Inferno Subterrâneo

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Vi recentemente o filme Nine Miles DownInferno Subterrâneo.

O filme começa com uma boa premissa: num lugar remoto, encontrou-se alguma coisa que desencadeou uma série de eventos catastróficos para os técnicos que lá investigavam.
Parece assim um filme do género de The ThingA Coisa.
No entanto, é aqui, na premissa, que terminam as parecenças entre os dois filmes…

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O cenário era o ideal: num local remoto do deserto do Sahara, está uma equipa de perfuração/extração de petróleo. Por alguma razão, a equipa deixou de comunicar com a empresa-mãe no exterior.
Thomas Jackman é um segurança que é enviado para o local para saber o que aconteceu. Quando chega lá, vê que o centro está deserto e que existem animais mortos, pessoas mortas, muito sangue nas paredes – um cenário de que algo terrível se passa. Por isso, em vez de se ir embora, fica para investigar (!?).
No dia seguinte, aparece uma belíssima cientista, Jennie Christianson, que tinha saído para fazer jogging (!?).
A partir daqui desenvolve-se um thriller psicológico, que tem momentos de lucidez e outros de alucinação. Em alguns momentos jantam, têm momentos de intimidade, etc, e noutras vezes Jack vê J.C. como sendo o demónio/diabo, vê a sua falecida esposa, vê os seus falecidos filhos, etc.

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SPOILER ALERT!!!

Há demasiados aspetos que não entendo no filme:

– Porque Jack vai sozinho investigar? Supostamente deveria ir uma equipa de pelo menos duas pessoas.
– Após ver toda a matança, como é que ele se mantém tão calmo e não pede reforços, ou melhor, não sai dali e envia uma equipa profissional para investigar o que se passou?
– a J.C. aparece literalmente do nada. Passou um dia em que ela não existiu, e depois apareceu após fazer jogging como se nada fosse.
– Pouco tempo após aparecer, ela, em pânico, diz que quer ir embora, mas passou todo aquele tempo ali, sozinha, com o resto das pessoas mortas ou desaparecidas, sem fazer por ir embora.
– Numa das alturas, ela tirou as chaves do carro do Jack e pode-se ir embora. Em vez disso, prefere esperar por ele e ser ferida.
– J.C. é bastante bela, por isso, naturalmente (!?), num cenário coberto de sangue e com o resto das pessoas mortas, após se conhecerem umas horas, passam logo à “ação romântica”.
– Se todas as cientistas em locais remotos no mundo forem como a J.C., peço já que me enviem para o “fim-do-mundo” para investigar o que quer que seja. Obrigado.
– existem constantes mudanças de humor, entre estarem de bem ou Jack querer matá-la, entre lucidez e alucinações. Ela própria diz num momento que gosta dele e no momento seguinte quer magoá-lo.
– as alucinações dele são todas sob o tema do complexo de culpa.
– ele vê a J.C. como se ela fosse um espírito maléfico, o demónio/diabo.

– ela é caracterizada como cientista, racional. Numa parte do filme, ela celebra Feynman, parafraseando-o, dizendo que a matemática não retira beleza às coisas, simplesmente acrescenta mais beleza à natureza. É curioso que caraterizando J.C. desta forma, ela é depois vista por ele como sendo fria, cínica, manipuladora e um demónio. Este tipo de mensagens dos filmes depois passa para o público… e, claro, é depois surpreendente que as pessoas desconfiem dos cientistas?

– é curioso que Jack teve alucinações desde que chegou. Bastaram poucas horas para começar a ver e imaginar coisas. Toda a equipa (constituída por homens) também tinha enlouquecido. Mas ela não. Ela passou muito mais tempo que Jack e a equipa, mas não sofreu alucinações. Não se sabe porquê. É dito no final do filme que é porque “ela não esteve tão exposta às toxinas”, mas isso é um disparate. Claramente parece que todos os homens sentiram os efeitos e ela, sendo a única mulher lá, não sofreu. Porquê? Não sabemos.

– também achei curioso que ela sobreviveu intacta a todos os homens que alucinaram. Mas com o Jack, “deixou-se” ferir.

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No final do filme, a empresa explica que devido a uma perfuração mais funda que fizeram, das “profundezas da Terra” foi libertado um “gás alucinogénico”, fruto da “decomposição de fungos”, que foram as “primeiras formas de vida na Terra”, há “60 milhões de anos”.
Desafio-vos a encontrarem os erros desta explicação no filme… 😛

De qualquer modo, este gás é transmitido pelo ar e respirado pelas vítimas (menos pela J.C., pelos vistos) e desperta o inferno pessoal de cada um. Ou seja, aquilo que a pessoa tem medo de lidar, passa a ser real.
Porque este gás só desperta momentos de terror e não é um halucinogénico que também nos permite ver arco-íris e elefantes voadores? Não é explicado.

E porque este gás está confinado à zona da perfuração, mas, assume-se no filme, que basta ela fazer jogging para sair da zona de contágio? Mais um mistério…

Com o gás, a “mente também passa a criar padrões que não existiam”. E daí as pessoas sentirem-se vítimas de uma conspiração maléfica.

Obviamente, Jack não quer saber da explicação racional dada pelo consenso científico. Afinal, como já tinha sido “despertado” pelo filme: os cientistas não são de confiança.

Achei curioso que após Jack (e J.C.) ter sido resgatado, fica logo bom. Ou pelo menos, a empresa assume que ele fica imediatamente bom (ou seja, basta respirar um pouco de ar “bom”, que é limpo todo o “gás mau” que tinha). Por isso é que nem o internam uns tempos para ver o progresso psicológico dele.
Mas como é óbvio, ele não está bom… e quer matar-se.

As frases filosóficas no final do filme são bastante interessantes:
– o inferno está na mente de cada pessoa.
– o nosso pior inimigo somos nós próprios.
– o medo do desconhecido é perigoso.

Pessoalmente, ao ver que Jack continua maluco e a querer matar-se, achei que, felizmente, uma mensagem do filme era que se deve procurar e aceitar as explicações científicas/racionais. Mas se calhar só eu fiquei com essa sensação…

Em resumo:

Penso que o filme tem uma excelente premissa.
As frases filosóficas no final parecem-me excelentes.

É um filme que lida com insanidade e com a pergunta: o que é real e o que é construído pela nossa mente? Neste aspeto de realidade vs. ilusão é bom. Ao lidar com isto misturado com as questões sobre o mal e o inferno, faz-me lembrar o filme Event Horizon.

No entanto, ao longo do filme, é bastante confuso e tem demasiadas inconsistências.

Infelizmente, as partes boas foram limitadas e no geral o filme desiludiu-me porque esperava muito mais.

Se é um filme que verei de novo? Não.
Mas pode ser um filme que entretém as pessoas e que até pode fazer algum medo nas pessoas mais suscetíveis. E, claro, existe sempre a atriz que também desperta alguma coisa…

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