Kepler Descobre Trindade

As descobertas tendo por base as observações realizadas pelo observatório Kepler, disponibilizadas para a comunidade científica pela equipa da missão, sucedem-se a um ritmo alucinante. Para além dos exoplanetas descobertos, a precisão fotométrica do Kepler é tal que permitiu descobrir grande número de novos sistemas múltiplos bem como estudar os interiores das estrelas através da asterosismologia. Vejam este post e este aqui também, por exemplo.

Uma outra descoberta interessante acaba de ser publicada na revista Science, por uma numerosa equipa de astrónomos. Trata-se de HD181068, uma insuspeita estrela de magnitude 7.1 na constelação do Cisne que, sabe-se agora, é um sistema triplo composto por uma estrela gigante de tipo espectral G5, em torno da qual orbita um sistema binário constituído por duas anãs vermelhas. O curioso é que não só as anãs vermelhas se eclipsam uma à outra periodicamente, como o sistema binário por elas formado também eclipsa e é eclipsado pela estrela gigante. Os eclipses das anãs vermelhas sucedem-se com uma periodicidade de 0.9 dias. As duas anãs eclipsam (ou são eclipsadas) pela estrela gigante com um periodicidade de 45.5 dias. Estes últimos eclipses têm uma duração de 2 dias. Vejam esta animação com o movimento orbital do sistema sincronizado com a curva de luz observada pelo Kepler.

O tamanho angular da estrela gigante foi medido directamente através do interferómetro CHARA, localizado no observatório de Monte Wilson. Com este valor e a distância ao sistema, estimada em 800 anos-luz, foi possível calcular o tamanho real da estrela gigante em 12.4 vezes o do Sol. A massa da estrela foi também estimada através de medições da velocidade radial em cerca de 3 vezes a massa solar. A profundidade dos eclipses da estrela gigante permite deduzir, em função do seu raio, os raios das anãs vermelhas. Assim foi possível também calcular os tamanhos reais das anãs vermelhas em 0.8 e 0.7 vezes o raio do Sol.


(as componentes do sistema triplo HD181068)

A importância deste sistema reside no facto de proporcionar aos astrónomos um verdadeiro laboratório de mecânica celeste. De facto, a interacção das três estrelas provocará alterações nas suas órbitas observáveis no intervalo de tempo de uma vida humana, permitindo testar previsões teóricas relativas à sua evolução. Pela sua potencial importância os autores baptizaram o sistema de “Trinity”. A estrela gigante tem uma outra particularidade interessante, não apresentando oscilações internas detectadas noutras estrelas semelhantes. Os autores notam no entanto que foram detectadas aparentes oscilações com a periodicidade do sistema binário formado pelas anãs vermelhas e especulam que a ausência de oscilações normais pode ser devida a forças de maré exercidas pelo sistema binário na estrela gigante, provocando alterações na circulação de material no seu interior.

Podem ver a notícia original aqui.

1 comentário

  1. Ao contrário do que diz a notícia original no sítio da missão Kepler, a estrela primária não é uma gigante vermelha mas tem tipo espectral G5 (como aliás refiro no artigo). As duas estrelas mais pequenas, que formam o binário, também não são anãs vermelhas (tipo espectral M). Aparentemente os tipos espectrais das estrelas são G8V e K1V. Estranha esta imprecisão.

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