Plutão tem céus azuis, solo vermelho e superfície de gelo de água

Será que Walt Disney era um visionário?

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Nos quadrinhos (banda desenhada) da Disney – numa altura em que se pensava que o planeta-anão Plutão era uma simples pedra, morta geologicamente -, víamos normalmente Pluto, o cão do Mickey, com uma côr amarelo-alaranjada, uma cor estranha de “ferrugem”. A sua casota, o sítio onde vivia, era normalmente de côr vermelha. E, claro, na grande maioria das histórias, o céu era azul, sinal de bom tempo.

Curiosamente, foi isto que a equipa da New Horizons encontrou em Plutão (Pluto).

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Já há uns meses que sabemos que Plutão tem uma cor predominantemente amarelo-alaranjada-avermelhada, similar a uma estranha ferrugem, bastante semelhante à do cão Pluto.

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A New Horizons capturou essa imagem que mostra a neblina/névoa azul de Plutão.
A origem da neblina deve-se provavelmente a reacções químicas entre a radiação ultravioleta vinda do Sol e o nitrogénio/azoto e o metano que existem na atmosfera superior do planeta-anão. O resultado serão pequenas partículas de fuligem (tholins).

Alan Stern, o líder da missão New Horizons, exclamou: “Quem esperaria um céu azul no Cinturão de Kuiper? É lindo!”

Carly Howett explicou:
“Esta fantástica tonalidade azul indica o tamanho e composição das partículas na neblina. Normalmente, o céu azul tem origem na dispersão da luz solar por partículas muito pequenas. Na Terra, essas partículas são as pequenas moléculas de nitrogénio/azoto. Em Plutão, parecem ser maiores, mas ainda relativamente pequenas, parecidas com fuligem que chamamos de “tolinas” (tholins).”

As tolinas são moléculas orgânicas simples que se devem formar na atmosfera superior, onde a luz ultravioleta solar separa e ioniza as moléculas de nitrogénio/azoto e metano, “permitindo que estas reajam entre si para formar ions mais complexos carregados negativamente ou positivamente. Quando os ions se recombinam, eles formam macromoléculas complexas, um processo encontrado anteriormente na atmosfera superior da lua Titã, em Saturno. As moléculas mais complexas continuam a recombinar e crescer até que se tornem pequenas partículas de poeira. Ainda na atmosfera, gases voláteis condensam e recobrem as suas superfícies como uma geada, antes que essas partículas tenham tempo de cair até à superfície do planeta-anão, onde elas por fim adicionam a coloração avermelhada de Plutão.” (Eternos Aprendizes).

Basicamente, as partículas na neblina deverão ser cinzentas ou vermelhas, mas reflectem a luz solar de uma forma que confere uma tonalidade azul à neblina.

O mecanismo de dispersão da luz azul é chamada de Dispersão de Rayleigh, tal como se processa na Terra.

Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI

Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI

Numa outra descoberta, destacadas a azul (côr falsa, por espectroscopia), vêem-se regiões com gelo de água exposto na superfície de Plutão, sobretudo nas regiões conhecidas como Virgil Fossa, Viking Terra e Baré Montes.

São pequenas e numerosas zonas de água congelada.

Jason Cook disse: “Grandes extensões de Plutão não apresentam gelo de água exposto porque aparentemente é mascarado por outros gelos mais voláteis, como nitrogénio e metano, em quase todo o planeta-anão. Entender por que a água aparece exactamente onde a detectamos e não em outros lugares é um desafio no qual estamos trabalhando.” (Eternos Apendizes).

O gelo de água não é surpresa. Já sabíamos desde que a New Horizons lá passou, que existem recentes montanhas de gelo de água.
No entanto, este gelo de água normalmente está sob gelo de metano e gelo de nitrogénio.
A surpresa está, assim, em existirem algumas zonas (pequenas e numerosas) onde esse gelo de água está exposto na superfície, sem nada por cima. Porquê? Não se sabe.

Como referido em cima, as áreas com gelo de água, aparecem na imagem com côr falsa. Na verdade, as assinaturas espectrais de gelo de água apresentam na superfície tons avermelhados nas imagens recentes.

Silvia Protopapa referiu: “É uma surpresa este gelo de água ser assim tão vermelho. Ainda não entendemos a relação entre o gelo de água e a tolina avermelhada na superfície de Plutão.”

Note-se que já num post passado, escrevemos: “Uma análise preliminar destes dados permite identificar duas camadas de neblina distintas – uma pairando a cerca de 50 km acima da superfície de Plutão e a outra a uma altitude de 84 km. Estas estruturas poderão ser elementos chave na produção dos compostos orgânicos complexos responsáveis pela tonalidade avermelhada da superfície de Plutão.”
Ou seja, a neblina azul está relacionada com a tonalidade vermelha no solo.

Que reacções químicas existem no solo para aparecer a tonalidade vermelha? Não se sabe.
De qualquer modo, sabe-se que estamos na presença de compostos orgânicos complexos.

Realce-se também que Plutão poderá ter um oceano interno (aqui, aqui e aqui).

Existindo oceanos subterrâneos e química complexa à superfície, há quem já esteja a imaginar vida.
Mas calma.
Tudo isto é, para já, explicado por processos não-biológicos.

Leiam o artigo da NASA, aqui.

3 comentários

  1. Nessa imagem estamos vendo todos os crepúsculos de Plutão e eles são azuis. Um astronauta que esteja na nossa Lua durante um eclipse lunar, como o que aconteceu no final de setembro, veria uma imagem semelhante em forma, mas vermelha na cor, pois os crepúsculos terrestres são vermelhos. Mas o céu terrestre é azul. Portanto, dizer que o céu de Plutão é azul, não seria verdade, se o que estamos vendo são crepúsculos. Dizer que é azul seria equivalente a dizer que o céu da Terra é vermelho só porque o vemos nessa cor durante os crepúsculos. Não sabemos qual é acor do céu de Plutão, se estivéssemos na sua superfície e olhássemos para cima. Talvez até seja negro, se a densidade da atmosfera for pequena.

    1. No crepusculo vê-se o céu vermelho, devido à dispersão de Mie por haver maior densidade atmosférica e partículas maiores. Certo?
      Enquanto a Dispersão de Rayleigh existe quando olhamos para o céu para cima (100 vezes menos densidade atmosférica).

      Em Plutão temos uma atmosfera menos densa, logo temos a dispersão de Rayleigh, que nos dá uma cor azul.

      http://www.astropt.org/2013/04/16/porque-e-o-ceu-azul/

    2. Em Plutão, vê-se na foto que o azul é mais claro perto da superfície, o que quer dizer que a densidade atmosférica é maior perto da superfície. Tal como na Terra.

      Logo, em Plutão, se o crepúsculo, supostamente quando a densidade atmosférica é maior, é azul, isto diz-nos que a densidade deve ser fraca.
      Olhando para cima, a partir da superfície de Plutão, a atmosfera deve ser menos densa. Logo, imagino que será um azul mais escuro… Ou então negro se não houver partículas suficientes para dispersão.

      🙂

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