O caso do suposto planeta 9: foi descoberto um novo planeta no sistema solar?

Resposta rápida: NÃO!

dwarf planets

Sabemos hoje que existem vários planetas-anões. Todos os anos descobrimos mais alguns (ainda há dois meses, descobriu-se outro). Deverão existir imensos.
A grande maioria deles, com excepção de Ceres, existem em órbitas para lá de Neptuno.

Sabemos igualmente que objectos para lá da órbita de Neptuno deverão ser aos milhares. Todos os anos encontramos vários objectos Trans-Neptunianos. A maioria são objectos pequenos.

Ao longo dos anos também têm havido notícias que apontam, com naturalidade, para objectos Trans-Neptunianos maiores, ou seja, para alguns objectos para lá da órbita de Neptuno que tenham um tamanho considerável (maiores que a Terra). Serão raros, mas provavelmente existem.

Em 2014, por exemplo, descobriu-se um planeta-anão (2012 VP113) e inferiu-se a provável existência de um enorme planeta, talvez 10 vezes maior que a Terra, perto do 2012 VP113. Podem ler, aqui.
Há 2 meses, em 2015, observações do ALMA apontavam para um novo objecto Trans-Neptuniano, quiçá com a mesma massa e tamanho da Terra. Podem ler, aqui.

Mas isto não é de agora. Neste artigo de 2010, já se falava que poderão existir planetas do tamanho da Terra no sistema solar exterior. Sem quaisquer evidências, claro, mas é algo que é possível.

Em 2011, até se falava na possível descoberta de Tyche, um potencial planeta gigante no sistema solar exterior. Leiam aqui. Não existem evidências, mas existia a “vontade dos astrónomos” em tentar encontrar um planeta assim. E, claro, são os astrónomos que os podem encontrar (não os “especialistas de net e de youtube”).

Sabe-se até que no passado, o sistema solar interior conteve mais planetas gigantes, o que quer dizer que esses planetas gigantes podem agora estar a vaguear entre estrelas ou muito para lá de Neptuno. Leiam aqui.

Note-se que NADA disto tem a ver com o Nibiru, que é somente uma fantasia (leiam aqui) de quem nunca observou o céu. A fantasia chamada Nibiru conta que esse suposto planeta gigante vem na nossa direção – uma historinha para assustar as almas assustadiças.
Já a descoberta de planetas para lá de Neptuno diz-nos que os planetas têm órbitas bem definidas, que mesmo quando estão mais perto do Sol, mesmo assim estão muito longe de Neptuno. Um pequeno estudo de astronomia também permite tirar a mesma conclusão, porque senão desestabilizaria todo o sistema. Infelizmente, a imbecilidade dos crentes em Nibiru é tanta, que nem percebem que, pela forma errada de pensar deles, deviam então ter muito mais medo de Júpiter, Saturno, Urano ou Neptuno do que alguma vez poderiam ter do inexistente Nibiru. Mas enfim…

Crédito: Universidade Penn State. Via Eternos Aprendizes.

Crédito: Universidade Penn State. Via Eternos Aprendizes.

Voltando ao tema…

Mesmo com os astrónomos a assumir que deverão existir imensos objectos para lá de Neptuno, sendo que alguns deles deverão ser bem grandes, mesmo assim não existem evidências de planetas do tamanho da Terra ou maiores. Para já, só existem evidências de planetas-anões.

A sonda WISE foi até mais longe: entre os anos 2010 e 2011, observou 750 milhões de asteroides, estrelas e galáxias, sendo que um dos seus principais objetivos era saber se existiria algum objeto relativamente massivo na fronteira do nosso sistema solar, e a verdade é que não detectou nada que se parecesse remotamente com as especulações mais populares. O estudo, com as observações da sonda WISE, permitiu concluir que provavelmente não existe qualquer objecto do tamanho de Saturno (ou maior) num raio de 10.000 unidades astronómicas, e nenhum objecto maior que Júpiter deverá existir num raio de 26.000 unidades astronómicas – lembremo-nos que Plutão está a “somente” cerca de 40 unidades astronómicas do Sol.
Podem ler sobre isto, aqui.

Mesmo assim, os astrónomos continuam a “acreditar” que esses objectos grandes podem existir. Talvez não tão grandes como Júpiter ou Neptuno, mas tão grandes como a Terra. Mas como a crença não faz parte da ciência, então os astrónomos continuam à procura desses planetas, e continuam confiantes que os vão encontrar. A procura de evidências faz parte do processo da ciência.

E foi isto que aconteceu com as notícias desta semana: os astrónomos pensam que pode existir um planeta mais massivo que a Terra, mas muito menos massivo que Júpiter, com uma órbita muito mais longe da Terra que Neptuno.
No entanto, são precisas evidências disso. E as evidências ainda estão a faltar.

Por isso, foi descoberto algum planeta Trans-Neptuniano?
A resposta tem que ser: Não.

Representação artística, sublinho, representação artística do "novo planeta". Crédito: Caltech/R. Hurt

Representação artística, sublinho, representação artística do “novo planeta”.
Crédito: Caltech/R. Hurt

Como os astrónomos chegaram a esta não-descoberta?

Os astrónomos estudaram distúrbios gravitacionais nas órbitas de 13 objectos da Cintura de Kuiper (incluindo planetas-anões).
Note-se que este estudo é uma continuação da investigação que referi em cima e sobre a qual falei neste artigo de 2014.

Através de modelos matemáticos e simulações por computador, tendo em conta as perturbações na órbita de 6 dos 13 objectos da Cintura de Kuiper, previram a existência de um planeta no sistema solar exterior a provocar essas influências gravitacionais.
A existência desse planeta também explicaria a inclinação do eixo de rotação desses 6 objectos (inclinações similares, na mesma direcção), assim como os seus planos orbitais similares e o facto das suas órbitas se cruzarem nos periélios.
Adicionalmente, também explicaria a órbita tão alongada de Sedna.
E por fim, também explicaria as órbitas perpendiculares (em relação ao plano dos planetas) de alguns objectos da Cintura de Kuiper.

Crédito: Caltech / Robert Hurt

Crédito: Caltech / Robert Hurt

O hipotético planeta deverá ter 10 vezes mais massa que a Terra e deverá ser cerca de 3 vezes maior que a Terra.
Deverá ser um planeta gasoso e gelado, do género de Neptuno, provavelmente com uma atmosfera de hidrogénio e hélio. Deverá ser assim um mini-Neptuno, ou um planeta gasoso-anão (termo sugerido pela conhecida astrónoma Sara Seager).
A sua órbita deverá estar 20 vezes mais longe do Sol do que Neptuno. Mesmo quando está mais próximo do Sol, está 7 vezes mais longe do Sol que Neptuno, 200 vezes mais distante do Sol que a Terra. Quando está mais longe, poderá ficar 1.000 vezes mais longe do Sol que a Terra.
O seu ano (tempo que leva a completar uma órbita ao redor do Sol) demora entre 10.000 e 20.000 anos terrestres.

Informalmente, este candidato a planeta foi denominado de Phattie (o que, diga-se de passagem, é um péssimo apelido, caso conheçam calão americano, mesmo que nos longínquos anos 1990 este calão tivesse outro significado: cool).

Crédito da imagem: Karl Tate/ Space.com Adaptação: Planetário do Porto

Crédito da imagem: Karl Tate/ Space.com Adaptação: Planetário do Porto

Sublinho no entanto que esta hipótese de um novo planeta é só uma hipótese!
Mas existem outras hipóteses para explicar as perturbações orbitais que foram observadas. Exemplo: dois corpos muito mais pequenos em órbitas ressonantes.
Infelizmente, as outras hipóteses não “vendem tanto” nos jornais e na internet como dizer que existe “um outro planeta por aí”.

Mas também é verdade que as outras hipóteses não conseguem explicar tantas pós-previsões correctas como a hipótese de planeta.

Crédito da imagem: K. Batygin & M. Brown/JPL/CalTech (dados); A. Cuadra/Science (esquema) Adaptação: Planetário do Porto.

Crédito da imagem: K. Batygin & M. Brown/JPL/CalTech (dados); A. Cuadra/Science (esquema)
Adaptação: Planetário do Porto.

É certo que Neptuno foi descoberto assim: através de cálculos matemáticos baseados nas anomalias gravitacionais notadas na órbita de Úrano. Por isso, é possível que exista um novo planeta e a descoberta tenha sido feita com estes cálculos referidos agora.

No entanto, é preciso não esquecer que Vulcano também era um planeta que supostamente deveria existir mais perto do Sol que Mercúrio, e no entanto a matemática feita na altura não foi confirmada pelas observações. O planeta Vulcano não existe.

Por isso, para já temos uma hipótese, com um candidato a planeta baseado em cálculos matemáticos.
O próprio investigador, Mike Brown diz isso: “Until there’s a direct detection, it’s a hypothesis — even a potentially very good hypothesis”. (até existirem observações/detecções do planeta, isto é somente uma hipótese, mesmo sendo uma boa hipótese)

Faço notar que no próprio artigo científico é dito isso: “the presented results offer credence to the hypothesis that the observed structure of the distant Kuiper Belt can be explained by invoking perturbations from an unseen planetary mass companion to the solar system. Simultaneously, the suggestive nature of the results should be met with a healthy dose of skepticism, given the numerous assumptions made in the construction of our simple analytical model.”

Ou seja, os cientistas foram inteiramente honestos. Os maus jornalistas e websites vigaristas é que são desonestos.

Leiam o artigo científico, o comunicado de imprensa, na Science, na Nature e na Sky & Telescope.

P.S.: um estudo de cientistas franceses, que vai sair dentro de alguns dias, vem colocar em causa esta hipótese, mostrando que não deve existir qualquer planeta deste tipo na órbita considerada.

40 comentários

6 pings

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. estamos em outubro de 2019 e agora doltor qual o seu parecer sobre nibiru ?

    1. Não é parecer, nem é opinião.
      É facto: nunca existiu e por isso não interessa a data = não existe.

      http://www.astropt.org/2011/09/09/fantasia-planetaria-nibiru/
      (este artigo é válido até ao ano 534 milhões)

    • Reinaldo da Silva on 26/04/2016 at 22:02
    • Responder

    E quanto ao maior telescópio do mundo que sera no Chile, seria a melhor opção ?

    1. A melhor opção para visualizar bem as coisas, é enviar lá uma sonda 😀
      (como a New Horizons em Plutão) 😉

    • Reinaldo da Silva on 08/04/2016 at 22:40
    • Responder

    Mas então se colocasse o hubble e fizesse uma varredura na região mencionada pelos dois astrónomos e um seis meses depois fizesse outra; se ele de fato existir poderia ser detectado mesmo que fosse um borrão?

    1. Mas o Hubble não faz varreduras… passa muito tempo olhando para um ponto minúsculo no espaço 😉

        • Reinaldo da Silva on 25/04/2016 at 23:21

        Professor será que o novo telescópio espacial que irá substituir o hubble teria condições de fazer esta descoberta; claro depois que for lançado?

      1. O novo telescópio espacial “verá melhor”, mas as limitações que falei em cima, mantém-se. 😉

        abraços

    • Reinaldo da Silva on 07/04/2016 at 20:53
    • Responder

    Professor;
    Pergunto se o telescópio Hubble não poderia detectar este suposto planeta nove?

    1. Essa é uma excelente pergunta.

      O Hubble está feito para “observar” objectos muito longe, muito ténues aparentemente (devido à distância) mas enormes e muito brilhantes intrinsecamente. Como galáxias ou conjuntos de galáxias muito longe e muito antigas.

      Apontando o Hubble para objetos brilhantes perto, seria como apontar uma camera fotográfica para a lampada que tem na sua sala.
      Apontar o Hubble para objetos muito ténues intrinsecamente (quer em luz visível quer em infravermelha/calor) como um planeta nove no nosso sistema solar, teria também pouca utilidade (e teria que se saber exatamente onde ele está).

      Procurei no Google (comparando o porquê das fotos de Plutão pelo Hubble serem más) e vi esta resposta na Planetary Society. Se vir a matemática, percebe que se vê muito melhor objetos longe, porque, como eu disse em cima, eles são muito maiores e muito mais brilhantes e por isso compensam o facto de estarem longe:
      http://www.planetary.org/blogs/emily-lakdawalla/2013/02141014-hubble-galaxy-pluto.html

      abraços!

    • Luiz Fernando Engroff on 24/03/2016 at 21:16
    • Responder

    [email protected] – Prezado Professor Carlos. Já tive a oportunidade de receber uma resposta a uma indagação que fiz ao senhor e na ocasião me senti bem satisfeito e confiante. Mas agora estão novamente com fotos e mapas e alegam que a NASA enfim abriu a caixa de Pandora sobre o tal Nibiru. Pergunto se ainda o caro professor mantém o posicionamento de que tal colosso avassalador não existe, e, podemos continuar tranquilos? Muito grato e mais uma vez o parabenizo pelo conhecimento e profissionalismo.

    1. Sinceramente, desconheço novas estórias sobre o suposto Nibiru.

      Qual o link/história que leu mais recentemente?

      abraços

        • Luiz Fernando Engroff on 25/03/2016 at 04:16

        Prezado Professor Carlos, já gostei do inicio de sua resposta, sempre firme e tranquilizadora, bem, nós, os leigos , mas não menos preocupados com o por vir, pois temos filhos e netos que pouco viveram, então, todo material exposto com fotos de vários lugares em vários países, com dois sóis aparecendo na mesma foto, lado a lado e com noticia que a NASA retirou a tarja preta que encobria o tal colosso, mesmo que não creiamos, nos trazem apreensões, mas vejo a grandeza de suas convicções, claro que sabedores de seu conhecimento e que nos revela a realidade, muitos como eu sentem se seguros quando lemos as suas considerações muito pertinentes, desculpe se de tempos em tempos o provocamos, mas é um alento receber seus conhecimentos que nos dão coragem pata prosseguir vivendo. Obrigado mais uma vez.

      1. Dois sois é fácil: não existe. Basta ir lá fora a ver. Não podem ser vistos 2 sois de um lado da Terra e de outro só ver um. Ou vê de todo o lado, ou então é mentira a suposta notícia.
        http://www.astropt.org/2011/03/11/dois-sois-na-china/
        http://www.e-farsas.com/dois-sois-aparecem-na-china-nibiru-fim-do-mundo-disco-voador.html

        Tarja preta nada tem a ver com a NASA, mas sim com o Google Sky, que não é qualquer telescópio. Mais uma vez, basta ver por si, comprando um telescópio 😉
        http://www.astropt.org/2012/02/20/objectos-estranhos-no-google-sky/
        http://www.astropt.org/2015/08/05/tarja-desaparece-e-nibiru-surge-no-google-sky/

        abraços!

        P.S.: note as datas dessas estórias: 2011 e 2012. Foram disparates inventados para a suposta profecia Maia de dezembro de 2012. Nada existiu, como sempre dissemos 😉

    2. Não tenha medo amigo.

    • Reinaldo da Silva on 05/03/2016 at 02:32
    • Responder

    Professor um astrónomo brasileiro chamado Rowney fez um estudo sobre este tema da possibilidade do planeta x.

        • Reinaldo da Silva on 13/03/2016 at 06:50

        É extamente esta matéria, kkkkkkk vacilo o meu eu falei o nome do cara erradamente o nome do astronomo é Rodney Gomes.
        Valeu professor nota 10 pra o senhor !!!!!!

    • Reinaldo da Silva on 02/03/2016 at 21:03
    • Responder

    Entendi, deixo claro que NÃO acredito em Nibiru, mas respeito a opinião de quem acredita, porém particularmente não creio.

    Mas minha pergunta ao professor é: se a sonda Wise seria capaz de descobrir pelo menos corpos do tamanho entre Mercurio e Terra a pelo menos umas 80 ou 100 Unidades astronomicas?

    1. A WISE descobre objetos pequenos, se eles estiverem próximos de nós:
      http://www.astropt.org/2011/02/01/neowise/

      No entanto, quanto mais longe estiverem, maiores têm de ser. Se estiver para lá da Cintura de Kuiper, tem que ser algo em grande.
      http://www.planetary.org/blogs/emily-lakdawalla/2009/2070.html
      https://en.wikipedia.org/wiki/Wide-field_Infrared_Survey_Explorer#Targets_within_the_Solar_System
      “WISE was not able to detect Kuiper belt objects, because their temperatures are too low”

      abraços!

    • Reinaldo da Silva on 01/03/2016 at 23:38
    • Responder

    Professor,
    Suponhamos então que Brown e Batygin estejam certos, (suponhamos).
    Pergunto então o que teria dado errado e a sonda WISE não tenha descoberto este corpo?

    1. Nada 😉

      A sonda WISE vê em infravermelho e os resultados que deu (probabilidades) é para planetas grandes.

      “O estudo, com as observações da sonda WISE, permitiu concluir que provavelmente não existe qualquer objecto do tamanho de Saturno (ou maior) num raio de 10.000 unidades astronómicas, e nenhum objecto maior que Júpiter deverá existir num raio de 26.000 unidades astronómicas.”

      Este suposto novo planeta é muito menor que isso 😉

      abraços!

    2. O Randall Munroe esclareceu essa questão neste cartoon: https://imgs.xkcd.com/comics/possible_undiscovered_planets.png. 🙂

        • Reinaldo da Silva on 05/03/2016 at 02:21

        Valeu Sérgio

  2. Mais um artigo sobre esta não-descoberta:
    http://www.bitaites.org/ciencias/astronomia/planet-9-from-outer-space

  3. Não é apenas a RTP que lhe dá tempo de antena. Voces fazem o mesmo e, na minha opinião, perdem o vosso tempo.

    • Manel Rosa Martins on 27/01/2016 at 22:00
    • Responder

    “The possibility of a new planet is certainly an exciting one for me as a planetary scientist and for all of us,” said Jim Green, director of NASA’s Planetary Science Division.

    “This is not, however, the detection or discovery of a new planet. It’s too early to say with certainty there’s a so-called Planet X. What we’re seeing is an early prediction based on modeling from limited observations. It’s the start of a process that could lead to an exciting result.”

    http://solarsystem.nasa.gov/planets/planetx

    • Riacho Molhado on 27/01/2016 at 17:19
    • Responder

    Esse artigo é um ESPETÁCULO!!!

    • Manel Rosa Martins on 25/01/2016 at 01:50
    • Responder

    Nesta hipótese proposta pelos Astrónomos houve uma abordagem de analogia com a física de partículas, com o mundo do muito pequeno, como átomos e mesmo partículas milhões de vezes mais pequenas como os electrões.

    Essa abordagem resultou num Sigma 3.8, ou seja a existência deste hipotético nono Planeta é uma anomalia estatística e não uma descoberta. Para ser Descoberta os cálculos exigem um Sigma com significado estatístico de nível 5.

    Um Sigma 3.8 desperta no entanto sempre um interesse maior, sobretudo se acompanhado por outras abordagens diferentes que denotem qualquer sinal significativo.

    No caso os cientistas viram concedido tempo de observação pelo menos no telescópio Subaru, um dos de maior abertura do mundo (campo de visão) e com melhor resolução disponíveis, o que é da mais elementar justiça, para “confirmar ou refutar” esta hipótese, para citar os próprios autores no seu paper científico.

    Mas como se trata dum corpo proposto com ~3,33 vezes a densidade da Terra, será um Planeta com bastante metalicidade ou seja com muitos elementos mais pesados do que o Hidrogénio, na gíria da Astrofísica.

    Isso condiz com o travão que o terá impedido de sair disparado para o espaço inter-estrelar, que terá sido o “entulho” remanescente da formação do disco do nosso Sol.

    Mas resta acrescentar que se trata dum “mini-universo” com uma história extremamente dinâmica, com ziliões (um número incontável de muito grande) de colisões, empurrões para perto e para longe do Sol, de fusões e de pulverizações.

    Neste jogo de bilhar descomunal a probabilidade deste Planeta existir é muito pequena, é de cerca de 70 em 1 milhão.

    Seria muito interessante se fosse confirmado, e também se for refutado, para se prosseguir na senda doutras hipóteses.

    É esta a faceta muito positiva deste trabalho, será sempre muito útil e construtivo. 🙂

    —-

    Como tudo na vida há uma faceta menos positiva, mas que poderá ser melhorada. O tratamento dado aos telespectadores da RTP foi frágil, dado que comentou um não astrónomo com conhecimentos débeis de astronomia e ignorância de Ciências Planetárias.

    Comentou-se que “O sistema Solar tem uma falha por não ter uma super-terra.”

    Ora o Sistema Solar não tem qualquer falha, seria exactamente como é quer a hipótese seja confirmada ou refutada, isso é induzir os espectadores em erro, por inépcia, mesmo sem intenção.

    Veio esse comentário no seguimento do comentário à BBC da Cientista-Chefe da NASA, a Doutora Ellen Stofan:

    “Others who model the outer Solar System have been saying for some years that the distribution of sizes seen in the objects so far identified in the Kuiper Belt suggests another planet perhaps the size of Earth or Mars could be a possibility. But there is sure to be strong scepticism until a confirmed observation is made.
    Nasa’s chief scientist, Ellen Stofan, said she certainly needed telescopic evidence.
    “The intriguing point is: we’ve identified lots of planets (beyond our Solar System) in this category of ‘super-Earth’ with our Kepler telescope; over 5,000 planet candidates. The fact that we don’t have a planet in that size class between Earth and Neptune makes us think, ‘well, maybe we are missing one’, and maybe they’ve predicted it,” she told BBC News.

    Ela refere que há muitos CANDIDATOS (ainda não confirmados) na classe de dimensões das Super-Terras (este da hipótese é até mais um mini-Neptuno do que uma Super-Terra muito massiva).

    Que na colecção do nosso sistema solar até falta um Planeta deste tipo.

    Ora uma coisa é uma falta numa colecção duma mostra dum Sistema, outra é esse sistema ter uma falha.

    Ou seja, ela infere que seria interessante; o comentador que é um Astrónomo impostor refere uma falha.

    Esse comentador não citou o nome da Cientista, deturpou o sentido das suas declarações por desconhecimento e nós temos uma RTP que se quer para prestar Serviço ao público.

    Assim não tivemos; quando temos entre nós, por exemplo na cidade do Porto, Astrónomos e Astrofísicos Portugueses que se encontram entre os melhores do mundo.

    Enfim, uma coisa sobressai melhor desta faceta tristonha: quanto mais estudamos os outros Planetas, mesmo hipotéticos, mesmo candidatos, melhor conhecemos o nosso, tanto no seu melhor como no menos correcto.

    Por isso se diz que a Astronomia é uma actividade formadora de carácter.

    Acrescento que é também uma actividade reveladora da falta deste.

    E assim se descreve bem o nosso Sistema Solar.

    1. Ele deve ter dito isso também porque leu no comunicado de imprensa o jovem investigador Batygin afirmar: “Until now, we’ve thought that the solar system was lacking in this most common type of planet. Maybe we’re more normal after all.”

      Ele diz que, baseado nas observações até agora, o tipo de planeta mais comum no Universo será planetas com massas entre a da Terra e a de Neptuno.
      “One of the most startling discoveries about other planetary systems has been that the most common type of planet out there has a mass between that of Earth and that of Neptune”.

      Ou seja, ele fala das descobertas/observações conhecidas até agora. E diz até agora os mais comuns são planetas com massas inferiores a Neptuno, onde se incluem os mini-Neptunos e as super-Terras, mas sem nunca se referir a esses nomes.

      Mas é claro que mini-Neptunos e super-Terras serão mais comuns. E planetas com massas como a Terra e Vénus ainda deverão ser mais comuns. E planetas com massas como Marte ainda deverão ser mais comuns. E planetas-anões ainda deverão ser mais comuns. (só ainda não foram descobertos ao redor de outras estrelas, porque não temos ainda condições tecnológicas para isso)
      A regra no Universo parece ser que objectos com menos massa (exemplo: asteroides) serão mais comuns do que objectos com mais massa.

      Ou seja, apesar de jovem, e poder se enganar ao transmitir informação, na verdade, percebendo as palavras do investigador, consegue-se entender o que ele quer dizer.

      No entanto, se aconteceu isso que dizes, esse pseudo-astrónomo similar à Maya, além de como sempre não compreender o que foi dito, também como sempre não deu créditos a ninguém.

      É como dizes: com centenas de astrónomos e astrofísicos em Portugal, sendo que vários deles são excelentes comunicadores, a RTP decidiu escolher um pseudo-astrónomo para deliberadamente enganar os seus telespectadores.
      E sem qualquer vergonha, chama a isso serviço público.

  4. Desculpem a pergunta que nada te a haver com o tópico. Mas, estava a ver um programa no canal história e surgiu um dúvida. Falaram que o campo magnético é muito fraco, quase que não existe. Então eu pergunto o que atrai as luas de Marte, ou o que as coloca próximo de Marte já que o campo magnético não é suficiente forte para as atrair?

    1. A atracção dos corpos no espaço é devida à Gravidade.

      O campo magnético serve para outras coisas. Tem aqui neste blog vários artigos sobre o campo magnético terrestre 😉

    • Matheus Cunha on 23/01/2016 at 05:28
    • Responder

    Excelente, obrigado por retirar minhas principais dúvidas com relação a esse fato. Estava achando mesmo muito estranho algumas conversas floreadas falando do Planeta X e aquele velho discurso sensacionalista. Sempre que vejo alguma notícia assim, procurarei por informações aqui kk. Parabéns pelo excelente trabalho! É muito bom ver que tem alguém realmente sério, confiável e dedicado à divulgação científica na internet.

    1. Matheus, muito obrigado pelas suas palavras. abraços!

  5. Ótimo artigo, Carlos.

    P.S.: Compartilhei no Universo Racionalista – https://www.facebook.com/UniversoRacionalista/posts/908356682614556

    Um abraço.

    1. ok

    2. Obrigado!

    • Manel Rosa Martins on 22/01/2016 at 18:10
    • Responder

    É flagrante a impecável e exemplar honestidade destes Astrónomos e das suas equipas.

    Uma das fragilidades do seu modelo de ressonância perturbada (que é o que eles propõem) reside no facto do momento angular dos 6 objectos aglomerados no periélio ser um ilustre desconhecido devido ao pouco tempo de observação desde a sua descoberta quando comparado com os seus muitos longos períodos orbitais.

    Mas no final do seu paper estes Astrónomos exemplares encaram essa fragilidade de frente, requerendo mais observações que refutem ou que confirmem a sua hipótese.

    Traduzindo: Quando a nave New Horizons estava no seu longo trajecto a caminho de Plutão, isso implicava que estavam 3 corpos em movimento nessa aventura: a Terra, a nave e Plutão.

    Ora a órbita de Plutão completa-se em pouco menos do que 250 anos terrestres, e as observações do seu momento angular (movimento e ângulo da sua trajectória) desde o advento dos telescópios muito modernos (Hubble & Cia, passe a expressão) não chegavam para determinar onde estaria Plutão quando a nave chegasse na zona da sua intersecção, do seu “fly-by.”

    Foi preciso que o Cientista-chefe da New Horizons recolhesse todas as Fotos que havia de Plutão para que a missão não fosse um completo fracasso.

    Num golpe de sorte que proteje os audazes, havia um acervo fantástico meticulosamente guardado desde a década de 1930. Com essas fotos a New Horizons pode calcular o momento angular de Plutão – onde este estaria quando a nave estivesse na fase de aproximação – e com base em cerca de 85 anos de fotografias foi possível ter-se um nível de precisão que resultou num enorme sucesso.

    Cito paper na parte final relevante:

    “there are observational aspects of the distant Kuiper Belt that we have not addressed. Specifically, the apparent clustering of arguments of perihelia near ω ~ 0 in the a ~ 150–250 AU region remains somewhat puzzling.

    Within the framework of the resonant perturber hypothesis, one may speculate that in this region, the long-term angular momentum exchange with the planets plays a sub-dominant, but nevertheless significant role, allowing only critical angles that yield v – W = w ~ 0 to librate. Additional calculations are required to assess this presumption.

    Another curious feature of the distant scattered disk is the lack of objects with perihelion distance in the range q = 50–70 AU. It is yet unclear if this property of the observational sample can be accounted for by invoking a distant eccentric perturber such as the one discussed herein.
    Indeed, answering these questions comprises an important avenue toward further characterization of our model.”

    Impecáveis, a assumirem uma fragilidade que pode ser fatal para a sua hipótese de forma explícita e desassombrada.

    Chama-se a este processo Ciência no seu melhor.

    Eu chamo a este teu post Divulgação da Ciência no seu melhor, com honestidade e sem desejos de sensacionalismo, por respeito para com os leitores e para com as leitoras do AstroPT.

    🙂

    1. 🙂

    2. Há mais de 7 anos..

      Lembrando que “em 18 de junho de 2008, cientistas em Kobe, Japão, anunciaram (um deles um brasileiro, Patryk Lykawka) que sua busca teórica de um grande corpo no Sistema Solar exterior havia produzido resultados. A partir de seus cálculos, poderia existir um planeta, possivelmente um pouco maior que um plutóide, mas certamente menor que a Terra, orbitando além de 100 UA do Sol.”

      Sobre a falésia de Kuiper:

      “O Cinturão de Kuiper ocupa uma enorme região do espaço e dista cerca de 30 a 50 UA do Sol. Contém um vasto número de objetos rochosos e metálicos, sendo o maior objeto conhecido como o planeta anão (ou “plutóide“) Éris. Há muitos anos desconfia-se que o Cinturão de Kuiper tem algumas características estranhas que podem assinalar a presença de outro grande corpo planetário orbitando ao redor do Sol além do Cinturão de Kuiper. Uma de tais características é a bem conhecida anomalia chamada de “Falésia de Kuiper” que ocorre a 50 UA do Sol. Isto corresponde a um final abrupto do Cinturão de Kuiper uma vez que poucos objetos foram observados além deste ponto no Cinturão de Kuiper (os KBOs). Esta “falésia” não pode ser atribuída a ressonâncias orbitais com planetas massivos tais como Netuno, e não parece haver nenhum erro observacional óbvio. Muitos astrônomos crêem que um corte tão brusco na população dos KBOs pode ser causado por um planeta ainda não descoberto, possivelmente tão grande como a Terra. Este é o objeto que Lykawka e Mukai estimam ter encontrado em seus cálculos.”

      Referência:

      http://eternosaprendizes.com/2009/01/18/2012-o-planeta-x-nao-e-nibiru/

      \o/

  1. […] Phys.org , Artigo Científico, AstroPT, […]

  2. […] objeto não seria o famoso Planeta 9, pois esse suposto planeta tem uma massa 10 vezes a da Terra e está localizado entre 500 e 700 UA […]

  3. […] Como diz este nosso post: […]

  4. […] estudos baseados em simulações computacionais indicam uma alta probabilidade de que o Planeta 9, se existir, seja um exoplaneta que foi roubado pelo jovem Sol à estrela […]

  5. […] e o professor Gustavo Rojas fala sobre a controversa hipótese do nono planeta (já explicado aqui e […]

  6. […] projecto Ciência e Astronomia fez um hangout sobre a suposta descoberta de um novo planeta, e convidaram-me para falar sobre […]

Responder a santistasom. Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Verified by MonsterInsights