A nebulosa da Lagosta: um berçário estelar

NGGC 6357, a Nebulosa da Lagosta. Aquisição: iTelescope – Portugal; processamento: Ruben Barbosa.

“Só quero que me ouças!

Se te pudesse tocar…
Ai se te pudesse sentir!
Se me deixasses, pelo menos, aproximar
De ti quando ficas quieta.
Deixa-me sussurrar-te sem que te esquives!
Ouve o que tenho para te dizer e não fiques
Aí assim tão imperial e majestosa
Com um desprezo tão grande
Quanto o meu amor por ti…
Só te quero dizer que este amor não morre.
Não! Ele não morre, nem se deteriora,
Nem se perde. É um amor inesgotável!

Já me podes dar atenção
Ou será que só te tenho quando precisas mesmo de mim?
Espera! Não fujas!
Não me importo se me deres só isso também!
Deixa-me pelo menos o teu cheiro de quando passas ainda que não te possa tocar!
Mas vou dizer-te que nunca morrerá este amor por ti senão por causas externas que me matem a mim…
E mesmo assim, se em nebulosa me tornar, vou amar-te eternamente!

Ricardo Teixeira Matos, 05/12/2018, em Astronomia Amadora Forum, divulgação do livro Astronomia com Poesia.

O grupo iTelescope – Portugal está de regresso com o segundo trabalho, novamente incidindo sobre um objeto do hemisfério sul, a Nebulosa da Lagosta, NGC 6357. Esta bonita nebulosa é um berçário estelar, localiza-se na Constelação do Escorpião, tem aproximadamente 60 minutos de arco de diâmetro e é constituída por regiões HII, estrelas de elevada massa (O e B), regiões de fotodissipação e fontes de infravermelhos.

Regiões HII são fontes intensas de radiação nos comprimentos de onda do visível, infravermelho e rádio, e ocorrem quando estrelas de elevada massa (O e B) ionizam o gás que as circundam.

A distância à NGC 6357 é determinada a partir do aglomerado Pismis 24, havendo diversa literatura com valores entre 1 a 2,5 kpc.

Por mecanismos ainda não totalmente compreendidos, a nebulosa está a formar três das estrelas mais massivas já observadas, PMIS 24-1NE, PMIS 24-1SW e PMIS 24-17, no aglomerado de Pismis 24 (zona mais clara perto do centro da imagem).

As elegantes estruturas que exibe resultam de interações entre ventos estelares, campos magnéticos, pressão da radiação e gravidade, sendo o brilho resultante da emissão de hidrogénio ionizado. O coeficiente de extinção (~3,5) é superior ao do meio interestelar.

A região central, em forma de bolha, é separada por uma coluna de poeira que divide a região em duas cavidades e apresenta emissões difusas de OIII revelando que se encontra preenchida por gás quente (10^4 K), sendo o aglomerado Pismis 24 a principal fonte de excitação dessa região.

A leste da bolha existe uma intensa emissão de SII circundando a região de emissão Hα.

Os principais aglomerados desta nebulosa são:

  • Pismis 24-1 (α= 17h 24m 44s ; δ=-34° 11’ 56’’) apresenta uma sequência principal relativamente vertical e populosa, e a maior parte das estrelas do diagrama HR é composta por estrelas vermelhas. Este aglomerado contém 12 estrelas massivas conhecidas, 3 delas com massas na ordem das 100 massas solares;
  • BDS 101 (α= 17h 25m 34s ; δ=-34° 23’ 09’’) é o segundo aglomerado mais populoso do complexo e mostra uma sequência principal pobre em estrelas e rica em pré-sequência principal. A única estrela que ocupa a sequência principal é uma estrela massiva (O);
  • VVV CL164 (α= 17h 24m 32s ; δ=-34° 13’ 25’’) é um aglomerado de idade intermédia, estimada em 5 Ganos, exibindo estrelas na sequência principal, azuis muito luminosas (blue stragglers) e ponto de turn-off;
  • VVV CL167, do qual faz parte a Wolf-Rayet HD157504 (WR93, α= 17h 25m 09s ; δ=-34° 11’ 13’’). Trata-se dum objeto interessantíssimo, que apresenta um vento estelar poderoso, ~5.800 km/s, responsável pela dispersão para o espaço da maior parte das camadas exteriores da estrela (ricas em H, He, C e N, sucessivamente). Dentro da classe, a WR93 é extrema com um tipo espetral WO – e forte emissão nas linhas do oxigénio – só se conhecendo 4 na Via Láctea. Estas estrelas são demasiado quentes, luminosas, pequenas e maciças; os valores da WR93 são: 160 mil Kelvin, 200 mil vezes a luminosidade do Sol, 60% do raio do Sol e 9 massas solares (muito, muito densa). Pensa-se que constituem a fase final da vida de estrelas muito maciças (http://arxiv.org/pdf/astro-ph/0403482v1.pdf).

Seguem-se diversos processamentos efetuados por membros do grupo iTelescope- Portugal:

A Nebulosa da Lagosta, à esquerda; Nebulosa da Pato do Gato, à direita. Aquisição: iTelescope – Portugal; processamento: Ruben Barbosa.

 

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal, com telescópio remoto localizado em Siding Spring Austrália; processamento de imagem efetuado por Carlos Soares.

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de Carlos Soares; Palette Hubble (Hα: Verde; OIII: Azul; SII: Vermelho).

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal, com telescópio remoto localizado em Siding Spring Austrália; processamento de imagem efetuado por João Vieira.

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de João Vieira.

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de João Vieira.

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de Andreia Mendes. Processamento: Hα: Vermelho; OIII: Azul; SII: Verde.

Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de Fi;

Imagem obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de Filipe Pires;

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Imagem HD obtida pelo grupo iTelescope – Portugal. Processamento de Cédric Pereira. Processamento: Hα: Azul; OIII: Vermelho; SII: Verde.

O grupo iTelescope – Portugal é constituído por mais de uma dezena de astrónomos amadores e tem como objetivo aprofundar as competências adquiridas, a partilha de conhecimentos, promover a cultura científica através da astronomia e contribuir para uma melhor compreensão dos fenómenos astronómicos.

Informações pormenorizadas: Estudo de aglomerados estelares no complexo HII NCG 6357 com o VISTA, de Eliade Ferreira Lima.

Plataforma “O Universo em Fotografia”.

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