LHC – O maior acelerador de partículas do mundo atinge novos níveis de energia.

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E isso significa que as colisões de partículas sub-atómicas manifestam uma energia equivalente ao leitor captar um magnífico abelhão (cujo voo foi um mistério até ser decifrado por câmaras de alta velocidade) em pleno voo na sua mão.

Portanto, ao contrário do renovado histerismo que se lê pela Internet, não há qualquer perigo nestas experiências.

Mas vamos ao que interessa. Por tradição o LHC reserva todos os anos cerca de 1 mês para colisões de iões, que são um nome todo giro para as partículas que têm carga eléctrica. Desta feita tratam-se de átomos de chumbo cujos electrões foram removidos. Esta disposição permite que se estude uma fase da matéria que existia no seguimento do Big Bang, quando desceu duma temperatura indescritível, para uma ordem dos Tera graus Celsius, ou seja dos biliões em Portugal (escala longa) e dos Trilhões no Brasil (escala curta). 1 seguido de 12 zeros de graus Celsius.

Esta sopa líquida primordial terá existido durante algumas partes dum segundo e o estudo das suas propriedades físicas e porventura químicas poderá melhorar vários corpos de conhecimento, desde o modelo dos quarks (nós somos compostos por quarks), ao modelo de consenso da Cosmologia (a teoria do Big Bang) passando por sondar mistérios como o da assimetria matéria/anti-matéria e talvez confirmar/estabelecer limites das propriedades físicas da matéria-escura, cerca de 24% do que nos rodeia, que não é atómica, e que é transparente à luz.

Mas isso serão eventuais bónus das observações, estas focam-se na muito bizarra interacção da cor, que nada tem que ver com as cores das paletas dos pintores, mas que é uma propriedade única dos quarks e dos seus emissários de informação, os ultra rápidos e virtuais gluões.

Os quarks mudam de cor à velocidade da luz, o que nestas dimensões tão diminutas faz emergir outros fenómenos, como o da muito interferente “rapidez,” provavelmente um campo-força (vamos passar a dizer interacção, combinado?) e de facto um fenómeno que tem de ser filtrado nos detectores.

Quando se colidem iões nestas energias o que de facto acontece é que os quarks se libertam da elasticidade ao quebrarem os laços que os unem (confinam) pelos ilusórios gluões.

E é neste outro ponto que se centram as observações, nas emanações de jactos emitidas por estas colisões inelásticas.

É (aviso amarelo de analogia) como se partissem um elástico na vossa mão e os cientistas estudassem o som que é produzido, tanto pelo elástico como por alguma curiosa interjeição que essa pequena dor vos suscitasse. No fundo para onde vai a energia expandida por essa experiência. Ela para algum lado vai, respeitosa que é do Princípio da Conservação.

Na questão dos recordes de energia que irão ser gradualmente atingidos – os primeiros feixes tinham 10 cachos de iões e os subsequentes terão 50 cachos – dizer que se atingiu uma energia de, por exemplo 1 TeV tem pouco significado físico (é mesmo uma asneira) e, sobretudo, diz pouco ou nada aos nossos leitores.

O que interessa são as partículas que vão de facto colidir, que são os cachos de iões de chumbo, então é muito mais útil como medida de energia tomarmos o centro do momento da energia dum nucleão (dum protão ou dum neutrão).

Esta será a energia disponível numa colisão que dispersa 2 nucleões.

Ora o chumbo Pb 208 contém 82 protões e quando colidimos protões contra protões a uma energia de 13 TeV resolvemos por 82 x 13 TeV /208 = 5.125 TeV por nucleão.

É então que se procede a uma ligeira afinação para despoletar a análise comparativa directa. Como já se fizeram colisões híbridas de protões-iões de chumbo a 5.02 TeV afina-se estas colisões também para 5.02 e obtém-se uma simetria que poderá fazer sobressair as propriedades ou os fenómenos acima enunciados. Ou outros e Ou não.

Stable Beams, o grito de acção dos Físicos de Partículas ecoou mais uma vez nos….monitores dos computadores do LHC!

São atingidos novos níveis de energia, e enquanto isso a natureza diverte-se enviando neutrinos e raios cósmicos todos os segundos aqui para a Terra a níveis de energia escandalosamente superiores.

E vem algum mal ao mundo por isso, alguém sofre de dores de barriga por ter abusado dos neutrinos de alta energia?

Não, e a segurança no LHC é levada muito a sério, tão a sério como a busca legitima pelo conhecimento.

10 comentários

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    • Manel Rosa Martins on 04/12/2015 at 13:25
    • Responder

    Ontem, dia 3 de Dezembro de 2015, o LHC bateu uma novo recorde de energia com colisões a 1000 TeV.

    http://www.spacedaily.com/reports/CERN_collides_heavy_nuclei_at_new_record_high_energy_999.html

      • Manel Rosa Martins on 08/12/2015 at 14:38
      • Responder

      As colisões são efectuadas a 13 TeV pelo que o valor de 1000 TeV deve ser ignorado como um erro de escala que assumo, pelo facto o meu pedido de desculpas aos nossos leitores. Será uma energia de colisão de 1000 GeV, pleo que o comunicado da experiência ALICE para o Space-Daily deverá ter relatado esse erro de escala.

      http://www.spacedaily.com/reports/CERN_collides_heavy_nuclei_at_new_record_high_energy_999.html

      “The collision energy between two nuclei reaches 1000 TeV. This energy is that of a bumblebee hitting us on the cheek on a summer day. But the energy is concentrated in a volume that is approximately 10-27 (a billion-billion-billion) times smaller.

      E será 10^-24 vezes mais pequeno, o volume onde é concentrada a colisão.

      Agradeço ao Físico do CERN José CR Silva ter-me ajudado a verificar este lapso.

      Muito Obrigado 🙂

    • Manel Rosa Martins on 04/12/2015 at 13:07
    • Responder

    Já falei com o meu advogado que também achou muita piada ao “penso eu de que.” 🙂

    O Latim e o Romance são a mesma Língua, sendo o Latim a versão formal usada em documentos e em literatura Por exemplo Newton em Principia mathematica) e as línguas românicas são derivadas do Romance, que é o Latim vernáculo, usado pelo povo, como por exemplo de ” gustibus non est disputandum ” que é o nosso provérbio popular ” gostos não se discutem. ”

    Se disser Latim, Romance e Português estará bem, e se disser Romance, Latim e Português também. Romântico deriva dos poemas de amor serem em Romance, em Latim popular.

    Quidam potestatem nuclear industria (estava certa a energia nuclear)

    Deinde tempore usque ad (Até à próxima)

    🙂

  1. O dialeto português “descende” do “Romance”, outro dialeto que existia na península Ibérica após o fim da romanização ou “nova ordem” daquela época, em que o latim era o dialeto oficial. Se estiver errado processem-me!

    Sempre achei piada à crença que as colisões mais energéticas do LHC iriam despoletar a criação de “buracos negros”!??
    Fissão a provocar aglomeração de massa é um bocado estranho, pois partir núcleos e partículas atómicas deve provocar redução da massa dos produtos resultantes relativamente à origem, penso eu de que…

      • Manel Rosa Martins on 03/12/2015 at 04:45
      • Responder

      Nada de processos em debate 🙂 Mas distinga Dialectos de Língua, e o Português é uma Língua com dezenas de dialectos.

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Dialetos_da_l%C3%ADngua_portuguesa

      —-
      Sim, é exacto em todos ( e são numerosos e até naturais) os mecanismos de fissão os elementos resultantes são mais leves em unidades de massa atómica, e sim correcto o seu raciocínio, simples e de acordo com toda a evidência. E ainda não há mecanismo de reacção em cadeia nas colisões no CERN, isso é “ao lado” em França nas centrais de fissão nuclear.

      Essa expressão idiomática do “penso eu de que” é deveras engraçada e enriquece o contexto. 🙂

        • PAULO on 03/12/2015 at 23:37

        Como errei podem processar-me…
        Agradeço a correção; assim teremos Línguas: Latim, Romance e Português.

        Até à próxima!

    • Manel Rosa Martins on 02/12/2015 at 13:59
    • Responder

    Agradeço a excelente sugestão crítica de Farley Eternity de clarificar o Principio da Conservação da Energia, no seguimento dum pequeno debate que este post despoletou. 🙂

  2. Desculpe.
    Mas a tradução do texto está parecendo algo feito por um tradutor eletrônico.
    Assim fica estranho e sem prazer para ler o texto.
    Apesar de interessante.

    1. Qual tradução?

      Você sabe que o texto está escrito em português de Portugal, certo? 😉

      • Manuel Rosa Martins on 03/12/2015 at 00:07
      • Responder

      Não recorri a qualquer programa de tradução, que seria um recurso legítimo.

      Por feliz coincidência estou com uma pessoa recém-licenciada em Românicas e pedi para ela ler.

      A sua avaliação foi: está um texto de muito boa qualidade em termos linguísticos e a sua crítica foi por ela considerada injusta e sem consistência desse ponto de vista.

      Indicou também que alteraria 1 vírgula por questão do seu ritmo ou respiração de leitura.

      Esta senhora não tem qualquer formação em Física, entendeu e gostou, isso é o importante, é a regra de ouro da Linguística.

      De qualquer das formas muito obrigado por ter achado interessante este “post.”

      À parte estas considerações se subsistir alguma dúvida que o texto lhe suscite, mesmo com uma interjeição, diga para poder ajudar a esclarecer.

      Obrigado

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