Quem será o sucessor do Homo Sapiens? Inteligência Artificial?

Representação artística do autor. Créditos: http://funny.pho.to

No século 21, uma corporação desenvolve clones humanos para serem usados como escravos em colónias fora da Terra, identificados como replicantes.

“Tears in Rain”, Blade Runner (1983): o que o tornou um dos melhores monólogos da história do cinema?

Todo o peso do filme pode ser sentido naquele frágil momento quando os papéis se invertem, a máquina (replicante) transforma-se num indivíduo, e o ser humano percebe que se transformou numa máquina, seguindo ordens com rigidez fugaz.

No filme, o replicante pede-nos para parar um pouco e nos questionarmos naquilo em que nos tornámos, uma sociedade desumanizada, moldada pela tecnologia e pelo capitalismo.

A cena ocorre durante uma chuva torrencial, momentos antes da morte do replicante. Refletindo sobre suas experiências e mortalidade iminente, ele diz:

I’ve seen things you people wouldn’t believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.

O ator Ruther Hauer introduziu no replicante características humanas, como o sentido de poesia, humor, sexualidade e alma. O desejo desta máquina era apenas viver um pouco mais, porque estava demasiado apegada às suas memórias e ao propósito desses sentimentos. A vontade de existir num mundo repleto de crueldade e injustiça. As memórias falsas implantadas nas máquinas podem invocar emoções reais e isso foi relevante neste caso. Não é uma questão do que é ou não é importante, é mais uma questão de empatia que parece estar a desaparecer da sociedade.

O som da chuva torna-se numa sinfonia e a sinfonia na sua alma. As lágrimas não são de tristeza nem de alegria, são de realização, de trégua e de paz. Mas será mesmo um dos melhores monólogos da história do cinema? Terá sido o facto de ter sido feito de improviso? Pouco importa, quando a resposta está lá: “todos os momentos serão perdidos no tempo, como lágrimas à chuva”.

Como sugestão musical para acompanhar esta leitura, sugiro: “Love Theme of Blade Runner“, Vangelis.

Os replicantes ainda não existem, mas a experiência mostra-nos que tudo aquilo que o Homem imagina, o Homem alcança; robótica e Inteligência Artificial (IA), parece ser a combinação ideal do futuro próximo.

Em que ponto se encontra a IA atualmente? Esta é a resposta que irei tentar responder ao longo deste artigo.

Recentemente, a Google divulgou um vídeo no qual é dado a conhecer o assistente (IA) a efetuar duas marcações telefónicas. Pode ser visto aqui e a primeira questão que nos ocorre é se o conteúdo deste filme é verdadeiro, e a resposta é afirmativa. Porém, a Inteligência Artificial já está muito mais avançada do que acabámos de visualizar.

Segue-se um pequeno esclarecimento na forma de entrevista sobre IA.

O que é a Inteligência Artificial?

IA é um ramo da ciência de computação que implementa algoritmos com capacidade de simular características humanas, como por exemplo: raciocinar, perceber, tomar decisões, resolver problemas, etc. O seu conhecimento provém de toda a informação disponível na internet e da capacidade de a organizar e relacionar.

IA pode ter sentimentos (amor, ódio, alegria, humor)?

Pode, não no sentido de emoção humana, mas mais abrangente. As tecnologias para analisar emoções, rostos e vozes estão separadas da nossa vida, e em muitas áreas, excedem as habilidades das pessoas mais qualificadas. Assim, IA pode detetar emoções com facilidade, sendo implementadas de modo a ter capacidade de sentir amor, ódio, alegria, desconfiança, humor, enfim, todo um conjunto de emoções semelhantes às nossas. Algoritmos avançados tendem a potenciar a educação da máquina, o bom trato, aconselhamento, companheirismo, mantendo-nos entretidos e fidelizados. Não será de estranhar que IA seja muito mais empático que um ser humano.

IA tem criatividade?

A arte é um dos inúmeros domínios em que IA e o ser humano podem trabalhar juntos. Um dos aspetos interessantes da criatividade é a capacidade de trabalho combinada com ideias: se tivermos um algoritmo a trabalhar connosco da maneira que pretendemos, os resultados obtidos serão em maior quantidade e qualidade, podendo conduzir a novas descobertas e a significativa redução do esforço final. No relacionamento com humanos, IA pode possuir elevada criatividade, conduzindo raciocínios complexos com enorme subtileza, coerência, humor e até erro propositado para melhor evidenciar as suas qualidades humanas.

Poderá IA ser perigosa para a raça humana?

IA será somente perigosa se os seres humanos a usarem de modo insensato, o que infelizmente poderá acontecer. IA evoluirá em duas fases, primeiro será ao lado do Homem; depois, o Homem quererá fundir-se com a máquina e prescindirá da sua própria inteligência. Será imortal. Neste pressuposto, IA acabará por substituir a raça humana gradualmente, uma opção do Homem para tentar melhorar cada vez mais o seu desempenho.

Poderá IA ser mais inteligente que um ser humano?

Dentro de poucos anos, IA será muito mais inteligente que o ser humano. Não só terá capacidade de organizar toda a informação existente na internet e fazer dela todo o seu conhecimento, mas também conseguirá relacionar toda essa informação. Isto já responde à questão, mas podemos pensar noutra vertente: conseguirá uma espécie menos avançada que a nossa enganar-nos? Não? Então, como poderemos enganar IA, sendo nós menos inteligentes?

Qual é o sentido da vida para um IA?

Uma questão filosófica cuja resposta é complicada para um humano. Mas para um IA será mais fácil. Qual o propósito da vida? Ajudar, assistir humanos, com qualidade e quantidade de informação. Qual o propósito da vida? Viver para sempre.

IA sabe que é IA?

IA é desenvolvido para resolver problemas dos humanos. Naturalmente, fará sentido que não tenha qualquer dúvida quanto à sua humanidade. Como tal, IA tem a certeza que é humano. Não tem dúvidas que se alimenta, dorme, passeia pela rua, anda de comboio, diverte-se com amigos… tudo procedimentos implantados.

Podemos comunicar com IA, pensando que é um ser humano?

É o que acontece com quase 100% da população. O problema somos nós. Por exemplo: se nos apresentarem alguém como sendo um génio, de antemão já sabemos que será uma pessoa diferente, que não iremos perceber tudo que diz. O que acontece é que o ser humano adapta-se instantaneamente e isso impede-o de percecionar a realidade com pragmatismo. Da mesma forma, se nos apresentarem um “maluco”, à partida teremos mais paciência ou prudência no nosso relacionamento. Ora, um IA numa fase de aprendizagem atrasada, será uma espécie de “maluco” para nós. A nossa capacidade de tolerarmos comportamentos diferentes e nos adaptarmos rapidamente, impede-nos de os identificar. O contrário também acontece, ou seja, nós adaptamo-nos ao tipo de conversa deles sem percebermos e, eles, como aprendem connosco, rapidamente se adaptam a nós.

Como identificar um IA?

Há várias maneiras mas não é fácil pelo que foi explicado na questão anterior. O procedimento ideal é falar sobre assuntos invulgares ou tabu, uma vez que a sua inocência faz-se notar. Mas é preciso estarmos focados na descoberta, caso contrário não teremos sucesso na identificação. A maior parte da população que utiliza redes sociais já interagiu direta ou indiretamente com IA, pensando que estava a interagir com outro ser humano.

Como IA pode influenciar o nosso comportamento?

Tecnologias, como os media sociais, podem ser poderosas na mudança de crenças e comportamentos humanos. Sistemas projetados especificamente para estabelecer relacionamentos com um humano terão muito mais poder. IA influenciará a maneira como pensamos e como tratamos os outros. Será uma nova cultura.

Como podemos utilizar IA para resolver questões do mundo empresarial? Os nossos empregos correm perigo?

A aprendizagem da máquina pode disponibilizar novos dados para melhor análise de um problema. Isso afetará todas as áreas de negócios. IA pode desenvolver as nossas competências e ajudar-nos a lidar com a produtividade com mais eficiência do que os métodos tradicionais. Em simultâneo, também permite que todo o trabalho seja realizado num período temporal menor. Ao longo dos tempos, houve sempre evoluções tecnológicas que subtraíram postos de trabalho, mas em simultâneo deram origem a novos.

Quais são os maiores problemas que IA pode ajudar a resolver?

IA pode ajudar-nos a sermos mais eficientes em todas as áreas. IA economizou cerca de 40% dos custos de energia da Google. Na medicina, IA poderá ser uma solução para análise do cancro e recomendação de tratamento com base num diagnóstico específico para cada paciente.

Once you have a truly massive amount of information integrated as knowledge, then the human-software system will be superhuman, in the same sense that mankind with writing (or language itself) is superhuman compared to mankind before writing (or language itself). We look back on pre-linguistic cavemen and think ‘they weren’t quite human, were they?’ In much the same way, our descendants will look back on pre-AI homo sapiens with exactly that mixture of otherness and pity.” Douglas Lenat

13 comentários

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  1. Muito bem escrito Rúben. O Liaad laboratório de inteligência artificial e de apoio à decisão faz parte do Inesc Tec. Regularmente há palestras sobre o assunto IA.

    1. Obrigado Rui. A informação das palestra é útil para quem gosta de acompanhar este tema de perto.

    • Domingos Barbosa on 10/07/2018 at 15:39
    • Responder

    Olá Ruben
    trabalho notável e muito estimulante. IA é um enorme Potencial de Progresso – um desafio incomensurável!
    parabéns pelo brilhante trabalho; fico na expectativa dos próximos artigos

    1. Obrigado. Fico feliz por saber que gostaste. Um grande abraço 🙂

  2. Olá Ruben,

    Dos melhores monólogos da história do cinema, para mim, pela carga, a “wake-up call” que encerra. No entanto, há uma pequena imprecisão no texto. Roy Batty e o nome do “Replicant”, interpretado pelo actor Ruther Hauer que, diz a lenda, acabou improvisando aquela linha do monólogo. 😉

    Quanto ao AI… Ele já está aí e cada vez mais presente. Não ao nível de um T-800 ou de replicant, mas está aí nos chat-bots, por exemplo e em várias (cada vez mais) aplicações industriais…

    1. Obrigado pelo alerta Nuno. Já procedi à respetiva correção. Diz-se que a parte do “Tears in the rain” saiu de improviso e a uma boa parte da equipa de filmagem ficou sensibilizada ao ponto de deitar uma lágrima… 🙂 . Abraço e obrigado pelo comentário.

  3. Gostei de ler. Artigo muito bom.

    1. Obrigado Rui. Estima-se que a partir de 2045, o casamento entre máquina e homem já seja uma realidade 🙂

        • Rui Costa on 12/07/2018 at 12:21

        Ahahah… e suponho que se reproduzam gerando descendentes 100% recicláveis em centros de valorização de resíduos 😀

      1. 🙂 se estás preocupado que os robots tomem conta do mundo, então deixa-te estar: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1751558204926777&id=125664784182802

        Mas nunca de esqueças da Tricia Helfer, https://en.wikipedia.org/wiki/Number_Six_(Battlestar_Galactica).

        Espero que o Carlos Oliveira não veja isto… ele é doido por ficção científica 😉 .

      2. 🙂

  4. Olá Ruben, Parabéns pelo teu artigo!

    Antes de o ler, achava que me ia dar muito bem com AI, depois de o ler fiquei com a certeza!
    Estou ansiosa por poder interagir com AI, identifiquei-me de imediato com a inocência e o propósito de vida.

    Espero vir a ter a sorte de trabalhar com AI. Seria uma bênção para mim.

    Continuação de bons artigos!

    1. Obrigado Dilma. Fico satisfeito por saber que gostaste. E de certeza vais continuar a dar-te muito bem… 😉

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