Companheira de Supernova Observada Pela Primeira Vez

Várias linhas de evidência sugerem que as supernovas de tipo Ia (lê-se “um A”) resultam da explosão termonuclear de anãs brancas. Para tal suceder, a anã branca tem de fazer parte de um sistema binário e capturar material de uma estrela companheira normal. A deposição gradual deste material na superfície da anã branca, ao longo de milhares ou mesmo milhões de anos, aumenta a pressão e temperatura no seu interior e despoleta a fusão explosiva dos átomos de carbono aí existentes.

A supernova SN2012cg na galáxia NGC4424 próximo do máximo de brilho. Crédito: Peter Challis/Harvard-Smithsonian CfA.

A supernova SN2012cg na galáxia NGC4424 próxima do máximo de brilho.
Crédito: Peter Challis/Harvard-Smithsonian CfA.

Este cenário, proposto há mais de 50 anos, é largamente aceite pelos astrónomos por ser consistente com as propriedades observadas das supernovas Ia, apesar de não haver um único caso em que a putativa companheira tenha sido detectada, mesmo que indirectamente. Até agora.

Uma equipa de astrónomos liderada por Howie Marion, da Universidade do Texas em Austin, detectou pela primeira vez um sinal claro da existência de uma companheira numa supernova de tipo Ia.

A supernova SN2012cg decorridos vários meses após o seu aparecimento, já na curva descendente de brilho. Crédito: NASA/Hubble Space Telescope.

A supernova SN2012cg decorridos vários meses após o seu aparecimento, já na curva descendente de brilho.
Crédito: NASA/Hubble Space Telescope.

Localizada na galáxia espiral barrada NGC4424, a cerca de 50 milhões de anos-luz na direcção da constelação da Virgem, a SN2012cg foi descoberta no dia 17 de Maio de 2012 pelo projecto LOSS (Lick Observatory Supernova Search). A equipa de Marion iniciou as observações no dia seguinte pois, se a supernova tivesse uma companheira, a onda de choque da explosão cobriria a distância entre elas em apenas algumas horas ou, no máximo, alguns dias. A supernova foi observada em vários comprimentos de onda por uma panóplia de instrumentos que incluiu a KeplerCam no telescópio de 1.2 metros do Observatório Fred Lawrence Whipple, o gigante de 10 metros do Hobby-Eberly Telescope, no Observatório de McDonald, e o observatório de raios gama SWIFT, da NASA.

A galáxia NGC4424, onde apareceu a SN2012 cg, fotografada pelo telescópio Hubble. A supernova não é visível nesta imagem. Crédito: ESA/NASA /Gilles Chapdelaine.

A galáxia NGC4424, onde apareceu a SN2012cg, fotografada pelo telescópio Hubble. A supernova não é visível nesta imagem.
Crédito: ESA/NASA /Gilles Chapdelaine.

A análise posterior da luz da SN2012cg revelou a existência de um excesso de luz azul que é consistente com a interacção da supernova em expansão com a superfície da estrela companheira. De facto, quando as duas colidem, a superfície da companheira é aquecida a temperaturas de centenas de milhares de Kelvin, daí resultando um flash de radiação energética — raios X, raios ultravioleta e luz visível azul — que explicaria o excesso observado. Com base em modelos da interação os astrónomos puderam estimar também a massa da estrela companheira em pelo menos 6 massas solares, surpreendentemente elevada, possivelmente indiciando uma evolução complexa do sistema binário antes da explosão com transferência de massa alternada entre as duas componentes.

O cenário apontado é consistente com as observações mas não é necessariamente o único possível. Para melhor compreenderem a génese deste tipo de supernovas os astrónomos terão de identificar muitas mais supernovas em que, como no caso da SN2012cg, o sinal de uma companheira seja visível.

(Fonte: Harvard Smithsonian CfA, saber mais sobre supernovas de tipo Ia)

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