Bill Maher: Trump, racismo e pandemia

O conhecido apresentador e comediante Bill Maher esteve no programa da CNN, Cuomo Prime Time, a falar de vários assuntos de forma muito interessante.

Bill Maher assume-se como liberal tradicional (old school liberal).
O seu programa de sucesso, Real Time With Bill Maher, costumava ter uma audiência de esquerda (democratas) e sobretudo extrema-esquerda (progressistas).
A sua visão do mundo e o que ele quer da Humanidade não mudou. Ele mantém as mesmas ideias racionais. No entanto, ele diz que a extrema-esquerda tornou-se demasiado radical e com propostas absolutamente irracionais (por exemplo, na revisão histórica e nos juízos de valor sobre personagens do passado, esquecendo-se do contexto). Segundo Maher, a extrema-esquerda está tão irracional como a extrema-direita (que ele acusa de ser uma ameaça existencial). Isto faz com que agora, quem vê o seu programa são republicanos e democratas moderados. Segundo ele, quem mais o critica agora são ambos os extremos (extrema-esquerda e extrema-direita).

Ele afirma que a política deixou de ser sobre políticas: passou a ser só sobre discurso de ódio.
As pessoas não votam nas políticas que pensam que mais as beneficiariam no dia-a-dia, mas votam com base no ódio que sentem pelo “outro lado”. Votam com base na emoção e não na razão. Por isso, não há argumentos racionais nem benesses sociais que os façam mudar de ideia.

Podem ver a parte política da entrevista, aqui e aqui.

A segunda parte da entrevista foi de crítica severa a Trump e à comunicação social democrata (MSNBC).
Maher critica o sistema político binário nos EUA.

A terceira parte da entrevista é social e cultural.
Bill Maher critica os radicalismos da extrema-esquerda e dos excessos do “contra racismo”, por exemplo do movimento woke.
Ele concorda que devemos ter noção das discriminações (injustiças raciais, sexismo, etc) e que deveríamos ter tido esta noção mais cedo. No entanto, por vezes, as coisas vão longe de mais (como no “abate das estátuas”, ou na censura a algumas histórias em alguns livros e até em filmes universais, ou em considerarem que as crianças devem ser tratadas como adultos pequenos, com o mesmo peso nas decisões racionais). Maher afirma que, se fosse hoje, os Pais Fundadores dos Estados Unidos seriam cancelados pelos Progressistas Democratas.
Maher considera que os Progressistas Democratas tornaram-se tóxicos, porque perderam o senso comum. Deixaram de ter bom senso, por exemplo quando não entendem o contexto histórico e julgam com base nos valores sociais atuais. Isso faz com que muitas pessoas decentes “fujam” deles e considerem que os democratas são malucos.
Maher diz que esta foi uma das razões para Trump ganhar a Hillary Clinton: os eleitores pensaram que não tinham escolha: ou votavam em alguém maluco ou votavam em alguém que apoiava malucos. Ao não terem grande escolha, os eleitores votaram em alguém maluco, mas que ao menos falava de coisas com que os eleitores lidavam no dia-a-dia (por exemplo, poderem ter armas, quem poderia utilizar o WC na escola, etc); em vez do outro candidato, democrata, que falava de coisas longe (como a guerra no Iraque, a China, ou o Afeganistão).

A quarta parte foi sobre racismo, mais especificamente sobre a chamada Critical Race Theory. Podem ver, aqui.
Ele diz que na escola aprendeu que historicamente os EUA tiveram escravos. Ele defende que é positivo que agora, nas escolas, queiram discutir mais o papel da escravatura e do racismo no início dos EUA. Mas ele diz que isso é diferente de afirmarem que a essência dos EUA é o racismo, sobretudo se ensinarem isto a crianças que ainda não estão desenvolvidas o suficiente para entenderem todas as implicações do racismo. As crianças brancas não deveriam sentir-se mal pelo que aconteceu centenas de anos antes deles, de modo a que passem a vida a tentarem compensar pelo que não fizeram pessoalmente.
Aliás, uma das coisas que Maher critica a extrema-esquerda é por não reconhecerem que a sociedade norte-americana melhorou muito em termos de racismo. Ele reconhece que muito ainda precisa ser feito, mas já muito foi conseguido nas últimas décadas.
Maher considera que existe progressofobia, um termo criado por Steven Pinker. Maher defende que os liberais (os novos liberais) têm medo de reconhecer que existiu progresso em diversas áreas, incluindo sociais e culturais.
Maher defende que existiu progresso em questões sociais, apesar de ainda se poder melhorar bastante. Ele dá o exemplo do racismo, mas também do casamento entre pessoas do mesmo sexo (que ainda há 20 anos era ridicularizado, e agora é aceite em todos os estados).

Ele defende que deveremos evoluir até uma sociedade daltónica (color-blind society), onde toda a gente seja vista como igual. E não tomarmos certas decisões ou termos certos pensamentos, com base na raça de uma pessoa. É a qualidade da pessoa e não a côr da pele, que deve determinar o que pensamos sobre a pessoa. A raça da pessoa não deve interessar para nada.
E é aqui que Maher critica a extrema-esquerda e o movimento woke, que ele afirma que fazem precisamente o oposto: eles vêem a raça da pessoa em todo o lado. Para eles, esse é o factor mais importante. Esta é a chamada Política identitária, que discrimina e exclui o resto das pessoas, promovendo uma cultura de cancelamento. Eles dão a entender que ser-se homem ou ser-se branco deve ser visto como tóxico. Eles inferem que as pessoas que discordam delas estão divididas em duas categorias: “ou são racistas propositadamente ou são racistas e não o sabem”. Ele dá vários exemplos específicos, que parecem saídos de notícias do jornal satírico The Onion. Daí ele argumentar que a extrema-esquerda deixou de ter senso comum.

Na quinta parte da entrevista, aqui, ele discute a discriminação, nomeadamente a transexualidade, que ele defende.
Mas novamente, ele critica os extremismos, dando o exemplo de uma mulher que quando era criança era uma tomboy, uma maria-rapaz. Ela diz que hoje, na Califórnia, iriam convencê-la, em criança, a ser um rapaz. E é este pensamento que está imbuído em muitos eleitores atualmente nos EUA: não querem os radicalismos da extrema-esquerda sobre as suas crianças.

Crédito: CNN

A última parte da entrevista é a que mais se enquadra neste local: Bill Maher fala sobre a pandemia.
Obviamente, ele ataca as políticas de Trump, que fizeram com que a pandemia fosse um desastre completo nos EUA.

O mais interessante são os números que ele apresenta sobre hospitalizados e mortes por COVID-19:
– 78% das pessoas hospitalizadas e mortas com COVID-19, nos EUA, sofrem de obesidade.
– 88% das mortes por COVID-19 em todo o mundo, são em países que têm problemas de obesidade.
– 40% das mortes por COVID-19 são de pessoas que sofrem de diabetes.

Ele diz que estes números não são disseminados na comunicação social, como deveriam ser.

Ele defende que as pessoas devem participar na sua saúde, devem fazer por se manterem saudáveis.
Ele argumenta que as pessoas não podem simplesmente ficar sentadas à espera que as vacinas sejam milagrosas e salvem toda a gente; as pessoas também têm que ajudar, melhorando a sua saúde.

Bill Maher acaba a entrevista defendendo que devemos voltar ao normal: como é notório que as vacinas funcionam, e tendo em conta que as hospitalizações e mortes por COVID-19 baixaram drasticamente em pessoas vacinadas, então a sociedade deveria começar a ver a COVID-19 como: sazonal, com vacina anual de reforço, e que atinge sobretudo as pessoas mais idosas e com comorbilidades (a hipertensão e a diabetes são comorbilidades da obesidade, que é um factor importante nos efeitos severos da COVID-19).

2 comentários

    • Nuno José Almeida on 20/11/2021 at 22:42
    • Responder

    Chamar aos democratas de esquerda! São centro na melhor das hipóteses.

    1. Eu não chamo. É o que é. 😉

      Democratas são de esquerda.
      Republicanos são de direita.

      Tanto uns como outros têm políticos moderados, que estão mais ao centro.
      Tanto uns como outros têm políticos que são mais radicais, e estão nos extremos (extrema esquerda e extrema direita).

      abraço

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