NASA descobre vida baseada no arsénico!

bacterias

A NASA comunicou que iria fazer uma conferência de imprensa, como podem ler neste post.
Os maus jornalistas começaram logo com especulações sem sentido, e resolveram disseminar mentiras sobre esta conferência, como podem ler no meu comentário 6. Foram erros jornalísticos semelhantes a estes.

Toda a vida que conhecemos necessita de 6 elementos, um deles sendo fósforo: carbono, oxigénio, hidrogénio, azoto, enxofre, e fósforo.
Ou seja, desde SEMPRE foi dito que TODA A VIDA necessita de FÓSFORO.

Mas foi agora descoberto no lago Mono, na Califórnia, um mundo cheio de extremófilos (vida em condições extremas).
E nesse lago, foi descoberta uma bactéria que, em vez de fósforo, pode utilizar arsénico, que é extremamente tóxico!
Esta bactéria utiliza o arsénico no ADN, como todo o resto da vida na Terra utiliza o fósforo!
(notem que a bactéria também tem fósforo, mas em quantidades tão reduzidas que não é importante para ela. O arsénico sim é que é utilizado!)

O arsénico, não por coincidência, pertence ao mesmo grupo do fósforo na tabela periódica dos elementos. Ou seja, têm “propriedades semelhantes“.

Não só esta bactéria é diferente de todo o resto da vida descoberta até hoje, mas utiliza um elemento que pensávamos ser impossível para a vida!

Ou seja, ao contrário das mentiras de vários jornalistas, NÃO foi descoberta qualquer vida extraterrestre.
Foi sim descoberta “vida completamente diferente” aqui na Terra, como já tínhamos dito no post anterior a anunciar esta conferência.

Aliás, já tínhamos basicamente dito qual seria a descoberta, sem obviamente a confirmar. Até tínhamos divulgado este artigo. E ainda este e este.

lago mono

Deixem-me ser claro: a bactéria descoberta não utiliza o arsénico no lago na Califórnia. No lago, ela utiliza o Fósforo.
Mas o que esta equipa provou, em laboratório, é que a bactéria pode viver do arsénico.
A equipa substituiu o fósforo pelo arsénico, e a bactéria não só sobreviveu, mas reproduziu-se.
Ou seja, para a bactéria, foi como se nada acontecesse, provando ser possível existirem bactérias que podem usar o arsénico em vez do fósforo para sobreviverem.

E isto é que é o mais importante! Porque é a 1ª vez que descobrimos algo do género.
Tal como diz o Davies: “Este organismo tem uma capacidade dupla. Ele pode crescer tanto com fósforo quanto com arsénico. Isto o torna peculiar, mas ainda longe de ser alguma forma verdadeiramente ‘alienígena’ de vida, pertencente a uma outra árvore da vida, com uma origem distinta.”

São obviamente precisas mais provas.
O próximo passo será encontrar vida que possa utilizar só o arsénico, sem qualquer fósforo (esta bactéria ainda tinha vestígios de fósforo).

E sobretudo é necessário a seguir encontrar uma bactéria que não só tenha a capacidade para usar o arsénico, mas que realmente o use nas suas condições ambientais.
(não é certo que esta bactéria o conseguisse fazer no lago, já que na presença do líquido, o arsénico poderia se “partir”)

Mas mesmo assim esta descoberta já é fantástica.

Esta é uma descoberta extremamente importante na biologia, na química, e na astrobiologia!
Não só “deita ao lixo” o que sabíamos sobre a vida na Terra (precisavam sempre de fósforo), mas aumenta enormemente as possibilidades de existir “vida diferente” no Universo!
Por exemplo, em Titã, existe o ambiente “ideal” para bactérias como estas… e não para o tipo de vida que andávamos lá à procura!

felisa lake

Claro que algumas pessoas vão ficar desapontadas, porque não foram descobertos ETs verdes com armadas de naves a vir na nossa direcção.
Mas esse desapontamento, deve-se somente às mentiras divulgadas pelos maus jornalistas.
Para a ciência, esta é uma descoberta excepcional!!!

Em termos de origens da vida, por exemplo, esta descoberta é magnífica, porque isso pode querer dizer que a vida pode ter origens diferentes. (não no caso desta bactéria, porque a sua origem foi como as outras, modificando-se depois no laboratório, e provando que subsiste com arsénico, sem precisar do fósforo)
A vida, sendo baseada no ADN, agora ficou-se a saber que esse ADN pode ter constituintes diferentes. O que é surpreendente!

E isto, claro, aumenta imenso as possibilidades da vida ter origem noutros lados, sob outras condições, e mediante uma química diferente…

Descobrimos finalmente vida completamente diferente (“alien”) de tudo o que já tínhamos descoberto até agora!
E, por incrível que pareça, essa vida foi descoberta… na Terra!!

As mentes dos astrobiólogos expandiram-se, como eu disse no meu outro post.
Agora, as possibilidades são enormes para outros tipos de vida!

Como diz a Felisa Wolfe-Simon, a investigadora principal: “A nossa descoberta lembra-nos que a vida tal como a conhecemos pode ser muito mais flexível do que geralmente assumimos ou mesmo que podemos imaginar. Se um microorganismo pode fazer uma coisa tão inesperada aqui na Terra, o que poderá fazer a vida que nós ainda não conhecemos?

felisa

Para lerem mais:

O jornal Público já escreveu um bom artigo sobre esta descoberta, aqui. A única coisa que critico é que se deviam retratar de terem enganado os leitores no último artigo que escreveram sobre este assunto (ao dizerem que a NASA se recusou a divulgar mais detalhes, e ao dizerem que havia a possibilidade de ser vida numa lua de Saturno).
O mesmo se passou com o Expresso, que depois de uma notícia com graves deficiências, divulgou agora a notícia da Lusa, que está mais consentânea com a realidade, aqui.
O site Viver a Ciência, na pessoa do André Levy, também já comentou este assunto, aqui.
Leiam no Diário de Notícias, aqui.
Leiam também no Ciência Hoje, aqui.
O site da TSF também escreveu sobre isso, aqui.
Podem também ler as nossas “discussões” na lista, sobre este assunto, aqui e aqui.

Leiam este artigo do Inovação Tecnológica, que está muito bom.
Leiam este artigo do Estadão, que está bom.
Artigo na Folha.
Artigo no UOL.
Artigos na Terra: lago, forma de vida, metabolismo diferente, substituição por arsénio, outros elementos, vida ET irreconhecível.

O artigo da NASA está, aqui e aqui.

O artigo na Nature, está aqui.

O artigo da Science, está aqui.

Leiam estas quotes.
Leiam o Space Daily, aqui, aqui, aqui, e aqui.
Podem ler também, na CNN, BBC, FOXNews, NASA Watch, Washington Post, Telegraph, New York Times, On Orbit, Mediaite, Cosmos, Daily Galaxy (comentários), Scientific American, Universe Today, Centauri Dreams, Astrobiology Magazine.

Visit msnbc.com for breaking news, world news, and news about the economy

Toda a conferência da NASA (os últimos 6 minutos são excelentes, porque são “no terreno”):


75 comentários

2 pings

Passar directamente para o formulário dos comentários,

  1. centauri-dreams.orgPaul Gilster escreveu no Centauri Dreams

    Vale a pena ler!

    http://www.centauri-dreams.org/?p=15573

    😉

  2. Cristiano,

    Tem toda a razão!
    É preciso mais estudos.
    Mas o crítico principal já foi “convencido” 😉

    Note que isto não é uma afirmação extraordinária, no sentido que não se diz que se descobriu vida extraterrestre.
    Simplesmente deu-se um passo importante para se perceber a flexibilidade da vida, a flexibilidade do DNA, que até agora se pensava que tinha “regras rígidas”.

    De qualquer modo, incluí várias outras frases no post acima, para tentar ser mais claro sobre o que a descoberta foi.

    Obrigado pelo comentário, porque assim me levou a modificar algumas coisas e a clarear outras. Penso que agora estará mais de acordo com o que realmente aconteceu
    😉

  3. Isso está lembrando o caso ALH84001…

    “Vida extraterrestre num meteorito de Marte”…

    Anúncio que foi depois duramente desacreditado pelos demais cientistas. Acho que seria melhor esperar o anúncio ser creditado por outros cientistas primeiro, para depois soltar os fogos de artifício:

    http://migre.me/2Fl42

    Barry Rosen diz que o arsênico (ou arsénico) pode apenas ter se concentrando nos vacúolos da bactéria…

    Esperemos para ver se este não será o ALH84001 2.0.

    Eu também quero comemorar, mas só quando for de verdade.

  4. Mário,

    Não é preciso criar uma nova categoria de ADN.
    Basta actualizar o que se pensa sobre os seus constituintes.
    Simplesmente os seus constituintes deixaram de ser só os 6 do costume… rigidamente ensinados em todo o lado… mas porventura esses constituintes podem ser substituídos por outros, que as bactérias continuam a sobreviver e a multiplicar-se.

    abraço!

    • Conceição Monteiro on 03/12/2010 at 00:49
    • Responder

    Muito boa a entrevista. Parabéns!

    Vou querer um autografo. ;-P

  5. E aí o que diz a comunicação social sobre a descoberta?

  6. que grande mentiroso. Andas a aprender com o mestre: o PM de cá.

  7. Vejam a minha entrevista para a TSF, sobre este assunto, aqui:
    http://www.astropt.org/2010/12/02/carlos-oliveira-e-a-vida-de-arsenico/

  8. Jorge, o que vale é que eu gravo as nossas conversas no MSN… e és sempre TU que me contactas…
    😛

  9. estás certamente apaixonado por mim também. Sempre a dar toques no msn é o quê?
    Fico sempre incomodado com isso, mas como até tenho certa pena de ti, lá deixo… embora muito a contragosto.

    Eu pedi foi um casamento de impedâncias…. vai lá a correr a ver o que é uma impedância. 😀

  10. LOLLL eu também disse que o teu comentário foi excelente.
    Será que também estou apaixonado por ti?
    😛
    A prova de que não estou é que quando me pediste em casamento, eu disse-te que não
    😛
    LOLLLLLLLLLLLL
    😀

  11. estás apaixonado pela Andrea…. love is in the air… esperemos é que não tenha muito arsénico…

  12. Já agora, li 2 comentários excelentes no Público (no meio de dezenas de comentários absurdos).

    Um deles diz, com alguma razão, que estas bactérias já tinham sido descobertas em 2004, mas foi-lhe dada agora uma “aura surpreendente” pela NASA, para tentar aumentar ter mais financiamento para estas pesquisas.
    Procurem o título: “The microbial arsenic cycle in Mono Lake, California”

    Penso que a diferença no estudo está neste facto:
    “Oremland had previously discovered bacteria in the hypersaline, arsenic-rich Mono Lake that use the usually toxic element in photosynthesis or respiration reactions, but no one had demonstrated the uptake of the element for internal use. He says that he kept running into fellow geomicrobiologist Felisa Wolfe-Simon, the new study’s first author, at meetings, and that Wolfe-Simon raised a provocative question: What about arsenic, in the form of the arsenate ion, subbing for phosphate ions inside the cell? After all, arsenic is the downstairs neighbor to phosphorus on the periodic table of the elements, and phosphate and arsenate are chemical cousins. That similarity contributes to arsenic’s toxicity—arsenate masquerades as the nutrient phosphate and thus gains access to the body’s metabolic system.
    Oremland was not initially convinced by Wolfe-Simon’s idea. “I looked at her like she was a nutcase,” he says.”

    Outro comentário diz que esta falta de financiamento é que faz com que os cientistas se concentrem mais naquilo que já conhecem, porque assim há mais hipóteses de terem resultados positivos.
    Mas é óbvio que não colocam nenhuma hipótese de lado (nem mesmo “procurar vida em locais sem os elementos químicos que até então eram tidos como base para a vida”), ou seja, não se coloca de lado mesmo um tipo de vida que ainda não se conhece na Terra.
    “O conhecimento está sempre a evoluir e há sempre uma primeira vez para tudo.”

    E já agora reproduzo o resto do comentário, da Andreia, de Bruxelas, que, tal como eu, se insurgiu contra os comentadores parvos que vêm logo dizer que os cientistas são uns burros que não sabem fazer nada.
    Nas palavras dela:
    “Se certas pessoas se julgam tão inteligentes a ponto de criticarem os cientistas por não terem chegado a este resultado antes, porque não seguiram carreira científica e fizeram algo de útil pelo conhecimento? Ou preferem continuar a ser treinadores de bancada, dizendo mal da classe científica à qual tanto devemos? Quando utilizarem tecnologias de informação, usufruirem de serviços de saúde, beneficiarem de novos produtos no seu dia-a-dia, tenham maior respeito por todos aqueles que com o suor do seu trabalho desenvolveram as inúmeras comodidades da nossa civilização. O que hoje conhecemos e produzimos nas mais variadas áreas em muito transcende o que sucedia há poucas décadas atrás e só não há mais progresso por haver demasiada gente mentecapta a criticar os cientistas em vez de se mexer, estudar e fazer algo de útil pelo mundo.”

    Excelente! Assino por baixo!

  13. Sim, Marco, elas têm que se “ajustar” noutros lados (mais básicos), senão o arsénico seria altamente venenoso!
    Isto abre perspectivas fantásticas!
    🙂

    ptcoelho,
    Sim, mas é algo que já é dito há muito tempo, até pela Academia Nacional de Ciências dos EUA:
    http://www.astropt.org/2007/07/09/vida-estranha/
    Mas sim, é também uma das minhas críticas que faço no curso que lecciono sobre esta matéria:
    http://www.astropt.org/2009/06/30/curso-de-astrobiologia/
    😉

  14. Pelo que entendi o arsénico não é apenas no DNA, é em tudo o que normalmente levaria fósforo, desde proteínas até ao NADPH e ATP (ou melhor, neste caso passa a ser “NADAsH” e “ATAs” :P). Estas bactérias devem possuir uma maquinaria enzimática significativamente diferente das formas de vida que utilizam o fósforo, daí o arsénico não ser tóxico para elas.

  15. Acabei de lei o magnífico novo livro de Paul Davies (The Eerie Silence), onde ele defende a necessidade de se procurar na Terra formas de vida com estruturas diferentes da que conhecemos actualmente e que inclusive pudessem indiciar, até por isso, uma origem “extra-terrestre” (em contraste com os custos de financiamento de outros projectos como o SETI). Esta descoberta vem, de certo modo, dar-lhe razão.

  16. Pelo que percebi os livros vão ter de criar uma nova categoria de ADN ou actualizar a definição? Alguém por aqui pode explicar?

    • Paulo Mesquita on 02/12/2010 at 22:31
    • Responder

    Em vez de vida extraterrestre foi descoberta vida intraterrestre. E igualmente revolucionária.

  17. É das descobertas mais importantes dos últimos 4,5 mil milhões de anos, só para realçar a extrema importância da descoberta. 🙂 (não há certamente criacionistas aqui… iihihihih)

  18. Não é só surpreendente… é chocante… arsénico no DNA…. muitos glups. Não é algo que eu esperasse!!!! Os livros vão ter de ser reescritos e corrigirem que a vida é possível mesmo sem esses elementos vulgares e tão comuns.

  19. Só para acentuar a importância desta descoberta:

    Jorge, tu estás em choque e és biólogo!
    E lidas com “bichos esquisitos” todos os dias
    😛

    Daí se vê o quão surpreendente tudo isto é 🙂

  20. ARSÉNICO!?! Ainda me custa a acreditar que seja possível vida nestes moldes. O arsénico é altamente tóxico! As implicações desta notícia, a serem confirmadas, são espectaculares!!! A começar obviamente pela redefinição da Vida. E depois pelas implicações que conduzem a uma maior abrangência da possibilidade da vida fora da Terra. Mas … arsénico no DNA… :S Estou em choque.

  21. Mas existem bons jornalistas a dar notícias sobre ciência? Tenho um amigo que diz que viu um, mas a fotografia estava desfocada, não sei se acredito 😛

    Brincadeiras à parte, isto é uma descoberta fascinante e tenho pena que nem todos a vejam dessa forma. Mostra que os requisitos para a existência de vida são ainda mais flexíveis do que se pensava. Quem sabe se um dia não se encontrará também uma forma de vida baseada no silício em vez do carbono.

  22. nature.comLeia na Nature:

    Arsenic-eating microbe may redefine chemistry of life

    http://www.nature.com/news/2010/101202/full/news.2010.645.html

  23. O aumento deste tipo de notícias na comunicação social é o que acontece quando a Ciência é a primeira vítima dos cortes nos orçamentos da comunicação social. Infelizmente, estes cortes não são de agora o que leva a uma mediocridade no tratamento de notícias deste tipo na comunicação social generalista. Há quanto tempo é o que o Público perdeu a sua secção de ‘Ciências’? Há muito…

Responder a Carlos Oliveira Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Verified by MonsterInsights