Anemia Espacial

O astronauta Tim Kopra (à esquerda) recolhe sangue do astronauta Tim Peake.
Crédito: MARROW / NASA

Apesar de ser ainda uma amostra pequena, novos estudos de saúde espacial sugerem que estar no espaço destrói mais glóbulos vermelhos.
(da mesma forma que estar durante vários meses deitado numa cama, causa anemia)

Isto, obviamente, tem implicações para missões de longa duração no espaço.

Crédito: NASA

“Astronautas regressam à Terra com menos glóbulos vermelhos.
O corpo humano não evoluiu para viver no espaço e a prova disso está no nosso próprio sangue.

Desde que a nossa espécie começou a passar longos períodos de tempo fora do nosso planeta, os cientistas têm detetado nos astronautas que regressam uma perda consistente de glóbulos vermelhos. A descoberta pode ter implicações complicadas para viagens espaciais de longo prazo, como uma ida a Marte.

O fenómeno chama-se anemia espacial e é conhecido desde as primeiras missões espaciais – mas exatamente porque acontece tem sido um mistério.

Alguns especialistas argumentam que a anemia espacial é apenas um fenómeno de curto prazo – uma breve compensação pelas mudanças de fluidos nos organismos humanos em microgravidade.

Mas um novo estudo aponta, no entanto, para um mecanismo mais destrutivo e duradouro.

Estar no espaço faz com que o corpo humano destrua mais 54% dos glóbulos vermelhos do que normalmente aconteceria na Terra e os efeitos persistem mesmo depois de os astronautas regressarem (…).
(…)
Quando regressaram à Terra, 5 de 13 astronautas envolvidos no estudo (o 14º não deu uma amostra de sangue à chegada) estavam clinicamente anémicos: os níveis de glóbulos vermelhos no seu sangue e os da hemoglobina, componente que transporta o oxigénio, caíram tão baixo que outros tecidos dos seus organismos não estavam a receber oxigénio suficiente.

Na Terra, o corpo humano cria e destrói 2 milhões de glóbulos vermelhos a cada segundo. Mas na Estação Espacial Internacional, os corpos dos astronautas destruíram cerca de 3 milhões de células sanguíneas a cada segundo. Os resultados foram idênticos tanto para astronautas masculinos como femininos.

Já em Terra, os níveis de glóbulos vermelhos dos astronautas estudados voltaram ao normal após três ou quatro meses. No entanto, os seus organismos estavam a destruir cerca de 30% mais glóbulos vermelhos do que antes de irem para o espaço, o que sugere que as viagens espaciais provocam mudanças nos organismos humanos a longo prazo.
(…)

A falta de glóbulos vermelhos pode levar à anemia, uma condição em que o oxigénio não consegue atingir os tecidos do corpo, fazendo com que a pessoa se sinta cansada e fraca.
A anemia causa, assim, cansaço, fraqueza física e tonturas, o que pode ser perigoso para os astronautas que frequentemente realizam tarefas que exigem concentração, precisão e boa condição física.

(…)
Os resultados deste estudo não trazem por isso boas notícias para viagens espaciais de longo prazo, mas os cientistas esperam poder obter ainda mais respostas para dar solução a este problema.

O estudo não mediu a produção de glóbulos vermelhos, mas como nenhum astronauta sofreu anemia grave, apesar das perdas significativas destas células, os investigadores assumem que os organismos dos astronautas continuaram a produzir novas células sanguíneas enquanto estavam no espaço.

Se tal for verdade, o que é necessário é adaptar as dietas dos astronautas porque um aumento da produção de glóbulos vermelhos requer nutrientes específicos uma vez que aumenta a pressão sobre a função da medula óssea, e isso requer um maior consumo de energia.

Se os astronautas não estiverem devidamente protegidos, correm o risco de danificar o coração, os pulmões, os ossos, o cérebro e os músculos quando regressarem à Terra, especialmente em missões de longa duração. (…)”

Fonte (transcrição): SIC Notícias

Fontes adicionais: artigo científico, EurekAlert, MARROW (estudo científico), University of Ottawa.

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