Radiotelescópio de Arecibo obtém imagens do Núcleo do Cometa Honda-Mrkos-Pajdušáková

O cometa 45P/Honda-Mrkos-Pajdušáková (doravante 45P) foi descoberto em Dezembro de 1948 pelos astrónomos Minoru Honda, Antonín Mrkos e L’udmila Pajdušáková. Ao contrário da maioria dos cometas, que têm períodos orbitais de muitos milhares de anos, o 45P completa uma órbita em torno do Sol em apenas 5.3 anos. No seu percurso, o cometa passa entre as órbitas de Mercúrio e Vénus no periélio e atinge a órbita de Júpiter no afélio. Apesar de visitar regularmente o Sistema Solar interior, o seu pequeno brilho intrínseco torna as suas aparições pouco espectaculares.

O cometa 45P/Honda-Mrkos-Pajdušáková fotografado ao longo de três dias, à medida que se aproximava da Terra. É notório o aumento do diâmetro da cabeleira do cometa. A cor verde característica é devida à emissão de luz por carbono diatómico (C2), um fragmento de moléculas mais complexas presentes no cometa e dissociadas pela luz ultravioleta do Sol e partículas do vento solar.
Crédito: Fritz Helmut Hemmerich.

Este ano, no entanto, as coisas são diferentes. A geometria orbital e o timing são particularmente favoráveis e o 45P faz uma passagem rasante à Terra. De facto, a maior aproximação entre os dois astros aconteceu no passado dia 11 de Fevereiro, quando o núcleo do cometa passou à distância de 12.4 milhões de quilómetros, cerca de 31 vezes a distância da Terra à Lua. Apesar da sua proximidade, o cometa é visível apenas com binóculos durante a madrugada, movendo-se pela esfera celeste a grande velocidade relativamente ao fundo de estrelas fixas, um efeito detectável ao fim de algumas horas ou, melhor ainda, de noite para noite.

A trajectória vertiginosa do cometa 45P/Honda-Mrkos-Pajdušáková durante o mês de Fevereiro, altura em que faz um vôo rasante pela Terra.
Crédito: Wikipedia.

Apesar de o 45P ser alvo de investigação desde a sua descoberta, pouco se sabe sobre as dimensões, a forma e a rotação do seu núcleo. As razões são simples. Por um lado, os núcleos cometários têm dimensões típicas entre algumas centenas de metros até alguns quilómetros, estando por isso fora dos limites de resolução dos melhores telescópios disponíveis na Terra. Por outro lado, quando estão mais próximos da Terra, estão invariavelmente ocultados por uma enorme nuvem de gás proveniente da sublimação dos gelos na sua superfície — a cabeleira do cometa. As imagens detalhadas de núcleos cometários que temos foram quase todas obtidas in loco por sondas não tripuladas.

Um bestiário de núcleos cometários, a maioria fotografados por sondas não tripuladas. Para os exemplos com a referência a “Arecibo” as imagens foram obtidas com uma técnica semelhante à dos radares.

A passagem próxima do 45P pela Terra, no entanto, permitiu utilizar uma técnica engenhosa para obter imagens do seu núcleo. O radiotelescópio gigante de Arecibo, em Porto Rico, seguiu o cometa na sua trajectória e enviou pulsos de ondas de rádio na sua direcção. Depois de enviar um pulso, os cientistas usaram o mesmo radiotelescópio para escutar os ecos débeis dessas ondas de rádio. Parte delas embateu na superfície do cometa e foi reflectida na direcção da Terra. Os ecos foram depois processados por software para sintetizar imagens do núcleo com uma resolução esperada de 15 metros por pixel, no instante de maior aproximação.

O radiotelescópio de Arecibo, na ilha de Porto Rico.
Fonte: http://static.panoramio.com/photos/original/52233602.jpg

As primeiras imagens foram entretanto disponibilizadas pela equipa do Planetary Radar Science Group, do Observatório de Arecibo. A sua análise permitiu aos cientistas deduzir que o núcleo do cometa é maior do que inicialmente estimado, com cerca de 1.3 km no seu eixo maior, e que o seu período de rotação é de 7.6 horas. As imagens mostram também a sua forma irregular. O 45P é apenas o sétimo cometa cujo núcleo pode ser observado directamente da Terra usando esta técnica de radar.

O núcleo do 45P observado pelo radiotelescópio de Arecibo.

Com a Lua a aparecer cada vez mais tarde, a segunda metade de Fevereiro proporciona a última oportunidade para ver o cometa que, a partir do início de Março, diminuirá rapidamente de brilho. O 45P pode ser visto de madrugada, com uns simples binóculos, movendo-se de noite para noite pelas constelações do Boieiro, Cães de Caça, Cabeleira de Berenice, Ursa Maior e Leão. O mapa seguinte mostra a sua trajectória na esfera celeste. Note que a cauda do cometa, formada por moléculas ionizadas que emitem luz principalmente no extremo azul do espectro visível, é difícil de observar, pois a nossa visão nocturna (escotópica) é pouco sensível a essa cor.

Crédito: Sky & Telescope

Referência: Planetary Radar Science Group, Arecibo Observatory.

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