Blade Runner

Blade Runner (Perigo IminenteCaçador de Androides) é um filme de 1982, realizado por Ridley Scott, com Harrison Ford, baseado no conto de 1968 de Philip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep?

Na altura, o filme foi considerado demasiado lento e complexo. Por isso, teve pouca popularidade.
Foi um filme incompreendido na sua época.
No entanto, uma década depois passou a ser um filme de culto na discussão de inteligência artificial.

O filme, passado em 2019, mostra o polícia Deckard (Harrison Ford) que tem que caçar e matar replicantes (androides inteligentes) que andam fugidos. Deckard persegue e extermina essas réplicas humanas, criadas em laboratório. Deckard é assim um “blade runner“.
Durante a investigação, o humano Deckard conhece e apaixona-se por Rachael, uma bela replicante que não sabe que é replicante. Foram-lhe incluídas memórias falsas para ela pensar que é humana.

O filme passa-se todo em Los Angeles, que se tranformou numa selva tecnológica.
Ou melhor, o filme é passado maioritariamente no bairro de Chinatown de Los Angeles.

No início do século XXI, a Tyrell Corporation começou a produzir robôs Nexus – seres completamente semelhantes aos Humanos, chamados de Replicantes / Réplicas cibernéticas.
As Réplicas Nexus 6 eram superiores em força e agilidade aos Humanos, e eram, pelo menos, equivalentes em inteligência aos engenheiros genéticos que os criaram. Elas também suportam temperaturas geladas e água a escaldar.
Os Replicantes / Réplicas, eram usados como mão-de-obra escrava no Mundo Exterior, na perigosa exploração e colonização de outros planetas.
Após um sangrento motim, uma revolta sangrenta, de uma equipa de combate Nexus 6, numa colónia do Mundo Exterior, as Réplicas foram consideradas ilegais na Terra – sob pena de morte.
Brigadas especiais da polícia, as Unidades Blade Runner, tinham ordem para matar qualquer Réplica detectada.
Isto não era chamado de Execução, de Assassinato. Era sim chamado de Reforma da Réplica ou Retirada da Circulação do Replicante.

Os Replicantes foram concebidos para imitar os seres humanos em todos os aspetos, exceto nas emoções. As Réplicas de Inteligência Artificial, não têm emoções.
Mas os engenheiros genéticos pensam que ao fim de alguns anos, as Réplicas são capazes de desenvolver por si próprias, as suas próprias respostas emocionais: amor, ódio, medo, raiva, inveja.
Por isso, os engenheiros incorporaram um dispositivo de segurança: um tempo de vida de 4 anos. Ou seja, a duração da Réplica seria um máximo de 4 anos: têm uma longevidade de 4 anos. Ao fim de 4 anos, os Replicantes morrem.

Deckard é um ex-polícia, ex-blade runner, ex-assassino. Ele tinha desistido desse trabalho porque estava farto de matar.
Mas é contratado de volta pelo chefe da polícia de Los Angeles para voltar ao ativo e ser novamente Blade Runner, porque existiam 4 Replicantes à solta na cidade.

6 Replicantes fugiram de uma das colónias do Mundo Exterior. Eles não queriam mais ser escravos.
Roubaram um vaivém espacial e mataram 23 pessoas (humanos). Tornaram-se fugitivos e assassinos.
Eles decidem voltar à Terra, apesar de não se saber porquê que eles fizeram isso.
Um Replicante morreu ao tentar entrar na Tyrell Corporation.

Assim, Deckard, como Blade Runner, tem que encontrar os outros Replicantes, de modo a exterminá-los.

Deckard vai até à Tyrell Corporation.
Existe uma Replicante Nexus 6 a trabalhar na Tyrell Corporation.
Deckard faz o teste a Rachael e percebe que ela é a Replicante.
Mas Rachael não sabe que é Replicante. Ela pensa que é humana, porque lhe foram incutidas memórias, falsas, que ela pensa que são dela. Como lhe foi dado um passado, que é um suporte para criar experiências, incluindo experiências emocionais, que permite lidar com emoções, ela sabendo que tem memórias/recordações e emoções, assume que é humana.

Rachael começa a desconfiar que é Replicante, mas está convencida que é humana devido às suas memórias.
Deckard explica-lhe que as suas memórias foram-lhe implantadas. São memórias-comuns de outra pessoa. Como brincar com o irmão numa casa abandonada, quando tinha 6 anos. Ver uma aranha laranja no arbusto junto à janela de casa, a fazer uma teia. São tudo implantes. Na verdade, são recordações/memórias da sobrinha do Tyrell.
Rachael fica desgostosa, a chorar. Apesar de ser uma Replicante, tem emoções, tem sentimentos.

Deckard apaixona-se por Rachael, e por isso não a mata.

Deckard encontra a replicante Salome/Zhora a trabalhar num strip club.
Deckard mata a replicante, apesar dela não ter feito nada e só querer trabalhar para sobreviver.
No relatório policial, o incidente é descrito como retirada rotineira de uma Réplica. E não como um assassinato.

A seguir, Deckard encontra o replicante Leon.
Quando Leon está quase a matar Deckard, Rachael mata Leon, salvando Deckard.

J.F. Sebastian é o designer genético da Tyrell Corporation.
Em casa, ele tem vários brinquedos que criou. São indivíduos com limitada inteligência artificial, e submissos, como brinquedos, a Sebastian.

Os replicantes Roy e Pris encontram Sebastian.
Eles pedem ajuda a Sebastian. Porque querem falar com o Dr. Tyrell, de modo a poderem viver mais tempo, mais que 4 anos. Eles querem que o seu Criador repare/conserte a sua obra.
Assim, fica-se a saber porque os replicantes voltaram à Terra: para encontrarem o seu criador.

Roy vai com Sebastian ter com o Dr. Tyrell. O Dr. Tyrell diz que não se consegue prolongar a vida dos Replicantes, porque as suas células foram assim programadas. Roy mata o Dr. Tyrell.
Seguidamente, Roy mata Sebastian.

Deckard encontra e mata Pris.

Roy podia ter matado Deckard. Mas não o fez. Pelo contrário, quando Deckard estava a cair de um prédio (e iria morrer), Roy salvou a vida de Deckard.
Depois, Roy morre. (como estava programado nas suas células)

A única sobrevivente dos replicantes de Nexus 6 é Rachael.
No final do filme, Deckard protege e foge com Rachael.

É interessante ver como em 1982 se antevia o ano de 2019: carros voadores, muita poluição citadina (smog), chuva constante, sempre de noite (muito escuro), enormes edifícios com muita publicidade, e sobretudo humanos criados artificialmente (androides inteligentes).
Este idealismo ia ao ponto de se imaginar que em 2019 já se trabalhava e vivia noutros planetas, com colónias humanas nesses outros mundos.

Como se consegue perceber, a grande maioria das coisas (ainda) não se concretizaram…

Este ambiente também continha vários paradoxos a nível tecnológico.
Por exemplo, o telefone continha video-chamada, mas era pequeno e low-tech. Além disso, era o telefone numa parede (ou de rua) e não móvel (telemóvel, celular). Por último, pagava-se por chamada, e não por pacote de chamadas.
Atualmente, no ano de 2017 real, já existe skype (video-chamada), em telemóveis com internet, ou então em enormes ecrãs caseiros.

Um outro exemplo são os computadores e televisões caseiros: minúsculos e muito limitados tecnologicamente.
Isto contrasta, no filme, com os enormes outdoors publicitários e em movimento na parte de fora dos prédios.

Por outro lado, supostamente estamos na presença de uma utopia, um futuro utópico com muita tecnologia.
Na verdade, é uma distopia, com casas e ruas degradadas, numa sociedade decadente.

O Teste de Turing, neste filme é denominado Teste Voight-Kampff.
O Teste serve para determinar se o indivíduo é humano ou replicante/máquina.
O Teste, no filme, é concebido para provocar reações emocionais no sujeito testado.
A questão aqui é que, supostamente os computadores deveriam ser tão avançados como os indivíduos cibernéticos. Mas não. Os computadores são absolutamente primitivos. Parece que a tecnologia não evoluiu à mesma velocidade.

Adorei os vários brinquedos cibernéticos que Sebastian criou.
São parecidos com o Teddy, no filme A.I..

Adorei a personagem do replicante Roy.

Apesar de irrealista, adorei o facto de Roy não ter matado Deckard. Em vez disso, salvou-lhe a vida.
Afinal, os replicantes não são assim tão maus.
Os Replicantes só queriam ser livres (e não escravos) e queriam viver mais tempo. Isto parecem-me aspirações bem Humanas.
Assim, o crime deles é quererem ser humanos.

Antes de morrer, Roy deixa de ser um assassino cruel e maníaco, para se tornar quase em Cristo (até tendo um prego passado pelas suas mãos), morrendo pelos nossos pecados.

Ao morrer (como estava programado nas suas células), Roy faz um monólogo fantástico e morre.

É muito interessante ver que os replicantes vão à procura do seu criador, do seu deus. E vão pedir-lhe algo (neste caso, é a imortalidade, ou, no mínimo, uma extensão da sua vida).
Isto é um sentimento muito humano: de procurarem pelo seu criador, pedindo-lhe coisas.
Também muito interessante é ver que se o criador não lhes concede os desejos, os seres criados viram-se contra o seu criador, contra os seus deuses (matando-os, como Roy faz). Mais uma vez, vê-se isto em muitas histórias religiosas humanas.
A criação supera o criador.

Detestei ver que os animais estão extintos. Aliás, fora os Humanos, parece não existir vida ou biodiversidade.
Mas gostei de ver que a Tyrell Corporation criou corujas, cobras, cães, e outros animais artificiais.

É curioso ver ao longo do filme que Deckard considera os replicantes como qualquer outra máquina. Eles são simples máquinas.
Deckard acha-se superior. Acha que os Humanos são superiores.
No entanto, na sua essência, os Humanos são somente máquinas também: os Humanos são máquinas biológicas.

Deckard acha que Rachael é diferente dos outros replicantes.
Mas isso é só porque está apaixonado.
E também porque ao contrário dos outros replicantes, Rachael ia viver muitos mais anos, porque não tinha data limite de funcionamento (data da morte). O Dr. Tyrell tinha geneticamente modificado essa característica em Rachael, tornando-a especial, imortal.
Assim, Deckard tem razão: Rachael é diferente. Mas só porque conseguiu aquilo que os outros não conseguiram: estender o seu limite de funcionamento.

Gostei de ver a incorporação de xenofobia. Mais uma vez, é realista que os Humanos se comportem desta forma.
De forma racista, xenófoba, o chefe da polícia chama os Replicantes de Humanóides Plásticos (skin jobs).

É muito interessante o uso de Newspeak. Ou melhor, de eufemismos.
Por exemplo, o assassinato de Replicantes nunca é relatado como um homicídio. Até nos relatórios policiais, esses incidentes são descritos como retirada rotineira de um replicante. É somente uma retirada de circulação, retirada de atividade. Os Replicantes são reformados.
Na verdade, são exterminados!

É muito interessante a interpretação dada aos origamis feitos pelo polícia Gaff.
Cada um dos origamis, tem a ver com a parte da história que se está a passar nesse momento no filme, e com as incertezas (morais) com que se debate a personagem que está a interagir com Gaff.

Os replicantes Nexus 6, são a sexta versão, melhorada, do modelo Nexus dos replicantes.
Mas como são 6 replicantes fugitivos, isto confunde, dando a impressão que a fornada de Nexus só tem 6 indivíduos.

Os replicantes são superiores aos Humanos em várias características.
No entanto, o sonho deles é serem humanos (como os seus criadores).
Não se entende isto. Eles não deviam querer ser Humanos. Eles são superiores aos Humanos.
Parecem o Data, da série Star Trek.

Não entendo a Rachael.
Se ela é um dos 6 que se revoltaram, assassinaram a tripulação humana do vaivém espacial e voltaram à Terra, como é que a Rachael não sabe isso, não se lembra disso?
Os outros replicantes sabiam o que tinham feito. Como Rachael pode se ter esquecido?
(note-se que fugiram 6 replicantes. Um deles foi morto ao tentar entrar na Tyrell Corporation. Restam 5. 4 deles andam nas ruas de Los Angeles (Zhora, Leon, Roy e Pris). Falta um, que deve ser Rachael.)
No entanto, ao longo do filme, percebe-se que certamente foram Roy e Leon que mataram os seres humanos.
Além de que Rachael sofreu uma reprogramação, que lhe aumentou o tempo de vida. Provavelmente, também lhe alterou a memória, fazendo com que ela esquecesse o que se tinha passado. E, como vemos no segundo filme, esta reprogramação também lhe deu a oportunidade de ter filhos.

Não gostei da escuridão no filme. Parece que está sempre de noite.
Falta-lhe a luz, o dia.

Não gostei de ver Deckard ganhar sempre.
Os replicantes são mais fortes, mais ágeis, e até mais inteligentes que Deckard. Deckard devia perder facilmente.

Os replicantes não deviam ter sentimentos. Mas têm. Tanto Rachael como os outros replicantes têm sentimentos.
Curiosamente, os Blade Runners também não deviam ter sentimentos. Eles deviam matar sem qualquer emoção. Era o seu trabalho. Mas Deckard começa a ter esses sentimentos, a sentir pena dos replicantes, a perceber que afinal eles não eram assim tão maus.
Parece-me irrealista. Seria mais realista os replicantes não terem, realmente, sentimentos. E os Blade Runners também não.

Curioso que no filme, o teste Voight-Kampff parece mostrar que os replicantes têm mais empatia sobre os outros animais do que os Humanos.
Ou seja, os replicantes seriam mais humanos (com empatia) do que os próprios humanos.

Tantos anos após este filme, a questão mantém-se: será Deckard humano ou replicante?
A visão/sonho de um unicórnio, junto com o origami em forma de unicórnio feito por Gaff, sugere que Deckard pode ser um replicante (e que Gaff sabe disso, daí fazer o unicórnio, já que seria uma memória implantada).
Assim, tal como Rachael no início, também Deckard seria um replicante sem o saber, assumindo sempre que era humano.
Será que, tal como os animais e humanos, os replicantes também sonham?

No filme de 1982, excetuando as cenas referidas, tudo o resto parece indicar que Deckard é Humano.
Já o filme seguinte, a sequela, parece mostrar que Deckard é replicante.

Esta ambiguidade é uma das excelências do filme.

Existem muitos temas interessantes neste filme:

As implicações da tecnologia e de como ela afeta a Humanidade.
A Humanidade vai mudando e vai-se moldando à tecnologia.

O poder dado às grandes empresas, não só em termos de controlo mas também de decisão sobre os seres humanos.

A engenharia genética, com a criação de androides biológicos, inteligentes e conscientes.
É uma versão moderna do conto de Frankenstein. Ou até do Pinóquio, que quer ser um rapaz verdadeiro.
Discutem-se as implicações morais dessa criação.
Será que deveriam ter direitos? Será que só servem para escravos? Será que são nossos, propriedade dos Humanos?

Apesar de terem sido criados para serem servidores e escravos dos Humanos, será que os replicantes têm o direito de fugir a essa vida? Têm o direito de quererem ser livres?

A discussão moral sobre a (suposta) superioridade do Homem está inerentemente presente.

Existe também uma discussão muito interessante sobre o tema da imortalidade.
A inclusão de um gene que faz morrer os replicantes ao fim de alguns anos, como os Humanos, para não serem imortais.
O facto deles, como todos nós, não quererem morrer e serem esquecidos para todo o sempre.
O monólogo do replicante Roy é considerado um dos melhores de sempre sobre esta temática.

O que são as memórias?
No futuro será possível implantar memórias?
Algumas das nossas memórias atuais são reais ou são imaginadas pela mente e nunca aconteceram na realidade?
É possível distinguir memórias verdadeiras de memórias implantadas?

Assim, existe um constante questionamento da realidade.
Nunca sabemos o que é ou foi real, e o que foi implantado artificialmente na nossa mente.

No filme existe uma versão do Teste de Turing, que visa distinguir os Humanos das Máquinas.

O tema recorrente em Star Trek (sobretudo com o Data): o que é um humano?
Que características distinguem um humano de uma máquina inteligente e consciente?

Existe uma auto-reflexão sobre a Humanidade.
Examina-se e reavalia-se a Humanidade, na sua consciência moral, na sua empatia emocional, e na sua ligação aos outros e ao ambiente que a rodeia (incluindo tecnologia).

Por fim, além de Rachael, que pensa ser humana, será que também Deckard é um replicante avançado que pensa que é humano mas que na realidade é um replicante? Será Deckard humano ou replicante?
Até hoje, é uma discussão que se mantém…
E será que tu, que me estás a ler, és humano ou replicante? Na série Battlestar Galactica existia um teste musical para sabermos a resposta…

Blade Runner 2049 é a sequela que saiu este ano.

30 anos após os acontecimentos do primeiro filme, encontramos um novo blade runner, um novo caçador de replicantes. Ele chama-se K e é um replicante.

K encontra os restos de uma replicante que esteve grávida. Ela morreu ao dar à luz, há 30 anos.
Se os replicantes souberem que se podem reproduzir, vão querer maior igualdade com os Humanos, e vão perceber que não têm de morrer inutilmente. Assim, para prevenir uma guerra entre humanos e replicantes, K é incumbido de encontrar a criança e matá-la, assim como destruir todas as evidências dessa gravidez.

K descobre que a replicante que deu à luz era a Rachael (do primeiro filme).
Como Deckard tinha uma ligação amorosa a Rachael, então K logicamente pensa que Deckard foi o pai da criança, e por isso vai tentar encontrar Deckard.

Wallace, o novo mogul da bioengenharia, da criação de replicantes, também quer encontrar Deckard, de modo a roubar o segredo da reprodução de replicantes.

K descobre que Rachael teve gémeos: um rapaz e uma rapariga.

Devido a certas memórias que tem, K convence-se que é filho de Rachael.
Assim, ele assume que é um ser especial.

K encontra Deckard (Harrison Ford).
Deckard estava escondido numa zona de forte radiação, em que ninguém vivia lá.

K fica a saber que Rachael, na verdade, teve somente uma menina.
K decide levar Deckard a conhecer a sua filha: a Dra. Ana Stelline, a criadora de memórias implantadas nos replicantes.
A Dra. Stelline cria memórias a partir das suas próprias memórias de criança, o que fez com que K pensasse que algumas das suas memórias eram fruto de ser filho de Rachael, quiçá humano.

Luv, uma replicante bastante forte que trabalha para Wallace, mata e é morta por K.

O filme tem quase 3 horas, o que é uma enormidade.

O filme, tal como o original, tem uma acção bastante lenta.
O filme, tal como o original, é parado, escuro, e contém muita chuva.
O filme, tal como o original, mostra uma sociedade distópica muito baseada na tecnologia, nos gigantescos posters de marketing (na face dos grande edifícios) e em carros voadores.

O filme, tal como o original, mostra prédios enormes com apartamentos pequenos.
Continua a existir muita poluição (smog).
E continuam a existir os insultos racistas, a xenofobia: “skin job“.

O filme, com legendas em português, mostra uma tradução mal feita.
“Slave” não é mão-de-obra, mas sim mão-de-obra escrava. Os replicantes são escravos.

Blade Runners são agentes da polícia especializados em distinguir (dos seres humanos biológicos) e capturar Replicantes – humanóides criados artificialmente para serem usados como escravos.

Os Replicantes são humanos criados pela bioengenharia, concebidos pela Tyrell Corporation para utilização noutros mundos, noutros planetas.
Graças à sua enorme força, são uma mão-de-obra escrava ideal.
Após uma onda de revoltas violentas, a sua produção foi proibida e a Tyrell Corporation foi à falência.
O colapso de ecossistemas em meados da década de 2020, proporcionou a ascensão do industrial Niander Wallace, que impediu a fome, graças ao seu domínio da agricultura sintética.
Wallace adquiriu o que restava da Tyrell Corporation e criou uma nova linha de replicantes obedientes.
Muitos modelos antigos – Nexus 8 e outros sem limite de vida – sobreviveram. São perseguidos e “reformados”.
Os Blade Runners procuram, perseguem e retiram de atividade os Replicantes.

Adorei o filme ter incluído, novamente, Harrison Ford.

Adorei ter aparecido novamente o polícia Gaff, a fazer origamis.

Adorei a ideia do Apagão, que apagou tudo que estava guardado eletronicamente, desde fotografias pessoais das pessoas, até registos bancários. Os ficheiros foram todos apagados por todo o mundo.
Além disso, as máquinas pararam todas.
Por fim, as pessoas estiveram 10 dias completamente às escuras (sem eletricidade, sem frigorificos, sem nada).

Adorei o Holodeck (laboratório) da Dra. Stelline. Fez-me lembrar os holodecks de Star Trek.

Adorei os espetáculos holográficos em hoteis. Infelizmente, ainda não existem na realidade.

Adorei o holograma da Joi.
Joi parece ter atitudes e sentimentos humanos. Mas provavelmente está somente a dizer o que queremos ver e ouvir (tal como é publicitado). Ou seja, provavelmente não tem pensamentos próprios. Apesar de parecer que sim.
Curiosamente, isto é publicitado como sendo a mulher ideal.
Gostei deste holograma, quando estava dentro do apartamento. Mas adorei quando, finalmente, se pôde movimentar por todo o lado, através de um dispositivo tecnológico parecido com uma pen drive.

Gostei da ideia dos Blade Runners serem replicantes.
Isso quer dizer que no primeiro filme, Deckard também era replicante?

Deckard fugiu e escondeu-se numa zona de forte radiação.
Este é um ótimo esconderijo, porque supostamente não existe vida lá.
No entanto, tal como aconteceu após o acidente de Chernobyl, a vida encontrou uma forma de prosperar.

Não consigo entender como é que os corpos no ferro-velho (junkyard) de San Diego desapareceram instantaneamente.

Wallace quer saber o segredo da reprodução de Rachael, somente por um objetivo monetário e de poder.
Os replicantes independentistas também querem ter o segredo da reprodução de Rachael, de modo a terem sucesso como movimento para serem livres.
Assim, porque não uniram forças na procura desse segredo? Afinal, se querem todos o mesmo (menos a chefe da polícia), porque não unir forças?
Provavelmente, porque os seus propósitos eram muito diferentes: Wallace queria mais escravos, enquanto os replicantes independentistas queriam ser livres.

Apesar de existir muita tecnologia futurista (começando pelos hologramas e pelos replicantes), a tecnologia de visualização de memórias é primitiva. Parecem ser somente uns binóculos.
Além disso, tecnologia como computadores, também é muito primitiva (tal como no primeiro filme).
Tal como já referi, faz-me lembrar Star Trek, que tinha naves que viajavam pelo espaço a velocidades incríveis, mas depois tinha tecnologia que parecia ser dos anos 80. É paradoxal.

Luv é uma replicante bastante forte. No entanto, morre afogada. Não se entende. É possível afogar uma androide?
Talvez este ser cibernético fosse tão semelhante aos humanos, que respira oxigénio atmosférico. E, tal como os Humanos, também se afoga.
Mas esta limitação é paradoxal num ser mais forte, ágil e inteligente que os Humanos. Ela devia ter a capacidade de respirar dentro de água. Infelizmente, parece não ter.

Detestei a previsibilidade do filme.
Eu percebi que a Dra. Ana Stelline era filha de Deckard e Rachael demasiado cedo no filme.
Gostava que o final tivesse um twist, que acabasse com algo inesperado, ou então com uma questão duvidosa (como o primeiro filme, em que se ficou sem saber se Deckard era humano ou replicante).

Mais uma vez, este filme tem temas interessantes.
Grande parte deles são semelhantes ao primeiro filme.

O filme discute bastante o que são memórias implantadas e o que são memórias reais.

K parece por várias vezes ser a versão moderna do Pinóquio: “he wants to be a real boy” – ele quer ser um rapaz verdadeiro.

Quando Wallace mata a substituta de Rachael só porque Deckard lhe diz que ela tinha olhos verdes, é uma cena que arrepia!
Esta cena mostra que Wallace, e os humanos em geral, não têm qualquer consideração pelos replicantes. Eles são somente carne para canhão. São vistos como coisas, facilmente descartáveis.
A morte de replicantes é vista como o desligar de uma torradeira.

K pensa que é um ser especial durante grande parte do filme.
Isso faz-me pensar que até nisso ele é muito humano (apesar de ser replicante). É que todos nós também pensamos que somos especiais e que estamos destinados a ser a peça central em todo o Universo.

Tal como no primeiro filme, o tema recorrente é: o que é um humano?
Será que os androides podem ter emoções, sentimentos, pensamento próprio?
Utiliza-se a comparação com androides, de modo a fazer uma auto-reflexão sobre o ser humano.

Os novos Replicantes são obedientes, daí serem Blade Runners que vão atrás dos modelos antigos de Replicantes (que não faziam mal nenhum e só queriam viver a sua vida).
Ou seja, temos Replicantes a perseguir e a matar outros Replicantes. Esta é uma crítica social clara, já que os Humanos é que fazem isto.

Os novos modelos de replicantes são obedientes, quase como se fossem animais de estimação, cães.
Será que é isto que procuramos? Seres que nos sejam obedientes, sobre os quais queremos ter total controlo?

Quando K mostrou emoção, passou a ser considerado defeituoso. E, como tal, teve que ser “retirado de circulação”.
Ou seja, a emoção, os sentimentos, são vistos como defeitos.
Esta é mais uma crítica social.

O tema de humanos e máquinas conscientes e inteligentes poderem ter filhos é intrigante. Mas parece-me algo impossível de se realizar.
No entanto, se Deckard fôr replicante, então a Dra. Ana Stelline é filha de dois replicantes. Isto torna-se ainda mais intrigante, e impossível: um verdadeiro milagre, em que o “deus” é humano.

Tendo em conta que este filme é muito fiel ao primeiro filme, então quem gosta do primeiro filme, adorou este também.

Os temas deste filme vão no seguimento dos temas do primeiro filme. Torna-se assim, também, um filme muito interessante.

Para mim, este filme não trouxe “nada de novo”. É bom, mas prefiro o original, já que trouxe excelentes temas.
Ou seja, gostei do filme por estar muito ligado ao primeiro, mas por outro lado perdeu o impacto da surpresa do primeiro.

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