Supernova na Galáxia do Fogo de Artifício

Uma supernova brilhante foi descoberta na “Galáxia do Fogo de Artifício”, ou NGC6946, por Patrick Wiggins na madrugada do dia 14 de Maio (Domingo passado). A confirmação surgiu poucas horas depois com imagens obtidas por telescópios nos observatórios de Las Cumbres e Tenagra, ambos nos EUA. O próprio Wiggins tinha obtido imagens da galáxia na noite de 12 de Maio e nelas a supernova ainda não era visível, pelo que a explosão foi detectada muito precocemente. A NGC 6946 é uma bela galáxia espiral barrada a apenas 18 milhões de anos-luz, na direcção da constelação do Cefeu, e encontra-se parcialmente encoberta por nuvens de poeira interestelar da Via Láctea.

Nesta exposição de 2 minutos de NGC 6946 a supernova (assinalada pelos traços) destaca-se claramente num dos braços espirais da galáxia.
Crédito: Gianluca Masi (Virtual Telescope) e Michael Schwartz (Tenagra Observatories).

Aquando da descoberta, a supernova brilhava com magnitude 12.6 o que corresponde a uma magnitude absoluta de aproximadamente -17 (incluindo uma correcção para a absorção da luz por poeira interestelar) ou seja 500 milhões de vezes o brilho do Sol. A AT2017eaw, como foi designada, é visível com um telescópio modesto de pelo menos 15 cm mas precisará de um céu sem poluição luminosa para ver a galáxia e um bom mapa (ver abaixo) para identificar a supernova entre a miríade de estrelas que povoam o campo de visão.

Crédito: Bob King.
Fonte: Sky&Telescope.

Não é por acaso que NGC 6946 é conhecida entre os aficionados da astronomia por “Galáxia do Fogo de Artifício”. De facto, nos últimos 100 anos os astrónomos descobriram 10 supernovas nesta galáxia — em 1917, 1939, 1948, 1968, 1969, 1980, 2002, 2004, 2008 e, agora, 2017. O ritmo intenso a que a galáxia está a formar novas estrelas explica em grande parte a ocorrência de tantas supernovas. Na Via Láctea o ritmo estimado é de apenas 1–2 supernovas por século.

NGC 6946, com a supernova (assinalada com traços vermelhos), junta-se ao enxame de estrelas NGC6939 nesta imagem de grande campo.
Crédito: Gianluca Masi (Virtual Telescope) e Michael Schwartz (Tenagra Observatories).

Horas depois da confirmação da supernova, um grupo de astrónomos analisou imagens de arquivo obtidas com o Telescópio Espacial Spitzer, no infravermelho, e detectou um ponto luminoso consistente com a posição da AT2017eaw. Se existir alguma relação entre esta fonte de infravermelhos e a supernova, é bem possível que a estrela que explodiu tenha sido uma supergigante vermelha (ver mais abaixo). De facto, no final das suas vidas, a maioria das estrelas maciças transformam-se em supergigantes vermelhas de enorme tamanho e luminosidade e formam casulos de poeira que as envolvem por completo e emitem copiosamente no infravermelho.

Imagem de NGC 6946 obtida com o telescópio Gemini Norte, no Hawaii, mostrando a região da galáxia onde surgiu a supernova agora avistada (circunferência).

Entretanto, sucederam-se confirmações, obtidas por análise do espectro, de que se trata efectivamente de uma supernova de tipo II (dois), resultado do colapso gravitacional do núcleo de uma estrela maciça, provavelmente uma supergigante vermelha. Os cientistas mediram, para as camadas mais exteriores da estrela projectadas para o espaço, uma velocidade de expansão de 14 mil quilómetros por segundo e uma temperatura de 16 mil Kelvin!

Será interessante seguir os desenvolvimentos nos próximos dias pois existem imagens, obtidas pelo Telescópio Espacial Hubble e por outros grandes telescópios na superfície da Terra, da zona dos braços espirais onde a supernova surgiu e existe a possibilidade de identificar nelas a estrela que explodiu!

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Após esta descoberta, uma equipa de astrónomos anunciou a identificação da provável progenitora da AT2017eaw.

Imagens obtidas pela câmara Advanced Camera for Surveys do Hubble em 29 de Julho de 2004 mostram uma estrela vermelha luminosa quase coincidente com a posição da supernova. Não há outras estrelas luminosas num raio de 3 segundos de arco em seu redor, o que reforça a sua identificação como a progenitora. A magnitude absoluta estimada para a estrela é de -7.6 correspondendo a uma luminosidade real de 85 mil sóis e a sua temperatura, estimada pelo brilho em imagens obtidas em zonas distintas do espectro, é de 3500 Kelvin. Estas características são típicas de uma estrela supergigante vermelha com 13 massas solares à nascença.

Os cientistas notam ainda que a estrela não é detectada numa das imagens na região do espectro visível, mas é bastante luminosa no infravermelho, dando suporte à ideia de que a estrela se encontrava envolta num casulo de gás e poeira antes de explodir.

Fontes: descoberta e confirmação da AT2017eaw, detecção de possível progenitora no infravermelho, confirmação do tipo da supernova 1, 2 e 3, provável identificação da progenitora.

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  2. […] linhas vermelhas apontam para a localização da supernova SN 2017eaw. Nos últimos 100 anos, foram descobertas 10 supernovas na galáxia NGC 6946. Como comparação, na […]

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