A internet matou o jornalismo?

O programa Daily Show apresentou um segmento sobre um assunto de que temos falado frequentemente: nesta “era da informação” dá-se mais valor ao sensacionalismo do que à substância da notícia. A desinformação ganhou a “guerra da informação”, com títulos mentirosos e apelativos.
De quem é a culpa? Como está subentendido no segmento, a culpa será de toda a gente, incluindo daqueles que preferem fazer “like” e partilhar notícias sem qualquer credibilidade, e dos chamados “jornalistas” que não querem saber se a notícia é ou não verdadeira antes de a publicar.
Quem fica a ganhar? A estupidificação da população.
Quem fica a perder? A literacia da população.

Vejam o segmento:

Curioso que nas 2 décadas anteriores às Missões Apollo terem tido o sucesso lunar, os EUA fizeram um enorme esforço, quer em termos de curriculum escolar quer nas notícias, em que deram enorme relevância à ciência, à verdade e ao conhecimento. Com essa estratégia, conseguimos numa única geração (que foi ensinada sob as ferramentas da ciência) colocar humanos na Lua.

Depois disso, com o advento da era da informação, as novas gerações estão expostas a um enorme manancial de informação em que quem tem prioridade são as especulações mentirosas e sensacionalistas. Esta estratégia tem-nos levado à queda dos especialistas, à perda de credibilidade dos profissionais da informação e da educação, à ciência ser bastante mal tratada, a surtos de doenças devido ao poder dos vigaristas na informação, a crises económicas mundiais, entre diversas outras consequências. Uma coisa é certa: não nos tem levado à Lua…

Porque atualmente privilegiamos a segunda estratégia e não a primeira?
Porque damos mais valor aos imbecis (pessoas e notícias), em detrimento do conhecimento?

5 comentários

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    • Dinis Ribeiro on 30/04/2015 at 11:11
    • Responder

    Penso que a (necessidade?) de a informação sobre ciência ser suficientemente “sexy” de modo a não ser atropelada ou totalmente ignorada pela opinião pública, faz parte do problema, e sugiro este artigo sobre a ausência duma visão mais alargada e profunda a tal “bigger picture” http://en.wikipedia.org/wiki/Top-down_and_bottom-up_design em que as pessoas vêm logo uma versão escatológica ao lerem “THE CHT” em vez de “The Cat” que fica “escondido com o rabo de fora”:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Top-down_and_bottom-up_design#/media/File:TheCat.png

    Artigo:

    Reducing science to sensational headlines too often misses the bigger picture
    https://theconversation.com/reducing-science-to-sensational-headlines-too-often-misses-the-bigger-picture-38631

    We are all being lied to, but it’s okay because we sort of know it.

    Exaggeration, sensationalism and hype are in the newspaper headlines and on the magazine covers we read and in the films we watch.

    Even the conversations we have with each other are exaggerated to make things sound that little bit more interesting.

    But what happens when you try to sensationalise science, and put little lies into something that revolves around truth?

    The role of science in society is changing. Science is now in the mainstream, with “science editors” commonplace. But the little lies are creeping into science, designed to sensationalise, to entertain, to generate clicks online, to sell newspapers, and to make science sexy.

    Gosto deste artigo pois relembra como a indústria aeronáutica “floresceu” (a sério) num período de 100 anos…

    Getting lost in the headline:

    Yet all the reporting of Skylon’s new engine chose to focus on the idea that it would be possible to fly from one side of the world to another in hours.

    Sure it’s attention grabbing, but it misses the point.

    It’s like being alive in 1903.

    At this point in time, the only way to fly was with a balloon or glider.

    Then the Wright brothers invent powered flight.

    With the ambitions of many from Icarus to Leonardo da Vinci finally realised and mankind able to take to the skies, it would be absurd to report it with the headline: “Now Possible to Get to the Shops in 30 Seconds”.

    We all know that powered flight changed the world.

    A century after the Wright brothers’ breakthrough, two billion people and 40m tonnes of cargo were transported that year alone.

    Just 110 years later Voyager 1 would become the first man-made object to leave the solar system entirely.

    Think about that.

    Only a century after we worked out how to take off from the ground, we managed to leave the solar system.

    And you’re telling me that the most interesting part of the SABRE engine is that you can get to Australia in four hours?

    No.

    Not even close.

    We are potentially ushering in a whole new era of human existence.

    Yet somehow this message gets lost in the sensationalising of the world around us.

    Modern society has become obsessed with short-term gains and creating the illusion of progress and achievement.

    Saliento esta frase: “obsessed with short-term gains and creating the illusion of progress and achievement”

    That is why popular media is full of these little lies and it is why we are trying to make science sexy.

    Beauty is in the bigger picture

    But when you make science sexy you lose the beauty, and there is tremendous beauty in science.

    Um comentário sobre a “ciência sexy”:

    Embora concorde com o artigo, não penso que “sempre” que a ciência é apresentada dum modo sexy, ela perca a sua beleza, dum modo automático e irremediável…

    …mas quando os aspectos “quase sagrados” da ciência são “avacalhados” sistemáticamente por “dá cá aquela palha” só para “vender mais”, realmente perde-se alguma da “beleza espiritual”…

    Por outro lado, já imaginaram como é que (se tivessem jornalismo) certos peixes anfíbios que terão vindo do mar para a terra, iriam descrever os que se modificaram gradualmente (mutações aberrantes e imorais?) gastando uma fortuna para poder ficar só mais alguns momentos fora de água, em poças durante a maré baixa, (turistas irresponsáveis?) que querem “andar a lutar na lama” (uma série de pequenos pulos caríssimos e extenuantes e totalmente inúteis?) tipo “mud-werstling” ou “mud-slinging”?

    As coisas que são anfíbias sempre me fascinaram…

    http://en.wikipedia.org/wiki/Mudskipper
    http://en.wikipedia.org/wiki/Evolution_of_fish

    Lembram-se da polémica com os que gostariam de fazer filmes pornográficos em gravidade zero?
    http://www.huffingtonpost.com/2012/02/27/playboy-club-virgin-galactic_n_1304381.html

    “The entire Kama Sutra will have to be re-imagined according to the rules of zero-gravity physics,” Baime and Harper wrote. http://www.space.com/14666-playboy-space-club-images-private-stations.html

    Vejamos:

    Que tal ensinar certas leis da física usando o Kama Sutra?

    Por exemplo, o uso “criativo” com (inúmeras?) “nuances” de correias elásticas, semelhantes ás que permitem fazer “jogging” num “treadmil”l em órbita, etc, etc … Astronauts use bungee cords to strap themselves to the treadmill in order to remain in contact with the equipment while in micro-gravity. … http://en.wikipedia.org/wiki/Treadmill_with_Vibration_Isolation_Stabilization

    Seria um bom exemplo de “ciência sexy”?

    Se por um lado seria (sem dúvida?) algo de verdadeiramente “experimental”, por outro lado esta polémica sobre a dose (politicamente?) “correcta” de elementos sexy a juntar á divulgação da ciência, parece-me um bom exemplo duma “slippery slope” que embora seja frustrante, foi algo que alguns dos “mud-skippers” conseguiram ultrapassar, rastejado e dando pequenos pulos nas zonas costeiras, até que os seus descendentes acabaram por colonizar a terra firme…

    Ver: http://en.wikipedia.org/wiki/Slippery_slope

    In logic and critical thinking, a slippery slope is a logical device, but it is usually known under its fallacious form, in which a person asserts that some event must inevitably follow from another without any rational argument or demonstrable mechanism for the inevitability of the event in question.

    This type of argument is sometimes used as a form of fear mongering, in which the probable consequences of a given action are exaggerated in an attempt to scare the audience.

    Na Wikipédia, como de costume, o artigo em português está muito mais fraco, mas enfim… http://pt.wikipedia.org/wiki/Bola_de_neve_(fal%C3%A1cia) (plano inclinado?, rampa escorregadia? outra tradução?)

    Um exemplo: “Se aprovarmos leis contra as armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas, e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto, não devemos banir as armas automáticas.”

    Por isso é que eu gosto muito da citação de abertura do filme Gravity, que (do meu ponto de vista) faz pensar ao explicitar dum modo irónico o que a maioria (esmagadora?) das pessoas pensa e sente (deep gut feeling) e que é que a vida (sustentada) fora da terra, no espaço, é impossível…

    Opening title card: At 600KM above planet Earth the temperature fluctuates between +258 and -148 degrees Fahrenheit. There is nothing to carry sound. No air pressure. No oxygen. Life in space is impossible.

    … e o filme (demonstra?) o contrário… que é possível viver lá… pois tudo corre bem, até que problemas (evitáveis?) com a “falta de controlo”, o “lixo espacial” e com o “uso de armas em órbita”, levam ao desfecho final…

    … Russian missile strike on a defunct satellite, which has inadvertently caused a chain reaction forming a cloud of debris in space…Ver: http://en.wikipedia.org/wiki/Anti-satellite_weapon

    (Nota: do meu ponto de vista, o modo como a personagem da Dra Stone se levanta no fim, ao sair da água, lembra-me mesmo os “mud-skippers” que com a “cabeça levantada” usam as barbatanas peitorais para “começar a andar” prontos para tentar de novo. Os saltos dela duma estação espacial para a outra lembram-me também os tais peixes que ficam presos em poças de água quando a maré desce, e alguns saltam de poça em poça até voltar para o mar de onde vieram, enquanto outros têm uma morte agonizante tipo “peixe fora de água”, e no meio disso tudo, alguns conseguem adaptar-se e tornam-se anfíbios…)

    …e por ser “impossível” é que (talvez) há tanta contestação contra o custo do voos espaciais tripulados, que ao invés de serem uma questão central (O Plano A no Filme Interstellar, o “turismo” espacial, as ideias de colonizar a Lua e Marte) são apenas um “desperdício” de recursos que podem comprometer um financiamento regular da ciência espacial, e se fôr para colocar “humanos” fora da terra, o método mais racional (após uma análise friamente racional) é o Plano B do Filme Interstellar, com óvulos congelados numa estratégia que me parece (ligeiramente?) desumanizada e que me lembra muito o exercito de clones que estava a ser preparado neste caso: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcito_dos_Clones

    Aliás, um excesso de conformismo, é algo que não seria problemático para um “exercito de clones”, que evidentemente não teriam nenhum problema com isso, ao contrário de seres humanos livres, que poderiam talvez vir a desobedecer em certos casos pontuais, ou se esse exército viesse a ser usado para fins inaceitáveis…

    Voltando á citação do artigo “Reducing science to sensational headlines too often misses the bigger picture” do Leon Vanstone :

    That beauty is hope.

    Science is the hope of a future.

    Because if we just sit here on this planet and do the things we already do, getting places just a little bit faster, living just a little bit longer, happy to simply survive as we are then we know how humanity’s journey ends – and it will end, here, on this planet.

    But if we do more than survive; if we discover and explore and expand, then our future is uncertain.

    Science is a demonstration that humanity need not exist only on some tiny rock in the outer spiral arm of a single galaxy.

    To me, it means that humanity refused to go gently into that good night.

    Will it make it?

    Who knows – but it’s important that we try.

    • Nuno José Almeida on 30/08/2014 at 11:10
    • Responder

    http://www.novidadestv.com/2014/08/26/cmtv-bateu-audiencias-da-rtp-informacao/

    Quando o mercado o exige!!!!

    • Graciete Virgínia Rietsch Monteiro Fernanbdes on 22/08/2014 at 20:54
    • Responder

    Eu também penso que investir na educação abre o caminho para um futuro melhor.

  1. “De quem é a culpa? Como está subentendido no segmento, a culpa será de toda a gente…”

    Não creio que seja assim tão simples. Podemos pensar na seguinte analogia: cada vez há mais crianças obesas. De quem é a culpa? Das crianças, porque comem demasiados doces? Das empresas que produzem os doces? Dos pais porque não impedem as crianças dos consumir?

    O que falta é educar e regulamentar. Não é a criança que aprende sozinha, pelo que é necessário a comunidade científica fazer esforços para educar a população, ao invés de simplesmente se preocupar com o financiamento para o seu projecto. É necessário pensar a longo prazo e, nesse caso, torna-se evidente que investir na educação é a melhor forma de assegurar o futuro. A regulamentação da informação é necessária, pois caso contrário o que um bom ensino constrói, é parcialmente destruído pela desinformação. É necessário compreender que a liberdade de expressão tem limites! Do mesmo modo que não podemos fazer tudo o que quisermos, também não podemos dizer tudo o que queremos. Matar é diferente de mentir, mas não devemos cair no erro de pensar que um é muito pior que o outro. A desinformação, como dizes no artigo, já conduziu à morte de muita gente, e provavelmente o problema ainda se vai agravar nos próximos anos. É por isso necessário regulamentar a informação de modo a que esta seja um complemento à educação e não uma ameaça. Naturalmente, a regulamentação terá que se extender à internet, por mais hercúlea que possa parecer tal tarefa.

    1. Excelente comentário 😉

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