O VLT do ESO vê o `Oumuamua a acelerar

Novos resultados indicam que o nómada interestelar `Oumuamua é um cometa.

Imagem artística do objeto interestelar `Oumuamua.
Esta imagem artística mostra o primeiro objeto interestelar descoberto no Sistema Solar, `Oumuamua. Observações obtidas com o Very Large Telescope do ESO e o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, entre outros, mostraram que este objeto se está a deslocar para fora do Sistema Solar mais depressa do que o previsto. Os investigadores pensam que a libertação de material da sua superfície devido ao aquecimento solar é responsável por este comportamento. Esta desgaseificação pode ser vista nesta imagem artística representada sob a forma de uma nuvem subtil que está a ser ejetada do lado do objeto que está virado para o Sol. Uma vez que a desgaseificação é típica dos cometas, a equipa pensa que a anterior classificação do `Oumuamua de asteróide interestelar tem que ser alterada.
Créditos: ESA/Hubble, NASA, ESO, M. Kornmesser

`Oumuamua, o primeiro objeto interestelar descoberto no Sistema Solar, está a afastar-se do Sol mais depressa do que o esperado.

Este comportamento anómalo foi detectado por uma colaboração internacional astronómica que inclui o Very Large Telescope do ESO, no Chile.

Os novos resultados sugerem que o `Oumuamua é muito provavelmente um cometa interestelar e não um asteróide. A descoberta foi publicada na revista Nature.

Posição prevista do `Oumuamua comparada à sua posição observada.
Crédito: ESA

`Oumuamua — o primeiro objeto interestelar descoberto no seio do nosso Sistema Solar — tem sido sujeito a um intenso escrutínio desde a sua descoberta em Outubro de 2017. Agora, ao combinar dados do Very Large Telescope do ESO e doutros observatórios, uma equipa internacional de astrónomos descobriu que o objeto se está a deslocar mais depressa do que o previsto. O ganho medido em velocidade é pequeno e o `Oumuamua ainda está a desacelerar devido à atração do Sol — mas não tão rapidamente como o previsto pela mecânica celeste.

A equipa liderada por Marco Micheli (Agência Espacial Europeia) explorou diversos cenários para explicar a velocidade mais elevada que este visitante interestelar peculiar apresenta.

A equipa testou várias hipóteses para explicar a inesperada alteração da velocidade do `Oumuamua. Foi analisado se a pressão de radiação solar, o efeito Yarkovsky, ou se efeitos de fricção poderiam explicar as observações. Foi também verificado se o ganho em velocidade poderia ser causado por um evento de impulso, como por exemplo uma colisão, ou ainda se viria do `Oumuamua ser um objeto binário ou até um objeto magnetizado. A teoria improvável do `Oumuamua ser uma nave espacial interestelar foi também rejeitada: o facto da variação em velocidade ser suave e contínua, não típica de propulsores, e do objeto estar a rodar em torno de três eixos é contrário à hipótese de se tratar de um objeto artificial.

Pensa-se que o mais provável é que o `Oumuamua esteja a perder material da sua superfície devido ao aquecimento solar, algo conhecido por desgaseificação, e que seja este empurrão dado pelo material ejetado que dá origem ao impulso, pequeno mas constante, que está a fazer com que o `Oumuamua se esteja a afastar do Sistema Solar mais depressa do que o esperado — no dia 1 de Junho de 2018 o objeto deslocava-se a uma velocidade de aproximadamente 114 mil quilómetros por hora.

Tal desgaseificação é um comportamento típico dos cometas, contradizendo por isso a classificação anterior do `Oumuamua de asteróide interestelar. “Pensamos que este objeto se trata afinal de um estranho cometa minúsculo,” comenta Marco Micheli. “Através dos dados vemos que o seu “empurrão extra” está a ficar mais fraco à medida que o objeto se afasta do Sol, o que é típico dos cometas.

Normalmente, quando os cometas são aquecidos pelo Sol, ejetam poeira e gases que formam uma nuvem de material, a chamada coma, em sua volta, para além de uma cauda bastante caraterística. No entanto, a equipa de investigação não conseguiu detectar nenhuma evidência visual de desgaseificação.

Não observámos nem poeira, nem coma e nem cauda, o que é invulgar,” explica a co-autora do trabalho Karen Meech, da Universidade do Hawai, EUA. Meech liderou a equipa, que fez a descoberta inicial, na caraterização de `Oumuamua em 2017. “Pensamos que `Oumuamua possa estar a libertar grãos de poeira invulgarmente irregulares e grandes.

A equipa especulou que talvez os pequenos grãos de poeira que se encontram geralmente à superfície da maioria dos cometas tenham sido erodidos durante a viagem do `Oumuamua pelo espaço interestelar, restando apenas os grãos maiores. Apesar de uma nuvem composta por estas partículas maiores não ser suficientemente brilhante para poder ser detectada, a sua presença poderia explicar a variação inesperada na velocidade do `Oumuamua.

Para além do mistério da desgaseificação hipotética do `Oumuamua, temos ainda o mistério da sua origem interestelar. O intuito destas novas observações era determinar com exatidão o seu trajeto, o que teria provavelmente permitido obter o percurso do objeto até ao seu sistema estelar progenitor. Os novos resultados significam, no entanto, que será muito mais difícil obter esta informação.

A verdadeira natureza deste nómada interestelar enigmático poderá permanecer um mistério,” concluiu o membro da equipa Olivier Hainaut, astrónomo no ESO. “O recentemente descoberto aumento de velocidade do `Oumuamua torna mais difícil descobrir qual o caminho que o objeto tomou desde a sua estrela progenitora até nós.

Fonte (transcrição): ESO
Fonte adicional: Space Telescope

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