Fahrenheit 451

Num futuro distópico, os “bombeiros” têm por missão queimar todos os livros. Os “bombeiros” são na verdade os incendiários.

As pessoas têm que se conformar. Até têm que cortar o cabelo da mesma forma. Toda a gente tem que pensar e fazer tudo de forma igual; ninguém pode ser diferente.

Os livros são banidos.
As pessoas que os têm, escondem-nos e não confiam em ninguém: se forem denunciadas, são presas e os livros são queimados. As pessoas denunciam-se umas às outras, incluindo a família (como no Nazismo).

O Governo defende a queima dos livros, afirmando que os livros são perigosos. Supostamente, os livros perturbam as pessoas, tornando-as infelizes, já que os livros fazem com que as pessoas queiram vidas que não podem ter (as pessoas querem as vidas maravilhosas dos livros, e como não têm, ficam infelizes).

O Governo defende que os livros levam a opiniões contrárias, e as opiniões contrárias levam ao caos.

No conto, toda a História é mentira. Não existindo livros para afirmar o que realmente aconteceu, então quem está no poder inventa o que quiser.

Um dos “bombeiros” começa a questionar a sua missão de queimar livros…

Esta história saiu primeiro em livro (1953) e depois em dois filmes (1966 e 2018).

O livro de Ray Bradbury tornou-se numa história de culto.

O filme de 1966 é datado, mas muito bom.
Este filme tem muito mais diálogo (que o de 2018), o que permite pensar mais nas coisas.
No entanto, o filme acaba de forma utópica (irrealista): Montag passa a viver com os book-people.

O filme de 2018 é mau. Não existe emoção nem empatia com as personagens.
O filme é demasiado parado e chato.
No entanto, acabou bem: o conhecimento foi libertado e Montag foi morto (final realista)

O título provém dos livros serem queimados a 451 graus Fahrenheit (233ºC).

Os book-people são pessoas que memorizaram os livros no seu cérebro. Como as pessoas não podem ter livros, algumas pessoas memorizam todas as palavras de um determinado livro. Quando uma dessas pessoas morre, o livro é esquecido para sempre.

Os livros são tratados por Graffittis. Ou seja, é a forma das pessoas se exprimirem com desenhos (letras e imagens) em papel. Mas é uma forma de expressão ilegal.

Apesar do rationale do governo, a verdade é que o objetivo do governo é que as pessoas não tenham conhecimento. O conhecimento é perigoso, porque permite às pessoas pensarem. As pessoas sem conhecimento são mais fáceis de manipular. Pessoas sem conhecimento não questionam a autoridade.
Vê-se o mesmo nos promotores das tretas da pseudociência: eles aproveitam-se das pessoas sem conhecimento para os manipular.

No conto é dito que as pessoas sem livros (sem conhecimento) são mais felizes.
Compreende-se o rationale do governo, já que pessoas com mais conhecimento têm mais opções e, seguindo só uma via, ficam com mais opções que não realizam.

Note-se que os livros desenvolvem o pensamento crítico e promovem a auto-reflexão. Pessoas sem essa auto-reflexão, não pensam tanto no que a vida (pode) proporciona(r). Como se costuma dizer nos EUA: Ignorance is bliss.

O conto é sobretudo uma crítica ao Nazismo e ao McCarthyism.
No entanto, é possível ver alguns paralelismos com a sociedade atual.

Nas Universidades norte-americanas têm existido várias polémicas devido à censura de opiniões conservadoras (contrárias às opiniões liberais). Quando alguém diz algo polémico publicamente, um grupo qualquer fica imediato ofendido e censura as opiniões com que não concorda. Nas redes sociais, diariamente vêem-se estes comportamentos: alguém diz algo polémico, e “cai-lhe toda a gente em cima”, tentando censurar as opiniões com que não se concorda. Além disso, ainda nas redes sociais, fazemos uma censura permanente quando aderimos a grupos e a amigos que tenham as nossas opiniões, ostracizando outros grupos e amigos com opiniões contrárias. Ou seja, continuamente “queimamos” as opiniões de que não gostamos. Em parte, fazemos o que o Governo no conto defende: censuramos opiniões contrárias; e se as ouvirmos, promovemos o caos.
Esta é, obviamente, uma forte crítica social. Bradbury alerta para os perigos dos atentados à liberdade de expressão.

No conto, também é dito que antes desta sociedade que existe na história, as pessoas faziam guerras por lerem livros distintos sobre diferentes deuses. Assim, o rationale do governo é também queimar livros para prevenir guerras.
Esta é também uma crítica social: de que não analisamos criticamente os livros, assumindo um fundamentalismo sobre alguns que leva ao caos.

No conto existe também uma forte crítica à manipulação das massas. No conto, essa manipulação é feita pelo Governo, mas também pela televisão e pelas próprias pessoas que aceitam tudo sem qualquer sentido crítico.
Pessoas sem pensamento crítico são mais facilmente manipuladas, quer pelo Governo, quer pelos mass media (mídia) quer pelos outros (incluindo, atualmente, na internet).
Assim, Bradbury alerta para os perigos da manipulação constante feita pelos “fazedores de opiniões”.

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