Possível Supernova na Galáxia NGC5128!

8 de Fevereiro de 2016

Peter Marples e Gred Bock, do Backyard Observatory Supernova Search (BOSS) — uma colaboração entre astrónomos amadores australianos e neo-zelandeses — , anunciaram a descoberta de uma possível supernova na galáxia activa NGC5128, situada a apenas 14 milhões de anos-luz na constelação austral do Centauro. O objecto, provisoriamente conhecido por AT2016adj, é visível na imagem da descoberta (em baixo) como uma pequena “estrela” de magnitude 14.0, adjacente a uma estrela com maior brilho aparente sobreposta na galáxia mas pertencente à Via Láctea.

Imagem da descoberta da AT2016adj na NGC5128, uma possível supernova. Crédito: BOSS.

Imagem da descoberta da AT2016adj na NGC5128, uma possível supernova.
Crédito: BOSS.

A tratar-se de uma supernova, foi provavelmente detectada numa fase muito precoce e o brilho deverá aumentar várias magnitudes, a menos que esteja por detrás de muita poeira interestelar. A última supernova na NGC5128, a SN1986G, foi descoberta em Maio de 1986 pelo australiano Robert Evans. Foi uma supernova de tipo Ia — resultado da explosão termonuclear de uma anã branca — que atingiu a magnitude 11.5 no pico de luminosidade, apesar da sua luz ser atenuada em quase 3 magnitudes devido à poeira interestelar na sua galáxia hospedeira.

A imagem seguinte, obtida com em 2010 com a Wide Field Camera 3 (WFC3) do telescópio espacial Hubble, mostra a parte central de NGC5128. A região onde apareceu a AT2016adj, assinalada com um círculo azul, é fortemente obscurecida por nuvens de poeira interestelar.

A região central da galáxia NGC5128. São visíveis enormes maternidades estelares (nebulosas vermelho-rosa) e milhares de estrelas jovens, muito luminosas, de cor azulada. Crédito: NASA/ESA.

A região central da galáxia NGC5128. São visíveis enormes maternidades estelares (nebulosas vermelho-rosa) e milhares de estrelas jovens, muito luminosas, de cor azulada.
Crédito: NASA/ESA.

Novas observações em várias bandas do visível e infravermelho próximo com um telescópio no Observatório de Mount Stromlo, na Austrália, sugerem que de facto se trata de um objecto obscurecido em cerca de 5 magnitudes!

À distância de NGC5128, a magnitude absoluta visual da AT2016adj é, sem contar com os efeitos da poeira interestelar, de pelo menos -12.5 pelo que é muito provável que seja realmente uma supernova. As próximas horas deverão confirmar esta suspeita por espectroscopia.

—————————————————-

9 de Fevereiro de 2016

As primeiras observações espectroscópicas do objecto foram publicadas por uma equipa do Lijiang Observatory, na China. O espectro é consistente com um objecto muito obscurecido e os astrónomos detectaram uma linha H-alfa em emissão, a imagem de marca de uma supernova de tipo II (colapso gravitacional do núcleo de uma estrela maciça). Esta identificação *é provisória* devido à dificuldade da observação (NGC5128 não fica muito acima do horizonte à latitude do observatório de Lijiang). A confirmar-se isto vai ser muito interessante. A imagem obtida pelo Hubble (ver acima) mostra várias estrelas luminosas na região em que apareceu a AT2016adj; uma delas poderá ser mesmo a progenitora da supernova!

A supernova parece ter sido descoberta numa fase muito precoce pois imagens da galáxia do dia 3 de Fevereiro não mostram nenhum objecto com magnitude superior a 18 na mesma posição.

Mais observações, realizadas no Observatório de Las Campanas, no Chile, sugerem que não se trata de uma supernova de tipo II mas antes de tipo Ib (colapso gravitacional do núcleo de uma estrela maciça que perdeu as camadas exteriores de hidrogénio).

A supernova foi também observada com o telescópio de luz visível e ultravioleta do observatório SWIFT, da NASA. A AT2016adj foi detectada em luz visível mas não no ultravioleta, algo que seria de esperar para um objecto muito obscurecido por poeira interestelar.

1 wcNHpTVBR3mDOIvkdvmGcA

10 de Fevereiro de 2016

Observações realizadas com o telescópio ANU de 2.3 metros do Observatório de Siding Spring, Austrália, confirmam a classificação da supernova AT2016adj como tipo II ou tipo IIb (a diferença é que na última as linhas de emissão de hidrogénio são mais fracas). O espectro mostra mais uma vez que a fonte está por detrás de um denso véu de poeira interestelar e confirma a detecção prévia de uma linha de emissão H-alfa proeminente.

Resumindo: parece agora bem estabelecido que: (1) o objecto é uma supernova; (2) a supernova resultou do colapso gravitacional do núcleo de uma estrela maciça.

Os próximos dias poderão trazer novidades interessantes, com a eventual identificação da estrela que explodiu em imagens de arquivo.

(Referências: The Type Ia Supernova 1986G in NGC 5128 — Optical Photometry and Spectra; ATel#8651; ATel#8654; ATel#8655)

A localização da supernova AT2016adj na galáxia NGC5128 numa fotografia obtida com o Hubble. Será que foi alguma das estrelas visíveis dentro do círculo que explodiu? Crédito: ESA/NASA.

A localização da supernova AT2016adj na galáxia NGC5128 numa fotografia obtida com o Hubble. Será que foi alguma das estrelas visíveis dentro do círculo que explodiu?
Crédito: ESA/NASA.

A Importância de uma Supernova aqui ao Lado

Para alguns dos leitores pode parecer estranho o meu entusiasmo com a notícia de uma supernova na galáxia NGC5128. A razão é muito simples e passo a explicar.

NGC5128 é uma das galáxias mais próximas do nosso Grupo Local, que contém a Via Láctea, a Galáxia de Andromeda (Messier 31) e a Galáxia do Triângulo (Messier 33) entre outras. É também uma das galáxias com maior brilho aparente e se Charles Messier tivesse tido acesso ao céu austral tê-la-ia certamente incluído no seu catálogo.

A proximidade da galáxia hospedeira implica que o brilho aparente da supernova é, em geral, elevado, permitindo o seu estudo mais detalhado. O motivo é simples: objectos mais brilhantes podem ser observados com uma melhor relação sinal/ruído.

Mas há uma razão ainda mais forte. É que, ao longo de muitos anos, os grandes telescópios na Terra e telescópios espaciais como o Hubble têm vindo a observar e fotografar com grande detalhe estas galáxias mais próximas. Quando ocorre uma supernova numa delas, especialmente se resultar do colapso gravitacional do núcleo de uma estrela maciça e muito luminosa, os astrónomos podem recorrer a este grande arquivo de imagens para tentar identificar a estrela que explodiu!

Imaginem só, podemos ter fotos da estrela obtidas anos ou mesmo apenas meses antes de ter explodido numa supernova! Isto é da maior importância para compreendermos que tipo de estrelas dão origem aos diferentes tipos de supernova e que sinais exteriores indiciam que a explosão está eminente.

(Referência: A Search for Core‐Collapse Supernova Progenitors in Hubble Space Telescope Images, Schuyler D. Van Dyk, Weidong Li and Alexei V. Filippenko, Publications of the Astronomical Society of the Pacific, Vol. 115, No. 803 (January 2003), pp. 1–20)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Verified by MonsterInsights