Telescópio Hubble ajuda a desvendar o mistério dos “Fast Radio Bursts”

O Australian SKA Pathfinder, um conjunto de radio-telescópios que fará parte do Square Kilometre Array, o maior radiotelescópio da Terra, em construção na Austrália e na África do Sul. Esta nova geração de instrumentos está na linha da frente na detecção e estudo subsequente dos FRB.
Crédito: CSIRO.

O FRB121102 é o único Fast Radio Burst (FRB doravante) conhecido que emite, intermitentemente, múltiplos pulsos de ondas de rádio. Essa particularidade permitiu, no início do ano, determinar com precisão a sua posição na esfera celeste e demonstrar que tinha origem numa pequena galáxia situada a cerca de 3 mil milhões de anos-luz (z = 0.193), na direcção da constelação do Cocheiro. Agora, observações realizadas com o Telescópio Espacial Hubble mostram que a posição do FRB121102 coincide com uma região de formação estelar gigante, com mais de 4 mil anos-luz de extensão, situada na periferia da galáxia.

Esta imagem obtida com o telescópio Hubble mostra a galáxia hospedeira do FRB121102 (elipse roxa). A maternidade estelar gigante situa-se na periferia da galáxia (circunferência magenta) e o FRB121102 localiza-se no seu interior (cruz branca). O disco negro no canto inferior direito da imagem é um estrela da nossa galáxia que se encontra na mesma linha de visão.
Crédito: Bassa et al. 2017.

Os dados recolhidos com o Hubble mostram também que a galáxia pertence a um grupo restrito designado por EELG (Extreme Emission-Line Galaxy). Trata-se de galáxias anãs cujo gás é muito deficiente em “metais” (elementos mais pesados do que o hidrogénio e o hélio) e que apresentam linhas de emissão intensas no seu espectro devidas a gás interestelar fortemente ionizado por grande quantidade de estrelas jovens, maciças e muito quentes. As EELG atravessam uma fase designada por starburst, uma espécie de “baby boom” estelar que pode durar algumas dezenas de milhões de anos e durante o qual formam estrelas a um ritmo frenético, dezenas ou centenas de vezes superior ao de uma galáxia como a Via Láctea.

A galáxia anã irregular NGC 1569, situada a apenas 11 milhões de anos-luz na direcção da constelação da Girafa, é um dos exemplos mais próximos de uma galáxia “starburst”.
Crédito: NASA, ESA, Hubble Heritage Project (STScI/AURA).

A associação do FRB121102 a esta região de formação estelar vigorosa favorece claramente os modelos que sugerem que os FRBs têm origem em magnetars, estrelas de neutrões com campos magnéticos extremos, 100 mil milhões de vezes mais intensos do que o campo magnético terrestre que nos protege das tempestades solares. Mais, a sua galáxia hospedeira é de um tipo que detém o exclusivo quase absoluto de uma classe recentemente descoberta de supernovas super-luminosas (Super-Luminous SuperNovae). Pensa-se que o baixo teor em “metais” do gás nestas galáxias favorece a formação de estrelas com massas muito elevadas que terminam a vida nestas supernovas muito luminosas. A extrema luminosidade das supernovas é atribuída à formação concomitante de um magnetar que transfere parte da sua energia rotacional para o remanescente da explosão através do seu campo magnético intenso.

Referências: Artigo Científico

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