Poluição do plástico

via Scimed

Artigo muito interessante no Scimed a meter um pouco de água na fervura que é a histeria atual anti-plástico.

Realço várias passagens neste artigo:

“(…) De facto vivemos na era do plástico. Estamos rodeados de plástico e isso não é necessariamente mau. O plástico é barato, durável, altamente versátil, resistente a químicos e radiação, tendo milhares de aplicações. Isso faz com que seja um produto praticamente ubíquo nas nossas vidas. Por outro lado, a sua durabilidade é uma “maldição”, porque a degradação do plástico demora dezenas a centenas de anos, acumulando-se no meio ambiente caso não seja adequadamente tratado. E essa acumulação é uma grande “vantagem” a seu favor comparativamente com os outros problemas ambientais: tem um grande impacto visual.

Todos temos imagens chocantes, na memória, de linhas costeiras poluídas com plástico ou megafauna carismática entrelaçada ou a ingerir plástico. O lixo marinho costeiro também é facilmente perceptível pelo público e pode afetar o aproveitamento das áreas costeiras. Pelo contrário, (1) o aumento de dióxido de carbono na atmosfera, assim como (2) o desequilíbrio dos fluxos de nitrogénio ou (3) a perda de biodiversidade são “problemas invisíveis”. Não são tão apelativos emocionalmente.
(…)
Outra forma de continuar no modelo “business as usual” seria distrair a população (por exemplo, demonizando os concorrentes principais, como a energia nuclear) e o poder político com outras “causas menores” como o plástico, longe dos negócios mais rentáveis e com maiores impactos ambientais. Enquanto deixamos a palhinha, não largamos a bomba de combustível, o ar condicionado e o nosso estilo de vida consumista.
(…)
(…) desvia as atenções de ameaças ambientais mais importantes, como as alterações climáticas. Sim, o plástico pode capturar pássaros, peixes e mamíferos marinhos – que podem passar fome depois de encher o estômago com plásticos, apesar de ainda não haver estudos conclusivos sobre os efeitos ao nível de população da poluição plástica. Sim, o plástico pode entrar na nossa cadeia alimentar sobre a forma de microplásticos e chegar ao nosso prato. No entanto, em humanos, os efeitos dos microplásticos são frequentemente exagerados (…)
(…)
No caso do plástico é interessante ver o que está a acontecer. Foi transmitida a sensação que isto é um problema a ser resolvido a nível individual, dependente das escolhas que fazemos no dia-a-dia. Não usar palhinha, evitar o saco de plástico, não comprar alimentos embrulhados em plástico, trocar os copos de plástico por copos de papel. No entanto, como acontece na agricultura biológica, as pessoas estão a ser enganadas. De várias formas.
(…)
Por exemplo, um estudo da Agência de Proteção Ambiental da Dinamarca demonstra que o saco de algodão tem de ser utilizado 7.100 vezes de forma a compensar o seu impacto ambiental (considerando todos os indicadores), comparando com um saco de plástico. Ironicamente, um saco de algodão biológico tem que ser usado 20.000 vezes!…mas o biológico é melhor para o ambiente, certo? No caso do saco de papel, tem que ser utilizado 43 vezes para compensar um saco de plástico. Um estudo publicado Governo do Quebeque, no Canadá, chega mais ou menos às mesmas conclusões. Que o convencional saco de plástico é melhor ambiental e economicamente comparado com outros nove que existem no mercado.

Concluindo: o saco de plástico é o produto de menor impacto ambiental em comparação com as alternativas. E nada faz prever que o mesmo não se passe com as palhinhas biodegradáveis, os copos de papel ou as escovas de dentes de bambu. Se pretenderem reduzir o consumo, está ótimo. Se pretenderem substituir, pelos vistos, é muito provável que a solução seja pior que o problema.
(…)
(…) Quando vamos ver a origem do grosso do plástico que acaba nos Oceanos, percebemos que o problema não está propriamente nos países desenvolvidos. Um estudo publicado na Science, em 2015, demonstra que no top 20 dos contribuidores para a poluição plástica, os Estados Unidos aparecem em vigésimo lugar e nenhum país europeu chega ao ranking.
(…)
(…) o grande problema poderá nem ser o plástico de utilização única ou doméstica. Na “Grande Ilha de Lixo do Pacífico”, 46% do plástico detetado era proveniente de redes de pesca. O que significa que é urgente a criação de incentivos ou medidas de regulação para evitar que os pescadores abandonem as redes no mar.
(…)
Este artigo serve para alertar que, quando tomamos a decisão consciente de alterar os nossos hábitos de consumo substituindo um produto por outro, temos que considerar o impacto ambiental do produto que vamos utilizar como substituto. Como explicado, no caso do plástico, a mudança pode ser pior para o ambiente quando optamos pelo papel, bambu, algodão, vidro, metal, etc. Se quer mesmo ajudar o ambiente, a melhor forma não será a substituição, mas a redução do consumo.

No entanto, mesmo o impacto da redução de consumo a nível individual ou medidas de países tomadas de forma isolada são relativamente insignificantes para lidar com o problema. As grandes mudanças têm que ser realizadas a nível global (…)
(…)
(…) o plástico (…) não é um luxo. É um material que permite ter o estilo de vida que temos hoje, desde segurança alimentar, saúde pública, passando pela tecnologia e acabando no vestuário. É difícil, onde quer que estejamos, não estar em contacto com o plástico tal a sua versatilidade de utilizações. É impossível abandonar o plástico. O que é necessário é que o seu ciclo de vida seja eficiente. É nisso que devemos trabalhar.”

Leiam todo o artigo no Scimed, aqui.

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