Prisioneiros da caverna

Num blog de desporto – curiosamente, sem ser do meu clube – li este resumo da Alegoria da Caverna:

“Quem teve oportunidade de estudar filosofia conhece esse grande filósofo grego chamado Platão, autor da alegoria da caverna, escrita com intenção filosófico-pedagógica e que faz parte da obra República.

Em síntese, no interior de uma caverna existem seres humanos, prisioneiros acorrentados e virados para a parede onde vêem sombras vindas do exterior que tomam pela realidade. Se um prisioneiro saísse da caverna e enfrentasse a luz e uma nova realidade, ficaria perturbado e não acreditaria. Confuso, tentaria voltar para a caverna, para a realidade a que estava habituado. Ao regressar, os seus olhos cegariam ao passar da luz para a escuridão, o que levaria os outros a pensar que sair da caverna provocava danos e nunca deviam sair dali. Assim, pretende mostrar, que na existência humana os homens são prisioneiros de falsas crenças, preconceitos e ideias enganosas, das quais não se conseguem libertar.

Este princípio, passados milhares de anos, parece continuar actual. Ao longo da história são muitos os exemplos desta situação que faz os homens tomarem a ilusão pela realidade, com reflexos negativos para a sua própria existência.”

O autor do texto, evidentemente, ligou a parábola ao seu clube e à situação atual do seu clube.

Mas eu analisei noutra perspetiva: na dificuldade de convencer as pessoas da inutilidade das pseudociências. Por mais estudos que existam com evidências de que as pseudociências não funcionam, as pessoas agarram-se irracionalmente às ilusões das suas crenças pessoais.

A wikipedia continua com a análise:

“O personagem da caverna, que por acaso se liberte corre, como Sócrates, o risco de ser morto por expressar seu pensamento e querer mostrar um mundo totalmente diferente. Transpondo para a nossa realidade, é como se você acreditasse, desde que nasceu, que o mundo é de determinado modo e, então vem alguém e diz que quase tudo aquilo é falso, é parcial, e tenta lhe mostrar novos conceitos, totalmente diferentes. Foi justamente por razões como essa que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando Platão à escrita da Alegoria da Caverna pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se passassem, na existência humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas poucas possibilidades.
(…)
O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.”

Lembro que a ciência era a filosofia no tempo de Platão.
Os cientistas de agora, eram os filósofos naquele tempo.

Com esta alegoria, Platão mostra que a ciência é a forma de superarmos a ignorância sobre o mundo que nos rodeia.

Os cientistas tentam mostrar que a racionalidade é o caminho certo para descobrir a verdade sobre o mundo.
Mas muitas pessoas preferem ficar agarradas às suas crenças pessoais, às suas ilusões, às suas superstições. São prisioneiras da sua caverna.

Sócrates fazia o mesmo.
Sócrates defendia que para se acreditar em algo, era preciso verificar se aquilo realmente era verdade. Devido a isso – devido a questionar as crenças, as ilusões, a ignorância dos seus conterrâneos -, foi acusado, julgado e morto.

Os cientistas, por vezes, por quererem que as pessoas busquem conhecimento, superando a sua ignorância, são atacados como tendo “motivos ocultos”.

Pela história humana vemos inúmeros exemplos disso mesmo: de cientistas que foram perseguidos, só porque as pessoas preferem as suas crenças pessoais, a sua ignorância. Muitas pessoas preferem o obscurantismo à luz do conhecimento. Muitas pessoas preferem o conforto das suas ilusões na caverna, do que a luz que é trazida pelo conhecimento. Devido a isso, por vezes torna-se perigoso defender o conhecimento.

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