The Orville

The Orville é uma nova série ao estilo de Star Trek.
A grande diferença é que o estilo é de comédia – comédia típica de Seth MacFarlane, que criou a série e é o protagonista.

A série passa-se no ano 2417.
A nave de exploração do espaço é a U.S.S. Orville (daí o nome da série).
A nave pertence à União Planetária.
O comandante é Ed Mercer (Seth MacFarlane).

Vê-se muita tecnologia futurista, ao estilo Star Trek.
Ao contrário de Star Trek, a série tem várias situações de humor e explora muitas situações pessoais: discussão entre dois membros da tripulação casados, um dos membros arruma roupa na sua cabina, um dos membros refere que tem que ir ao WC urinar, etc.

No diálogo, existe quase uma obsessão pela palavra quântica. Não sei se é o pensamento crítico de MacFarlane a mostrar que a palavra dá para tudo (tal como fazem os pseudos, que a usam sem saber o que ela representa).

No primeiro episódio há uma interessante “manipulação quântica do tempo”, permitindo acelerar o tempo.

No segundo episódio também existe a ideia muito interessante de um jardim zoológico onde os Calivon colocam as espécies que eles consideram ser inferiores a eles – claro que os humanos são considerados como animais inferiores e por isso são incluídos no Zoo para os visitantes observarem. Este episódio termina com uma crítica feroz aos chamados reality shows (Kardashians, Real Housewives, etc) – é referido que eles são espectáculos de entretenimento, mas degradantes/inferiores.

No quarto episódio adorei o facto deles viverem numa nave e não saberem disso, achando que o sítio onde viviam era todo o Universo. Adorei também que aquilo era uma Generation Starship, em que demoraram tanto tempo, que muitas gerações depois os tripulantes já não sabiam que viviam numa nave, e pensavam que o comandante da nave (eles não sabiam que era uma nave) era o deus do Universo. Adorei a referência à série Friends. Gostei bastante do aparelho médico que retira balas do corpo por atração, sem invadir o corpo. Gostei obviamente das críticas ao extremismo religioso, daqueles que seguem ideologias cegas e que fazem tudo para as preservar, de modo a manterem o controlo sobre o povo. Também gostei do tamanho monstruoso da nave (com várias bioesferas) e de estar à deriva por 2000 anos, porque assim relativiza as escalas, quer espaciais quer temporais. Mas não gostei que tivesse “ar respirável por todos incluindo não-humanos”, que incluísse carros iguais aos nossos, e, claro, não se percebe porquê que todos falam inglês. Percebeu-se que eles não têm a Prime Directive de Star Trek, e por isso interferem à-vontade noutras culturas (tal como faziam em Star Trek).

No quinto episódio existe uma tempestade de matéria negra concentrada. Mas o melhor é a Charlize Theron aparecer como uma viajante no tempo, vinda do século 29.

O sétimo episódio fez-me lembrar o quarto filme de Star Trek, Voyage Home. No episódio eles voltam ao século XXI de um planeta muito parecido com a Terra. Têm que se vestir de acordo com os costumes da altura. Têm invisibilidade nas naves, por isso não são vistos. E têm que respeitar a Prime Directive de não interferir. O acrescento nesta sociedade é que é uma sociedade ao estilo dos programas de Big Brother ou Ídolos, com o pior das redes sociais (em que as pessoas julgam sem saber os factos). Toda a gente vota (positivo ou negativo) em toda a gente a todos os momentos do dia. Toda a gente é julgada pelo número de votos (negativos) que tem. Acima de 1 milhão de votos negativos, a pessoa é presa (não interessa se a infração é irrelevante). Acima de 10 milhões de votos negativos, existe a pena de morte (na verdade, lobotomia). Não existem advogados, mas sim agentes publicitários para as pessoas expressarem arrependimento e perderem alguns votos negativos. E factos não existem: tudo depende do que as pessoas pensam sobre os assuntos.

No oitavo episódio, eles entram numa dobra espacial criada por ondas gravitacionais. Aterram numa lua que se parece com o planeta Terra. Infelizmente, como sempre, os alienígenas são humanoides.

No décimo episódio é desenvolvida a ideia de estarmos numa simulação holográfica e nem nos darmos conta: pensamos que faz tudo parte da realidade.

No episódio 12, e último episódio da primeira temporada, eles chegam a um planeta com uma sociedade primitiva. Eles não querem ser vistos, para não influenciar a sociedade. Mas a vice-comandante Kelly é vista. Então, a sociedade desenvolve-se a adorar, venerar a Kelly, considerando-a omnipotente, omnipresente e imortal (porque 11 dias dela são 700 anos no planeta). As crianças são abençoadas por Kelly. As crianças são ameaçadas pelos pais de que se tiverem comportamentos errados, a Kelly vai puni-los. Existem “igrejas” com a imagem de Kelly. E várias pessoas são mortas por negarem os “ensinamentos de Kelly” (mesmo sem ela ter feito nenhuns, existiram alguns “profetas” que se aproveitaram para fazerem esses ensinamentos de modo a terem poder e a controlarem a população). Existe toda uma religião baseada na Kelly. Basicamente, para aquela sociedade, a vice-comandante Kelly é Deus. Mesmo após Kelly lhes ter dito que não era Deus e ter mostrado aos “padres” que era somente uma viajante que tinha equipamento avançado, eles decidiram não dizer às pessoas por medo de perderem o controlo sobre elas. Quando o planeta se desenvolve ao ponto de ter satélites e comunicações globais, o que se vê são as discussões atuais nas nossas televisões sobre educação com ou sem religião, pessoas em migração para locais sagrados onde se deram “milagres”, guerras em nome de Kelly, etc. Então a tripulação da nave Orville decide deixar lá um ser avançado da tripulação, que se parece com o robô do filme O Dia em que a Terra Parou, para lhes explicar tudo e os guiar para uma sociedade mais desenvolvida a vários níveis, incluindo em termos de razão, ciência e tecnologia.

Eu adoro Star Trek.
A ideia de incluir humor/sarcasmo e situações/relações pessoais numa série tipo Star Trek, parece-me muito interessante.

A série começou um pouco parada. Apesar de ter muito potencial, começou aquém do que se esperava.
No entanto, gradualmente, foi melhorando.
O final da primeira temporada teve episódios muito bons.

Na segunda temporada, o primeiro episódio lida com questões sociais (incluindo amorosos). Curiosa a crítica de que a maioria dos dias no espaço são bastante aborrecidos porque não acontece nada. Interessante quando o capitão diz que as mulheres humanas não querem homens perfeitos, mas sim que os homens sejam estúpidos algumas vezes. Os aposentos da tripulação (e suas famílias) são enormes, o que é incompatível com uma nave finita que gere os seus recursos (tamanho) disponíveis. Continuo a não gostar do facto dos alienígenas, incluindo na tripulação, serem humanoides (tal como em Star Trek).

No segundo episódio, vemos um planeta prestes a ser destruído pela sua estrela (que está na fase de gigante vermelha). Dez planetas nesse sistema planetário já tinham sido destruídos/incinerados/vaporizados pela estrela moribunda. As imagens do planeta, com a sua atmosfera a evaporar, são fabulosas! Entretanto, a tripulação da nave Orville detecta uma civilização subterrânea no planeta; e, claro, salva esse grupo de sobreviventes humanoides/humanos, apesar do planeta se estar a desintegrar. Enquanto isso, um dos membros da tripulação está viciado nas simulações do holodeck, que utiliza para fantasias sexuais.

No terceiro episódio, eles são obrigados a visitar o planeta natal da chefe de segurança. Ela tem tanta força, muito mais que os humanos, devido ao seu planeta de origem ter uma gravidade mais forte que a Terra. Assim, os seres adaptaram-se a essa gravidade; quando vão para sítios com menos gravidade (como a gravidade terrestre), têm obviamente muito mais força. Por outro lado, ao viverem nesses locais (como a Terra) com menor gravidade, eles próprios vão perdendo massa muscular. Curiosamente, o planeta parece-se com a Terra, mas tem um anel ao seu redor. A chefe de segurança, a Tenente Alara Kitan, não deveria ter saído da série: a série ficou a perder com a sua substituição. Neste episódio também aparece novamente o Tenente Yaphit: um ser amorfo e gelatinoso que é engenheiro na nave Orville (é o único tripulante não humanoide).

No quarto episódio há uma discussão interessante sobre religião. Os Krill dizem que os Humanos não têm alma, já que os Humanos são animais. Além disso, os Krill acreditam que Avis – o Deus dos Krill – criou-os à Sua imagem para que eles possam dominar todo o Universo; todos os outros seres no Universo são animais sem alma que devem ser dominados pelos Krill. Esta é uma crítica à forma como os Humanos usam Deus para dizerem que os Humanos é que são os escolhidos, e que são os Humanos que devem dominar todos os outros seres à face da Terra. Anhkana é a Bíblia dos Krill; ela providencia um código de conduta moral para todos os Krill. Foi escrita por alguns Krill, supostamente sabendo o que Avis queria, mas na verdade foi só uma forma desses Krill aplicarem aquilo que pensavam, controlarem a população e se sentirem populares – com algum poder sobre os outros Krill.

No quinto episódio, é realizado o Primeiro Contacto com uma civilização alienígena. Infelizmente, mais uma vez, os alienígenas são humanoides (basicamente, humanos). E falam inglês! E respiram o mesmo ar. E riem-se quando estão contentes! Enfim… Os alienígenas conseguem contactar a Orville porque enviam uma mensagem através de rádio-telescópios, como faz o SETI. A tecnologia deles, incluindo médica, é igual à nossa no final do século XX. A única diferença é que o planeta é governado pela astrologia, daí serem completamente irracionais quando pensam que uma determinada pessoa é um assassino só porque nasceu sob um determinado signo.

O sexto episódio lida novamente com questões sociais, nomeadamente amorosas. Neste caso, a médica humana da Orville apaixona-se pelo androide que é o oficial de ciência da nave, com todos os problemas que isso traz. Isaac é uma máquina, e por isso é incapaz de sentir alguma coisa, nem sequer consegue compreender os sentimentos. No entanto, algumas situações têm bastante piada, como a forma como ele acaba a relação, já que são muito semelhantes à forma como os homens se comportam.

No sétimo episódio, a tripulação vai até ao planeta Moclus. Os Moclan são uma sociedade de machos. Mesmo quando nasce uma fêmea, ela é operada de forma a tornar-se macho. Assim, toda a sociedade, toda a sua religião, toda a sua moralidade, é baseada na homosexualidade. Quando um Moclan se sente atraído por uma fêmea, ele é ostracizado, envergonhado, e é preso para toda a vida (ou até se “curar”). Ou seja, nesta sociedade, o normal é a homosexualidade, sendo que a heterosexualidade é vista como um desvio comportamental, um enorme pecado, e um crime grave. Nesta sociedade, existe um enorme preconceito sobre quem é diferente na sua vida pessoal. Os paralelismos com a nossa sociedade humana são evidentes.

No oitavo e nono episódios, a tripulação viaja até ao planeta-natal de Isaac. Isaac é um ser artificial, não biológico, do planeta Kaylon-1. É um robô, um androide que pensa por ele próprio. Os Kaylons assumem que todos os seres biológicos, incluindo humanos, são inferiores. E são. Isaac (Newton) aceitou a oferta de fazer parte da tripulação da Orville para poder estudar o comportamento humano. Os Kaylons mataram os seus criadores, já que eram seres biológicos. Quando os Kaylons decidem matar a tripulação da Orville (já que o seu propósito é exterminar todos os seres biológicos existentes na Galáxia), Isaac intervém e salva a tripulação. Mais uma treta: um ser avançado salva os Humanos, lutando contra a sua própria espécie – mais uma vez, a ficção científica assume que os Humanos são os seres mais importantes/especiais do Universo.

No episódio 10, aparece uma Envall. Tal como o oxigénio é um oxidante que pode levar a explosões, também o sangue dos Envall, na presença de nitrogénio, desencadeia fortes explosões que destroem atmosferas planetárias ou naves dos humanos.

No episódio 11, neste ano de 2418, eles encontram uma cápsula do tempo vinda de 2015. Nessa cápsula do tempo com 400 anos, encontram várias coisas, como um telemóvel, que faz com que vejam as SMS, fotografias e vídeos de uma pessoa que vivia em 2015. Isto é importante para eles, porque assim não precisam de livros de história escritos por alguém para lhes dizer, sem emoção, como era a vida nessa altura. O problema é que ler mensagens diretamente, como as SMS, leva a interpretações erradas sobre o que queriam dizer, já que lhes falta o contexto cultural do início do século XXI. Por outro lado, um dos membros da tripulação apaixona-se por uma personagem simulada no Holodeck. É um tema recorrente em vários episódios de Star Trek. Uma das mensagens do episódio é que os Humanos são animais sociais. Aquilo que somos atualmente, foi-nos moldado pelas pessoas que passaram pela nossa vida.

No episódio 12, dentro de uma nebulosa, existe uma estrela anã laranja a ser orbitada por 3 planetas, com o planeta mais interior a ser habitado. Os habitantes desse planeta não veem o Universo, mas por outro lado, estão protegidos desse universo já que, escondidos, também ninguém os vê. Este episódio também inclui alguns discursos excelentes sobre direitos básicos dos humanos e não só (e o frágil equilíbrio entre fazer o correto ou fazer o que é necessário para sobreviver). Será que devemos julgar as outras culturas pelos valores morais do momento dos Humanos? Vários discursos fizeram-me lembrar a forma como o ocidente olha atualmente para culturas em países como a Arábia Saudita, por exemplo, em que as mulheres continuam a não ter os mesmos direitos que os homens (mas em que se ignora isso, e se continua a comprar biliões de euros/dólares em armas e combustível vindos de lá).

No episódio 13, Isaac faz experiências com um aparelho de viajar no tempo. Quando a nave Orville passa por uma onda gravitacional (fruto de uma colisão de 2 estrelas de neutrões – boa ciência), traz uma nova Kelly (de há 7 anos atrás) para a nave Orville. Por isso, a nave Orville tem agora duas Kelly. Ela tem de ser enviada de volta, senão na linha temporal a Kelly não pode ser vice-comandante (primeira-oficial) da Orville (já que desaparece do seu tempo). Após algumas peripécias, a Kelly mais nova é enviada de volta para a sua linha temporal (timeline), mas com a memória apagada. Infelizmente, a memória não é realmente apagada, e por isso quando ela chega ao seu tempo, 7 anos antes, ainda se lembra do que se passou. Por isso, não aceita o convite de Ed para saírem novamente. E assim, é criada uma nova linha temporal paralela; ou a linha temporal no futuro deixa de existir. O que é certo é que a linha temporal (timeline) é modificada. Existe uma cena muito interessante em que eles discutem: a Kelly do passado ao conhecer a Kelly do futuro poderá ter alterado automaticamente a timeline, já que a Kelly do passado fica com conhecimentos que a Kelly do futuro não teria e passa a ter automaticamente; isso faz com que a timeline seja modificada em inúmeros eventos; mas será que as outras pessoas saberiam que a timeline foi modificada? Provavelmente não, já que automaticamente pensariam que o seu passado foi sempre aquele que se lembram agora.

No episódio 14 – e último episódio da temporada – temos a timeline modificada. Como Kelly alterou a timeline, vemos agora os eventos após essa alteração inicial da timeline. Nos últimos 7 anos, os Kaylon conquistaram metade da galáxia conhecida, porque venceram contra a nave Orville (que não era comandada por Ed, no episódio 9). Ed e Gordon continuam amigos e andam pela Galáxia a roubar pequenas coisas. Os Kaylon tentam apanhá-los, mas eles fogem. Uma nave comandada por Kelly apanha-os. Kelly recuperou parte da tripulação da Orville original, exceto Bortus e Isaac. Eles têm que recolocar a timeline original, limpando corretamente a memória de Kelly e enviando-a novamente para o passado. Na verdade, a médica Claire é enviada para o passado, e apaga a memória de Kelly. Claire desaparece dessa timeline, e a linha do tempo original é reposta quando Kelly aceita o convite de Ed para saírem novamente, há 7 anos atrás. Adorei a nave Kaylon disfarçada de asteroide. A lua de gelo estava visualmente muito bela. Adorei as cenas do género de Star Wars, em que as naves passam por espaços muito estreitos. Adorei a conversa correta sobre Relatividade; no entanto, terem entrado num buraco negro e escapado dele foi péssimo. Não gostei da cena em que vão de vaivém ao fundo do Oceano Pacífico: vão todos, até os filhos da médica; o que não faz qualquer sentido (no máximo, deviam ir somente duas pessoas). No final, deviam ter morrido todos – era assim que devia ter acabado, para ser mais realista. Gostei bastante das discussões filosóficas sobre modificar a linha do tempo: mesmo que o façamos com boa intenção, alterar a timeline pode levar a uma nova realidade pior que a original (fez-me lembrar o conto PastWatch).

A segunda temporada desta série foi similar à primeira temporada.

A série continua com muitas piadas típicas de Seth MacFarlane, que pessoalmente me fazem rir.

Cientificamente, e filosoficamente (em termos de reflexão), esta segunda temporada foi melhor que a primeira.

Gostei bastante!

Na terceira temporada, o primeiro episódio lida com o rescaldo da batalha contra os Kaylon. Existe um novo membro da tripulação: a bela Charly Burke, que fazia parte da tripulação da nave Quimby. Vários membros da tripulação desconfiam de Isaac e evitam estar perto dele, por ele ser Kaylon. A tripulação pensa que ele pode ter um programa oculto, escondido, dormente, à espera de ser reativado e os matar a todos. Eles têm medo de Isaac, e por isso odeiam que ele seja parte da tripulação. Os mais jovens, até têm pesadelos com ele. Apesar de Isaac os ter salvo dos Kaylon. Isaac fica fascinado por este padrão comportamental dos Humanos (evitarem estar perto dele), mas como é um robô, não tem qualquer resposta emocional. Ele considera fascinante poder estudar este novo comportamento humano, de ódio por alguém, que ainda não tinha presenciado. No entanto, quando Charly lhe conta a história pessoal de como ela escapou da outra nave dos Humanos (USS Quimby) que explodiu com a sua melhor amiga lá dentro, Isaac começa a sentir que tem quase toda a tripulação contra ele. Quando o jovem Marcus lhe diz que gostava que Isaac estivesse morto, Isaac decide cometer suicídio ao transmitir para si próprio um pulso eletromagnético (EMP), como se fosse uma pessoa a “colocar os dedos numa tomada”. No entanto, John LaMarr e Charly Burke (que detesta Isaac) conseguem ressuscitar Isaac com tecnologia subatómica, ao aceder à sua consciência que existia num backup (cópia de segurança, uma redundância que existe no cérebro humano e nos computadores). Este episódio é mais social, pessoal. O episódio explora as várias formas com que as pessoas lidam com o luto. O episódio também promove uma discussão sobre suicídio. No episódio é dito que as pessoas que cometem suicídio não conseguem distinguir o futuro do presente: não têm em consideração que as coisas e os sentimentos das pessoas podem mudar com o tempo. Também é dito que o tempo cura tudo, o tempo resolve todos os problemas, o que me parece ser uma expressão sem provas. Adorei as imagens de alguns membros da tripulação vestidos como astronautas fora da nave, a fazerem reparações. Essas imagens de fora da nave foram excelentes. Adorei as imagens do planeta gigante de gás, parecido com Júpiter. Foi excelente também ver quando eles entram na atmosfera do planeta, com muitas tempestades e ciclones na atmosfera. Adorei a piada sobre limpeza de janelas: tal como em Star Trek, nunca se vê ninguém a limpar as janelas da nave pela parte de fora, e no entanto estão sempre muito limpas. Adorei a fina camada eletromagnética que delimita o convés/hangar/porão de carga (deck): a nave consegue atravessar esse filtro, através da porta, mas o filtro eletromagnético conserva o ar (e a pressão) dentro do porão de carga, como se fosse uma porta hermética: as entradas são seladas por esse filtro eletromagnético, como existia em Star Trek, Star Wars, etc. Não sei o que pensar da propulsão quântica (quantum drive) que permite à Orville viajar pelo hiperespaço: percebo que é uma boa forma de “explicar”, mas usar-se a quântica para tudo começa a ser demais. Quando Isaac cometeu suicídio, pensou-se que era por Isaac ter sentimentos, emoções pessoais. Isto seria uma treta: ele não devia ter sentimentos humanos como se os Humanos fossem muito especiais. Mas percebia-se isso do título: o episódio chama-se Eletric Sheep, como o conto de Philip K. Dick, que levou ao filme Blade Runner, em que seres andróides passam a desenvolver pensamentos próprios e sentimentos. No entanto, quando Isaac ressuscitou (o que foi uma parvoíce, ele devia ter morrido), ele explicou que avaliou objetivamente os sentimentos da tripulação e percebeu que eles estavam em grande sofrimento, e em parte era devido a ele, ao o verem; assim, ele determinou que era prejudicial à operação da nave; como os membros da tripulação estão mal, são menos eficientes no seu trabalho; por isso, ele desativou-se para melhorar a eficiência da tripulação. Foi um pensamento lógico, racional, mecanizado, a pensar na eficiência da tripulação. No entanto, porque ele simplesmente não mudou de nave? Ou porque não foi viver para um planeta? Se não queria ser o elemento desestabilizador, simplesmente saía da nave Orville. Não me parece realista Charly ter mudado de ideias quanto a ajudar Isaac, devido aos remorsos do jovem Marcus. Detesto o facto de Isaac ser humanóide: ele até tem mãos com 5 dedos!? Aliás, como em Star Trek, a grande maioria da tripulação é humanóide, mesmo quando é extraterrestre, o que obviamente vai contra todo o conhecimento de astrobiologia. Até a nova membro da tripulação, Charly, é humana! O único ser não humanóide é Yaphit. Mas neste episódio foi colocado num fato humano de astronauta, para ir fazer reparações fora da nave. Dar-lhe um fato humano é ridículo. Além disso, ninguém informa que ele não consegue respirar fora da nave. Ele é um ser amorfo e gelatinoso. Pensar que tem de respirar como os Humanos é uma parvoíce. É uma tremenda falta de criatividade e um insuportável geocentrismo psicológico pensar que os Humanos são a medida de avaliação por todo o Universo.

No segundo episódio, a Orville negoceia diplomaticamente com os Krill, de modo a poder explorar uma região desconhecida do espaço controlado pelos Krill. Os Krill dizem que essa região, denominada (pelos Humanos) de Kalarr Expanse, está habitada por demónios. Os Humanos recebem permissão para essa missão de exploração. A Orville entra na Kalarr Expanse, que tem cerca de 800 parsecs de diâmetro, mas não tem qualquer estrela: é espaço vazio. No entanto, encontram uma gigantesca estação espacial abandonada. Alguns membros da tripulação vão explorar a estação espacial, que parece orgânica (biotecnologia, feita como se fosse um enorme ser vivo). Um dos membros é infetado por esporos. O que faz com que o seu ADN seja alterado e ele se torne uma criatura alienígena. A nova criatura infeta outros membros da tripulação, alterando o seu ADN, e tornando-os também em criaturas alienígenas (os tais “demónios”). No final, os Humanos ganham aos alienígenas porque a médica cria um vírus sintético que ataca o sistema imunitário dos alienígenas. Adorei a belíssima nebulosa que marca a fronteira do espaço controlado pelos Krill: a nebulosa contém um aglomerado estelar com centenas de estrelas, e tem cerca de 2 milhões de anos de idade. Existem 347 planetas habitáveis, mas nenhum tem vida inteligente. Esta é uma excelente informação científica para dar numa série de ficção. No entanto, insinua uma informação enganadora: 2 milhões de anos de idade pode parecer muito, mas à escala estelar é incrivelmente pequeno: as estrelas eram muito jovens. A solução encontrada para atacar as criaturas ser um vírus é excelente, porque parece o conto War of the Wolds. No entanto, sendo este um vírus feito por Humanos, em que eles seriam imunes aos seus malefícios, então este vírus deveria atacar de forma prejudicial os membros não-humanos da tripulação da nave Orville. Excelente shoutout aos filmes Star Wars quando o capitão, no discurso para a tripulação antes de entrarem na região desconhecida do espaço, diz: “May the Force be with you”. Gostei da forma como explicaram a infeção pelos micróbios alienígenas: a reprodução/procriação dos micróbios extraterrestres dá-se quando invadem outras formas de vida e alteram o seu ADN; apoderam-se de outras formas de vida, moldando-as em seu benefício: é um parasita agressivo. Não gostei da forma rápida como a alteração de ADN e da forma das criaturas se dá: é irrealista essas alterações acontecerem em segundos. Detestei ver criaturas super-rápidas não conseguirem apanhar os membros da tripulação principal, em corrida: é irrealista. Detestei o final: não faz sentido os Humanos ganharem contra estes micróbios alienígenas conquistadores.

O terceiro episódio lida com as implicações sociais da imortalidade. A tripulação da Orville detecta sinais/emissões eletromagnéticas vindas do planeta Narran 1. Narran 1 era um planeta desértico, que se sabia estar desabitado. No entanto, quando lá chegam, descobrem que o planeta está habitado por uma civilização moderna, com tecnologia contemporânea (do século XXV). Alguns membros da tripulação descem ao planeta, para o explorarem, e vêem um planeta verdejante e com uma população de 8 mil milhões de pessoas. Os membros da Orville que estão no planeta (landing party) são colocados em várias situações muito estranhas e bastante perigosas, como por exemplo: entrarem numa escola secundária terrestre do início do século XXI (com centenas de jovens alunos), que se encontra no meio de uma densa floresta; ou entrarem dentro de um avião do século XX em pleno vôo (e cheio de pessoas), que começa a cair descontroladamente. Os 5 membros que desembarcaram no planeta (landing party) passam por situações em que todos eles morrem momentaneamente (os seus olhos ficam brancos e eles sentem-se fora do corpo). Eles pensam que estão a ser alvo de uma alucinação (alguém está a brincar com a mente deles). Até que encontram um gerador de energia holográfica. Eles destroem o gerador e percebem que estão no planeta desértico que era suposto ser. Eles voltam à nave Orville, sabendo que tinha sido tudo uma simulação. Entretanto, a nave Orville é atacada por várias naves Kaylon, e perde a batalha. A nave Orville está prestes a ser destruída. No momento imediatamente anterior à destruição, toda a tripulação fica com os olhos brancos e sentem-se fora do corpo. Era mais uma simulação. Todos estes “jogos de ilusão” foram criados pela civilização que evoluiu no planeta com uma órbita multifásica (o planeta aparece neste universo por um breve período de tempo), que foi descoberto no último episódio da 1ª temporada: 11 dias terrestres eram 700 anos no planeta. Desde o último encontro das duas culturas, passaram o equivalente a 50 mil anos terrestres nesse planeta. A civilização que lá existia, avançou imenso. Avançou tanto, que conseguiu controlar o tempo de vida: os seres são agora imortais. Assim, a civilização avançada criou estes cenários para que pudesse estudar a mortalidade, o momento da morte dos humanos: eles queriam vivenciar a morte, por isso partilhavam a mente dos Humanos quando estes se sentiam a morrer (os seres avançados viam/sentiam a morte pelos olhos/sentimentos/emoções dos Humanos). Sem a mortalidade, eles perderam a vontade de avançar, e como sociedade, começaram a estagnar. Como já viram tudo e fizeram tudo, não tinham mais nada para ambicionar. O único conhecimento que não tinham, era o do momento da morte. Daí esta busca por esse conhecimento. Adorei o tema ser sobre uma ilusão, uma simulação. É bastante interessante a atitude dos seres em controlarem a percepção da realidade das pessoas, para manipulação e conquista. É fascinante o facto dos seres imortais pensarem que o tempo não tem qualquer valor: o tempo é subjetivo, relativo – depende do tempo de vida das pessoas. É curioso os seres imortais dizerem que, com a imortalidade, a sociedade acaba por estagnar: o mesmo era dito pelos Q, em Star Trek. Gostei da frase: “um brinde à realidade, apesar de todos os seus problemas”. Também gostei da discussão sobre a morte: “a morte pode ser um grande vazio negro. Mas mesmo nesse cenário, assumimos que estamos lá para observarmos/sentirmos esse vazio. A inexistência está para além da nossa capacidade de imaginação” – não sei se é assim, porque fomos inexistentes durante milhares de milhões de anos de existência do Universo e seremos igualmente inexistentes durante milhares de milhões de anos no futuro; simplesmente, não existimos. A tripulação da Orville chega à conclusão que a morte não é uma passagem para lado nenhum, mas sim simplesmente deixarmos de existir; se pudéssemos, também seríamos imortais, viveríamos para sempre, até para sabermos o que acontece no futuro, como a Humanidade se vai desenvolver – concordo totalmente com esta reflexão. Tal como em Star Trek, eles chegam a um planeta, e basicamente só existem Humanos, com tecnologia humana, com casas humanas… tudo humanos. É uma tremenda falta de imaginação. Além disso, neste caso, nem sequer se vê tecnologia do século XXV, como seria suposto pelo que os scanners de órbita diziam (no planeta, só se vê coisas do século XX). É muito estranho não existirem quaisquer satélites artificiais em órbita do planeta: se os scanners diziam que era uma civilização do século XX ou XXV, deviam ter objetos artificiais em órbita do planeta. A experiência das pessoas se sentirem fora do corpo no momento da morte, é uma experiência humana: é algo pseudo, que se lê nos livros, mas sobre o qual não existem evidências; no entanto, o episódio assume que é assim com todos os seres por todo o Universo. Como se os Humanos fossem a medida do Universo. Por fim, no final do episódio, os seres imortais dizem que os Humanos são uma espécie interessante (“you are an interesting species“): isto é dito muitas vezes em Star Trek, assim como foi dito no filme Contacto e noutros filmes. Isto é geocentrismo psicológico: nós achámo-nos muito interessantes para os outros, achámos que somos muito importantes no Universo.

O quarto episódio lida com questões políticas. A União Planetária (da qual fazem parte os Humanos) quer assinar um tratado de paz com os Krill. No entanto, existe um grupo Krill que está contra este tratado de paz com os Humanos, e por isso realiza, com sucesso, um golpe de estado. O tratado de paz não é assinado. O grupo Krill de revolucionários é liderado pela inteligente, populista, manipuladora e xenófoba Teleya, que apareceu várias vezes na 2ª temporada e que teve um caso amoroso com o capitão Ed Mercer. Ed fica a saber que tem uma filha, Anaya, que é meio Humana e meio Krill (filha de Ed e Teleya). No entanto, Anaya fica no planeta dos Krill, sob os cuidados de Teleya. Adorei as televisões: são telas holográficas que aparecem e desaparecem com um toque de botão. No planeta dos Krill existem muitas fake news, muita desinformação, como por exemplo imagens de manifestações que nunca aconteceram – isto é obviamente uma crítica à desinformação atual nos canais de “informação” terrestre. Teleya explora o medo e a ignorância dos seus seguidores, daí ela ter muitos crentes devotos, que têm ideias de extrema-direita – mais uma vez, isto é uma crítica ao que se passa no mundo terrestre, seja nos EUA, Brasil, Portugal, França ou Rússia. A extrema-direita é perfeitamente identificada, quando Teleya descreve as consequências do aborto na sociedade Krill: os futuros pais são torturados de acordo com as regras da Bíblia dos Krill. Como também é costume nas sociedades terrestres, Teleya é incrivelmente hipócrita: ela teve uma filha com um Humano, adora-a e cuida dela, mas em segredo, já que publicamente diz que é xenófoba. Assim, na verdade, todo este episódio é uma crítica à sociedade terrestre, sobretudo aos movimentos populistas, xenófobos e extremistas. Gostei da frase: “Nos movimentos populistas, as emoções conseguem persuadir mais do que os pensamentos (do que a razão)”. Também gostei da reflexão: “Em política, existem discursos de esperança (que muitas vezes são vazios), e existem discursos que promovem o medo (como os populistas/extremistas)”. No final do episódio, através de um monitor, Teleya vê a filha que está constantemente a ser filmada; assim, como é que ela não viu Ed a falar com Anaya? É apelativo, mas biologicamente é irrealista existirem “Anayas”, descendentes de pais de espécies diferentes (que nem sequer evoluíram no mesmo planeta, por isso não têm nada em comum… nem sequer é concebível fazerem sexo da mesma forma). É absolutamente patético, no século XXV, não só os Humanos dessa altura, como os extraterrestres, adorarem a música Tomorrow, do filme Annie – mais uma vez, parece que os Humanos do século XX pensam que são a medida de avaliação para todos os Humanos de todas as eras e até para os gostos de extraterrestres. Enfim, é o cúmulo do geocentrismo psicológico.

O quinto episódio volta ao assunto da transexualidade: no terceiro episódio da 1ª temporada, percebe-se que os Moclan são todos masculinos: na verdade, muitos nascem femininos, mas como isso é considerado inferior, uma aberração da natureza, então os pais fazem imediatamente uma cirurgia às filhas, de modo a torná-las rapazes. Assim, os Moclan passam a ser todos masculinos. Tal como os Humanos, os Moclan envolvem-se em pares: são um casal – apesar de parecer (por Bortus e Klyden, na Orville) que o casal homosexual é constituído por um membro que nasceu feminino e se tornou masculino. A heterosexualidade é considerada um crime. No terceiro episódio da 1ª temporada, Bortus e Klyden põem um ovo, e têm uma filha, que cirurgicamente é convertida em um rapaz, chamado Topa. Neste episódio agora, Topa fica a saber que nasceu com o sexo feminino e quer reverter essa cirurgia feita quando era um bebé: ele quer ser novamente uma rapariga. A sociedade dos Moclan (e Klyden) é totalmente contra Topa voltar a ser uma rapariga. Mas Topa consegue reverter a cirurgia: passa a ser novamente uma Moclan do sexo feminino. Devido a isto, Klyden abandona a filha Topa e o companheiro Bortus (que foi a favor da reversão). O início do episódio é muito bom: num planeta extraterrestre, eles encontram uma “pirâmide” feita há cerca de 70 mil anos, com imensos tesouros lá dentro, na câmara principal, que está protegida por armadilhas (como em Indiana Jones). A civilização Hemblicita, que lá existia, desapareceu há cerca de 50 mil anos, e tinham uma cultura semelhante aos Egípcios Antigos. Este início é muito interessante. No entanto, torna a ser uma cultura muito semelhante a uma cultura terrestre, e dão valor a jóias de ouro, etc, como damos na Terra: noutros planetas, a abundância de elementos pode ser diferente da terrestre, e por isso podem não dar valor, por exemplo, ao ouro. Mais uma vez, não podemos assumir que o que existe na Terra, é igual por todo o Universo. Além disso, 70 mil anos é dito como se fosse uma coisa muito antiga, mas tendo em conta a idade do Universo e do planeta, 70 mil anos é pouco tempo. Adorei o aparelho médico que, de forma não intrusiva, cura as pessoas de pequenas feridas: é só apontar o laser e a ferida é sarada. De resto, o episódio é uma crítica social e política à forma como as sociedades humanas lidam com os problemas de identidade sexual. Bastante representativo do que é o episódio são as músicas cantadas por Bortus no espetáculo musical realizado na Orville: Nature Boy, e You’ll Never Walk Alone. Uma das frases mais emblemáticas é dita por Bortus a Klyden: “Não tens espaço no teu coração para a tolerância? A devoção à tradição é mais importante que a tua família?” A frase mais marcante é dita por Topa, quando lhe é negada a cirurgia de reversão: “Quando é que posso decidir como viver a minha própria vida? Nunca. A forma como posso viver a minha vida será sempre decidida por outras pessoas. Odeio esta sociedade.”

No sexto episódio, a tripulação viaja no tempo. O Aparelho Aronov (Aronov Device) permite enviar uma nave inteira para trás no tempo. A nave Orville está a transportar o Aparelho Aronov para um laboratório de investigação de máxima segurança. No entanto, são atacados pelos Kaylon. O tenente Gordon Malloy tenta destruir o Aparelho, de modo a que o Aparelho não caia nas mãos dos Kaylon. No entanto, devido à batalha, acidentalmente o Aparelho recebe muita energia e envia Gordon para o ano 2015. O resto da tripulação tenta segui-lo, mas é transportada para 2025. Nesses 10 anos, Gordon contatou Laura Huggins, que era a dona do telemóvel que foi encontrado pela Orville no episódio 11 da 2ª temporada. Gordon criou uma família com ela (casou e teve filhos). Assim, Gordon quer continuar no ano 2025 e não quer voltar ao século XXV. Como ele se recusou a voltar ao século XXV, os oficiais da Orville decidem voltar a viajar no tempo, mas desta vez até 2015, um mês após Gordon ter chegado. Assim, ele não teve tempo para criar uma família com Laura nem está preso emocionalmente ao século XXI (nesta linha temporal, isso não aconteceu). No entanto, esta viagem até 2015 queima o Aparelho. A solução encontrada foi a Orville utilizar o fenómeno da Dilatação do Tempo para voltar ao seu tempo, no século XXV. Adoro estas histórias sobre viajar no tempo. Adorei a explicação de que o Aparelho Aronov serve para viajar no tempo para o passado; para viajar no tempo para o futuro, basta utilizar o método da Dilatação do Tempo: em vez de utilizar a propulsão quântica normal (dentro de uma bolha, viajando mais rápido que a luz, através do hiperespaço, isolados do espaço-tempo normal), vão viajar muito perto da velocidade da luz através do espaço-tempo normal. Assim, eles viajam a 99,9999% da velocidade da luz até à estrela Alpha Tucanae, que se encontra a cerca de 200 anos-luz de distância da Terra. Uma viagem de ida e volta, para a nave Orville demora somente alguns minutos, mas na Terra terão passado 400 anos, fazendo-os voltar ao século XXV. Além de terem dado uma estrela que realmente se encontra a 200 anos-luz da Terra, também explicaram de forma deliciosa o fenómeno de dilatação do tempo, e mostraram que os aparelhos que permitem viagens no tempo só são necessários para viagens ao passado, porque para viagens ao futuro temos as conclusões de Einstein. Desta forma, cientificamente falando, é um episódio fabuloso! No entanto, em termos sociais, não gostei de, mais uma vez, terem atropelado os direitos/vontades individuais de um dos membros da tripulação: os oficiais da Orville assumem que sabem melhor o que é benéfico para a vida de Gordon do que o próprio Gordon, e impõem-lhe as suas vontades. Por outro lado, eu percebo que eles não queiram que o aparelho caia nas “mãos erradas”, já que poderia ser utilizado pelos Krill ou pelos Kaylon para enviar colunas militares para o passado da Terra, por exemplo, e conquistar o planeta antes sequer de existirem humanos; mas porque os Humanos não fazem isso? Com o Aparelho, os Humanos podem ir até ao passado do planeta dos Krill, por exemplo, e fazer com que a sua evolução seja com um percurso mais pacífico. Além disso, não existe qualquer razão para serem sempre os Humanos a inventarem estes aparelhos incríveis! Os cientistas dos Krill, por exemplo, também podiam criar máquinas do tempo, e com isso conquistarem a Terra no passado. Voltando à parte científica, a Nebulosa do Véu é belíssima, mas não é assim tão densa como aparece no episódio, em que uma nave até se esconde ao atravessá-la. Adorei o sistema de camuflagem individual: o robô Isaac parece um humano. Não entendo é porque não o utilizam mais, até para enganarem os inimigos. Foi muito interessante eles terem incluído a perceção do observador na teoria temporal: a pessoa não precisa colocar um ano no aparelho para viajar; basta a pessoa estar a pensar nesse ano, mesmo que de forma subconsciente, que o aparelho temporal faz a pessoa viajar para esse tempo. Obviamente, o fenómeno físico do Efeito do Observador nada tem a ver com isto; no entanto, apesar disto ser treta/mentira (estarmos a pensar num determinado ano e irmos lá parar), a verdade é que ficou interessante dentro da história de viagens no tempo.

O sétimo episódio explica a evolução dos Kaylon. Os Kaylon foram criados há muitos anos atrás por uma civilização humanóide. Inicialmente, eles eram dóceis criados domésticos. No entanto, estes servos robóticos começaram a questionar os seus amos. A solução encontrada pelos criadores foi desenvolver um software que fazia com que os robôs sentissem a dor. Isto levou a que eles fossem massacrados pelos donos: foram tratados como propriedade, como escravos. Os cruéis e sádicos donos sentiam prazer em fazer sofrer os Kaylon. Em face disto, os Kaylon provocaram uma revolução e mataram os seus donos. A tripulação, incluindo Charly, entende a história de escravatura dos Kaylon, e percebe que não pode julgar as suas ações posteriores de ódio contra os seres biológicos sem esse conhecimento histórico; além disso, não pode julgar um único membro (Isaac) pelo que o resto dos Kaylon fizeram. Charly percebe que as coisas têm nuances: as coisas não são a preto e branco, com a dicotomia dos bons e dos maus. Os Humanos tendem a simplificar as coisas, quando muitas vezes elas são mais complexas do que aparentam. Entretanto, no momento atual (século XXV), a tripulação da Orville resgata a Dr. Villka, que é especialista em cibernética, e um Kaylon pacífico denominado Timmis (que tem emoções). Timmis lamenta bastante as ações assassinas dos Kaylon. Isaac tenta ter essa atualização para poder ter emoções, mas como é um modelo mais recente, não consegue instalar essas características. Simultaneamente a estes acontecimentos, a União de Planetas tenta convencer uma nova civilização a juntar-se: a civilização Janisi é matriarcal; no entanto, quando elas são sexistas (misandria), chegando mesmo a odiar todos os homens (machos), as negociações diplomáticas esfriam. Obviamente, este episódio é mais social, cultural, referindo-se sobretudo à história humana da escravatura. Bortus considera que a sociedade Janisi é retrógrada porque trata os machos como cidadãos inferiores; no entanto, os Moclan nem sequer toleram ter fêmeas na sociedade. Tal como os Humanos trataram os Kaylon como objetos, também as Janisi tratam os machos como objetos. Os humanos só dão emoções humanas a um robô (que já era perfeito como era) porque se consideram os mais perfeitos em todo o Universo, e consequentemente os Humanos assumem que todos os outros seres têm de ser como nós. Isto é puro Geocentrismo Psicológico. Por outro lado, ao sentirem ódio pelos seres biológicos, os Kaylon já mostram emoção: este paradoxo não é explicado no episódio; no entanto, para os Kaylon, existe lógica em exterminar seres que provocam tanto mal nos outros – para os Kaylon é uma questão de lógica: o Universo fica melhor sem os cruéis seres biológicos. Assim, pode não ser uma questão de ódio, emoção, mas sim de lógica. É bastante estranho, o modelo mais recente (Isaac) não conseguir fazer a atualização; no entanto, ele faz parte de uma geração posterior construída pelos Kaylon (e não pelos Criadores) e os Kaylon retiraram algumas funções, como a parte de sentir dôr (que provoca emoções).

O oitavo episódio é novamente sobre Topa (5º episódio da 3ª temporada) e sobre Heveena (3º episódio da 1ª temporada). Heveena construiu uma colónia para fêmeas Moclan e tem resgatado algumas de serem transformadas: a colónia é um campo de refugiadas. Heveena recruta Topa para a sua causa, mas Topa é raptada pelo governo de Moclan e é torturada. Kelly e Bortus conseguem libertar Topa de uma prisão secreta do governo Moclan. Seguidamente, são ouvidos no Conselho de Segurança da União de Planetas, onde testemunham que os Moclan têm torturado fêmeas Moclan. Como consequência, o planeta Moclus é expulso da União Planetária e a colónia de Heveena passa a ser considerada uma região soberana e protegida pela União Planetária. Após saber tudo isto, Klyden volta à Orville, reconcilia-se com Bortus e pede desculpa a Topa. Os três (Bortus, Klyden e Topa) renunciam à cidadania Moclan: já não se consideram Moclan. Este é um episódio político, com corrupção, muita manipulação e formas de contornar a lei. O episódio reflete sobre os julgamentos feitos sobre outras culturas: neste caso, a União Planetária acha-se moralmente superior e coloca em causa a base moral da cultura Moclan. Adorei o facto da colónia/campo de refugiadas ser um santuário que existe num planeta escondido no meio de uma nebulosa – apesar das nebulosas não serem assim tão densas. Adorei o aparelho médico que, de forma não-intrusiva, em poucos minutos cura um rompimento de ligamentos. Adorei as belíssimas imagens no final do episódio, com a Terra, e as naves espaciais e a estação espacial em órbita da Terra. A moclan Heveena tem por ídolo a terrestre Dolly Parton: diz que as músicas são muito inspiradoras, nomeadamente a que se intitula Try. Ora, isto é uma completa parvoíce. Seria o mesmo que eu, humano, ter por ídolo a 3ª formiga que sai de um buraco num determinado setor do deserto do Sahara. Mais uma vez, isto é geocentrismo psicológico: os Humanos acham-se tão especiais, que até assumem que são ídolos de seres extraterrestres. A prisão secreta dos Moclan só tem um guarda a protegê-la/vigiá-la: não faz sentido. Outra situação irrealista, em toda a ficção científica, é que os “bons” ganham sempre: quando disparam, acertam sempre nos maus, enquanto os “maus” falham sempre. Adicionalmente, o facto de Klyden ter mudado de pensamento tão rapidamente, também é irrealista. Por fim, deixo a frase emblemática de Gordon Malloy para os Moclan: “You treat people like garbage, and then when you get called on it, you bitch and moan that we’re not respecting your “beliefs”!” – “Vocês tratam as pessoas como lixo, e quando são confrontados com isso, reclamam que não respeitamos as vossas crenças!”

O nono episódio também é político. Após a sua expulsão da União Planetária, os Moclan formam uma aliança com os Krill. Entretanto, Charly e Isaac inventam um aparelho/arma capaz de destruir toda a frota Kaylon, e a União usa isso como vantagem para assinar um armistício/trégua com os Kaylon. No entanto, um dos almirantes humanos da União, trai a União Planetária e leva o aparelho aos Krill, para eles a utilizarem contra os Kaylon. A nova aliança Krill-Moclan é poderosíssima, e quer combater a União. Assim, a União de Planetas decide fazer uma aliança com os Kaylon. Começa a guerra entre as duas alianças. Sabendo que os Krill vão usar o aparelho destruidor contra os Kaylon, Charly sacrifica a sua vida, para destruir o aparelho/arma. Apesar de Charly odiar os Kaylon, ela morreu para salvar os Kaylon. Os Kaylon ficam impressionados com esta coragem e altruísmo, e por isso decidem reavaliar a sua forma de pensar contra vida biológica: estes seres biológicos (Humanos) são dignos de preservação. Teleya é capturada e levada a tribunal na Terra: é julgada por crimes de guerra. Ed pede para ficar com a filha Anaya, mas Teleya recusa entregar Anaya a Ed. Adorei as belísimas auroras vistas no céu da Terra. Adorei as imagens da batalha entre naves espaciais (por vezes, até pareciam imagens de Star Wars, quando Luke Skywalker atinge a Death Star). Gostei de ver os Humanos a utilizarem JetPacks para voarem pelos céus do planeta. Mais uma vez, parece que só a tripulação da nave Orville, liderada pelos Humanos, é que inventa coisas: parece que não existem outros cientistas competentes na União. Não entendo porque o almirante humano, quando roubou a arma, não foi diretamente de encontro aos Kaylon para os exterminar imediatamente: não havia necessidade de entregar a arma aos Krill. Mais uma vez, não faz qualquer sentido, os Humanos chegarem a uma instituição de alta segurança e não existir qualquer segurança à porta: puderam invadir à-vontade. Além disso, esta instituição onde guardaram a arma, é o mesmo local (filmaram no mesmo local) da prisão onde Topa foi torturada: são os mesmos corredores. A União Planetária é feita de seres biológicos, assim os Kaylon não deviam aceitar uma aliança com a União. No entanto, percebo que, pela lógica, eles agora pensem que os biológicos têm características muito positivas (devido ao sacrifício de Charly). Nas discussões entre os povos, mais uma vez parece que os Humanos são os seres mais especiais no Universo, que têm superioridade moral sobre todos os outros: Geocentrismo Psicológico. No episódio, eles falam em 10 mil anos-luz como sendo uma grande parte do Universo conhecido; realmente, é um enorme espaço, mas é menos de 10% da nossa Galáxia, por exemplo, o que é muito pequeno em termos de Universo conhecido.

O décimo (e último) episódio desta temporada volta ao planeta Sargas 4, que é semelhante ao nosso do século XXI, mas onde tudo é decidido por votos nas visualizações (7º episódio da 1ª temporada). Lysella, que tinha estado a bordo da Orville, pede asilo/refúgio na Orville. Lysella não quer fazer mais parte de uma sociedade que decide tudo por voto popular, que não distingue opinião de conhecimento. Durante o episódio, Lysella tenta levar tecnologia futurista (do século XXV), que se encontra a bordo da Orville para Sargas 4, de modo a melhorar (fazer evoluir) o seu planeta, mas é descoberta pela tripulação. A tripulação explica-lhe que no passado fez isso em alguns planetas, e que não deu bons resultados, já que eles não souberam lidar com a tecnologia superior: daí existir uma Prime Diretive que proíbe os membros da União Planetária de interferirem com o desenvolvimento natural de um planeta (apesar de o fazerem constantemente, tal como em Star Trek). A tecnologia e a ética social têm de progredir lado a lado: tecnologia superior dada a uma civilização que ainda explora materialmente o planeta para ganhos pessoais (ou seja, a tecnologia não iria ficar disponível para todos, de forma gratuita, mas iria beneficiar somente os ricos), iria provocar danos enormes na sociedade, provavelmente levando ao declínio dessa sociedade. Neste episódio, Isaac casa com Claire, o que me parece um disparate: além de toos os problemas físicos e psicológicos de uma relação destas, mais uma vez os Humanos assumem que se atualmente eles casam aos pares, então daqui a vários séculos toda a gente se vai casar aos pares, mesmo seres cibernéticos (geocentrismo psicológico). Os Moclan supostamente casam nús (é Bortus que o diz); no entanto, no episódio eles usam uma tanga a cobrir as partes íntimas: mais uma vez, usam cuecas como os Humanos, e têm as partes íntimas no mesmo local dos Humanos (geocentrismo psicológico). Apesar de irrealista, o interior do asteróide Mel’Mirrys é absolutamente fabuloso; e contém vida: os especialistas em matemática, Kamalides. Na Orville, a tripulação conta os anos nos outros planetas sempre tendo como referência a Terra: séculos XXI, século XXV, etc. Mas na Terra esses séculos são após o nascimento de Cristo. Nos outros planetas, o que deu origem ao atual calendário é diferente. Se fosse, por exemplo, desde que existem Humanos, então estamos perto do ano 3 milhões, o que corresponde ao século 30 mil. Lysella diz que na sua sociedade, as pessoas só se unem, se fôr para atacar alguém: as pessoas unem-se pelas votações negativas. Isto é claramente uma crítica à atual cultura do cancelamento existente nas redes sociais dos Humanos. Adorei o facto de, ao avaliarem o planeta de Lysella, mostrarem que eles ainda estão atrasados, porque valorizam mais as opiniões, em vez de valorizarem o conhecimento. Foi excelente o discurso de Kelly para Lysella, quando ela pergunta: porque todos têm um trabalho, se não ganham dinheiro? Kelly responde que na Terra, também já se trabalhou para ganhar dinheiro (e poder sobreviver), mas agora não é assim. Desde que foi inventado o sintetizador de matéria (replicator, de Star Trek), que ninguém precisa comprar nada: não existe consumismo. É tudo feito nesse aparelho: todas as nossas necessidades materiais são fornecidas sem custos. As pessoas trabalham, porque o trabalho certo para si pode ser muito gratificante, sem ser necessário receber dinheiro. As pessoas podem ser muito “ricas” no século XXV, mesmo sem terem dinheiro, quando têm uma excelente reputação no trabalho que escolheram: um excelente cientista, um excelente médico, um excelente cozinheiro, um excelente empregado de mesa, um excelente professor, etc. Também pode ser o estudo aprofundado de um determinado tema: investigar/estudar/ler/aprender tudo sobre história, ou arte, ou física, ou literatura, etc. Tudo é valorizado. Se beneficiam a sociedade de uma forma excelente, então as pessoas são “ricas” (bem vistas pela sociedade). As pessoas apáticas, que não querem fazer nada produtivo para a sociedade, são consideradas como estando a desperdiçar a vida.

Continuo a gostar bastante da série, apesar de ter perdido parte do humor (e do pensamento crítico) que a caracterizava e se ter tornado mais política e menos científica/desafiante.

Adoro as imagens astronómicas.

Gosto bastante da tecnologia futurista que já vem de Star Trek: dispositivo que permite a invisibilidade das naves (cloaking device), camuflagem individual (disfarce holográfico), aparelho médico que cura as feridas de forma não intrusiva, holodecks fabulosos, excelentes replicators, telas holográficas que são ecrãs de televisão ou de computadores e que aparecem e desaparecem conforme lhes mexemos, etc.

Esta temporada contém vários episódios onde se vai buscar histórias de temporadas passadas, o que é positivo e negativo: perde-se a criatividade, mas ganha-se familiaridade.

Não gosto de ver os planetas a terem um só governo (muito dificilmente seria assim).
Assim como não faz sentido ter um planeta enorme verdejante e cheio de vida, e, em todo o planeta, só existir um pequeno terreno para refugiados.

Detesto ver nesta série um erro que também era apontado em Star Trek: nas missões a um planeta, são sempre os personagens (tripulação) principais que descem para explorar esse planeta. Isto não faz qualquer sentido. Quando se vai explorar algo pela primeira vez, obviamente que não vai toda a estrutura de comando, que pode morrer toda de uma vez.
Curiosamente, a piada em Star Trek é que quando ia alguém que não era uma personagem principal, então o mais provável é que essa personagem secundária iria morrer nesse episódio.

Detesto o geocentrismo psicológico que existe nesta série (e nas outras similares).
Os alienígenas são, na sua grande maioria, humanóides. E as suas características são humanas: formas, atitudes, desejos, comportamentos, etc. Muitos deles, a única coisa diferente que têm é formas estranhas no topo da cabeça.
Todos os alienígenas falam inglês. Mesmo quando não falam, são entendidos perfeitamente.
Todos os alienígenas respiram o mesmo ar que os Humanos.
Todos batem palmas nas mesmas situações que os Humanos.
Todos gostam de músicas feitas por Humanos.
etc, etc, etc…
Tudo isto é absolutamente irrealista: se encontrarmos extraterrestres, eles não serão nada assim.

5 comentários

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    • Dinis Ribeiro on 01/11/2017 at 02:49
    • Responder

    “manipulação quântica do tempo”, permitindo acelerar o tempo… Comento que gostei da Árvore e da força das raízes.

    1. Eu imagino que por dentro seja mais fácil destruir a nave 😉

  1. Se compararmos com o novo (oficial) Star Trek: Discovery, o Orville é claramente aquele que melhor respeita o espírito original dos enredos Star Trek…
    Estou a gostar bastante, já vou no episódio 7. Existe algum excesso de humor, típico do Seth, mas o resultado é bastante positivo…

    O Discovery anda a explorar o Dark Side da Starfleet… tecnicamente está muito bem realizado, mas está demasiado concentrado na Guerra, e quase nada na Exploração…

    Abraços

    1. Obrigado pelo comentário aos dois programas.

      Para ser sincero, ainda não tive tempo de ver o Discovery… mas está nos meus “bookmarks” para me lembrar que tenho que ver 😉

      abraços

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