Salvar milhões de vidas

Gostei bastante de ler este artigo sobre Bill Gates.

É interessante ver como alguém que se preocupa com números, aparentemente não criando empatia com esta ou aquela pessoa, consegue ajudar a salvar milhões de pessoas.

Realço estas partes:

“Foi fantástico fazer programação, gerir a Microsoft e ganhar 98 mil milhões de dólares quando tinha 40 anos, mas não se compara ao que Bill Gates faz agora ao salvar milhões de vidas.
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Em África ele é considerado um homem bom, melhor do que alguns “ocidentais bem-intencionados mas pouco realistas” ou “salvadores brancos” que querem diminuir o peso do seu sentimento de culpa por serem detentores de fortunas imensuráveis.
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Inatamente competitivo, não pode deixar de referir que ele e Melinda terão ajudado a evitar 10 milhões de mortes no futuro devido à sua colaboração com a Gavi Alliance, uma parceria de entidades públicas e privadas cujo objetivo é melhorar o acesso à vacinação nos países pobres e a salvar 27 milhões de pessoas graças ao Fundo Global contra a sida, a tuberculose e a malária. Gates admite não conhecer alguém que tenha salvado mais vidas. As vacinas são tão simples, eficazes e baratas que se tornaram uma obsessão para ele. “Para mim, o grande paradoxo é que as vacinas existem e que, apesar disso, haja crianças que continuam a morrer de doenças provocadas pelo rotavírus quando podíamos ajudar facilmente.” Não acredita que a Internet vá salvar o mundo, nem tão-pouco que carros sem motorista ou viagens turísticas ao espaço o façam, “mas erradicar doenças pode fazê-lo”, razão pela qual mudou o foco da sua vida.
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Enfurecem-no as manchetes sobre África que só mencionam os infelizes órfãos de olhos esbugalhados ou os projetos de ajuda insinceros. “O mundo age de acordo com a narrativa que é contada e, irritantemente, a história de uma vida salva ou de uma pequena quantia gasta de forma pouco escrupulosa é muito melhor do que a de milhões de vidas salvas. É muito mais evocativa”, reconhece. “Se eu saltasse para um rio e impedisse uma criança de se afogar, essa situação seria levada mais a sério do que o salvamento de milhões de vidas.”
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Porém, declara que a comoção não tem qualquer utilidade e parece desconfortável perante a perspetiva de abraçar aqueles que ajudou. “Há sete mil milhões de pessoas no mundo e o dia tem apenas 24 horas. É impossível visitá-las a todas e tentar saber o que está mal. Eu tenho de me assegurar de que os dados estão corretos quando me sento com grupos de mulheres numa aldeia remota da Índia. As suas histórias de vida são valiosas, mas as minhas ações são baseadas no que dizem as estatísticas.”
Explica melhor: “No mundo morrem anualmente seis milhões de crianças antes de completarem os cinco anos. Se lhes queremos demonstrar afeto de uma forma significativa não podemos fazê-lo indo de aldeia em aldeia e falando com todas as pessoas. O mundo tem a inteligência e os recursos para reduzir aquele número a metade, recorrendo a programas de vacinação. Custa menos do que o que gastamos com a alimentação dos nossos cães ou com os medicamentos para combater a calvície.” Bill Gates não é um homem vaidoso e eu penso que, genuinamente, ele não compreende porque gastam as pessoas dinheiro com a sua aparência em vez de o investirem numa vacina ou em projetos de investigação e de educação.
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O que o mantém acordado à noite? O temor de uma pandemia, responde. “Há cem anos houve uma grande epidemia de gripe. As pessoas viajam mais atualmente e, por conseguinte, a velocidade de propagação é mais rápida se alguém tiver uma doença transmitida por via respiratória. O número dos afetados seria terrível.”
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De certa forma, Bill Gates é mais do que um homem bom em África. É um missionário do século XXI: não tenta converter ninguém a uma religião ou a um credo, seja o catolicismo ou o capitalismo. É apenas um tecnocrata que espera resolver os erros e pontos fracos, como fez na Microsoft. (…)”

Originalmente, este foi um artigo de Alice Thomson, no Sunday Times.

Neste artigo no The Guardian, também podemos ver que devido ao sucesso das vacinas e ao declínio na mortalidade infantil, terão sido salvas cerca de 122 milhões de crianças desde 1990.

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