[ET #4] – Estabelecendo contacto ET

4. ET_est_contacto

Filme: E.T., o Extraterrestre

E se de repente fosse confirmada a receção de um sinal de origem ET? Um sinal alienígena destacar-se-ia dos outros sinais por produzir padrões repetitivos do espaço profundo (locais onde não existem equipamentos feitos pelo homem) ou por amplificar significativamente a estática/ruído natural na frequência do rádio.

Em 1996, o radiotelescópio de Green Bank em West Virgínia detetou um sinal de origem desconhecida. De imediato foram executados os procedimentos de verificação, dando-se início à deslocação das antenas ligeiramente para fora da fonte, seguindo-se novo redirecionamento para esta. O racional é o seguinte: se o sinal for proveniente do espaço profundo, um pequeno desvio das antenas será suficiente para interrompê-lo e depois detetá-lo novamente quando se redirecionar para a fonte. Para surpresa de todos, foi exatamente isso que aconteceu, o sinal tinha passado o primeiro teste. O segundo passo foi pedir confirmação a outro observatório para despistar algum erro no hardware ou no software. E 16 horas após a deteção do sinal, a fonte foi identificada: era um sinal de telemetria do SOHO, um satélite de pesquisa solar operado pela NASA e pela Agência Espacial Europeia. O falso alarme foi o produto de uma pequena cadeia de eventos improváveis: um alinhamento geométrico do radiotelescópio com o SOHO e a segunda antena (na Geórgia), normalmente utilizado para verificar sinais, estava inoperacional há alguns dias.

O protocolo SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre) sobre procedimentos a desenvolver após deteção de um sinal credível consiste em:

  1. confirmar a deteção através de outro observatório,
  2. notificar outros cientistas, governo, media e público em geral (por esta mesma ordem) e
  3. não repetir mensagens na direção do sinal detetado sem prévia consulta internacional.

 

Num cenário hipotético de deteção de um sinal ET, o que poderíamos deduzir de imediato? Se o sinal tivesse origem a uma distância de 1.000 a 2.000 anos luz, seria relativamente fácil identificar o sistema estelar de origem. Depois, baseados no brilho aparente da estrela e na sua classe espetral, obteríamos a distância (caso já não estivesse catalogada). Seguia-se a deteção do exoplaneta, mas considerando a instrumentação atual, seria extremamente difícil conseguir resultados para planetas semelhantes à Terra. Todavia, se estivesse mais perto, talvez pudéssemos detetar a composição da sua atmosfera através de técnicas de espetroscopia na zona do terminador (fronteira entre o dia e a noite), na eventualidade desse exoplaneta passar à frente da sua estrela, quando alinhado com a nossa linha de visão. Refiro-me ao método do trânsito que consiste em detetar indiretamente exoplanetas que atravessam a sua estrela quando alinhados com o observador, provocando uma diminuição da radiação emitida pela sua estrela (geralmente inferior a 2%) durante a travessia. Encontrar oxigénio, por exemplo, poderia dizer-nos algo sobre a semelhança com a bioquímica terrestre. Devido à banda estreita usada na procura de vida ET (dezenas de Hz), seria possível perceber a rotação do exoplaneta através do efeito de doppler e determinar a duração do dia. Por exemplo, à latitude de 41 N (local onde resido), a Terra roda a ~340 metros por segundo em direção a Este; se estivermos a registar uma transmissão ET, emitida no comprimento de onda da linha do hidrogénio (21 cm), então a frequência do sinal vindo de Este será aumentada cerca de 1,6 KHz ou diminuída em 1,6 KHz, se vier de Oeste. Com a mesma técnica, seria também possível determinar a duração do ano e confrontar com o valor obtido pelo método do trânsito (3ª lei de Kepler: o quadrado do período orbital é igual ao cubo do semieixo maior da sua órbita).

Deixando agora um pouco de lado os pormenores técnicos decorrentes da procura de vida ET, podemos ir debatendo as implicações provocadas na sociedade pelo estabelecimento de um contacto:

  • Qual será o efeito da deteção? Há quem defenda que o resultado traduzir-se-á em sensações de medo e pânico, mas penso que dependerá da natureza/distância da deteção. Por exemplo, se detetarmos um sinal distante, o sentimento será de grande entusiasmo e fascinação, mas se for proveniente de uma sonda no nosso sistema solar, o sentimento deverá ser contrário, ou seja, angústia e repulsa, pois provavelmente instalar-se-á a sensação de que se está a ser seguido ou observado.
  • Os ET serão amistosos ou agressivos? É uma questão difícil de responder porque não sabemos nada sobre a sua biologia e comportamento. Poderemos especular como serão, baseados no conhecimento da nossa própria civilização. Acredito que não serão agressivos, senão como poderiam colaborar no envio de um sinal e na manutenção de uma sociedade? Por outro lado, também não devem ser amistosos de todo, pois tal como nós, representam o produto da evolução darwiniana. Poderemos pensar que, à nossa semelhança, terão um pouco dos dois comportamentos.
  • Quem representará a Terra em situação de contacto? A NASA? A ONU? Uma Nação específica com capacidade de controlar o espaço? Algum grupo de cientistas ou de astrónomos? A população em geral? Em qualquer uma das situações haverá vantagens e desvantagens…
  • Como divulgar a descoberta à população? Progressiva ou subitamente?
  • Qual o efeito na religião? Enquanto que o Budismo e o Hinduísmo aceitam a existência de inteligência ET, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islão defendem que o homem foi criado à imagem de Deus. Os ET terão um Deus à sua imagem? Será que a religião é importante para eles? Ou será que já abandonaram o conceito de religião? Irá este contacto mexer de algum modo com as crenças já existentes na Terra? E quais serão as crenças dos ET? Preocupar-se-ão com as eternas questões da vida e da morte?
  • Como conseguiremos dialogar com os ET? Será que surgirá uma nova linguagem? É que aqui na Terra não conseguimos dialogar com outras espécies….

Em síntese, estas e muitas outras questões poderão surgir. Prever os efeitos de um contacto ET não é tarefa fácil e talvez fosse benéfico estabelecer-se um plano de ação para não sermos apanhados desprevenidos e de certa forma nos sentirmos serenos e preparados. A deteção terá um impacto bem maior se representar um perigo imediato para a nossa população. Continua a ser uma boa questão perguntar por que motivo não vemos nenhum alienígena inteligente, se a probabilidade de existirem é razoável. Mas isso será tema de um dos próximos artigos.

Termino com uma frase controversa de Seth Shostak (SETI), embora muito parcial: “Finding life beyond Earth would be like giving neanderthals access to the British Museum; we could learn so much from a society that is more advanced than ours, and it would calibrate our own existence.”

Tradução: “Encontrar vida além da Terra seria como dar ao homem de Neandertal acesso ao Museu Britânico; poderíamos aprender muito com uma sociedade que está mais avançada do que a nossa, e seria calibrar nossa própria existência.”

Quando estabelecermos contacto talvez sejamos forçados a evoluir, percebendo que fazemos parte de uma família de formas de vida que habitam o Universo.

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