Seth Shostak do instituto SETI fala sobre o tema 2012 e comenta o efeito “porque-agora”

Imagem do filme 2012 mostrando o 'fim-do-mundo'. Crédito: Colúmbia Pictures

Imagem do filme 2012 mostrando o ‘fim-do-mundo’. Crédito: Colúmbia Pictures

Dr. Seth Shostak, cientista líder do programa SETI (Search for Extra Terrestrial Inteligence) de busca por sinais de inteligência extraterrestre, fala sobre o tema “2012” e suas implicações e critica por que razões os apocalípticos insistem em afirmar que o fim-do-mundo está sempre a acontecer agora, ou seja, o efeito “porque-agora ?”.

Dr. Seti Shostak do instituto SETI de busca pela vida estraterrestre

Dr. Seti Shostak do instituto SETI de busca pela vida estraterrestre

O assunto “2012” invadiu a paisagem cultural como uma praga artificial: o fim do mundo estaria a acontecer agora?

No final de dezembro de 2012, graças a um alinhamento celestial incomum – ou talvez somente a data de expiração do calendário Maia – nosso planeta será destroçado e arruinado? Veja isso pelo lado positivo: não teremos impostos a pagar em 2013…

2012-Poster

Os produtores de Hollywood (que não perdem uma oportunidade de descobrir um filão de ouro) gostam de agitar a quietude habitual terrestre. Assim, um filme bombástico, com o ‘criativo’ título “2012”, nos mostrou nas telas como é a beleza visual do fim-do-mundo.

Este imbróglio tem deixado diversas pessoas arrepiadas apesar dos avisos dos cientistas para todos esfriarem suas cabeças e deixarem de lado esta pegajosa mistura de pseudociência e previsões apocalípticas de culturas extintas. O fim-do-mundo não está próximo, meus caros amigos, devemos nos lembrar que rotineiramente o apocalipse tem sido repetidamente previsto por falsos profetas, mas nunca acontece…

Isto não é apenas uma referência para contestar as previsões de futuras ‘aglomerações nos portões do paraíso’ ou outros avisos no estilo dos maus agouros da virada do milênio. Devemos, por outro lado, fazer uma análise crítica e considerar a história da Terra desde o surgimento da vida há quase 4 bilhões de anos. Desde que se firmou em nosso planeta, após o fim do difícil eón Hadeano da Terra primordial, a vida tem-se mostrado altamente resistente e persistente: nem asteróides, cometas, explosões de raios-gama, tempestades solares assassinas, mudanças de pólos magnéticos ou supernovas próximas ocasionais conseguiram esterilizar o planeta Terra.

 O período Hadeano: na escala de tempo geológico, o Hadeano é o éon mais antigo, que começou há cerca de 4,57 bilhões de anos, com o princípio do processo de formação dos planetas do Sistema Solar, e terminou, na Terra, há aproximadamente 3,85 bilhões de anos, quando surgiram as primeiras rochas, marcando o início do éon Arqueano. O nome “Hadeano” vem do grego hades, que significa “inferno”, e foi cunhado pelo geólogo Preston Cloud para o período sobre o qual se tem pouca ou nenhuma informação geológica.

Júpiter e demais planetas: Júpiter sozinho tem 2,5 vezes mais massa que todos os demais planetas somados.

Júpiter e demais planetas: Júpiter sozinho tem 2,5 vezes mais massa que todos os demais planetas somados (Saturno+Urano+Netuno+Terra+Vênus+Marte+Mercúrio).

A ideia que o calendário Maia nos diz quando será o fim-do-mundo é simplesmente patética. Ora, se os Maias fossem tão competentes em adivinhar o futuro, poderíamos concluir que o seu império ainda estaria de pé, vivo e forte, hoje. Além disso, os alinhamentos cósmicos acontecem a todo momento e ninguém nem toma conhecimento. Além disso, que diferença os alinhamentos nos trazem? Que tal calcularmos? o planeta gigante Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, em sua máxima aproximação em relação a Terra consegue atingir uma força de atração gravitacional 20.000 vezes menor que a Terra recebe diariamente do Sol. E tem mais, Júpiter responde por mais de 66% (dois-terços) da massa de todos os planetas somados… Se Júpiter por si muito pouco nos afeta, muito menos farão os demais planetas.

Assim, exceto para as almas ingênuas que insistem em confundir cinema com realidade, esta situação toda não passa de uma mera tempestade em um copo d’água, certo? Não é justamente isso que a mídia estará escrevendo quando o filme chegar as salas de exibição?

O fator “porque-agora?

É claro que sim. Mas, existe algo bem além disso. O fim-do-mundo para os humanos possivelmente irá acontecer pelo menos se considerarmos como precendente o que aconteceu com centenas de milhões de outras espécies extintas na história da Terra. Foi estimado que 99,9% de todas as criaturas que já passaram por nosso planeta são assunto do passado. Em outras palavras, apesar de nós pensarmos orgulhosamente que somos os ‘pilares da criação’, somos, na verdade, não mais que a última produção da Natureza. Nossa espécie um dia irá chegar ao fim ou talvez sofra uma evolução. Mas, ISTO NÃO SERÁ EM 2012! E a razão disso é simples e chamamos do fator “porque agora?”. O fator “porque-agora?” é uma versão temporal do princípio enunciado por Copérnico, ou seja, atualmente não é uma época em especial da história humana.

Vamos a um exemplo: muitas pessoas se acham convencidas que os alienígenas vêm a Terra para abduzir os humanos. Mas, “porque agora?” Considerando 10.000 gerações de humanos da nossa história, estes aliens estão só agora chamando nossa atenção? A probabilidade disto ser real seria como ganhar na loteria, mesmo que o prêmio não seja tão interessante quanto uma boa quantidade de dinheiro.

O físico de Princeton J. Richard Gott explorou esta idéia por uma década e tanto para entender tudo sobre as escalas de tempo cósmicas. Um cálculo simples de Gott seria algo como isso: adotando a filosofia do “porque-agora?” podemos afirmar com 98% de certeza que a humanidade não está nem abaixo de 1% da sua existência nem acima de 99%. Calculando os resultados desta premissa vemos que nossa espécie ainda tem algo como 2.000 a 20.000.000 de anos a frente.

Assim, estes cálculos numéricos não incluem nossa ruína em 2012.

Mas sempre há alguns que poderiam arguir que a regra do “porque-agora?” não se aplica à humanidade porque nós estamos interferindo com o mundo. Qualquer um pode citar esquemas possíveis de auto-destruição, que nos transformaria em material de exibição para museus no futuro tais como: mudanças climáticas, guerras nucleares, pandemias ou até mesmo o mau uso e o fim de recursos essenciais. Tão ruins quanto estes problemas contemporâneos podem ser, é difícil argumentar que estas possíveis ameaças poderiam exterminar a biologia da face da Terra.

E em qualquer caso os tipos de cenários de ‘fim-do-mundo’ examinados em filmes como este “2012” não são destruições geradas pelos humanos. São enfim calamidades lúgubres causadas por fatores externos absurdos (exemplo: alinhamentos galácticos perturbadores). Para tais fenômenos externos que tanto deixam os leigos preocupados, o principio do “porque-agora?” se aplica perfeitamente.

Pensar diferente disso é o mesmo que assumir que é o Cosmos que gira em torno da Terra ou que a Terra é o centro do Universo… e isso era uma ideia obsoleta de 500 anos atrás.

Fontes e referências

Space.com:

Explicações científicas sobre 2012:

Universe Today:

365 Days of Astronomy: Will the World End in 2012?

._._.

5 comentários

Passar directamente para o formulário dos comentários,

    • Dinis Ribeiro on 23/12/2012 at 13:13
    • Responder

    Será que já fomos detectados através da nossa (imprudente?) poluição luminosa?

    (Será que “eles” terão uma tecnologia tipo “lentes gravitacionais”?)

    Seth Shostak, no final do artigo que cito a seguir aborda dum modo tangencial a noção de black-out…. 😉
    http://en.wikipedia.org/wiki/Blackout_(wartime)

    Para se colocar nos faróis dos carros durante a segunda guerra mundial:
    a) http://museumvictoria.com.au/collections/items/1224398/lens-covers-car-headlights-world-war-ii-1939-1945
    b) http://g503.com/forums/viewtopic.php?p=790015

    Gostei de ler e por isso recomendo este artigo: http://www.newscientist.com/article/mg21628954.200-search-for-aliens-poses-game-theory-dilemma.html

    Os riscos potenciais ligados á procura de vida extraterrestre coloca-nos perante um sério dilema que pode ser analisado matematicamente pela “Teoria de Jogos”:

    Titulo: Search for aliens poses game theory dilemma:

    SENDING messages into deep space could be the best way for Earthlings to find extraterrestrial intelligence, but it carries a grave risk: alerting hostile aliens to our presence. Game theory may provide a way to navigate this dilemma.

    So far the search for extraterrestrial intelligence (SETI) has mostly been restricted to listening for signs of technology elsewhere. Only a few attempts have been made to broadcast messages towards distant stars.

    Many scientists are against such “active” SETI for fear of revealing our presence. If all aliens feel the same way then no one will be broadcasting, and the chance of detecting each other is limited.

    To weigh up the potential losses and gains, Harold de Vladar of the Institute of Science and Technology Austria in Klosterneuburg turned to the prisoner’s dilemma, a game-theory problem in which two prisoners choose between admitting their shared crime or keeping quiet, with different sentences depending on what they say.

    An individual prisoner gets off scot free if they rat on a partner who remains silent, with the silent partner getting a maximum sentence. If they both rat on each other, each gets a medium sentence. By contrast, if both stay silent, both get token sentences – the best overall result.

    De Vladar reasoned that the SETI dilemma is essentially the same, but reversed. Mutual silence for prisoners is equivalent to mutual broadcasting for aliens, giving the best results for both civilisations.

    And while a selfish prisoner rats, a selfish civilisation is silent, waiting for someone else to take the risk of waving “Over here!” at the rest of the universe.

    This led de Vladar to apply the mathematics of the prisoner’s dilemma to SETI (International Journal of Astrobiology (IJA), doi.org/jx7). In the classic version of the prisoner’s dilemma, each selfishly rats on the other.

    But as we do not know the character of any aliens out there, and as it is difficult to put a value on the benefits to science, culture and technology of finding an advanced civilisation, de Vladar varied the reward of finding aliens and the cost of hostile aliens finding us.

    The result was a range of optimal broadcasting strategies. “It’s not about whether to do it or not, but how often,” says de Vladar.

    One intriguing insight was that as you scale up the rewards placed on finding aliens, you can scale down the frequency of broadcasts, while keeping the expected benefit to Earthlings the same.

    Being able to keep broadcasts to a minimum is good news, because they come with costs – rigging our planet with transmitters won’t come cheap – and risk catastrophic penalties, such as interstellar war.

    🙂

    Seth Shostak of the SETI Institute in Mountain View, California, says that game theory is a good approach but that there are too many unknowns.

    Perhaps aliens are not actively broadcasting because they don’t need to.

    Shostak has recently shown that a civilisation even slightly more advanced than ours could use its sun as a “gravitational lens”. Such a lens could detect the lights of New York City from up to 500 light years away, once the light has had time to travel that far (IJA, doi.org/jx8).

    And there are certainly alien star systems that are closer to us than that.

    Earth has also been accidently leaking radio and TV signals for the past century, which may have already been picked up. “Any society at least a few centuries beyond the invention of radio will recognise that deliberate transmissions are not the way they will be found,” says Shostak.

    Quick, turn off those lights! ( A sugestão dum “prudente” black-out tipo segunda-guerra mundial, é uma pequena “provocação” acrescentada pelos editores do http://pt.wikipedia.org/wiki/New_Scientist e é algo que me obrigou a meditar dum ângulo ligeiramente novo – tipo lente gravitacional – sobre estes temas) 😉

    Para aprofundar o tema:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Prisoner's_dilemma (Em Inglês )

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Dilema_do_prisioneiro (Em Português)

    http://en.wikipedia.org/wiki/Game_theory ( the study of mathematical models of conflict and cooperation between intelligent rational decision-makers )

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_dos_jogos (Teoria de Jogos – Matemática aplicada)

    • Flávio Silva on 22/12/2012 at 12:28
    • Responder

    Vejam a coisa boa, nesse filme acaba com o cabo da boa esperança, lembraram-se do Portugueses.

  1. Mais um belíssimo artigo, ROCA. 😉

    Atento para o seguinte trecho deste post:

    “(…) muitas pessoas se acham convencidas que os alienígenas vêm a Terra para abduzir os humanos. Mas, “por que agora?” Considerando 10.000 gerações de humanos da nossa história, estes aliens estão só agora chamando nossa atenção?”

    Pseudos-adoradores dessa estória de visitas alienígenas ditas inteligentes possuem uma >>percepção<< oposta: que visitas extraterrestres eram mais frequentes no passado. Contudo, no mínimo é imbróglio que raças supostamente avançadas (tecnologicamente) mantenham contato com toda uma civilização ou civilizações que não sabia(m) as diferenças entre planetas, satélites naturais e estrelas (dos mais variados tipos); ou que faziam rituais com sacrifícios humanos, ou outros animais, e não faz(em) contato cá conosco – que somos bem mais avançados que estas. Obviamente, não se tira o mérito de todos os estudos e observações anteriores, baseados na ciência – desde os primórdios da civilização, astrônomos europeus e árabes, e Grécia Antiga. Como exemplo, Erastóstenes de Alexandria – num tempo onde não existiam satélites geoestacionários – calculou o raio da Terra apenas com paus, conhecimentos em Geometria Analítica e, talvez, um pouco de cerveja para convencer um pobre cidadão a calcular por passos a distância entre Alexandria e Siene – sendo o erro de somente 15%. À mão, sem auxílio computacional, não é um erro estatístico considerável. Uma verdadeira proeza e beleza matemática. 🙂 Supondo que esta hipótese (na realidade, trata-se de uma treta, porém considere-se como hipótese plausível por hora 😉 ) de visitas de civilizações avançadas, por quê não manterem contato direto cá conosco que somos bem mais avançados?

  2. É real um evento magnético que ocorre atualmente sobre a América do Sul, na qual o campo magnético está em um nível muito baixo em relação ao resto do planeta ??? — Anomalia do Atlântico Sul. Abaixo seguem alguns links a respeito…

    NATGEO – O Campo Magnetico Da Terra – Parte 1 .

    http://www.youtube.com/watch?v=QGqnREV7cdc

    Site da Nasa com informações sobre o campo magnético da Terra
    http://heasarc.gsfc.nasa.gov/docs/rosat/gallery/misc_saad.html

    História magnética do Brasil –
    http://revistapesquisa2.fapesp.br/?art=4458&bd=1&pg=1&lg=

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Verified by MonsterInsights