LIGO Detecta Ondas Gravitacionais

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Os dois detectores da experiência Advanced LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) parecem ter observado directamente, e pela primeira vez, ondas gravitacionais. A existência destas deformações no espaço-tempo, que se propagam à velocidade da luz, era a última grande previsão da Teoria da Relatividade Geral de Einstein ainda não verificada.

A confirmar-se – em ciência é fundamental a verificação independente de cada alegada descoberta – trata-se de um momento histórico, precisamente no ano em que a Relatividade Geral completa 100 anos.

Uma frame de uma simulação de um sistema binário de buracos negros mostrando a emissão de ondas gravitacionais. Crédito: C. Henze/NASA Ames Research Center.

Uma frame de uma simulação de um sistema binário de buracos negros mostrando a emissão de ondas gravitacionais.
Crédito: C. Henze/NASA Ames Research Center.

A detecção abre uma janela para o estudo de um Universo, até agora largamente desconhecido, de fenómenos extremos como colisões de estrelas de neutrões, de buracos negros e o colapso gravitacional de estrelas maciças.

As perspectivas são excitantes nesta área com a entrada em funcionamento ainda este ano do Advanced VIRGO, um detector semelhante construído nos arredores de Pisa, Itália, resultado de uma colaboração entre vários países europeus. O plano é usar os três detectores como um só instrumento mais sensível e fidedigno.

Um dos detectores da experiência LIGO, em Hanford, estado de Washington. O outro detector situa-se em Livingston, estado de Louisiana. Crédito: LIGO.

Um dos detectores da experiência LIGO, em Hanford, estado de Washington. O outro detector situa-se em Livingston, estado de Louisiana.
Crédito: LIGO.

A descoberta foi anunciada numa conferência de imprensa que teve lugar às 10h30m EST (15h30m em Portugal continental) no National Press Club, em Washington. A equipa do LIGO reportou a detecção de um sinal com uma significância estatística de 5.1 sigma ou seja, os cientistas têm 99.9999% de certeza que é real. O sinal foi observado por ambos os detectores do LIGO e movia-se aparentemente à velocidade da luz.

Mais extraordinária é a origem das ondas gravitacionais.
O sinal apresentava uma forma muito característica, consistente com o padrão gerado pela colisão de dois buracos negros. A análise dos dados permitiu deduzir que os dois corpos teriam massas individuais de 36 e 29 massas solares formando um buraco negro único de 62 massas solares após a colisão. A diferença de massa – 3 massas solares ((36+29) - 62 = 3) – foi emitida sob a forma de ondas gravitacionais!

Repito: três massas solares transformadas em energia! Por um breve instante, o sistema emitiu 50 vezes mais energia do que todas as estrelas do Universo combinadas!

O sinal era tão claro que os astrónomos puderam observar o “badalar” do novo objecto enquanto dissipava energia até estabilizar num buraco negro de Kerr (rotativo). Os cientistas estimam que a colisão se deu numa galáxia a uma distância de 1.3 mil milhões de anos-luz.

A descoberta vem descrita num artigo na revista Physical Review Letters de hoje (11 de Fevereiro de 2016).

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Previsão teórica do sinal característico resultante da colisão de dois buracos negros num sistema binário. O eixo dos yy mostra a amplitude das ondas gravitacionais emitidas pelo sistema. Da esquerda para a direita, os buracos negros orbitam-se mutuamente numa espiral cada vez mais apertada até que colidem e formam um único objecto que continua a emitir ondas gravitacionais até estabilizar. Crédito: Thomas W. Baumgarte & Stuart L. Shapiro / Physics Today.

Previsão teórica do sinal característico resultante da colisão de dois buracos negros num sistema binário. O eixo dos yy mostra a amplitude das ondas gravitacionais emitidas pelo sistema. Da esquerda para a direita, os buracos negros orbitam-se mutuamente numa espiral cada vez mais apertada até que colidem e formam um único objecto que continua a emitir ondas gravitacionais até estabilizar.
Crédito: Thomas W. Baumgarte & Stuart L. Shapiro / Physics Today.

A imagem seguinte mostra os sinais observados no dia 14 de Setembro de 2015 pelos dois detectores do LIGO. Cada um dos dois primeiros gráficos mostra o sinal observado por um detector (linha espessa) e o previsto pela teoria para a colisão de dois buracos negros (linha fina). O último gráfico mostra os sinais observados pelos dois instrumentos sobrepostos e ajustados no tempo para ter em conta as localizações diferentes dos detectores. A concordância mútua e de cada sinal com as previsões teóricas é notória.

Crédito: LIGO.

Crédito: LIGO.

A detecção deste sinal, se for confirmada, demonstra de uma vez por todas algo frequentemente encarado como um facto em vez de uma hipótese – que os buracos negros realmente existem!

Aparentemente, a descoberta hoje anunciada será a primeira de muitas pois a equipa refere que, desde Setembro de 2015, vários outros sinais foram detectados!

Mais sobre Ondas Gravitacionais, neste artigo.

(Referência: Nature)

3 comentários

6 pings

  1. Muito bom ! Ciência com letra muito maiúscula. Obrigado.
    Só ainda não consegui confirmação de que as ondas gravitacionais estão limitadas à velocidade da luz. São também materiais, com uma partícula associada ? Um gravitão ? Isso seria uma verdadeira ‘bomba’ !

    1. Olá Mário,

      Tanto quanto a equipa do LIGO pode apurar o sinal atravessou os dois detectores à velocidade da luz. A existência de gravitões não está estabelecida, nunca foram detectados. nem se sabe se a gravidade pode ser descrita por uma teoria quântica – esse é aliás um dos problemas mais importantes da física moderna.

      Ab.

      Luís

  2. Para complementar, deixo também estes artigos sobre esta descoberta:

    Oiça: som de buracos negros a colidirem prova Teoria da Relatividade Geral
    http://observador.pt/2016/02/11/teoria-da-relatividade-geral-confirmada-os-cientistas-descobriram-ondas-gravitacionais/

    Previstas por Einstein há 100 anos, ondas gravitacionais detectadas pela primeira vez
    https://www.publico.pt/ciencia/noticia/ondas-gravitacionais-previstas-por-einstein-detectadas-pela-primeira-vez-1723028?page=-1

    LIGO vê as primeiras ondas gravitacionais vindas de dois buracos negros se fundindo
    http://www.slate.com/blogs/bad_astronomy/2016/02/11/gravitational_waves_finally_detected_at_ligo.html
    http://www.universoracionalista.org/ligo-ve-as-primeiras-ondas-gravitacionais-vindas-de-dois-buracos-negros-se-fundindo/

    E, para quem pensa que a Teoria da Relatividade não se aplica a nós:
    A Teoria da Relatividade de Einstein aplicada no dia a dia
    http://observador.pt/2015/11/25/serve-teoria-da-relatividade-einstein/

  1. […] anúncio acontece apenas quatro meses volvidos desde o anúncio sensacional da primeira detecção directa de ondas gravitacionais pelo consórcio que gere o Advanced LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory), e […]

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  3. […] um par de buracos negros em fusão, foram capturadas pelo LIGO e foram confirmadas como sendo as primeiras ondas gravitacionais detectadas na história, confirmando uma das previsões da teoria da relatividade de Einstein. Até aí, tudo mais ou menos […]

  4. […] primeira medição já realizada foi concretizada a partir de duas infraestruturas distintas do LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave […]

  5. […] por GW150914, as ondas gravitacionais detectadas pelo LIGO são reflexos de uma fusão entre dois buracos negros com, respectivamente, 36 e 29 vezes a massa […]

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