Descoberto Jovem Júpiter em Torno de Estrela Visível a Olho Nu

A estrela 51 da constelação do Erídano (51 Eridani), o rio celeste, pode ser encontrada junto ao pé de Orionte, o caçador, assinalado por Rigel. Tem uma magnitude visual de 5, o que quer dizer que é visível a olho nu, mas apenas a partir de um local com um céu escuro. Situada a uma distância de 96 anos-luz, a estrela é um pouco mais brilhante (500%), quente (25%) e maciça (50%) do que o Sol. No jargão astronómico diz-se que é uma anã de tipo espectral F0 (“F-zero”). Estudos recentes mostram que a estrela pertence a um agrupamento designado por “Beta Pictoris Moving Group”, um conjunto de estrelas que nasceram juntas e que, por isso, se movem pelo espaço com trajectórias semelhantes, e que irão dispersar-se pela galáxia ao fim de dezenas ou centenas de milhões de anos. As estrelas neste grupo são todas muito jovens, com apenas 25 milhões de anos de idade, pelo que a 51 Eridani, sabemo-lo hoje, é tão jovem que ainda não começou a fusão estável do hidrogénio em hélio no seu núcleo. Encontra-se ainda na fase final de contracção, uma espécie de infância, antes de passar os 3 mil milhões de anos da sua juventude a converter hidrogénio em hélio.

Ao longe, a uma distância de pelo menos 2 mil unidades astronómicas os astrónomos descobriram uma anã vermelha designada por GJ 3305 (Gliese-Jahreiß 3305) que se desloca com a 51 Eridani pelo espaço e o par forma provavelmente um sistema binário com um período de dezenas de milhares de anos. As anãs vermelhas, em especial as mais jovens como a GJ 3305, são muito temperamentais e têm uma actividade magnética notável devido à elevada velocidade de rotação (por serem jovens) e à convecção global do plasma no seu interior.

A localização da estrela 51 Eridani, junto ao pé de Orionte e ao início do rio Erídano. Esta região do céu é visível a partir do Verão, de madrugada, aparecendo progressivamente mais cedo ao longo do Outono. No Inverno é visível para Sul logo ao anoitecer. Imagem criada pelo autor com o software Stellarium.

A localização da estrela 51 Eridani, junto ao pé de Orionte e ao início do rio Erídano. Esta região do céu é visível a partir do Verão, de madrugada, aparecendo progressivamente mais cedo ao longo do Outono. No Inverno é visível para Sul logo ao anoitecer. Imagem criada pelo autor com o software Stellarium.

Como se o sistema não tivesse já tantos pontos de interesse, em Dezembro de 2014 uma equipa de astrónomos que usavam o Gemini Planet Imager (GPI) no telescópio Gemini Sul, no Chile, descobriram um planeta em torno da estrela principal, o mais pequeno detectado directamente até à data. A descoberta foi anunciada no dia 24 de Junho na conferência “In the Spirit of Lyot” que teve lugar em Montreal, Canada. [Nota: Bernard Ferdinand Lyot foi um astrónomo francês, inventor do coronógrafo e de outros instrumentos utilizados para observar objectos débeis junto a fontes de luz intensas; os astrónomos que procuram planetas (objectos débeis) em torno de outras estrelas (fontes de luz intensas) têm de inventar instrumentos para fazer algo semelhante.]

Foto da apresentação de Bruce Macintosh, da Universidade de Stanford, investigador principal do GPI, descrevendo a descoberta do 51 Eridani b. Crédito: Jackie Faherty.

Foto da apresentação de Bruce Macintosh, da Universidade de Stanford, investigador principal do GPI, descrevendo a descoberta do 51 Eridani b. Crédito: Jackie Faherty.

De acordo com a equipa, o novo planeta, designado por 51 Eridani b, é 2 vezes mais maciço do que Júpiter e está 2.5 vezes mais distante da estrela hospedeira do que Júpiter em relação ao Sol. Apesar disso, é muito mais quente do que o gigante do Sistema Solar. Júpiter, cujo topo da atmosfera está a uns -145 ºC, teve já 4.5 mil milhões de anos para dissipar o calor proveniente da sua formação. O 51 Eridani b, com apenas 25 milhões de anos, ainda está em formação e o topo da atmosfera, com nuvens de metano, atinge os 400 ºC! O planeta brilha, por isso, intensamente no infravermelho, possibilitando a sua detecção a uma distância de quase 100 anos-luz. O artigo onde está descrita esta descoberta será publicado num número futuro da revista Science, motivo pelo qual há ainda poucos detalhes adicionais e imagens oficiais.

(Fonte: Scientific American)

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