Aliens. Mas só daqui a um bocadão

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É uma possibilidade um bocado deprimente, esta de sermos uma espécie vintage.

No que respeita a extraterrestres, um estudo divulgado pela Royal Astronomical Society sugere que um Universo vivo, repleto de inteligência, é como uma festa onde chegamos demasiado cedo: a malta irá aparecer, eventualmente, mas por enquanto – tirando um ou outro conviva tão solitário como nós – a sala está vazia.

Quando o nosso Sistema Solar nasceu, há 4600 milhões de anos, apenas oito por cento dos planetas potencialmente habitáveis existia. E basta uma simples conta de subtrair para perceber a principal implicação: 92 por cento dos planetas ainda estava por nascer.

E pensávamos nós que os seres humanos eram os putos das galáxias – e, sendo ainda muito jovens, ainda podíamos ter alguma desculpa para as porcarias que fazemos. Afinal de contas, podemos vir a ser uma das espécies mais antigas do Universo – aquela em relação à qual um crente em OVNI, algures num jovem planeta em Andrómeda, irá tomar como exemplo de sofisticação e avanço.

Ora, isto é uma possibilidade um bocado deprimente tendo em conta o estado atual da nossa civilização, por isso convido-vos a escutar uma versão antiquadamente charmosa de «Creep», dos Radiohead, cortesia do canal PostmodernJukebox.

Não é melhor do que a original, claro, mas pelos vistos «vintage» é o que nós somos no Universo, não é?

A culpa disto é de um jovem, Peter Behroozi, investigador que está a tirar o pós-doutoramento no instituto Space Telescope Science em Baltimore, Estados Unidos.

Behroozi coligiu dados recolhidos pelo telescópio espacial Hubble e pelo observatório espacial Kepler, motivado pelo «entendimento do lugar da Terra no contexto do resto do Universo.» A conclusão – «comparando com todos os planetas que se formarão no Universo» – é a de que o nosso «apareceu bastante cedo».

O segredo para percebermos como Behroozi chegou a esta conclusão reside, em primeiro lugar, nas espantosas capacidades do Hubble: ao ver mais longe no Espaço e no Tempo, o telescópio forneceu aos astrónomos um «álbum de família» contendo observações de galáxias e permitindo aos cientistas «folhear» a história da formação de estrelas, à medida que essas galáxias cresciam.

Ora, os dados mostram que, há 10 mil milhões de anos, o Universo estava a criar estrelas a um ritmo muito superior mas envolvendo uma parte muito pequena da quantidade total de gás de hidrogénio e hélio então disponível.

Embora o nascimento de estrelas ocorra agora a um ritmo mais lento, sobrou gás suficiente para formar estrelas e planetas durante muito, muito tempo…

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Os aliens seremos nós

Já os dados do observatório espacial Kepler (ajudam a produzir uma estimativa sobre o número potencial de planetas semelhantes à Terra que orbitem na chamada «zona habitável») indicam que potenciais terras alternativas devem ser omnipresentes na nossa galáxia.

Números? Mil milhões de planetas com um tamanho semelhante ao nosso, boa parte deles rochosos, só para a Via Láctea. E se incluirmos na estimativa as 100 mil milhões de galáxias que se calcula existirem no Universo observável, o número sobe exponencialmente.

Um conjunto de juízos fundados em probabilidades sustentadas em cálculos matemáticos convenceram Behroozi e a sua equipa de que o Universo está repleto de planetas potencialmente habitáveis, mas a esmagadora maioria deles é mais jovem do que a Terra.

O velho paradoxo de Fermi (se as estimativas de probabilidade de existência de civilizações extraterrestres são assim tão altas, onde é que elas estão?) poderá vir a ser resolvido com a nossa existência. Somos os futuros sábios do Universo. Os supremos guardiões da galáxia vintage.

Só por causa disso vou ouvir outra versão vintage, desta vez do «Seven Nation Army», dos White Stripes.

A ideia de sermos uma das espécies mais antigas do Universo dá-nos a vantagem de estarmos em melhor posição de estudar o Big Bang e de maravilhar os futuros mundos civilizados com os nossos vastos conhecimentos sobre as origens da vida.

Também poderemos ensinar-lhes umas coisitas sobre a morte, pois temos mantido excelentes relações ao longo da nossa História e estaremos prontos a dar-lhes a conhecer mais detalhes da amizade, caso seja necessário.

Espero, num futuro distante, que prescindamos de pregar partidas às civilizações que contactarmos: podemos até usar naves semelhantes a discos voadores, mas essa história de precisar de luzes para ver o caminho quando voamos de noite é mais típico de um «troll» do que de seres capazes de cruzar os espaços interestelares.

E se de futuro chegarmos mesmo a vias de contacto, espero que os nossos descendentes tenham a decência de comunicar a nossa presença diretamente a todos os habitantes ao mesmo tempo, em vez de escolher um desgraçado a passear a sua alma de profeta celestial num qualquer campo isolado. Já não teremos idade para nos armarmos em anjos e encenarmos aparições, devemos ser mais sérios e profissionais.

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Arthur C. Clarke tem uma história para contar

Descobrir outras civilizações pode ser complicado, mas compreendê-las ainda mais. Um conto de ficção científica – «History Lesson», de Arthur C. Clarke, publicado em 1949 – conta-nos a história de exploradores alienígenas reptilíneos e da descoberta de um mundo morto que há milhares de anos sustentara uma civilização, entretanto extinta.

As poucas peças de maquinaria descoberta entre os destroços e a capacidade de escrita mostravam que se tratara de uma civilização avançada que fora capaz de sobreviver à Idade do Gelo do planeta, mas não só a escrita se revelara impossível de decifrar como nada se conseguira saber sobre a natureza dos seres.

Os alienígenas partiram do princípio de que tais seres podiam ter sido fisicamente muito diferentes, dado que não se devia concluir, pensavam com sensatez, que toda a vida inteligente tinha de ser forçosamente um réptil. Durante muitos anos, contudo, nada tinham aprendido sobre as criaturas que outrora haviam dominado o planeta.

Finalmente, muitos anos depois, descobriu-se um contentor de metal, chato, com uma grande extensão de material plástico transparente no interior, perfurado nos bordos e muito bem enrolado numa bobina. Nesse material existiam milhares de imagens mostrando um registo da vida desses seres no auge da sua civilização.

Quando descobriram que as imagens na sequência correta e em rápida sucessão criavam a ilusão de movimento, criaram uma máquina capaz de projetar esse precioso registo do que fora a vida no planeta morto.

O que viram haveria de suscitar discussões, hipóteses e teorias durante milhares de anos.

Pareceu-lhes óbvio que o tipo dominante no planeta era uma criatura bípede com dois braços que caminhava de pé e cobria o corpo com materiais flexíveis, provavelmente para se proteger do frio.

Os cientistas reptilíneos puderam ver centenas de criaturas movendo-se de forma brusca de um lado para o outro, conflitos incrivelmente violentos entre seres que não pareciam causar qualquer mal a nenhum deles e corridas loucas em dispositivos mecânicos de duas rodas capazes de espantosos feitos de locomoção.

Que civilização era aquela? Como se poderia vir a conhecer a psicologia daqueles seres?

Quando o filme chegou ao fim, tornara-se óbvio para os cientistas alienígenas que aquele precioso registo teria de ser estudado durante muitos anos, talvez mesmo séculos. Milhares de livros seriam escritos e publicados, bandos de psicólogos e filósofos tentariam explicar o bizarro comportamento das criaturas.

Embora tivessem agora a possibilidade de saber mais sobre a vida dos maravilhosos seres que tinham habitado este planeta, os cientistas sabiam que muito dificilmente seriam capazes de decifrar uma língua morta. Incontáveis vezes os linguistas alienígenas veriam o registo sem nunca chegar a compreender o verdadeiro significado das palavras que surgiam no final: Walt Disney Productions.

4 comentários

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    • António Vieira on 14/07/2016 at 22:06
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    É sempre bom conhecer novos estudos, novas teorias.
    Achei interessante o conceito de sermos os primeiros, porque não?
    Como disse o Arthur C. Clarke, “Existem duas possibilidades: Ou estamos sós no universo ou não estamos, ambas são igualmente assustadoras”.

  1. Não entendo o que interessa o nosso planeta ter-se formado primeiro do que outros , o que realmente deveria interessar era quando se começou a desenvolver a vida microbiana.
    Por exemplo , no caso do nosso planeta ,se a teoria de Theia estiver correcta , o planeta formou-se…desformou-se… reformou-se…

  2. Este tipo de estudos são demasiado limitados, porque há sempre inúmeras variáveis que não foram contabilizadas.

    Além disso, existem diversas assumptions no estudo que me deixam arrepiado 😉

    Mas é importante divulgar estes estudos… e a forma como as divulgas é sempre excelente 😀

    Gostei especialmente do final 😉
    Porquê? Porque estou totalmente de acordo com a visão pessimista de Clarke neste conto 😉

  3. Se chegamos cedo à festa é razoável guardarmos nosso aperto de mão e nossos charutos…

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