Via Láctea teve passado explosivo

Ilustração artística da Via Láctea como terá sido há 6 milhões de anos, numa altura em que tinha atividade de "quasar". Crédito: Mark A. Garlick / CfA

Ilustração artística da Via Láctea como poderá ter sido há 6 milhões de anos, numa altura em que tinha atividade de “quasar”. Vê-se uma bolha laranja gigante desde o centro galáctico até uma distância de 20.000 anos-luz. Fora dessa bolha, existe um “nevoeiro” difuso de gás com um milhão de graus de temperatura que poderá explicar a matéria em falta na Galáxia de 130 mil milhões de massas solares.
Crédito: Mark A. Garlick / CfA

Uma enorme bolha ao redor do centro da Via Láctea evidencia que, há 6 milhões de anos, o buraco negro supermassivo no centro da nossa Galáxia estava desperto e com uma energia furiosa.

Apesar de se falar bastante na matéria negra, a verdade é que também existe muita matéria normal, bariónica, “em falta” (que os astrónomos ainda não encontraram).
A nossa Galáxia tem 1 a 2 trilhões (no Brasil) de vezes mais massa que o Sol. 5/6 dessa massa está na forma de matéria negra. Os restantes cerca de 200 bilhões (no Brasil) de massas solares é matéria normal. No entanto, somando toda a massa nas estrelas, gás e poeira que vemos, só existem 65 bilhões de massas solares. Assim, o resto da matéria normal está em falta.

O observatório espacial XMM-Newton encontrou uma grande quantidade de matéria bariónica espalhada pela Galáxia, na forma de gás a uma temperatura de um milhão de graus. Esse gás está, tanto no disco da Galáxia, como no volume esférico que rodeia a Galáxia.
Essa matéria em falta estava escondida porque é demasiado quente para ser vista.

A nuvem esférica é enorme. Enquanto o Sol está a somente 26.000 anos-luz do centro da Galáxia, a nuvem estende-se até uma distância de entre 200.000 – 650.000 anos-luz.

Supostamente, pela física gravitacional, a densidade do gás deveria diminuir a partir do centro para fora. No entanto, ele não fazia isso. Era um mistério. Até o investigador-principal do estudo modelar o gás, até 20.000 anos-luz de distância do centro da Galáxia. Porquê este valor? Porque é a distância a que chegam duas bolhas gigantes de raios-gama descobertas pelo observatório Fermi em 2010.

Assim, algo empurrou o gás para fora do centro da Galáxia, criando uma bolha gigante.

Essa bolha indica que há 6 milhões de anos atrás, o buraco negro supermassivo no centro da nossa Galáxia, que atualmente está tranquilo, na altura estava em grande atividade, despedaçando (e engolindo) estrelas e nuvens de gás. Essa matéria aquece, enquanto cai, e liberta grandes quantidades de energia, que abre caminho pelo halo de gás, expandindo/abrindo a bolha.

Na altura, a nossa Galáxia tinha um núcleo ativo, tal como vemos atualmente noutras galáxias no Universo.
Seis milhões de anos mais tarde, a onda de choque criada por esta atividade atravessou 20.000 anos-luz no espaço, criando a bolha observada pelo observatório XMM-Newton.
Entretanto, já sem alimento próximo, o buraco negro supermassivo acalmou (que é o que vemos hoje).

Fontes: ESA, Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Artigo Científico

4 comentários

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  1. Que louco. A via lactea ja tinha se formado quando o blackhole central estava ativo? Existe alguma ilustração para sabermos a dimensão?

    1. Sim.
      O buraco negro estava ativo há 6 milhões de anos.
      A Via Láctea formou-se há cerca de 10 bilhões (no Brasil) de anos.

      abraços!

  2. “Uma enorme bolha ao redor do centro da Via Láctea evidencia que, há 6 milhões de anos, o buraco negro supermassivo no centro da nossa Galáxia estava desperto e com uma energia furiosa”.
    Questão que coloco é que o Senhor Professor, cujos artigos me apaixonam, me esclareça se se trata efectivamente de 6 milhões. Acho que se trata de um erro e o que se pretenderia informar é 6 mil milhões (bilhões no brasil).
    Muito grato pelo esclarecimento e de um modo geral por todo o conhecimento que partilha.
    Cumprimentos de António Figueiroa

    1. A dúvida realmente é pertinente porque 6 milhões é muito pouco em termos cósmicos…
      … mas a verdade é que é 6 milhões. 😉

      Se ler as 3 fontes, incluindo o artigo científico, todos dizem 6 milhões 😉

      abraços!

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