Transmissão Acidental de Alzheimer

Uma investigação científica realizada no Reino Unido mostrou pela primeira vez que a a doença de Alzheimer pode ser transmitida de forma acidental.
Até agora, associava-se esta doença à velhice (à degradação natural dos processos mentais) e, em menos casos, à herança genética.

Agora, provou-se que existiram cinco transmissões acidentais da proteína que causa o Alzheimer, após a realização de tratamentos médicos.

5 doentes estavam a ser tratados com a hormona de crescimento c-hGH, proveniente de tecidos cerebrais de cadáveres – extraída da glândula pituitária de pessoas mortas.
Essa hormona estava contaminada com a proteína beta amilóide (β-amilóide), que quando se acumula em quantidades impróprias pode causar Alzheimer.
Isto fez com que os 5 doentes desenvolvessem Alzheimer, sem terem fatores de idade ou genéticos que potenciassem a doença.

Imagens de ressonância magnética de dois cérebros.
À esquerda está um cérebro saudável. À direita está um cérebro afetado pela doença de Alzheimer.
Créditos: Timothy Rittman / University of Cambridge / AFP

Entre 1959 e 1985, este tratamento foi administrado a 1848 pacientes menores no Reino Unido: o objetivo era contrariar a baixa estatura das crianças.
Quando se descobriu que alguns lotes (de 4 pessoas falecidas) estavam infetados com proteínas que causam a doença de Creutzfeldt-Jakob (doença degenerativa fatal – que está associada à chamada doença das Vacas Loucas), o tratamento foi suspenso em 1985, e esta hormona natural/biológica foi substituída por uma hormona sintética (mostrando, mais uma vez, que o que é natural pode ser pior que o sintético).

Recentemente, há cerca de 6 anos atrás, as amostras contaminadas da hormona de crescimento c-hGH foram novamente examinadas e foi comprovado que estavam também contaminadas com valores anormais da proteína beta amilóide, que causa Alzheimer.
Isso levou os investigadores a administrar esta hormona contaminada em ratos, e concluíram que eles desenvolveram Alzheimer. Os pequenos ratos, infelizmente, serviram de cobaias.

Vendo os resultados nos ratos, ficaram assustados com as possíveis implicações para os meninos e meninas que tinham tido o tratamento há mais de 30 anos.

Seguidamente, conseguiram estudar 8 pessoas que tinham feito o tratamento, e 5 dessas pessoas já apresentavam sintomas de demência (alguns já tinham sido diagnosticados), apesar de não terem o gene associado à doença (transmitido de forma hereditária), e terem idades entre 38 e 55 anos.
Uma 6ª pessoa preencheu os critérios de deterioração cognitiva leve, apesar de ainda não estar diagnosticada com Alzheimer.

O facto de serem ainda bastante jovens para desenvolverem a doença, e de todos eles terem sido tratados com a hormona contaminada, é uma evidência da transmissão acidental de Alzheimer.

O estudo demonstrou que em circunstâncias muito raras, devido a procedimentos médicos ou cirúrgicos específicos, a doença de Alzheimer pode ser transmitida entre Humanos.

O estudo não diz que a doença de Alzheimer é contagiosa: os investigadores frisaram que ela não se transmite como infeções virais ou bacterianas: como por exemplo uma gripe.
Não há qualquer evidência que a doença de Alzheimer se possa transmitir entre pessoas durante atividades da vida diária (como uma conversa próxima) ou durante cuidados médicos de rotina.

No entanto, como podem ver na imagem, as parangonas de alguns jornais transmitiram dessa forma errónea a informação: desinformaram, criando medo infundado nas pessoas.
Como se a doença de Alzheimer fosse uma gripe…

Fontes: artigo científico, CNN, The Guardian, El País, Globo, Diário de Notícias, Tempo.com

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