Descobertas novas evidências de que a primeira extinção em massa foi provocada por animais primitivos

fosseis_Namibia_Darroch_et_al_2016Fósseis do final do Ediacárico recentemente descobertos no sul da Namíbia. a–b) Aspidella; c–d) fósseis de Shaanxilithes cf. ninqiangensis preservados em 3 dimensões; e–i) icnofósseis de Conichnus sp. (escala equivalente a 1cm, extenso em e e f, que é equivalente a 1 mm).
Crédito: Darroch et al., 2016.

Fósseis recentemente descobertos no sul da Namíbia reforçam a ideia de que a primeira extinção em massa foi provocada por “engenheiros de ecossistemas” – organismos que alteram o ambiente de uma forma tão radical que levam espécies mais antigas à extinção. Ocorrido há aproximadamente 540 milhões de anos, este evento terá sido responsável pelo desaparecimento da biota de Ediacara, um conjunto diversificado de organismos multicelulares de corpo mole, que terá colonizado os fundos marinhos terrestres logo após a última das grandes glaciações do Criogénico.

Continuam, em grande medida, controversas as afinidades biológicas da biota de Ediacara, no entanto, os cientistas pensam que grande parte destes organismos deveriam ser provavelmente eucariotas multicelulares sésseis, que se extinguiram pouco antes do frenesim de biodiversificação responsável pela rápida irradiação dos metazoários no início do Câmbrico. Animais primitivos munidos de exoesqueletos, estes primeiros metazoários podiam mover-se livremente, pelo menos durante parte do seu ciclo de vida, e sustentarem-se a si próprios alimentando-se de outros organismos ou dos seus restos mortais. Foi neste notável evento evolutivo, a que os paleontólogos chamam de Explosão Câmbrica, que surgiram a esmagadora maioria dos filos de animais que hoje conhecemos.

“Estas novas espécies eram ‘engenheiros ecológicos’, que mudaram o ambiente de uma forma que tornou cada vez mais difícil a sobrevivência da biota de Ediacara”, disse Simon Darroch, professor assistente da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, e primeiro autor deste novo estudo. Divulgado num artigo recentemente publicado na revista Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, o estudo analisa em detalhe os registos fósseis de uma comunidade mista de animais primitivos e de organismos da biota de Ediacara.

rep_art_biota_Ediacara_Ryan_SommaRepresentação artística da biota de Ediacara.
Crédito: Ryan Somma.

“Até agora, eram limitadas as evidências de uma comunidade biótica contendo metazoários e organismos de corpo mole da biota de Ediacara”, explicou Darroch. “[Neste estudo], descrevemos novos registos fósseis do sul da Namíbia, que preservaram a biota de Ediacara de corpo mole, enigmáticos organismos tubulares, que se pensa representarem metazoários, e icnofósseis de metazoários verticalmente orientados. Apesar de permanecer imprecisa a identidade destes vestígios fósseis, estas estruturas têm semelhanças notáveis com organismos com a forma de cone denominados Conichnus, descobertos [em rochas] do período Câmbrico.”

Num trabalho anterior publicado em setembro passado, Darroch e colegas divulgaram a descoberta de registos fósseis do que aparenta ser uma comunidade da biota de Ediacara com sinais de stress, associada ao que parecem ser um conjunto de tocas de animais. “Neste [novo] artigo, focamo-nos numa única causa; descobrimos novos registos fósseis que preservam tanto os fósseis da biota de Ediacara como os dos animais (não só as tocas de animais – os icnofósseis – como também os fósseis dos restos mortais dos animais)”, disse Darroch. “[Ambos] partilham as mesmas comunidades, o que nos deixa a especular sobre como interagiam estes dois grupos muito distintos de organismos.”

“Alguns dos fósseis de tocas que encontrámos são geralmente interpretados como vestígios de anémonas marinhas – predadores passivos que poderão ter consumido larvas de organismos da biota de Ediacara”, acrescentou Darroch. “Encontrámos também aglomerados de organismos em forma de fronde da biota de Ediacara preservados com fósseis de animais formando espirais em redor das suas bases. Em geral, estes novos locais revelam uma imagem de ecossistema de ‘transição’ muito invulgar, que existiu imediatamente antes da explosão do Câmbrico, com os organismos da biota de Ediacara agarrados [a um substrato], à espera de uma morte sombria, à medida que os animais de aspeto moderno se diversificavam e começavam a perceber o seu potencial.”

Apesar destes eventos terem ocorrido há 540 milhões de anos, Darroch pensa que esta descoberta veicula uma mensagem relevante para os dias de hoje. “Existe uma analogia poderosa entre a primeira extinção em massa da Terra e o que se passa atualmente”, disse Darroch. A extinção do final do Ediacárico mostra que a evolução de novos comportamentos pode alterar fundamentalmente todo o planeta, e que hoje somos nós, os seres humanos, os mais poderosos ‘engenheiros de ecossistemas’ alguma vez conhecidos.”

Podem encontrar todos os detalhes deste trabalho aqui.

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