No interior da Fornalha Ardente

O Telescópio de Rastreio do VLT captura o Enxame da Fornalha.

Imagem VST do Enxame de Galáxias da Fornalha. Crédito: ESO. Agradecimentos: Aniello Grado & Luca Limatola

Imagem VST do Enxame de Galáxias da Fornalha.
Crédito: ESO. Agradecimentos: Aniello Grado & Luca Limatola

Esta nova imagem, obtida pelo Telescópio de Rastreio do VLT (VST) instalado no Observatório do Paranal do ESO no Chile, mostra a concentração de galáxias conhecida por Enxame da Fornalha, que se situa na constelação da Fornalha no hemisfério sul.

O enxame comporta uma quantidade de galáxias de todas as formas e tamanhos, algumas das quais escondem alguns segredos.

The Fornax Galaxy Cluster is one of the closest of such groupings beyond our Mapa de busca para o Enxame de Galáxias da Fornalha.

Mapa de busca para o Enxame de Galáxias da Fornalha.
Crédito: ESO. Agradecimentos: Aniello Grado & Luca Limatola

As galáxias parecem ser algo “sociais”, gostando de se juntar em grupos grandes, a que chamamos enxames. Na realidade é a gravidade que mantém as galáxias unidas num enxame, como se de uma única identidade se tratassem, com a força gravitacional a ser exercida tanto por grandes quantidades de matéria escura invisível como por galáxias que podemos ver. Os enxames contêm entre cerca de 100 a 1000 galáxias e podem ter dimensões que vão desde os 5 aos 30 milhões de anos-luz.

Os enxames de galáxias não têm formas claramente definidas, por isso é difícil determinar exatamente quando começam e quando acabam. No entanto, os astrónomos estimam que o centro do Enxame da Fornalha se encontra numa região situada a 65 milhões de anos-luz de distância da Terra. O que sabemos com mais precisão é que este enxame contém quase 60 galáxias grandes e um número semelhante de galáxias anãs mais pequenas. Os enxames de galáxias como este são bastante comuns no Universo e ilustram bem a influência poderosa que a gravidade exerce ao longo de grandes distâncias, conseguindo juntar as massas enormes de galáxias individuais numa só região.

No centro deste enxame, no meio dos três glóbulos difusos brilhantes que podem ser vistos à esquerda da imagem, encontra-se uma galáxia cD — uma canibal galáctica. As galáxias cD como esta, chamada NGC 1399, parecem-se com galáxias elípticas mas são maiores e possuem envelopes extensos e ténues. Isto acontece porque se formaram ao “engolir” galáxias mais pequenas, trazidas para o centro do enxame pela força da gravidade.

Há na realidade evidências deste processo estar a ocorrer mesmo à nossa frente. Trabalho recente levado a cabo por uma equipa de astrónomos liderada por Enrichetta Iodice (INAF – Osservatorio di Capodimonte, Nápoles, Itália), que fez uso de dados do VST do ESO, revelou uma ponte de luz muito ténue entre a NGC 1399 e a galáxia mais pequena que se encontra à sua direita, a NGC 1387. Esta ponte, que não tinha sido ainda observada (e é ténue demais para poder ser vista na imagem), é ligeiramente mais azul que qualquer das galáxias, indicando que é constituída por estrelas formadas a partir de gás retirado da NGC 1387 pela atração gravitacional da NGC 1399. Apesar de haver, de modo geral, poucas evidências de interação no Enxame da Fornalha, parece que pelo menos a NGC 1399 ainda continua a “alimentar-se” das suas vizinhas.

Em baixo à direita na imagem podemos ver uma enorme galáxia espiral barrada, a NGC 1365, que se trata de um belo exemplar de galáxias deste tipo, com a barra proeminente a passar através do núcleo central e os braços em espiral a saírem das pontas da barra. Refletindo a natureza das galáxias de enxame, também a NGC 1365 é mais do que parece. Esta galáxia foi classificada como uma galáxia do tipo Seyfert, possuindo um núcleo ativo brilhante que contém um buraco negro supermassivo no seu interior.

Esta imagem foi obtida com o Telescópio de Rastreio do VLT (VST) montado no Observatório do Paranal do ESO no Chile. Com 2,6 metros de diâmetro, o VST não é de modo nenhum um telescópio grande pelos padrões atuais, no entanto foi concebido especificamente para fazer rastreios do céu a larga escala. O que o torna especial é o seu enorme campo de visão corrigido e a sua câmara de 256 megapixels, a OmegaCAM, que foi especialmente desenvolvida para mapear o céu. Com esta câmara, o VST consegue produzir imagens profundas de grandes áreas no céu muito rapidamente, deixando a exploração dos pormenores de objetos individuais para telescópios realmente grandes, como o Very Large Telescope do ESO (VLT).

Este é um artigo do ESO, que pode ser lido aqui.

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