Ratanabá

A história de Ratanabá tornou-se viral nas redes sociais.

Supostamente, é uma cidade perdida na Amazónia.
É uma cidade muito avançada, que tem ligações subterrâneas com o mundo todo: ou seja, a cidade é um hub (um ponto central) que tem ligações subterrâneas para todas as cidades no mundo.

Supostamente, esta capital do mundo já existe há pelo menos 450 milhões de anos.
Esta cidade foi supostamente habitada pela primeira civilização humana na Terra, a civilização Muril, que já era muito avançada na altura, e que habitou nesta cidade há 600 milhões de anos atrás.

A estrutura geométrica no meio da floresta é a suposta evidência do local da cidade de Ratanabá.
Crédito: Google Earth

Há centenas de anos que existem estórias sobre civilizações perdidas na Amazónia.
E realmente, várias civilizações desconhecidas foram sendo encontradas nessa região (e noutras do mundo).
No entanto, nenhuma dessas civilizações era super-avançada. As estórias de civilizações avançadas, com imensas riquezas, nunca foram encontradas. O famoso El dorado é mais esquivo do que os gambozinos.

A imagem no Google Earth é na Bolívia, e não no Brasil como se diz nas redes sociais.

Os túneis subterrâneos supostamente começam no Forte Príncipe da Beira, mas especialistas na área dizem que esses túneis (que aparecem em vídeos no YouTube) não existem: são túneis noutros locais ou feitos em computador.

Supostamente, os túneis subterrâneos ligam cidades por todo o mundo.
Mas cidades de agora são diferentes de cidades de há milhares de anos atrás. Os túneis de pedra mudam de sítio?
Além disso, o planeta tem processos geológicos no seu interior, como por exemplo as placas tectónicas. Isso quer dizer que geologicamente, o planeta mudou muito na sua superfície: com continentes a juntarem-se e outros a afastarem-se. Na verdade, na altura (há 600 milhões de anos), o planeta tinha um continente: a Pangeia. Os túneis subterrâneos por entre a pedra continuaram seguros e foram mudando de sítio à medida que a Terra também mudava de forma na superfície?
Por último, ainda sobre os túneis, eles passavam pelo centro da Terra, para irem, por exemplo do Brasil até à Noruega?
Como se percebe, esta parvoíce faz pouco sentido…

Por outro lado, como é que a primeira civilização humana surgiu há 600 milhões de anos, quando os Humanos só existem há cerca de 250 mil anos?
Aliás, há 600 milhões de anos, começou a existir vida complexa, mas ainda não existia a biodiversidade que existe hoje. O Big Bang Biológico deu-se há somente há 550 milhões de anos. Nessa altura, passou a existir maior diversidade de vida complexa, mas nada de primatas, por exemplo.
Além disso, como é que a primeira civilização era já bastante avançada? Para qualquer coisa, é preciso aprendizagem, seja numa empresa, na vida humana, num país, ou numa civilização. As coisas não nascem já extremamente avançadas: vão evoluindo.
Sem surpresa, os mentores desta parvoíce respondem que esta civilização já tinha evoluído… mas noutro planeta. Ou seja, era uma civilização extraterrestre que veio para cá, e que se tornou na (inexistente) civilização Muril, a suposta primeira civilização terrestre.

Assim, percebe-se que esta ideia de Ratanabá, que se tornou viral na internet, não passa de uma manobra de marketing baseada na parvoíce dos Extraterrestres Antigos.
E é uma ideia copiada da ficção científica, por exemplo do Life, the Universe and Everything, no The Hitchhiker’s Guide to the_Galaxy.

A verdade é que esta estória foi inicialmente difundida pela pessoa que inventou a parvoíce do ET Bilú.
Além de terraplanista, anti-vacinas e criador do Bilú, agora decidiu dedicar-se a inventar coisas sobre cidades perdidas.

Como diz o arqueólogo Eduardo Goés Neves, da Universidade de São Paulo, na Globo: “Tudo isso é um delírio”.
“Me parece uma mistura da ingenuidade das pessoas, que querem acreditar nesse tipo de coisa, com interesses econômicos de exploração da Amazônia” – e aqui está o âmago da situação: depois de ser famoso com o ET Bilú, nada melhor do que continuar a inventar parvoíces, porque há sempre alguém que vai cair nelas.

Conclusão: esta estória (e não história) é absolutamente falsa.

2 comentários

  1. Viva caro amigo Carlos Oliveira.
    De vez em quando gosto de vir aqui para ver o vosso site. Gostei da sua “apreciação” sobre as cidades da Amazónia que têm 600 milhões de anos. Foi uma apreciação perfeita e julgo que conclusiva.
    O vosso site continua por isso a ser uma referência para ser visitado.
    Cordiais cumprimentos do amigo
    António Durval

    1. Obrigado! 🙂

      Grande abraço

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