Lisa, a cética

angel fossils

O episódio dos Simpsons, Lisa, a Cética, é muito bom, promovendo o ceticismo e o pensamento crítico.

No episódio, Lisa descobre um conjunto de fósseis, que aparentemente se parece com um esqueleto de anjo. Pelo menos, é isso que as pessoas de Springfield pensam. No entanto, Lisa é bastante cética quanto a essa crença, e fomenta a ideia que deve existir uma explicação racional e científica para a aparência do esqueleto. No final, todos percebem que o “esqueleto de anjo” afinal era só um golpe publicitário de um novo centro comercial.

Para mim, o mais interessante deste episódio foram algumas citações:

Lisa diz: “Vocês (do centro comercial) aproveitaram-se das crenças mais profundas das pessoas para as explorar, vendendo-lhes bugigangas”.

Lisa: “Vocês podem encarar a realidade e aceitar a ciência, ou então acreditarem em anjos e viverem num sonho de crianças”.

lisa

Juíz Snyder: “Quanto à Ciência vs. Religião, vou emitir uma ordem de restrição / providência cautelar: a religião deve ficar 500 metros separada da ciência”.

Esta é para mim a citação mais importante, que basicamente sugere a ideia de que “cada macaco deve ficar no seu galho”.

religion ciencia

6 comentários

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    • Adérito Veloso on 21/02/2016 at 17:56
    • Responder

    Não é disto que o povo gosta… o que o povo gosta, é que outros pensem por ele… mas, caro Carlos Oliveira, adorei este tema, “Lisa a cética”. Gostei do excelente comentário de Rafael, mas, devo dizer que adorei a sua convicção de que na ciência não há dogmas nem certezas absolutas…

    1. Adérito, a ciência não é dogmática, pelo contrário.
      No entanto, a ciência é feita por cientistas, e os cientistas, sim, como pessoas, por vezes podem ser dogmáticos 😉

      De qualquer modo, mesmo esse dogmatismo dos cientistas é por vezes mal compreendido.
      Um cientista está sempre disponível para mudar de opinião em face de novas evidências. Isso é o contrário de dogmatismo.

      No entanto, por vezes os cientistas são acusados de dogmatismo devido à má compreensão das palavras (diferença entre falar de forma científica ou popular).
      Quando um cientista diz que 2 + 2 = 4, é um facto… isto é factual, é matemática, não há nada a apontar. Não é dogmatismo, é matemática. A não ser que a acusação seja que a matemática é dogmática.
      Quando um cientista diz que é a natureza, e não crenças pessoais, que dão a resposta para o que queremos, isto também devia ser factual. Não é dogmatismo, a não ser que se perceba que a natureza é dogmática.

      Mas quando um cientista diz que a Teoria do Big Bang, ou a Relatividade ou a Evolução são certezas, isto é dito com base em inúmeras evidências. Não é por convicção pessoal. E mesmo estas certezas são a 99,999%. Há sempre lugar para uma possível substituição por algo com mais evidências. Essa substituição não pode é ser por algo que alguém leu num website, por exemplo a dizer que a Gravidade é causada pelo Pai Natal. Isso não são evidências. Nesse caso, continua-se a ter certeza na Teoria original 😉

      abraços!

        • Leandro Leão on 21/02/2016 at 23:50

        Ser contrariado é sempre desconfortável (pela natureza então) e até as mentes mais brilhantes que humanidade já produziu foram relutantes em aceitar descobertas que contrariavam a sua visão filosófica de universo. Quando olhamos para história das Ciências vemos muito disso. Max Planck também sentiu isso pelas suas descobertas exausto em tentar encontrar uma explicação para a radiação de corpo negro:

        “Uma nova verdade científica não triunfa por convencer os oponentes e fazê-los ver a luz, e sim porque seus oponentes eventualmente morrem e cresce uma nova geração que estará familiarizada a ela”

        E concordo com o professor quando diz que a ciência não é dogmática, mas sim as pessoas que ajudam na construção dessa ciência, interessante pensar que a morte seria um mecanismo da natureza de evitar a estagnação das descobertas. O que me lembra o pensamento sensível a isso:

        “Nós somos a maneira do Cosmos de conhecer a si mesmo” Carl Sagan.

        Ei professor maior viagem essa e então qual seria a atual cosmovisão dos cientistas? Poderia também falar sobre outros nomes da ciência que aceitaram as suas descobertas e os que já acreditavam que não havia muito mais a ser descoberto?

      1. Oi Leandro,

        Não cheguei a perceber as suas perguntas 😉

        A actual visão cosmológica é a Teoria do Big Bang.

        Pensar que nada mais há a ser descoberto é uma patetice. Ao longo dos séculos sempre houve quem fizesse essas “previsões” e sempre estiveram enganados. E sempre vão estar 😉

        De resto, sempre houve quem aceitasse melhor ou pior as descobertas.
        Einstein nunca gostou da Quântica, mas trabalhou bastante para ela e até recebeu um Prémio Nobel, não sobre a Relatividade, mas sim em assuntos relacionados com a Quântica. Ou seja, as suas convicções pessoais eram irrelevantes. Ele queria era estudar a natureza, fossem quais fossem os resultados; mesmo que fossem contra as suas convicções. E é assim que se faz 😉

        abraços!

    • Rafael Cavacchini on 21/02/2016 at 15:58
    • Responder

    Curiosamente, eu vi esse episódio hoje mesmo.

    Mas o episódio também chama a atenção para o fato que, quando o “anjo” começou a flutuar, Lisa, cética de carteirinha, também teve dúvidas com relação as suas proprias convicções.

    No final, o episódio não era apenas sobre ceticismo religioso, mas sobre “ter certezas demais”, em geral. É importante, portanto, ser cético com tudo: até com nossas convicções mais céticas.

    1. O seu comentário é excelente.
      Pensei o mesmo quando vi o episódio pela primeira vez 🙂

      Percebo o que quer dizer… quase que concordo consigo 😉

      Duas notas:

      – originalmente, o episódio era para acabar com Marge a pedir desculpa à filha, Lisa, por não ter acreditado nela, no ceticismo dela. Ou seja, o episódio era para acabar celebrando o racionalismo correcto da Lisa. Era uma celebração da razão. 😉
      No entanto, o episódio foi mudado porque, bem, é na FOX, e os EUA são muito religiosos. Não convém continuar a perder audiência… 😉

      – quando vi essa parte do episódio que o Rafael refere, veio-me à cabeça o livro Contacto, escrito por Carl Sagan. A heroína, quando faz o teste do pêndulo, também vem um pouco para trás, teve dúvidas, apesar de saber, com certeza absoluta, matemática, que o pêndulo não lhe batia.
      O que interpretei dessa situação, tal como Sagan, é que a ciência não é dogmática. Temos certezas, mas a palavra certeza em ciência é probabilística, baseada em evidências, enquanto popularmente se imagina outra coisa.
      A ideia é separar da religião, que tem certezas arrogantes com base em fé, sem evidências concretas (sem necessitar de experiências). A certeza religiosa é dogmática, sem mudança, quaisquer que sejam os factos/evidências.

      Os cientistas, por mais certezas que tenham, estão sempre dispostos a mudar o que pensam em face de novas evidências baseadas em mais experiências.
      Esta foi a minha interpretação, quer do episódio, quer da escrita do Sagan 😉

      Grande abraço!


      P.S.: como o Rafael afirma: “É importante, portanto, ser cético com tudo: até com nossas convicções mais céticas.”
      Concordo totalmente com isto! Penso que o episódio realmente retrata isto. Penso que estamos de acordo! 🙂

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