Pode existir Vida nas nuvens de Vênus?

Uma ideia de Carl Sagan em 1967, pode estar voltando a ganhar força:
será que poderia existir vida nas nuvens de Vênus?

Crédito: NASA / Mattias Malmer

Na busca por vida alienígena, os astrobiólogos têm revirado todos os tipos de rochas.
Por exemplo, Marte tem feições geológicas que sugerem que no passado teve água líquida na superfície.
Os cientistas também têm observado os satélites de Júpiter (Europa, Ganimedes e Calisto) e os satélites de Saturno (Titã e Encéladus), como sendo possíveis locais para abrigar vida em seus oceanos na subsuperfície.

Agora, o cientista planetário Sanjay Limaye da Universidade de Wisconsin-Madison, e seus colegas, estão com uma nova ideia que promete revolucionar a caçada por vida extraterrestre: as nuvens de Vênus.

De acordo com a equipa de pesquisadores, a camada inferior de nuvens de Vênus, entre 47.5 e 50.5 km de altura, é um alvo excepcional para a exploração devido às condições favoráveis para a vida microbiana, incluindo, uma pressão moderada de 1 atmosfera, uma temperatura relativamente agradável de 60ºC e a presença de aerossóis de ácido sulfúrico.

“Vênus teve um bom tempo para que a vida pudesse evoluir ali. Alguns modelos sugerem que o planeta já teve um clima habitável, com água líquida na sua superfície. Isso durou cerca de 2 bilhões de anos. Isso é muito mais tempo do que as condições propícias para a vida que aconteceram em Marte”, disse o Dr. Limaye, o principal autor do artigo que descreve essa hipótese e que foi publicado na revista Astrobiology.

“Na Terra, microorganismos terrestres são capazes de serem lançados na atmosfera, onde eles já foram encontrados a altitudes de 41km, por cientistas usando balões especialmente equipados”, disse o co-autor da pesquisa, o Dr. David Smith, um pesquisador do Ames Research Center da NASA.

“No nosso planeta, nós sabemos que a vida pode resistir a condições bem ácidas, pode se alimentar de dióxido de carbono e produzir ácido sulfúrico”, disse o co-autor do trabalho, o Professor Rakesh Mogul, da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia em Pomona.

“A atmosfera de Vênus, nublada, altamente refletiva e ácida é composta na sua maior parte de dióxido de carbono e gotículas de água contendo ácido sulfúrico”.

Crédito: Limaye et al

A habitabilidade das nuvens de Vênus foi proposta pela primeira em 1967 pelo biofísico Harold Morowitz e pelo astrônomo Carl Sagan.

Décadas depois, os cientistas planetários David Grinspoon, Mark Bullock e seus colegas expandiram a ideia.

Suportando a noção de que a atmosfera de Vênus seria um nicho plausível para a vida, uma série de sondas espaciais foram lançadas para o planeta entre 1968 e 1978, mostrando que a temperatura e a pressão nas porções intermediárias e inferiores da atmosfera venusiana, não impediriam o desenvolvimento da vida microbiana.

As condições na superfície do planeta, contudo, são conhecidas como sendo não hospitaleiras para a vida, com as temperaturas batendo os 460ºC.

“Vênus mostra algumas manchas episódicas escuras, ricas em ácido sulfúrico, com contraste de 30 a 40% em ultravioleta, e ausência em comprimentos de onda maiores. Essas manchas persistem por dias, mudando suas formas e os contrastes continuamente e parecem ser dependentes da escala”, disse o Dr. Limaye.

As partículas que fazem parte dessas manchas escuras têm praticamente a mesma dimensão de algumas bactérias na Terra, embora os instrumentos que amostraram a atmosfera de Vênus até ao momento foram incapazes de distinguir entre materiais de uma natureza orgânica ou inorgânica.

“As manchas poderiam ser algo como florações de algas que acontecem de forma rotineira nos lagos e oceanos da Terra”, disseram os pesquisadores.

Na caçada pela vida extraterrestre, as atmosferas planetárias além da nossa ainda permanecem pouco exploradas.

Venus Atmospheric Maneuverable Platform.
Crédito: Northrop Grumman

“Uma possibilidade para amostrar as nuvens de Vênus está nascendo nas mesas de projeto, é a Venus Atmospheric Maneuverable Platform, ou VAMP, uma nave que poderá voar como avião, mas flutuará como um dirigível e assim poderá permanecer no ar nas camadas de nuvens do planeta adquirindo dados e amostras da atmosfera de Vênus”, disse o Dr. Limaye.

“Essa plataforma poderia incluir instrumento como o Raman Lidar, sensores químicos e meteorológicos, e espectrômetros. Ela poderia carregar também um tipo de microscópio capaz de identificar mmicroorganismos vivos”.

“Para saber de verdade se algum tipo de organismo vive na atmosfera de Vênus nós precisamos ir até lá e obter amostras dessas nuvens. Vênus poderia ser um novo capítulo espetacular na exploração astrobiológica”, disse o Professor Mogul.

Fontes: Sci-news, artigo científico, artigo científico, artigo científico

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