O Modulador do Clima está a Mudar

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Pode não parecer mas a atmosfera terrestre é bastante complexa, com várias camadas e vários actores. Um dos principais componentes é a corrente de jacto: uma faixa de ar mais rápido que se situa nas latitudes médias, entre os 9 mil e os 14 mil metros de altitude. São ondas planetárias, ou designadas ondas de Rossby, e costumam percorrer os EUA entre 3 e 5 dias. Mas algo de estranho tem acontecido desde alguns anos.

Durante o inverno de 2013/2014 as ondas foram amplificadas e a deslocação foi muito mais lenta, o que produziu efeitos incomuns sobre o clima. O que causa apreensão é que este efeito está a ocorrer cada vez mais. Em 2010 uma onda de calor foi sentida na Rússia, a maior onda de calor da sua história. No mesmo ano, intensas chuvas assolaram o Paquistão. No ano seguinte Oklahoma registou o verão mais quente em todo o território dos EUA.

A configuração extrema das ondas de Rossby foram duas vezes mais comuns durante os verões de 2011-2012 do que nos 22 anos anteriores. A razão pela qual o comportamento da corrente de jacto está a alterar é que nos últimos 150 anos o clima mudou muito. Os níveis atmosféricos de CO2, molécula que retém o calor, sofreram um aumento de 40%. Um dos efeitos foi o recuo da extensão de gelo marinho em quase 50% desde 1900. As correntes de jacto circundam o globo nos dois hemisférios e “actuam como norteadores de sistemas de baixa pressão, portadores de precipitação”.

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Podem ver o funcionamento da corrente aqui

As correntes de jacto dividem-se em dois tipos: um jacto polar que delimita o ar frio perto dos polos e o quente mais perto do equador e um jacto subtropical, mais forte, mais próximo ao equador. As correntes de jacto seguem de forma sinusoidal e quando a crista corrente de jacto polar se projecta para norte, o ar quente flui de sul para norte. Nas zonas em que a projecção é para sul, o ar frio ruma para sul.

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Diversos fatores ajudam a moldar a corrente de jacto: a energia solar, a forma e localização dos continentes, a corrente oceânica, a presença de cadeias montanhosas, a quantidade de gases de efeito estufa que retêm o calor e a poeira reflexiva. No hemisfério Norte há dois padrões de teleconexão importantes: 1- El Niño (ou Oscilação Sul): ciclo de 3 a 8 anos em pressões atmosféricas tropicais. As águas oceânicas mais quentes são empurradas para lesto do Pacífico. Na fase oposta, La Niña, são as águas mais frias que migram; 2 – Oscilação Ártica: resulta de flutuações na pressão ao nível do mar entre o Ártico e as médias latitudes.

O Ártico está a aquecer três vezes mais depressa do que todo o resto do hemisfério norte. Este fenómeno chama-se amplificação ártica e pode perturbar o fluxo da corrente de jacto boreal. Esta amplificação começa quando o gelo marinho derrete e expõe águas mais escuras. Estas absorvem mais energia solar, que é libertada no Outono e Inverno. Este ciclo vicioso tem promovido uma antecipação da chegada da Primavera em cerca de 3 dias por década, expondo o solo mais escuro mais cedo e, desta forma, uma estação precoce de aquecimento continental. Verifica-se ainda outro efeito importante: a diferença de temperatura entre as latitudes médias do hemisfério norte e o Polo Norte é menor e, sendo menor, há menos transferência energética entre as duas células de circulação atmosférica o que promove a desaceleração dos ventos dos jactos e a suas ondulações amplificadas. De facto registou-se, desde 1979 uma desaceleração de 10% na velocidade destes ventos.

2 comentários

  1. Muito bom, bastante esclarecedor.

    • Dinis Ribeiro on 31/10/2015 at 15:59
    • Responder

    Obrigado por este artigo.

    “A razão pela qual o comportamento da corrente de jacto está a alterar é que nos últimos 150 anos o clima mudou muito.

    Os níveis atmosféricos de CO2, molécula que retém o calor, sofreram um aumento de 40%.”

    Trata-se dum assunto muito interessante…

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