Quanto vale a ciência?

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A ciência é vital.
Não só nos dá as tecnologias, e vantagens que usufruímos no dia-a-dia, mas sobretudo dá-nos todo o conhecimento que dispomos.
É essa curiosidade científica, e o pensamento crítico a ela subjacente, que nos permite saber tudo aquilo que sabemos.
E esse conhecimento é vital. Veja-se por exemplo, em termos individuais, o caso da medicina, e em termos de espécie o caso da astronomia.
Para sobrevivermos precisamos sem dúvida do conhecimento científico.

Daí que se calhar a pergunta que se deve fazer é: Quanto vale o conhecimento?

Como se pode ver aqui, o conhecimento, sobretudo o científico, e nomeadamente o ligado à astronomia vale pouco, vale muito pouco. E isto são valores para os EUA, porque em Portugal as discrepâncias são muito maiores, e o conhecimento científico vale muito menos.
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Tendo em conta que esse conhecimento é vital para sobrevivermos como espécie, parece-me então que está demasiado subvalorizado.

Porque será que não damos valor ao conhecimento em geral?
Porque será que não damos valor, em particular, à ciência?
Porque será que não damos valor, nomeadamente, à astronomia?

Faço estas perguntas, após já ter reflectido bastante sobre isto, e até já ter partilhado ideias com astrónomos amadores, numa conversa que começou aqui e acabou aqui, 50 e-mails depois.
Neste post vou fazer uma auto-crítica, como português, como divulgador de astronomia, e como um dos coordenadores deste blog.


A qualidade paga-se.
Muita gente vê o preço como sinónimo de qualidade. Basta ir pelas ruas do Porto ou perguntar nos shoppings. Entre algo que é barato e outra coisa que é cara, as pessoas tendem a escolher o mais caro, porque imaginam que isso lhes trará maior qualidade.
Por exemplo, assume-se que o mérito dos médicos se mede pelo preço da consulta. Assume-se que o médico que leva 120 euros por consulta é melhor do que o médico que só leva 20 euros por consulta.
Ou seja, o subconsciente das pessoas atribui o valor a algo, mediante aquilo que paga por esse algo. É uma falsa noção de valor – o preço -, mas é o que as pessoas assumem ser verdade.

O que é de graça é desvalorizado totalmente.
Há já uns tempos recebi por e-mail uma estória, provavelmente apócrifa, de alguém que dizia que tinha deitado o frigorífico ao lixo. Ainda trabalhava, mas como comprou um melhor, desfez-se daquele que tinha. Colocou ao lado do lixo, de modo a alguém o levar. Ninguém pegou nele. Por isso, o dono pegou nele novamente e pôs-lhe um preço de 50 euros. E recebeu inúmeros telefonemas de quem lhe queria comprar o frigorífico.
Ou seja, como era de graça, ninguém pegou naquilo. Quando passou a ser pago, já muita gente queria.
Da mesma forma, alguém me disse há uns tempos que o cantor Zeca Afonso não cobrava nada quando cantava para o público popular, e queixava-se de que era menos bem tratado e menos considerado do que os outros cantores que cobravam cachet.
Provavelmente se o Quim Barreiros, por exemplo, fizesse espetáculos de graça, ninguém o convidava. Mas assim, a centenas (milhares?) de euros, terá provavelmente a agenda preenchida com convites.
O mesmo se passa na educação. Sendo de graça, ninguém lhe dá valor. Se o professor falta, os alunos pulam de alegria.
Ou seja, desconsidera-se, despreza-se e desvaloriza-se o que é de graça. Mesmo que tenha valor e qualidade, as pessoas assumem que não tem, por ser gratuito.

Não só a percepção (mesmo que errada) de qualidade se paga, mas a marca também se paga.
Por exemplo: se eu comprar um relógio nas lojas dos Chineses, sei que a qualidade é mínima, o relógio é barato (2 euros), e dura uma semana. Se comprar na Swatch, é mais caro (40 euros), pago também pela marca, e espero que tenha melhor qualidade e dure mais. Se comprar um Rolex, o preço é muito mais alto (podem chegar a 1 milhão de euros), vou também pagar pela marca, assumo que a qualidade é enorme, e espero que dure a vida inteira.
Outro exemplo: as marcas de roupa, é a mesma coisa. Quanto mais cara, e sendo de marca, assume-se implicitamente uma qualidade melhor.
Outro exemplo: se as sapatilhas Nike fossem de graça, ninguém queria saber delas.
Ou seja, a percepção de qualidade e a marca, pagam-se.

Não é a marca propriamente que se paga, mas sim a percepção de qualidade associada à marca, que existe na mente das pessoas.

Sendo assim, e tendo em conta que a ciência está em todo o lado no nosso dia-a-dia, então a marca “ciência” deveria ter um valor enorme.
No entanto, o que se passa é o contrário. A marca “ciência” e a marca “conhecimento”, nada valem para as pessoas.


Quem se aproveita desta mentalidade de “qualidade paga-se” são os pseudos e os os auto-denominados “famosos“.

Os pseudos fazem palestras a 25 euros, dão cursos a 170 euros, etc. Podem dizer as maiores palermices/mentiras, como por exemplo: “Os seres luminosos proporcionam um trabalho profundo do coração actuando no DNA espiritual e efectuando a conexão e activação de várias fitas de DNA“. Podem até incluir que passaram pela NASA ou por vários países (quer o tenham feito ou não), porque supostamente isso dá-lhes “credibilidade e prestígio” para aumentarem ainda mais os preços.
As pessoas lêem isto, e vêem o preço, e a percepção é que eles têm que saber do que estão a falar, pelo preço que levam.
Não só há uma falsa avaliação, mas há uma estupidificação/imbecilização da sociedade.

Já os “famosos” levam cachets monstruosos para aparecerem em discotecas.
A Bárbara Guimarães, quando era convidada para aparecer numa discoteca em Portugal, levava um cachet provavelmente de alguns milhares de euros por passar 2 horas a acenar.
A Jaciara (ex-mulher do jogador Deco, que já jogou no FCP) é considerada famosa (não me perguntem porquê, que eu também não sei). Quando vem a Portugal visitar uma discoteca, pede 3000 euros por 3 horas a acenar.
O Figo visita uma escola e tem logo a acompanhá-lo o Ministro da Educação.
Se o Cristiano Ronaldo decidir visitar uma escola, aparecem logo “por milagre” fundos monetários que não existiam e “altos dignatários da Nação” a marcar presença.
Famosos e pseudo-famosos (ex: Reality Shows) levam caríssimo para não fazerem nada, dando a entender que só a presença deles, a “marca” deles tem qualidade. Mesmo não tendo qualidade nenhuma, essa é a percepção que transmitem às pessoas.


Enquanto os pseudos colocam preços altos, para transmitirem a ideia que o que vendem tem qualidade, já os divulgadores de ciência (muitas das vezes são também cientistas) transmitem a ideia que a ciência tem pouca qualidade.
Enquanto os pseudos vão ficando ricos, os cientistas vão-se queixando da falta de fundos para as suas equipas.
Enquanto os pseudos (e famosos) aproveitam-se da mentalidade de “qualidade paga-se”, a ciência ignora isso e passa uma má imagem de si.

Por exemplo, o Zé Matos leva muito pouco pelo conhecimento que detém, em comparação com o desconhecimento dos pseudos. Tanto em palestras como em cursos, os valores que o Zé Matos leva são nitidamente inferiores aos dos pseudos. Se qualidade paga-se, as pessoas vão ficar a pensar que o curso dos pseudos é melhor, que as mentiras deles valem mais que o conhecimento do Zé Matos.
Os elementos da Atalaia não levam nada pelas explicações quando fazem observações astronómicas com o público.
O Pedro Ré, o Guilherme de Almeida, e vários outros pertencentes à APAA, também não levam nada pelas palestras que fazem. E muitas vezes nem sequer têm “direito” a ser indemnizados pelas deslocações que fazem. Os organizadores nem se “lembram” dessas despesas, assumindo que estas pessoas só por divulgarem ciência então serão uns “coitadinhos” e não têm direito a serem reembolsados (ou seja, têm que ter prejuízo, e é se querem!). Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.
Quando existem encontros de astronomia, os palestradores não são pagos.
Quando há eventos locais, por exemplo organizados pelas Câmaras, os famosos são pagos a peso de ouro para lá irem, até eventuais palhaços são pagos, mas os divulgadores de conhecimento (neste caso, de astronomia) não são pagos. As câmaras teriam todo o interesse em pagar-nos, porque são eventos úteis para os moradores, que dão visibilidade à região, dão boa imagem às Câmaras, dão lucros aos restaurantes e pensões, e enriquecem o conhecimento dos naturais da terra. Mas o certo é que nem as deslocações ou estadias querem pagar. Assumem que o conhecimento não vale nada.
As escolas não pagam a quem lá vai fornecer o conhecimento (os próprios professores são muito mal pagos, por isso já se vê como o conhecimento é desvalorizado). Eu próprio (e o Nuno e a Vera) temos experiência pessoal de ir a escolas há uns anos atrás perguntar se queriam que dessemos algumas aulas GRATUITAS de astronomia, e disseram-nos que não. Provavelmente, porque era de graça, e assim é mal visto (é visto como não tendo qualidade). No entanto, se dissessemos que um pseudo-famoso que acabou de sair da Casa dos Segredos iria lá, provavelmente até nem havia aulas e tentariam arranjar o mais dinheiro possível para lhe pagarem.

E nem é preciso referir que quando estes e outros especialistas vão divulgar astronomia/conhecimento a uma escola, além de não serem pagos, também não têm os ministros a agradecerem-lhes e a “babarem-se” ao seu lado, em presença de tão grande conhecimento.

Comigo passa-se o mesmo dos exemplos que dei em cima.
Sempre que vou a Portugal, vou a vários lados fazer divulgação de astronomia. Tento fazer palestras, por escolas, encontros, astrofestas, etc.
Não sou pago pelo trabalho, e raramente me pagam as deslocações.

(já agora, um àparte para dizer que nos EUA, existe esse reconhecimento pelo trabalho, pelo mérito, pelo talento, pelo conhecimento. Daí que sou pago e não esperam que eu faça nada de graça. Pagam pela qualidade do conhecimento.
Por outro lado, existe uma aposta na ciência, na marca, e no marketing, como por exemplo nos centros da NASA. O que leva ao respeito e à valorização dessas instituições. Já em Portugal parece-me que centros de ciência (no Visionarium tenho experiência própria disso) não querem saber de marketing ou de “vender” os seus produtos científicos – por exemplo, nas próprias lojas que não se encontram nas saídas.
Há também uma valorização do que é essencial, e não uma concentração no acessório ou “deixar andar”.
Parece-me também que aqui existe um planeamento de longo prazo, enquanto em Portugal pensa-se somente no curto prazo, por exemplo preferindo ter 50 pessoas a olharem durante 1 hora para uma palestra, esquecendo-nos que a mensagem de longo prazo que se transmite é que o nosso valor, o nosso conhecimento, o nosso tempo, não vale nada.
Tenta-se igualmente dinamizar com os recursos disponíveis e tentar arranjar mais para utilizar, enquanto em Portugal há muito telescópio “empacotado”.
Parece-me sobretudo uma questão de mentalidade. Na América do Norte, e na Europa do Norte, pode-se retirar um jornal (ninguém tira mais) das “caixas” de jornais, por vezes não existem pessoas a controlar entradas para o cinema, pode-se comer nos supermercados, etc. As pessoas não tentam “passar a perna”, ser “chicos-espertos”, porque sabem que o trabalho custa e quem fica a perder é a sociedade no seu todo. Na Europa do Sul não se vê os frutos desse trabalho, e por isso não se dá valor a quem trabalha, a quem detém conhecimento)

Voltando a mim, e ao que faço em Portugal, é claro que faço as coisas por “amor à causa” (mesmo tendo prejuízo monetário).
Obviamente que acho importante o trabalho que faço no blog, e na divulgação quando vou a Portugal.
E para alguns, provavelmente isso é suficiente, mesmo não tendo o reconhecimento que merecem.
Afinal o importante é fazer chegar a astronomia, e o conhecimento, ao maior número de pessoas.

No entanto, a minha pergunta prende-se com a percepção das pessoas.
Se não levamos $$, as pessoas assumem que essa actividade tem menos qualidade que as palestras dos pseudos a dezenas de euros.
Ou seja, a ciência é “vendida” como se fosse uma “loja dos Chineses” (não tenho nada contra elas, é só um exemplo de preço-qualidade). O conhecimento (científico) é publicitado nos preços, como tendo pouca qualidade. A “marca” ciência vale menos por isso… poderemos estar a retirar mérito à ciência.
Ao fazermos as coisas de graça, estaremos a desprezar o valor da marca ciência, e estaremos a contribuir para que as pessoas não tenham orgulho na ciência e na sua educação científica.

Exemplo: se o sr. X desse 100 euros por uma palestra de astrobiologia, provavelmente sentir-se-ia mais orgulhoso a contar aos amigos: “Ontem fui a uma palestra excepcional. Dei 100 euros, mas foi muito bem empregado, porque a qualidade era excelente e fiquei a saber muito mais”.
No entanto, o que acontece actualmente é isto: o sr. X diz ao amigo: “Ontem fui a uma palestra de astrobiologia. Foi excelente. Aproveita que é de graça.”
Ou seja, o amigo poderá ir, porque é de graça. Não pela marca, não pela ciência, mas sim porque é de graça.

A ciência perde valor aos olhos das pessoas.
O conhecimento científico/astronómico é visto como tendo menos valor que um Curso de Metafísica, ou que uma Bárbara Guimarães a acenar, ou que uma Jaciara a aparecer nalgum lado, ou que um Figo a visitar alguma coisa.

E provavelmente somos nós que estamos a contribuir para isso, para a desvalorização popular da ciência, para o demérito da ciência, para a diminuição da importância da ciência, e para a desvalorização do nosso próprio conhecimento.
Enquanto os pseudos valorizam as mentiras que divulgam, e os “famosos” não aceitariam ir de graça fazer trabalhos similares, já quem divulga a ciência deixa que o seu valor seja entendido como “zero”.
Há uma desvalorização total do conhecimento e das pessoas que o detém.
E nós contribuímos para isso – deixamos que essa seja a mensagem passada para as pessoas, que essa seja a percepção das pessoas. Não mostramos orgulho no conhecimento que temos, no mérito que dispomos, no valor que o nosso conhecimento tem. Deixamos que as pessoas associem ciência e conhecimento com pouco valor, um valor nulo (gratuito).
Este recurso próprio que temos – conhecimento -, é, assim, desprezado, inclusivé por nós. E se nem a própria pessoa dá valor ao seu conhecimento, não se pode esperar que os outros dêem esse valor.

Imagine-se que está um extraterrestre lá em cima, a tentar compreender a população terrestre.
O que pensará ele?
Que a nossa sociedade dá mais valor a acenos, a pseudo-famosos, a ex-jogadores de futebol, e a pseudos, do que ao conhecimento científico.
Ou seja, o ET pensaria exactamente o que as pessoas pensam: o que é mais caro e tem os “chefes da nação” a acompanhar, tem mais valor.

Alguma coisa tem que mudar. As mentalidades têm que mudar.
Provavelmente só muda, se os divulgadores (como eu quando vou a Portugal) mudarem de mentalidade. Se pararmos de denegrir a ciência e a nós próprios, sem querer. Se deixarmos de assumir para nós e para o nosso conhecimento um valor abaixo dos Quim Barreiros deste mundo, e começarmos a dar a entender que “o meu valor é superior ao do Quim Barreiros” ou, no mínimo, assumir: “o meu valor intelectual é semelhante ao do Quim Barreiros em termos musicais”. Só isso, já faria mudar muita coisa, só isso já faria as pessoas perceberem que a ciência e a pessoa que a comunica tem valor.
Só mudando as mentalidades neste campo, poderemos mudar a percepção das pessoas quanto ao valor da ciência e ao nosso próprio valor.


O projecto astroPT é gratuito, disseminando assim a ideia que a qualidade do conhecimento científico é insignificante (ao ser de graça).
Por exemplo, existem inúmeros sites na net que têm conteúdo porno, e paga-se. No blog do astroPT, não se paga nada, para se saber de notícias astronómicas. Assim, o astroPT está a passar a mensagem que o conhecimento de astronomia vale menos que vídeos pornográficos.
Ou seja, o astroPT mesmo tendo por objectivo disseminar conhecimento científico, está sem querer a transmitir a mensagem que esse conhecimento não vale nada. Quem nos lê fica invariavelmente com essa ideia: que saber de astronomia vale menos do que pagar para ir ver a Jaciara, por exemplo.
Como qualidade paga-se, a percepção de quem nos lê é que o astroPT, e a ciência, tem menos qualidade que pseudo-famosos.

Por outro lado, enquanto o Quim Barreiros, o Cristiano Ronaldo, ou o Carl Sagan fazem valer a sua Marca como sinal de reconhecimento nas suas áreas, já o astroPT, ao ser gratuito, transmite a ideia que não existe esse valor – a marca astroPT não existe, é nula, gratuita. Essa será a percepção de quem nos vê/lê.

Notem que nem estou a dizer que se se pagasse, então o projecto astroPT teria que ser profissionalizado, e daria para competir com artigos ao nível de sites profissionais de notícias.
Estou somente a colocar as coisas em termos filosóficos, em termos de percepção das pessoas.
Como as pessoas sabem que a qualidade paga-se, então o astroPT estará inadvertidamente a transmitir a mensagem que a divulgação da astronomia e da ciência em geral devem ser de graça porque não têm qualidade.

Ou seja, apesar do nosso objectivo ser melhorar o conhecimento científico/astrónomico dos nossos leitores, o que poderá estar a acontecer é que estamos a reforçar a ideia de que o valor (desta divulgação) da ciência é nulo.
Estamos a contribuir para a ideia que a marca conhecimento e a marca ciência nada valem.
A filosofia gratuita de transmissão do conhecimento inerente ao astroPT, pode estar assim a dar um tiro no pé, e a contribuir para a desvalorização da ciência.

É tudo uma questão de percepção de valor, e imagem de marca.
A divulgação da ciência, e a transmissão de conhecimento, terá necessariamente que compreender estas leis de mercado.
Já Darwin dizia que o factor principal para a sobrevivência é a adaptação ao meio em que se está inserido.

Sendo assim, parece-me que o astroPT:
– para não morrer, terá que evoluir.
– terá que ter uma evolução que tenha em atenção as percepções da sociedade.
– terá que tentar ser reconhecido como uma marca de qualidade.
– e terá que tentar mudar as mentalidades, passando a contribuir para com que a ciência seja valorizada, fazendo com que o conhecimento seja reconhecido como tendo valor.

55 comentários

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    • Ana Guerreiro Pereira on 21/04/2011 at 15:59
    • Responder

    Parece-me a mim existir não só uma falta de interesse geral pelo conhecimento científico (“não me interesso por essas coisas”; “nem todos gostam desses temas”, e etc), como existe falta de interesse da parte de quem possui conhecimento em combater essa lacuna. Consideram que é a ordem natural das coisas haver quem seja mediocre (a propósito deste tema da mediocridade: http://www.superinteressante.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=534%3Ao-ataque-dos-mediocres&catid=24%3Aartigos&Itemid=104) e não chamam a si a tarefa de combater a iliteracia científica.

    Por outro lado, sabemos muito bem como a maioria dos cientistas carece de skills comunicacionais e não consegue comunicar eficazmente com os públicos leigos… mais de metade do que é dito a um público leigo por um especialista, não é entendido. Recordo-me por exemplo de uma semana aberta em q levei uma turma minha a uma Universidade, ver como se faz ciência (e onde fui tida como uma das alunas, ahahahaha) em diversas áreas, e não só ter tido de “traduzir” do cientifiquês para o português como tb ter tido de explicar ao cientista de serviço que estava a utilizar termos incompreensíveis para uma turma de secundário leiga em ciência…

    Outros exemplos são os péssimos professores universitários, sem qq capacidade pedagógica, que só por si transmitem a ideia de que ensinar e comunicar ciência é fastidisioso e difícil e que só alguns poderão ter acesso.

    Há um problema de elitismo no meio científico, no qual se considera que só alguns serão dignos de ter acesso a esse conhecimento e resistem a partilhá-lo e comunicá-lo, despachando até pessoas formadas na mesma área com um “logo te explico” ou “tu não vais perceber isto”…

    A verdade, infelizmente, é que os próprios cientistas não valorizam a comunicação e divulgação de ciência e chegam mesmo a desprezá-la e a desprezar quem o faz… já me disseram, inclusive, que não percebem pq é que me preocupo tanto com a iliteracia científica…

    Portanto, é um problema com várias vertentes, que parte de ambos os pólos do sistema de comunicação, neste caso do público leigo e da elite especializada. Aqui deveria entrar o comunicador de ciência, que faria a ponte entre os dois pólos. No entanto, em Portugal, não é uma profissão propriamente dita; as instituições carecem de comunicadores de ciência, há poucas iniciativas, e há muita ignorância da parte do público leigo que recorre a cientistas dispostos a comunicar, sem a mínima noção do que estão a pedir ou das qualificações do cientista/comunicador…

    por exemplo, certa vez contrataram-me para dar um módulo de quimica fisiológica (bioquímica…) a um curso de esteticismo e pediram-me que fizesse experiências nas aulas… !!!! ou seja, que roubasse material do laboratório onde estava ao mesmo tempo e fizesse experiencias numa sala teórica…??!! por outro lado, sabem qtas vezes tenho de explicar o que é um bioquímico e reafirmar q não sou física?… é que, metem na cabeça que não tenho uma vertente de bióloga, mas sim de física e vá de me excluirem das biologias – quando o meu cv na ciência e tecnologia fala por si…

    Com este “desabafo” pretendo somente ilustrar que há uma ignorância completa em muitas vertentes, que incluem o próprio mundo educacional, que não tem a noção correcta do que é um cientista e do q é o mundo da ciência. Isto, em pleno séc XXI!…

    Parece-me mais complexo ainda do que a tua análise, Carlos, e não considero que o astropt contribua para a desvalorização da ciência, muito pelo contrário!!

  1. Estou em geral de acordo com muito do que aqui foi dito.

    Queria apenas lançar alguns achas para a fogueira:

    – A Ciência é muitas vezes considerada uma coisa chata, fria, incompreensível (um pouco como a Matemática). Tal como disse outro comentador as pessoas vivem muito de emoções, fantasias e sonhos. Por isso é fácil os astrólogos e outros que tais fazerem passar as suas mensagens.

    – Nos EUA há muito a mentalidade de se vender o que quer que seja. Daí que a Ciência também “venda” mais facilmente as suas ideias do que por exemplo em Portugal.

    – No exemplo da Finlândia que foi dado, com certeza que a principal diferença reside nas mentalidades e na Cultura dos dois povos.

    – Quando os telejornais em Portugal são capazes de abrir com uma reportagem de 10 ou 15 minutos sobre a lesão do jogador de futebol X ou Y, está tudo dito… O mesmo não se passa com muitas notícias importantes que eu vejo sair diariamente no domínio da Ciência.
    Não tenho nada contra o futebol, para mim é um desporto como outro qualquer, mas deve haver cem vezes mais tempo de antena dedicado a este desporto em Portugal do que tempo de antena dedicado a todas as Ciências que existem… idem para programas tipo Big Brother, novelas, tardes da Júlia, depois da vida, etc… É esta a mentalidade… Ou seja promove-se a tacanhez, a ignorância e a burrice e não o conhecimento, a crítica e a inteligência. Isto é muitas vezes promovido por quem tem poder e quem tem possibilidade de fazer diferente e não o faz. A cultura do povo apenas reflecte esta mentalidade tacanha e limitada.

    – Penso no entanto que a evolução tem sido algo positiva para uma maior divulgação do conhecimento científico. Acredito que com a evolução tecnológica e científica, a Ciência terá um papel cada vez mais relevante no futuro e portanto a importância dada a estes temas será cada vez maior.

    • Jorge Almeida on 31/12/2010 at 15:06
    • Responder

    Ora bem, isto não é a Wikipedia, mas o que é certo é que ela para se manter precisa de dinheiro, e consegue-o. Obviamente que o público alvo é muito mais vasto. O que quero dizer é que quando algo é de qualidade, as pessoas preocupam-se em mantê-la, e, creio que estarão dispostas a contribuir com algum custo para poder continuar a usufruir. Não há-de ser difícil almejar se mesmo sites pseudo o conseguem porque não sites que têm, de longe, um contributo mais sério? A Ciência é a coisa mais preciosa que o Homem tem, infelizmente, muitos não se apercebem disso… nem que o seu dia-a-dia está completamente embebido de tudo o que a Ciência alcançou para permitir o actual comodismo e bem-estar, e aumentar a longevidade.
    Como em tudo o que é de qualidade, se não houver incentivo, as pessoas acabam por sair…
    Adeus e bom ano novo.

  2. De facto, em sites pseudo compram-se pedrinhas da sorte ou até rezas que dão saúde, sorte e afastam o mau olhado. Porque não fazer o mesmo em conteúdos sérios? A manutenção da página terá, certamente, custos associados. Quem pretende que o astroPT se mantenha poderá contribuír. Poderá, sim haver conteúdos gratuítos mas outros poderão ser pagos.

  3. O valor da ciência… A ciência em geral, mas principalmente as ciências físicas, são vistas como uma área de interesse de geeks e gajos de cabelo branco desgrenhado com ar alucinado…Em parte é verdade e eu sou um deles (bem, sem o ar alucinado e o cabelo branco e desgrenhado…). Logoa aí o seu valor monetário é diminuido ou desvalorizado, se prefere rirem. A ciência não é um asset ou uma commodity, ou pelo menos não é vista assim. Logo é difícil conseguir que as massas paguem pela ciência e basta ver o que acontece quando há financiamentos estatais para ciência como são disputados e discutidos.

    Isto não impede que as pessoas que a fazer, à ciência, sejam pagas. Eu sou consultor de desenvolvimento de software aplicacional, pagam-me para desempenhar as minhas tarefas e entregar soluções aplicacionais para resolver problemas e o que faço não é corpórea, não é sólido, tangível. São bits e bytes que correm em computadores, não deixam de ser algo “estranho” para muita gente. No entanto a informática está enraizada no dia-a-dia e as massas assumem-na como garantida também por isso mesmo tem “mercado”. A ciência tem mercado? A divulgação da mesma tem mercado?

    É possível que tenha, lá fora, tem. Porque não aqui? Porque não sites como o astroPt oferecem serviços e/ou conteúdos pagos de alguma forma e, no sentido inverso, por exemplo, pagar a quem os fornece ao astroPT? Há imensos exemplos na Internet de coisas “inúteis” que são pagas e com cashflows interessantes. Na minha opinião, questão do Carlos é pertinente.

    Penso que o que tem falhado na ciência para se “vender” e ser rentável é o marketing e o tipo de pessoas que estão na ciência o cientista, regra geral é mau comunicador, daí que surgiu a figura do comunicador de ciência e sim, é uma profissão em muitos países, no nosso como há tão poucos duvido que seja considerada como tal, apesar de o ser. (quero dizer que as tabelas mencionadas do IFP são um guia interessante, mas não completas)

    O que eu acho é que isto não é assim tão complicado e, para colocar a questão do Carlos de outra forma, completando-a, o que eu pessoalmente gostaria de saber é se vocês pagariam para ter acesso a conteúdos ou serviços seleccionados, com excelente qualidade de ciência, num site tipo o astroPT. Aliás, algo mais abrangente em que existissem conteúdos gratuitos mas em paralelo conteúdos, à falta de melhor expressão/palavra, “melhores” que fossem disponibilizados apenas a subscritores, mediante pagamento de, por exemplo, um valor anual, tal como é possível fazer em diversos locais semelhantes na Internet.

  4. Olá novamente!

    Não sabendo se têm ou não interesse sobre o tema, mas recomendo a leitura de algum material com os conceitos principais da microeconómica (não recomendo nenhum especificamente, porque o meu conceito de bom, está longe de ser universal). Num contexto mais específico sobre alguns dos pontos abordados (nomeadamente a tabela inicial), recomendo um debruçar sobre os conceitos da economia do trabalho (labor-economics).

    Na minha opinião, o Carlos está a tirar conclusões erradas em alguns dos temas que aborda, e que aborda de uma forma (diria eu) pessoal e com sentimento de injustiça e desmotivação (que se for o caso, se compreende perfeitamente).

    Ainda assim, gostaria de chamar a atenção só para dois conceitos económicos que julgo que ajudam a compreender o problema: “bens públicos” http://en.wikipedia.org/wiki/Public_goods e “free riders” http://en.wikipedia.org/wiki/Free_rider_problem .

    Cumprimentos

  5. As pessoas podem não ter paciência para uma palestra sobre a formação de estrelas, mas vão em massa ver filmes de ficção científica. Gostamos essencialmente de contemplar, de poder projectar estórias fantásticas nas quais não nos sintamos excluídos. Falar em ciência é absorvente para cientistas, mas pode facilmente fazer com que um leigo se sinta excluído.

    Quase toda a gente sabe que existiu um génio chamado Einstein, quase ninguém sabe por que foi ele um génio. Se o Einstein fosse vivo e desse uma palestra, milhões quereriam ouvi-lo, não perceberiam uma grande parte do que ele diria, mas projectariam um sonho fantástico. Porque Einstein já é um universo de fantasia mesmo que nada diga. O que passou para as pessoas foi a fantástica beleza que alguns disseram, e dizem, existir nas suas teorias, não foi a ciência do génio. Einstein olhado pela ciência que produziu seria factor de exclusão.

    As pessoas falam do Carl Sagan. O que fez o Carl Sagan? Programas com informação simples, ditas com uma voz serena mas apaixonada, como a de um bom pastor religioso, sobre um universo imenso que tem tanto de desconhecido que permite aos enredos dos episódios deixarem pontas soltas para qualquer leigo sonhar. As imagens de galáxias, e muitas outras imagens nos episódios, são meras representações, algumas absolutamente irreais, uma figuração de sonho de infinito. Onde há infinito há desconhecido, onde há desconhecido há espaço para completar com a nossa imaginação.

    Os americanos têm o seu imaginário repleto de estórias que envolvem a ciência, alimentadas, por exemplo, pela conquista espacial. A importância da ciência foi alimentada também pela competição com o bloco de leste durante a guerra fria.

    Que estórias, que lastro de imaginário e paixão, temos nós desenvolvido pela ciência, em Portugal?

    Não estou a dizer que as pessoas queiram ser embaladas, mesmo à custa de mentiras. Nada disso. Entendo até que a população tem muito mais curiosidade científica do que a que, normalmente, lhe é atribuída. Mas são precisas estórias que permitam que as pessoas sonhem e se excitem na expectativa de algo fantástico que emerja da ciência. São precisos métodos de comunicação apelativos, que sejam publicitados, massivamente, com impacto.

    Há aqui algo que não tem que ver com o preço das coisas. Se os filmes de ficção científica forem à borla as pessoas continuam a ir vê-los. Vai uma aposta?

    Uma mulher bonita a acenar não nos faz sonhar? Então não faz?! Tivesse eu 3000 euros.
    Bom Natal.

  6. Estava a ler notícias de desporto no Record, e fez-me relacionar com este post.

    Ninguém duvida do “amor à camisola” do Pinto da Costa. Ou seja, ninguém duvida do seu amor ao FCP. No entanto, ele é pago, bem pago, pelo trabalho que executa. Porquê? Porque é justo que quem trabalha, receba pelo trabalho.

    Outro exemplo: a selecção.
    A Selecção sempre foi considerada o “parente pobre” do futebol. Não se dava valor aos seus jogos, os jogadores recebiam pelos clubes, e as pessoas nem iam ver os jogos da selecção.
    A partir de, mais ou menos, 1996, a Selecção começou a conquistar o orgulho do povo. E sobretudo com a vinda de Scolari em 2003, esse orgulho foi exacerbado. O país parava para ver a Selecção jogar. Gastava-se rios de dinheiro a ir para aqui e para acolá. E se desse para pagar para ir ver a selecção jogar, também se pagava. Mesmo que fosse a pagar para ir ver treinos!
    Ou seja, a mentalidade popular mudou em relação à selecção.

    O mesmo, parece-me, é preciso que aconteça na ciência, e no conhecimento científico.

  7. Mbeki,

    Penso que o 1º ponto é irrelevante. Pagam-me pela astrobiologia. Existem muitos astrobiólogos. Mas também não existe essa “profissão” por si, porque nem sequer existem licenciaturas em astrobiologia.

    O 2º ponto, discordo.
    Quando os cientistas “entraram na sala de aula”, foram um desastre. Assim como quando somente os educadores “entraram na sala” foram um desastre. Ou seja, a ideia que retiro da história da educação, e das suas inúmeras reformas, é que tem que haver um meio-termo.
    O mesmo para os comunicadores. Se estamos à espera que sejam só os cientistas a fazerem isso, vai dar asneira (penso que os problemas que a NASA anda a ter, são devido a isto. E penso que a história da ESA neste aspecto, também é um exemplo claro do mau planeamento feito nesta área); se estamos à espera que sejam só os jornalistas, por exemplo, a fazerem isso, sem ligação aos cientistas, vai dar asneira (também não faltam exemplos neste blog sobre isto).
    Concordo que o comunicador, muito provavelmente, terá que estar ligado a uma instituição científica, para ter todos os privilégios inerentes a esse factor, nomeadamente poder conviver com cientistas, poder ter acesso aos artigos científicos, e poder estar por dentro de toda a envolvência directamente relacionada com as experiências.

    “no dia em que os governos deixarem de se interessar por esse assunto, as poucas pessoas que conseguem viver disso terão de procurar outra profissão.”
    Precisamente. As pessoas não deviam estar dependentes do estado para perceberem que têm que pagar pelo trabalho dos outros.
    Penso que deveria haver uma mudança de mentalidade, de modo às pessoas valorizarem quem lhes fornece algo – neste caso, conhecimento.

    Note que eu falei em Museus de Ciência, e também de Arte (Guggenheim). Vai dar ao mesmo.
    O certo é que em 300 milhões de pessoas nos EUA, há 600 milhões de visitas a Museus. Na Finlândia, existem 5 milhões de pessoas, e visitam o Museu 5 milhões de vezes por ano. Em Portugal, são 10 milhões de pessoas, e o melhor que conseguiram foi 1 milhão de visitas num ano. Os números não enganam.
    Como eu disse, dá-se mais valor aqui, provavelmente porque se tem uma melhor experiência nos Museus. Eu sei que quem visitava o Centro de Ciência onde trabalhei, em Baltimore, saía “nas nuvens”. E por isso, voltava. Fossem “pessoas em geral”, fossem mesmo os cientistas que nos visitavam. Já em Portugal, dei o exemplo do “Centro de Ciência”, Visionarium, onde a experiência foi completamente ao contrário.
    Não me importava de pagar 30 euros para entrar no Visionarium, se tivesse uma experiência similar ao que tinham os visitantes no Centro de Ciência de cá. Assim, não darei nem 1 euro, porque acho que a experiência que tive no Visionarium não vale sequer isso.
    Ou seja, é uma percepção de valor.

    E a percepção de valor, também me diz que sendo de graça não posso esperar muito.
    Mas se fôr a 50 euros, então já quero algo com qualidade.

  8. E é claro que a pintura faz parte da arte, desculpem a redundância…

  9. É bom ver que a conversa continua acesa, e por isso vou atirar mais algumas achas para a fogueira, a ver se temos lume até à noite de Natal:

    – Sobre a profissão de comunicador de ciência: tal como uma andorinha não faz a Primavera, o facto do José Matos (e mais alguns por cá, mas muito poucos) viver da divulgação científica não faz dela uma profissão. Até o IEFP listar a profissão “comunicador de ciência”, ou que ela apareça numa próxima revisão do ISCO, não creio que possamos dizer que essa profissão “existe”;

    – Sobre a legitimidade e sustentabilidade da comunicação de ciência: olhando para a história da divulgação científica, a profissão de comunicador de ciência (o tal tradutor entre o mundo científico e a sociedade) continua a só fazer sentido quando esse comunicador está associado a uma instituição científica. Do ponto de vista dos estímulos económicos, é o único sítio onde a sua existência é sustentável (é suportada pelo interesse da própria instituição científica), e é também o único sítio é verdadeiramente legítimo, porque essa pessoa está em contacto directo com os produtores de conhecimento científico. Num mundo ideal os comunicadores de ciência seriam os próprios cientistas, que veriam essa missão incluída nas suas tarefas diárias – e apesar de isso até ser uma discussão relativamente viva em PT, incluindo revisões do estatuto da carreira docente do ESup, não é este o espaço (ou o post) certo para desenvolver essa discussão;

    – Sobre cachet, valor, preço, mercados e modo 2: pegando no excelente comentário feito mais acima pelo Sérgio, é importante não confundir valor com preço. Até porque o valor percepcionado da Ciência em PT é bastante alto, a confiar nos últimos resultados do eurobarómetro. Mas isso não significa que as pessoas estejam dispostas a pagar um preço pela Ciência, basicamente porque a divulgação científica (até hoje) não é um mercado. Não existe muita procura, a oferta está dependente de estímulos não económicos, e no dia em que os governos deixarem de se interessar por esse assunto, as poucas pessoas que conseguem viver disso terão de procurar outra profissão. Poderíamos pensar se o chamado modo 2 de produção científica vai alterar esta situação – mas na verdade acho que não, vai simplesmente reforçar a ligação dos comunicadores de ciência directamente às instituições científicas;

    – sobre visitas a museus, quim barreiros e culturas: os números de visitantes não podem ser atirados como foi feito na resposta #3: pegando no caso dos EUA (e para trazer estes números para a discussão era preciso fazer as correcções de escala), é preciso ver quantas dessas 600 milhões de visitas são feitas a museus científicos, e depois disso, saber se esses museus científicos são ou não deficitários no fim do ano (duvido que não sejam); e depois comparar esses números de visitas a museus com outros eventos culturais (pois é também importante não esquecer que a discussão original da divulgação científica passava pela ideia de colocar a cultura científica no mesmo nível de reconhecimento que as outras culturas eruditas (arte, história, a pintura, etc.). E neste sentido, não existe uma cultura boa ou uma cultura má (um quim barreiros ou um pavarotti): existe apenas uma cultura que a maioria da população valoriza, e uma outra que quer ser valorizada…

    • Frederico Cardigos on 23/12/2010 at 16:33
    • Responder

    @Carlos Oliveira: Eu pagaria e bem para ouvir o Pedro Ré. Infelizmente, já há muito tempo que ele não vem à Horta (Açores) dar uma das suas magníficas e holísticas palestras. Fica a dica 😉
    Abraços e Felizes Festas para todos!

  10. Olá Jorge,

    Deste um exemplo interessante, que vou pegar nele: Jantar com Cientista.
    😉

    No Jantar com Cientista as pessoas pagavam. Ou seja, havia essa noção de valor.
    Claro que pagavam muito pouco, só pelo jantar, e basicamente só o preço de custo, mas sempre era um valor simbólico, que influencia bastante em termos de psicologia. O simbolismo é algo que nos influencia. Ou seja, quem ia assistir, sabia que tinha que pagar um determinado valor… que a actividade era valorizada.

    É óbvio que, como simbólico que era, o preço era muito inferior ao real preço da actividade, e era inferior ao trabalho despendido. Tenho a impressão que sempre que me convidaste, por exemplo, gastamos mais em despesas de telemóvel, do que o preço da actividade. Além de que, como bem disseste, quem trabalhou na cozinha, por exemplo, não viu o seu trabalho valorizado, muito pelo contrário… ficaram a perder tempo e dinheiro.

    Mas, no mínimo, havia esse simbolismo do preço. Não era de graça.
    E isso é importante… até para ti, organizador, em “termos mentais”.
    Lembras-te por exemplo de como tu e o Vieira ficaram chateados de quem apareceu só depois do jantar, para não pagar o jantar e só ouvir o palestrador?
    Vocês não ficaram chateados porque entraram menos 10 euros. Não é o $ que conta. Vocês ficaram chateados porque alguns “contornaram as regras” (o tal chico-espertismo) de modo a terem o proveito de graça à custa de todos os outros que seguiram as regras.

    O mesmo se passa nas palestras que referi e até no astroPT.
    As pessoas querem ter todo o conhecimento, mas não querem valorizar esse conhecimento.
    Mesmo que fosse um preço simbólico, já havia a noção de que era a pagar.
    Exemplo: se as pessoas que fossem ver uma palestra do Pedro Ré pagassem 5 euros, ou 1 euro que fosse!, mentalmente já sabiam que tinham que pagar pela actividade. A actividade tinha um valor. Não seria totalmente desvalorizada (notem que o valor não reflecte a qualidade, o valor fica na mesma muito aquém da qualidade, mas ao menos já era minimamente valorizada).
    E se todos dessem 5 euros, que é um valor muito baixo para todos, se estiverem 20 pessoas já dá 100 euros, o que dá para pelo menos pagar as despesas de deslocação, por exemplo, e tempo despendido a construir/pensar na palestra.
    Ou seja, é um exemplo de “união faz a força”. É um valor simbólico para o evento, é um valor baixo para cada pessoa que paga, mas já dá para pagar todas as despesas do evento (o palestrador já não é visto como um “coitadinho”, porque tem prejuízo de propósito), e sobretudo dá para mentalmente a pessoa assimilar que a actividade é valorizada.

    abraço!

  11. Olá Carlos

    No meu comentário quis passar duas ideias: – A primeira é que o conhecimento não tem preço – não é mensurável quanto pode valer uma palestra ou uma sessão de astronomia. Podem servir para “divertir” durante uns minutos algumas pessoas que rapidamente esquecem tudo o que ouviram ou motivar uma criança ou adolescente para o estudo das ciências e torna-lo num dos investigadores que criarão uma nova forma de aproveitamento energético que revolucione completamente o nosso mundo e a maneira como vivemos. Por exemplo, quanto vale a invenção da luz eléctrica (Lâmpada incandescente)?
    A segunda é que para haver interesse na ciência primeiro tem de haver um conhecimento básico sobre os temas e, em portugal ainda estamos nesta fase, a estimular esse interesse para que as pessoas comecem a visitar museus, centros ciencia-viva, etc… Por essa razão, como disse, as pessoas não estão preparadas a pagar por esses serviços, que por vezes são pagos indirectamente.

    Aos monitores ou agentes portadores desse conhecimento é paga uma verba no caso das actividades de CV verão, que no fim pouco acrescenta aos gastos com as deslocações, alojamento, etc… e para o ano ainda vai ser pior com o fim das Scuts…
    Outras vezes, também na Orion por força de protocolos e outros pedidos os membros da associação têm-se deslocado a escolas de forma gratuita pagando do seu bolso as deslocações efectuadas. Um exemplo de actividade que envolvia muita gente a trabalhar de graça foi o jantar com cientista no qual vários membros da Orion cozinhavam, serviam à mesa, ligavam às pessoas para que pudessem ter um número de assistência aceitável para se realizar a actividade que além disso contava, muitas vezes, com a participação gratuita dos palestrantes. No teu caso, o trabalho que tens feito neste blog não tem preço. Mas também não sei como torna-lo rentável economicamente.

    Abraço

    Continuação de bom trabalho

  12. Pois Rui, tu também fazes o Em Órbita de graça já há muitos anos…

    Lá tá, perdes imenso tempo, e não és valorizado por isso
    🙁

  13. Quanto vale a Ciência? Não sei se será possível responder a essa pergunta. Para mim, terá um valor impossível de calcular. O grande problema que enfrentamos hoje em dia na divulgação da Ciência e nas actividades científicas em geral, é que o conhecimento está disseminado por todo o lado. Outro grande problema, e este será o mais importante, é dizer às pessoas que conhecimento tem interesse e que conhecimento não passa de lixo. Por outro lado, será que as pessoas estão dispostas a saber isso?

    É óbvio que se deveria cobrar pela divulgação da Ciência; o grade problema é que com as inumeras fontes de Ciência que existem, esta cobrança torna-se quase impossível. Ou se sabe o verdadeiro valor de quem divulga a Ciência e tem-se consciência de que esse valor deve ser «pago» ou então quem quer divulgar Ciência dessa forma morre de fome.

    Este problema é generalizado e acontece no dia-à-dia. Repara o exemplo dos Optometristas em Portugal. A maior parte da ópticas oferecem consultas «gratuítas» e muita gente ainda torce o nariz a isso, apesar de ser um trabalho de qualidade que ali é feito. Se alguma óptica colocar o anúncio de que as suas consultas de Optometria são pagas, poucas são as que fará.

    Um outro exemplo… o Boletim Em Órbita leva-me centenas e centenas de horas por ano para fazer. Tem sido assim há quase 10 anos. Já por várias vezes pensei se vale a pena o esforço de estar a escrever todos os meses aquela que é a única informação detalhada em português dentro do género. Mesmo assim, tenho vindo a assistir a um decréscimo no número de pessoas que se interessam pelo assunto. O Em Órbita existe porque tenho gosto em escrever sobre o assunto. Cobrar o Em Órbita seria o fim do projecto!

    Cobrar a Ciência nos formatos que ela é cedida no astroPT não sei se teria muita adesão tendo em conta que as fontes estão disseminadas por essa rede, apeaar da qualidade de muitos dos textos ser dúbia.

    Um abraço!

    Rui C. Barbosa
    Braga – Portugal

  14. “A ciência e o conhecimento, dificilmente será um “produto” isolado. Estão integradas em todos os outros produtos que diariamente consumimos”

    Se calhar é por aí.
    A percepção popular de ciência é que é sobre ideias abstractas, que são aplicadas num laboratório por cientistas àparte da sociedade. As pessoas nem se lembram que o carro que conduzem funciona com base na ciência, que a pasta de dentes que usam diariamente foi desenvolvida por cientistas, que a explicação para estarem presos ao solo e não voarem, é dada pela ciência.
    A percepção popular da astronomia, é que é sobre estrelas que estão longe, e sobre buracos negros que são conceitos abstractos. Não percebem que a gravidade é explicada pela astronomia, que existem rovers em Marte feitos por humanos devido ao engenho de mentes astronómicas, etc.

    Se calhar falta a ligação emocional à ciência, que existe no caso dos famosos, por exemplo.

    abraço e Bom Natal a todos!!

  15. Quanto vale a ciência e o conhecimento?

    Endereço os meus parabéns e felicitações por mais um post de excelente reflexão, que mereceu mais de 30 comentários também vivos de interesse, concordando aqui e acolá com muitos dos conteúdos que não vou enumerar, mas que partilho no essencial com a reflexão do Prof. Carlos Oliveira.

    Sobre o tema tenho algo escrito e compilado já lá vão mais de 15 anos, onde concluí, que a ciência e o conhecimento, tal como os bons sentimentos são das únicas coisas válidas da vida dignas de serem partilhadas e não quantificáveis em preço.

    Sem pretender ser excêntrico, prefiro deter o acesso à ciência, ao conhecimento e às tecnologias, do que a uma soma milionária de dinheiro e ignorando o modo válido como usá-lo. O que não é o caso.

    Reportando-me comparativamente a Portugal com outros países nesta matéria será inglório qualquer referência e o post já disse o necessário.

    Facturar ciência e conhecimento? Porque não? Há que descobrir formas de o fazer e o marketing adequado. Não vou sugerir ideias para não vir a ser responsabilizado

    por algum eventual insucesso.

    Em alguns livros recentes também Best Sellers, Factor Atracção e o Segredo (atenção pseudo-ciência) cita algumas interessantes também facilmente aplicáveis. Como exemplo: Cursos via Email.

    A ciência e o conhecimento, dificilmente será um “produto” isolado. Estão integradas em todos os outros produtos que diariamente consumimos, porventura poderiam ter uma ligeira taxa para a investigação científica e a qualidade, canalizada depois para os diferentes ramos da ciência.

    Em Portugal nos anos 68 a 70 exercia a profissão de programador informático; no essencial investigava capacidades do hardware, estudava as necessidades das empresas na automatização administrativas, elaborava o software (Conjunto de instruções) a serem lidas no computador (em cartões perfurados). Este trabalho inicialmente era integrado sem custos na venda do hardware. Até que alguém entendeu da necessidade de começar a facturar também esse trabalho e começou por ser medido a 20$00 cada instrução ou (palavra). Já pagava os ordenados à época. Caro Professor não aplique a ideia de facturar à palavra, pois alguns posts ficariam caríssimos aos leitores.

    Quanto às mentalidades a meu ver só evoluem se virem a necessidade para tal. “A necessidade é a mãe da criação” como li algures. Ou a necessidade aguça o

    Engenho. Para terminar e com muita desilusão pela sociedade portuguesa, constato que ao contrário do que seria espectável é conduzida de uma forma

    sem verdade, sem ética , irresponsável expondo as populações mais indefesas à mercê de todo o tipo de saques com assinatura da própria Autoridade.

    Com esta crise de valores instalada, a ciência e o conhecimento até podem incomodar. Neste contexto explica-se as opções que políticos e populações escolhem diariamente.

    Com amizade os meus votos de uma Quadra Festiva Feliz extensivo a toda a equipa do astroPT e um próximo Ano 2011 com óptimas notícias do espaço tornando assim também o nosso planeta mais próspero.

    Abraço

  16. Cristiano,

    Não acho o comentário longo. É mais pequeno que o meu post
    😉

    Concordo em tudo.

    Esta sua frase penso que resume todo o comentário: “Mas os próprios cientistas é que (…) não sabem passar esse valor para o público.”
    Isto é precisamente o que digo por todo o texto, e nos meus comentários.
    É uma auto-reflexão, e uma auto-crítica, de que nós não estamos a conseguir passar o valor da ciência. Nós damos a entender que somos uns “coitadinhos” que fazemos as coisas de graça, por egocentrismo de ter público, porque na verdade a ciência nada vale.
    A minha questão é: como mudar as mentalidades? Como darmos a entender que a ciência vale mais para o pai de família que o programa Big Brother na TV?

    Provavelmente é preciso focar mais as “Vantagens da exploração espacial” e da investigação científica, na vida diária das pessoas.

    Carl Sagan tinha uma imagem de marca. Muito própria dos filmes de Hollywood. Ou seja, as pessoas não vão ver tanto o filme, mas este actor ou aquela actriz. As pessoas queriam ver o Sagan porque ele era excepcional a explicar.
    E o Sagan mudou a mentalidade de toda uma geração, sobre a forma de aprenderem e valorizarem a ciência e a astronomia (e Sagan não fez isso com actividades gratuitas – ele era pago).

    A minha questão é: como fazer isso de novo?

    (note-se também que podem existir 100 Sagans no mundo actualmente, só não têm um programa de TV num país de 300 milhões de pessoas. Podem haver Sagans perdidos, a fazerem palestras gratuitas mensalmente para 30 pessoas. Esses nunca vão mudar a mentalidade de uma geração sobre o quão fantástica é a ciência)

  17. O problema não é na busca (a ciência), é no fim (a utilidade prática dela no dia a dia).

    As pessoas valorizam mais a prática do conhecimento que a busca pelo mesmo.

    A questão do valor não é algo subconsciente. É o fruto de uma pesquisa de vida. Aprendemos, com a experiência, que coisas “de marca” (a mais caras) são, geralmente, as melhores. Servem e duram mais.

    Claro que essa experiência, como muitas outras, falha nas exceções.

    Carlos diz:
    “O que é de graça é desvalorizado totalmente.”

    Entenda o porquê disso, usando uma lógica reversa:

    “Valoriza-se mais o que se paga mais do que o que não se paga nada.”
    Ou
    “Lamenta-se mais o que foi ganho com duro trabalho e depois foi perdido do que o que foi ganho de graça (achado na rua, por exemplo) e que se perdeu.”

    É a mesma lógica da experiência de vida. Você preferiria um notebook japonês ou um brasileiro? Eu preferiria o japonês, óbvio! E olha que eu sou brasileiro.

    Claro que, depois, o notebook brasileiro poderia se mostrar o melhor do mundo, mas não sou eu quem tem que provar que ele é o melhor. É quem o faz (o fabricante brasileiro).

    Marca, como você apontou nos exemplos das celebridades, tem muito a ver com o instinto humano de associar coisas.

    Associamos o vermelho ao sangue, por isso ele é usado em sinais de cuidado, alerta (trânsito).

    Associamos o preto ao medo do desconhecido, por isso é o preferido nos filmes de terror (e nas roupas de Matrix).

    Essa noção é algo difícil de dominar. A ciência, então, luta contra a origem humana: o animal irracional dentro de nós.

    Quanto ao povo não valorizar o trabalho dos astrônomos… Isso tem muito, mas muito a ver com a idéia que o povo tem da utilidade da astronomia. Não é fácil mostrar para um pai de família, cheio de dívidas, que seria bom para o filho dele saber mais sobre o universo que nos cerca.

    Esse é um desafio e tanto pros cientistas (astrônomos):

    Mostrar a relação universo/comida na mesa.

    A meu ver, o problema é de comunicação. Ou pior: de preconceito mesmo.

    Cientistas, por tanto saber, se colocam num patamar acima dos meros mortais (leia-se “crentes”).

    Estes, sentindo que são inferiorizados, devolvem o desprezo, assumindo que cientistas são “uns loucos, a se ocupar por coisas vãs, como átomos e estrelas”.

    A meu ver, é assim que um vê o outro. Um subestima o outro.

    O povo é “supersticioso” e os cientistas são “loucos, que só ligam pra coisas insignificantes” (insignificantes para o dia a dia do povo, para o prato na mesa do povo, para as contas a pagar – isso na visão do povo).

    Carlos,

    Acho que estas confundindo um pouco as coisas. O ar ainda é de graça (ainda), e se nos falta um minuto que seja, logo nos lembramos o quanto ele nos vale: ele não tem valor monetário, mas vale a própria vida.

    A ciência tem o seu valor. Mas os próprios cientistas é que não sabem esse valor e/ou não sabem passar esse valor para o público. É aí que está o problema: nos cientistas, não no público.

    O notebook brasileiro é o melhor do mundo? E daí? Até que me provem isso, comprarei o japonês (por que não compraria?).

    Ou você acha que as pessoas devem se arriscar a comprar o que não conhecem, só por causa das exceções? Isso não seria prático. Seria temeroso! Mais: seria burrice! Só se arrisca quem tem $$ pra dar de graça em testes. Eu não tenho, então só compro de marca (quando posso). É a minha única segurança de que o que gastei não foi em vão. Mesmo que o melhor notebook do mundo seja o brasileiro, logo ali do lado do japonês, eu pego o japonês.

    Quem afirma deve provar, não quem ouve o afirmado.

    Os cientistas que provem ao povo o valor da ciência (não para eles mesmos, os cientistas, e sim para o povo), e que o façam de uma forma que todos entendam.

    Carl Sagan sabia fazer isso muito bem. Pena que o exemplo dele não foi seguido por mais ninguém.

    Estou errado nessa última afirmação? Então cadê os demais “Carl Sagan” desse mundo? Não estou vendo nenhum. E se eu, que busco notícias sobre ciência e astronomia, não os vejo, quanto mais o cara que fica às sextas feiras numa mesa de bar, falando de futebol, carro e mulher (ou seja, o cidadão comum)?

    E se me dizem que Stephen Hawking é o novo “Carl Sagan”, sinto em dizer que o povo mesmo, nem sabe quem é esse cara. Inclusive, o povo, me parece, já esqueceu a muito de Carl Sagan. Isso é porque não há mais divulgadores de ciência como ele, e não porque o povo se esquece das coisas. O povo já esqueceu o Menudo, os Beatles, o Michael Jackson, o Bee Gees. Esqueceram-se deles então esquecem de qualquer coisa.

    É a ciência quem deve mudar o povo, e não o contrário. E tem que fazer isso o tempo todo, ou então o povo se esquece.

    É aí que está o problema. E nisso, concordo com o que Mário disse (comentários 7 e 18).

    Mas parece-me que o Carlos não entendeu o que Mário quis dizer, insistindo no valor que os próprios cientistas dão ou não dão a ciência, e não no problema de comunicação ou de preconceito mútuo entre as “classes” cientistas/leigos. Não é que os cientistas devem dar mais valor a ciência. Eles devem fazer o público ver o valor que ela já tem, e que já é muito. E fazer isso bem.

    Também concordo com o comentário 16 (Alberto Fernando). Qualidade ou tem ou não tem. E com o comentário 22 (Alberto Fernando). A massa gosta de astrologia e jogadores de futebol, e por isso não adianta muito dizer: “Ei! Por que vocês gostam de todas essas besteiras e coisas inúteis? Temos aqui a ciência, que é bem legal e muito útil! Venham ver!” – Isso é como xingar o cliente e depois querer que ele compre algo na sua loja.

    É disso que estou falando. Preconceito e separação em “classes” cientistas/leigos.

    Diminuindo as diferenças, aumenta-se a divulgação da ciência. Todos ganham. Leigos e cientistas.

    E perdão pelo comentário tão longo.

  18. Não me parece que seja chato…

    Eu adoro discutir / partilhar ideias.
    Os meus alunos podem-lhe confirmar que prefiro passar uma aula a discutir assuntos, e a deixá-los discutir entre eles (limitando-me a guiar a discussão e a contrapôr argumentos), do que propriamente a fazer discursos.

    Se é verdade que na licenciatura em Portugal, a ideia era que aprendíamos a ler livros/sebentas, já na licenciatura no Reino Unido a ideia foi que a aprendizagem faz-se com os outros e após a discussão dos assuntos. Prefiro esta última forma de ensino e aprendizagem
    😉

    Daí que gostava que houvesse mais participação/comentários no blog. Porque acho que aprendiam mais, do que somente a ler as notícias…
    O que não quer dizer que eu não vá discutir e avaliar os argumentos… mas sem isso, acho que pouco se aprende.
    😉

    Mas, voltando ao Facebook, isso não me diz nada sobre a pessoa em si… 😉

  19. “Facebook: o astroPT já aceitou o seu pedido de amizade. Quanto a mim pessoalmente, eu sou sincero: tenho dificuldade em aceitar quando não sei nadinha sobre as pessoas (do seu perfil, continuo sem saber quem é).”

    Sou aquele chato do astropt…

  20. Juro que continuo sem perceber algumas coisas…

    O Mário usou “soberba” para definir aqueles que “dão palestras e não pedem dinheiro”. Agora afinal a soberba já é característica dos “famosos”?
    De qualquer modo, também não os caracterizo assim. Para mim, eles sabem vender o seu produto e a sua marca.

    Se eu sou homem, e não levo dinheiro por isso; não será por passar a levar $$ que passo a ser homem. Já sou homem.
    Se eu aqui sou convidado para ir dar uma palestra ao Museu X, e me pagarem, isso não faz de mim um Deus. Simplesmente pagam-me pelo meu trabalho e pelo tempo despendido.

    ok, já percebi o sentido de roubar. Concordo!

    Nós estamos abertos a boas ideias.
    Essa ideia dos anúncios Google, o Nuno colocou-a em prática há uns anos. Testamos. Ele perdia tempo a estar constantemente a inserir keywords, mas anúncios que não queriamos estavam sempre a aparecer. E ainda tivemos que ouvir as reclamações de alguns leitores do astroPT que não queriam estar a ver e a ouvir os anúncios. Por isso, desistimos
    😛

    O alojamento, o domínio, e não sei que mais, os “coordenadores” vão pagando.
    Por exemplo, a Vera pagou para 2010. Eu esta semana paguei o domínio para 2011. É pouco. Paga-se bem.
    O meu problema é a percepção que as pessoas têm do conhecimento gratuito. E não as despesas que temos
    😉

    Facebook: o astroPT já aceitou o seu pedido de amizade. Quanto a mim pessoalmente, eu sou sincero: tenho dificuldade em aceitar quando não sei nadinha sobre as pessoas (do seu perfil, continuo sem saber quem é).
    😉

  21. A soberba está no que o Carlos se esqueceu de copiar:

    “O conhecimento científico/astronómico é visto como tendo menos valor que um Curso de Metafísica, ou que uma Bárbara Guimarães a acenar, ou que uma Jaciara a aparecer nalgum lado, ou que um Figo a visitar alguma coisa.”

    A soberba está no facto de apenas se fazerem valer do estatuto que os faz “superiores”. Se se paga para os ver e, cobram para serem vistos, isto é soberba. São superiores no sentido físico. Apenas vendem a sua imagem, aparecendo e acenando. Actuam com altivez, arrogância e orgulho na sua imagem.

    “<— O Mário diz que o objectivo deles é para serem adorados como deuses, ao não levarem dinheiro. E a seguir o Mário diz que se levarem dinheiro, é para passarem a ser adorados como deuses. Isto é uma contradição.
    Se eu já sou “deus” por não levar dinheiro, não posso mudar e passar a ser “deus” ao levar dinheiro. Já o sou, por isso não posso passar a ser."

    Quem lhe disse que não? Se o Carlos fosse "Deus", era omnipotente, seria o mesmo Deus ganhando ou não. A diferença está, no ganhar ou não, e não, em ser Deus ou não. Faço-me entender? O valor está em saber aproveitar as oportunidades ao máximo. Divulgando ciência e sendo "idolatrados". Se os mesmo que não ganham dinheiro a divulgar "por amor à camisola", passarem a pedir muito para o fazer, passam a ser verdadeiros senhores e senhoras, e, até certo ponto, mesmo deuses. E nesse processo fala-se ciência.

    "<— Não percebo como isso é roubar. Os cientistas não sabem vender o seu produto, enquanto os pseudos sabem vender. Onde é que isto é roubar?"

    Carlos, decerto já ouviu falar de quem venda águas milagrosas tiradas directamente da torneira, ou, alguém apregoar kits de sobrevivência para o fim do mundo. Isto para mim é enganar para roubar(vender). Se um pseudo vende: “Os seres luminosos proporcionam um trabalho profundo do coração actuando no DNA espiritual e efectuando a conexão e activação de várias fitas de DNA“, isto é enganar para roubar(vender). Banha da cobra é roubo e engano. O produto dos cientistas não é roubo, mas que não o sabem vender, lá isso não sabem.

    "“Sei por exemplo que o AstroPT, se “atrasa”, a dar algumas noticias”
    <— Será porque quem dá as notícias em 1º lugar é pago para isso? Ou seja, é o seu trabalho?
    Mesmo assim, a maioria das nossas notícias é dada 1º que o Público, por exemplo. E eles é que são pagos para dar notícias, não nós."

    Isto não foi critica ao AstroPT e, o Publico como "jornal" cientifico não me parece muito profundo. E mais uma vez, façam uso dos vossos conhecimentos e noticias para ganharem algum, quanto mais não seja para pagar alojamento web. Não custa nada e, sempre podem adicionar keywords para ir eliminando anúncios pseudo. Como dizia alguém por aqui, mudem. Não esperem que a mesma táctica funcione quando já provou não funcionar. Os pseudos e famosos ganham dinheiro a vender falsidades, que a ciência saiba vender a verdade.

    Abraço muito grande. já agora vê lá se aceitas o pedido de amigo no facebook.

  22. Caro amigo Carlos!

    A tua reflexão é verdadeiramente importante, pois tocas em vários aspectos, dos quais realço a questão da mentalidade.

    Realmente, na minha perspectiva, esta é a verdadeira questão que nos tem atirado para a cauda da Europa.

    Nós damos mesmo mais valor e importância ao que é supérfluo, ao que é inócuo, ao que proporciona grandes parangonas, à pseudociência.

    Mas não me parece que tu tenhas contribuído, através da AstroPT, para alimentar esta situação!

    Pelo contrário, tu tens sido um grande difusor de conhecimento científico e deves continuar a fazê-lo, sempre com o rigor de sempre (no actual contexto de crise, julgo que não será boa política colocar o acesso ao site a pagar).

    Mário Neves

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