A Grande Nebulosa de Orion

Nebulosa de Orion. Créditos: JanD / Ruben Barbosa

A Nebulosa em Orion (M42) é muito apreciada pelos astrónomos. Pode ser vista sem ajuda de equipamentos como uma pequena mancha difusa na direção da constelação de Orion. Encontra-se entre 1500 e 1800 anos-luz do Sistema Solar e é um exemplo de formação estelar, onde a poeira interestelar forma estrelas à medida que se vão associando devido à atração gravitacional.

As estrelas formam-se quando o hidrogénio e outros elementos se acumulam em regiões HII do espaço, por contração devido à sua própria gravidade. À medida que o gás colapsa, o agrupamento central atrai cada vez mais partículas, transformando a energia potencial gravitacional em energia térmica. Com o aumento de temperatura, tem início o processo de fusão nuclear, originando uma protoestrela. Nas regiões HII, a luz ultravioleta das estrelas quentes O e B ionizam o gás de hidrogénio ao seu redor. Quando os eletrões recombinam, emitem principalmente no visível e especificamente no comprimento de onda 6563 Å, cor vermelha.

Os MASERs astronómicos encontram-se frequentemente neste tipo de regiões e consistem em gás interestelar constituído por átomos, moléculas e iões de elementos químicos, ou substâncias gasosas presentes no meio interestelar, que amplificam milhares de vezes a radiação eletromagnética.

A baixas frequências (até 1 GHz), esta região é opaca e emite um espectro de corpo negro (o fluxo aumenta com a frequência) até ao limite superior de 10^3 Jy. O mecanismo de emissão é Bremsstralung.

A frequências mais elevadas (ondas de comprimento inferiores a cerca de 30 cm), o plasma torna-se transparente e os mecanismos de emissão dominantes são o sincrotrão e o MASER.

Nebulosa de Orion (SHO) legendada. Créditos: David Nguyen / Ruben Barbosa

Recordo aqui o testemunho do Jorge Freitas relativo ao ano anterior:

“Numa fria noite de Dezembro, abrigados pela presença granítica da Capela de Nossa Senhora do Viso, um grupo de astrónomos amadores (constituído por Fernanda Campelos, Jorge Freitas, José Pedro Sousa, Miguel Ventura, Ruben Barbosa e Rui Costa) reuniu-se à cata de fotões. Os céus de inverno oferecem, a quem compreender a máxima de que não existe mau tempo (apenas más roupas), muitos e belos motivos de contemplação cósmica. Há, no entanto, uma paragem inigualável em que os telescópios acabam sempre por se demorar: a Nebulosa de Orion (M42). Observar este objecto proporciona, mesmo ao mais experiente dos observadores, um deleite renovado e uma oportunidade de ver sempre algo novo.

A miríade de pormenores que M42 oferece a um olhar atento torna-se mais visível através da captura em astrofotografia. Esta imagem, captada pelo José Pedro Sousa nessa noite pré-natalícia e posteriormente processada pelo Ruben Barbosa, abre a janela sobre a verdadeira complexidade desta jóia da coroa do céu noturno.

Conforme já foi explicado numa publicação anterior, a Nebulosa de Orion é uma maternidade de estrelas onde grandes massas de hidrogénio molecular colapsam sobre si mesmas, dando origem a novas estrelas, as mais maciças e luminosas das quais (tipo espectral O e B) acabam, em função das suas potentes emissões de radiação ultravioleta, por ionizar os átomos de hidrogénio, assim fazendo brilhar as nuvens moleculares circundantes.

No coração de M42 localiza-se o Enxame do Trapézio, um grupo compacto de estrelas jovens e muito quentes que banham a nebulosa em radiação ultravioleta. Julga-se que o enxame se integra numa associação maior dispersa pela nebulosa que contém umas 2000 estrelas. O Enxame do Trapézio é dominado por quatro estrelas dispostas na forma geométrica que lhe dá o nome, estrelas estas que um telescópio amador facilmente pode revelar. A luminosidade combinada destas quatro estrelas equivale a 30.000 vezes a luminosidade do Sol.

Um vídeo recente produzido por uma equipa do Space Telescope Science Institute (STScI) de Baltimore (EUA) com dados dos telescópios espaciais Hubble e Spitzer permite visualizar a cova que os intensos ventos estelares produzidos pelo Enxame do Trapézio cavaram na nuvem de hidrogénio, esculpindo as reentrâncias visíveis na parte direita da imagem e moldando a forma de concha da nebulosa.

Na secção central da imagem é visível uma acumulação de poeira interestelar que separa visualmente a Nebulosa de Orion da nebulosa de De Mairan (M43). Na realidade, ambas pertencem ao mesmo objeto, estando ambas associadas à Nuvem Molecular de Orion que, por sua vez, se integra num gigantesco sistema de nuvens moleculares que abrange toda a constelação.

A Nebulosa de Orion permite-nos, pela sua relativa proximidade, estudar em detalhe os processos associados à génese estelar. Estrelas, nuvens moleculares, anãs castanhas (aquelas estrelas que não o chegaram a ser), discos protoplanetários e todo o fogo-de-artifício cósmico presente nestas maternidades estelares encontram-se ali à mercê dos nossos observatórios e telescópios espaciais. Já para os astrónomos amadores e os astrofotógrafos, M42 sintetiza exemplarmente o misto de prazer estético e intelectual que nos motiva a enfrentar noites frias de inverno como aquela em que esta imagem foi captada.”

Nebulosa de Orion. Créditos: David Nguyen / José Pedro Sousa / Ruben Barbosa.

Plataforma “O Universo em Fotografia”.

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