Cosmos, rugidos e silêncios

O vídeo: de acordo com as instruções fornecidas pelo utilizador que o colocou no YouTube, devemos colocar o som das colunas quase no máximo e certificarmo-nos de que aquelas têm woofers suficientemente bons para aguentar a potência sonora dos motores que lançam o vaivém para fora da atmosfera terrestre.

Quanto melhor for o sistema de som, mais poderosa a experiência. A ideia de colocar este vídeo, prossegue o utilizador, foi a de «compensar» os que nunca puderam deslocar-se a Cape Canaveral, na Florida, e assistir ao vivo a um destes lançamentos.

Subam o som, se puderem, e oiçam. Impressionante, não acham?



Mas vejam agora esta foto, tão maravilhosa para cientistas como para poetas.

Esta é uma imagem já bem conhecida de todos os amantes de Astronomia, captada em infravermelhos pelo telescópio espacial Spitzer, as lentes apontadas mesmo ao coração da nossa galáxia, a Via Láctea.

O que observam encontra-se a 26 mil anos-luz e é por isso – só por isso – que subitamente o monumental rugido dos motores principais do vaivém parece agora tão insignificante perante a imensidão de todo este silêncio.

O Universo é silencioso porque o som não se propaga no vácuo e é silencioso por nos esconder ainda tantos mistérios… Mas comunica de muitas formas, muitas das quais invisíveis ao limitado olhar terrestre.

E é por termos instrumentos cada vez mais sofisticados para descodificar o significado das mensagens que o Universo nos envia que um grupo de cientistas da Universidade Grenoble, em França, pôde partilhar uma conclusão que até há poucas décadas seria impensável de obter: milhares de planetas potencialmente habitáveis devem existir na nossa galáxia.


100 estrelas anãs, 40 Super-Terras

Observem a foto outra vez. Haverá algum ser inteligente extraterrestre (para conveniência do post e da fraca imaginação do autor, não vamos caracterizá-lo radicalmente diferente de nós) observando uma foto semelhante à nossa, uma esplendorosa imagem do braço da galáxia por onde andamos?

Caso exista e for ingénuo como nós, que problemas poderá esperar que os misteriosos extraterrestres do terceiro planeta a contar do Sol tenham resolvido? Será o Universo um gigantesco «espelho» onde pudemos observar o que fomos ou o que poderemos vir a ser como espécie?

Do que temos quase a certeza, a julgar pelos resultados obtidos pelos investigadores, é que ao número considerável de estrelas anãs na nossa galáxia – 160 milhares de milhões, conta o estudo agora divulgado – deverão corresponder milhões de planetas «potencialmente habitáveis». Pelo menos uma centena desses planetas – chamamos-lhe «Super-Terras», por serem rochosos e massivos – estará a menos de 30 anos-luz do nosso planeta. À escala cósmica, é malta vizinha.

Os cientistas chegaram a esta conclusão devido à premissa segundo a qual pelo menos 40 por cento das estrelas anãs possuem um planeta rochoso semelhante à Terra a orbitar na chamada «zona habitável».

Mas é preciso ter atenção a estas notícias e à forma como rapidamente os media associam conclusões baseadas em premissas à existência de vida extraterrestre e, pior ainda, a homenzinhos verdes em naves espaciais: quando um cientista diz «potencialmente habitável» refere-se a duas perspetivas diferentes: primeiro, pode ser habitável de acordo com as únicas condições que conhecemos para a existência de vida, ou seja, as condições terrestres; segundo, pouco sabemos de planetas terrestres na galáxia (muito menos ET’s) mas, tal como vós, leigos, adorávamos saber.

E é então que a poderosa e inspiradora muralha de sons à Stockhausen sugerida pelos motores do vídeo me deixa a pensar o que poderá acontecer quando, num futuro longínquo, a nossa engenharia desvendar os mistérios deste silêncio cósmico e pudermos espreitar para o outro lado do espelho…

2 comentários

    • Renato Romão on 30/03/2012 at 20:39
    • Responder

    Magnifico post. Obrigada pela experiência! 🙂

    Mas… nada como estar lá, sempre são os 5 sentidos a funcionar. 😉

    Abraços

  1. Impressionante o video!!
    pode ver-se no minuto 2:20 o vaivém a atravessar a barreira do som, cerca dos 1.200,0 km/h
    até atingir mais de (impressionantes) 26.000,0 km/h.
    Excelente post.
    Adorei a parte “do outro lado do espelho”, acho vai ser apenas uma questão de tempo… 😉
    infelizmente o nosso “tempo/vida” é demais efémero comparado com as escalas astronómicas. 🙁 RRRrrrrr
    Fico feliz por pensar que um dia no futuro, deixaremos os nossos filhos (maquinas) cujo tempo de vida vai ser ilimitado, descobrirem o outro lado do espelho. ;-))))
    Cumprimentos astronómicos

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