversas interessantes.
Exemplo: quando Jane pergunta “O que é Cosmologia?”, Stephen responde que “Cosmologia é religião para ateus inteligentes”.
Noutra altura, Jane brinca que Stephen quer exterminar Deus, mas ele explica que a Física não depende de se acreditar em algo (os resultados são objetivos e não dependentes se a pessoa acredita em X ou Y).
Ainda noutra ocasião, Jane pergunta a Hawking se haverá hipótese de alguma vez ele deixar de ser ateu, ao que Hawking responde que tem um problema com a premissa de um ditador celestial.

Há um enorme erro no filme: durante a palestra de Roger Penrose, ele está a falar de diferentes tipos de estrelas, que quanto mais massa tiverem, o seu final será diferente. Para exemplificar, ele fala numa estrela 3 vezes maior que o Sol. Nem devia utilizar o “3 vezes”, já que está errado para se tornar uma estrela de neutrões, mas sobretudo o maior erro é falar de tamanho (size), quando devia falar de massa.

Por fim, achei que o filme foi demasiado “limpo”.
Falta o apontar culpas, a frustração de Jane (pessoal, sexual, intelectual), as enormes discussões que na realidade existiram entre eles e não só… enfim, faltou o drama.
Passaram uma imagem demasiado “limpa”, demasiado boazinha, demasiado tolerante, que me frustrou imenso durante o filme. E não fui só eu que fiquei com essa impressão. Leiam os textos de L.V. Anderson, Ignatiy Vishnevetsky, e Marco Santos.

Mesmo assim, gostei bastante do filme!

1 comentário

1 ping

  1. Seguramente, óperas não fazem mal à saúde…

    😀

  1. […] Imitation Game, tal como a Teoria de Tudo, é um filme biopic (filme e biografia), desta vez sobre Alan Mathison […]

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