Quem Diz é quem É – Ignorância… Onde?

Na última semana uma jornalista decidiu fazer um estudo amador baseado na casa dos segredos. Ora, uma pessoa que tira ideias de trabalho de um programa de baixo nível só se pode esperar um estudo, também ele, de baixo nível. De estatística tem pouco, de ética também e de deduções realistas nada. Refiro-me obviamente à reportagem saída na Sábado… neste Sábado. Já a li e pareceu-me um daqueles estudos feitos na escola em que o Zezinho come bolachas na secretária, o Manuel chega sempre atrasado e a Maria risca a mesa da sala de aula. Não interessa aqui se são bons alunos ou se fazem melhor os TPCs que os outros. Ainda por cima admite que todos os outros são iguais a este trio.

Num estudo em que 100 elementos corresponde a uma amostra significativa de um universo de centenas de milhar (ou seja, menos de 0,1%) não me parece apresentar um resultado tão fundamentado a ponto de fazer afirmações efectivas. Não se pode analisar de forma séria um estudo em que se infere, por dedução, que uma população é burra a partir de um grupo muito pequeno.

Um macaco atira pedras, logo todos os macacos atiram pedras. Cerca de 100 alunos responderam mal a algumas questões, logo todos os alunos irão ter a mesma prestação. A inferência dedutiva não admite excepções… contudo há excepções. A revista Sábado indica que dos 100 alunos houve 5 que não erraram qualquer questão, logo os alunos não são burros ao contrário do que parece querer afirmar a entrevista.

Outro erro da entrevista, para além de não ter bastantes elementos necessários de um estudo bem elaborado como um grupo de controlo (mas deixemos o que não está e vamos analisar o que está), é o de analisar as questões técnicas feitas a quem nada percebe. Um exemplo, uma coisa é perguntar “quantos quilos tem uma tonelada?” a um matemático ou a um psicólogo ou a um artista. Penso que qualquer um saiba. Agora perguntar “que instrumento toca Maria João Pires?” é diferente. Não é cultura geral. Tal como é normal um aluno de artes não saber qual é o símbolo químico da água… eu também não sei e acredito que todos os colaboradores deste blog desconheçam que a água tenha símbolo químico. Afinal podemos vingarmo-nos e dizer que, se uma jornalista não sabe que a água não tem símbolo químico mas sim fórmula química, então todos os jornalistas são burros. Não interessa se não precisam de saber esta matéria para a sua vida profissional.

Por diversos motivos acho triste esta reportagem. Em primeiro por não ser um estudo bem elaborado; em segundo por deduzir que todos os alunos são burros a partir de um grupo restrito demais e sem ter em conta os exemplos que o contradizem; em terceiro pela exposição e pela forma como divulgam apenas as respostas erradas como se fossem as únicas a serem respondidas; em quarto por algumas das questões não serem de cultura geral mas sim específicas.

Como se pode ver neste vídeo, a pessoa que na revista é intitulada de ignorante, na verdade é inteligente. Basta ver a resposta das 10 questões em vez de ver a única em que falhou por lapso e não por ignorância.

16 comentários

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  1. Boas,

    Eu só acho que se está a levar demasiado a peito tudo, o estudo não tem grande validade assim como qualquer outro que já foi feito na rua sobre vários assuntos (como sobre 25 de abril, 5 outubro, etc). Que há grandes defices de cultura geral, é um facto. Como tb os há noutros paises. Não é com meia duzia de perguntas que se sabe a cultura geral de alguem.
    Uma coisa eu sei, a Sabado consegiu vender o peixe, e causar agitação que acho que era isso que pretendia com este sensacionalismo todo.

    • Ana Guerreiro Pereira on 22/11/2011 at 00:26
    • Responder

    E para citar um leitor vosso, João Freire, “Não desculpando a ignorância que grassa por esse país fora, nunca gostei muito destes vídeos iguais ao da revista “sábado” em que chicos-espertos tentam fazer passar outros por burros. A ignorância não se vê tanto na escolha de respostas falhadas a inúmeras perguntas feitas debaixo da pressão de uma câmara como se vê por exemplo nos actos de algumas pessoas”.

    Lá está.

    E já agora, mais uma vez, o que é cultura geral? Vinte perguntas aleatórias feitas pela sábado? Se se acha que sim, então pronto, rendo-me…e desisto. 😛

    “É irritante verificar vezes sem conta a valorização social da acumulação de factos enciclopédicos arbitrários. É paternalista, moralista e perigoso.” disse outro comentador.

    Mais triste que a suposta ignorância cultural das pessoas que foram entrevistadas ali, é a manipulação e a formulação de opiniões com base em “estudos” pouco crediveis. Coleccionar factos é fácil. Relacioná-los… ah poisé.

  2. O estudo revelou que o,programa “A Casa dos Segredos” é patrocinado pelo Ikea:

    I – Os elementos do sexo masculino são semelhantes as armários.
    II – Os elementos do sexo femenino parecem fáceis de montar.

    Conclusão:
    Gostava mais da TVI quando passava as séries “XFiles” e “Babylon 5”.

    • Manel Rosa Martins on 21/11/2011 at 22:15
    • Responder

    A Susana usa uma argumentação muito frágil. Por exemplo eu não me revi na estupidez da jornalista. Ela teve tempo de preparar as perguntas e cometeu erros grosseiras nas mesmas, desde chamar quilos quando são quilogramas a inventar um símbolo químico para a água, que não é um Elemento. Depois foi em vários casos só publicar 1 resposta errada em 10 apagando as outras 9. Não se trata aqui de defender meninos, trata-se de defender alunos duma reportagem escabrosa e manipulada cujo único objectivo foi retratar os alunos como incultos e ignorantes e por arrasto as universidades como centros de passatempo. É esse o objectivo, denegrir, deitar abaixo, manipular, para vender bugigangas na publicidade.

    Tanto assim é que um dos alunos está a mover um processo judicial por calúnia e difamação. Já que referiu os EUA porventura nesse país a indemnização levaria a sábado para a falência financeira, para além da falência de ética deontológica onde já estão atolados.

    Parece pelos seus comentários que a Susana está a argumentar sem ter lido o post, só está a argumentar os comentários de per si. Não que isso seja proibido ou incorrecto, só que fica, como ficou, bastante frágil.

  3. http://ktreta.blogspot.com/2011/11/treta-da-semana-cultura.html

    E atentem tb ao comentário do Alberto, com o qual concordo: “É irritante verificar vezes sem conta a valorização social da acumulação de factos enciclopédicos arbitrários. É paternalista, moralista e perigoso.”

  4. Não li a reportagem na Sábado, mas vi o video e tenho lido algumas das reacções negativas em relação ao mesmo.
    É perfeitamente normal que uma pessoa – qualquer pessoa – numa situação de stress ou nervosismo dê grandes calinadas. Já aconteceu a todos e não somos menos inteligentes por isso. E até acredito que em dez perguntas tenham errado uma, e tenha sido essa a transmitida. E sim, o video está feito de maneira a ridicularizar os alunos. Mas há ali respostas confrangedoras, convenhamos.
    Cultura geral não tem nada a ver com a área de estudos/ profissional que seguimos, aí já se fala em conhecimentos específicos. Eu sou da área de História e desde o meu 8º ano que sei qual a fórmula química da água, entre vários outros símbolos químicos da tabela periódica. Não se compreende, portanto, que um aluno de matemática ou de outra área qualquer que não das letras não saiba quem escreveu Os Maias… Porque tiveram que ler a obra durante o secundário, ou não?
    Se me perguntam se a questão sobre O Padrinho é de cultura geral, eu digo que sim, mas não me espanta nem me choca que não saibam, agora espanta-me – e choca-me – muito que não saibam quem é a Angela Merkel ou o presidente da Comissão Europeia…
    Também não me espanta que não se saiba distinguir as obras do Michelangelo das do Leonardo Da Vinci, mas dizer que quem pintou a Mona Lisa foi o Leonardo Di Caprio…

    O video termina com uma aluna que diz “cultura geral não é comigo”, e isso resume tudo.

    1. Sim, há respostas terriveis, sem dúvida. 🙂 Mas, pelo menos a meu ver, o que está em debate acaba mais por ser quem é que decide o que é cultura geral e passa isso pelos media. E, como disse atrás, uma jornalista que edita imagens, não sabe faze estudos estatisticos e não sabe o que é um simbolo quimico, não devia ser. E muito menos deviam ser somente dez questões arbitrárias que nem sequer têm em conta a geração em questão. Qto aos Maias, não estou a par se ainda são dados a Português. Eu dei-os e amei-os, parti-me a rir com o Amor de Perdição (sou uma inculta, pá) e detestei o viagens na minha Terra. Três anos depois já se dava a Sibila da Agustina. Os curriculos tb mudam, logo, as obras estudadas tb. E este estudo não teve em conta a geração entrevistada. Se tivesse tido não lhes perguntavam quem era o padrinho.

        • Susana on 21/11/2011 at 16:25

        Ana, tu estás a insistir na questão d’O Padrinho quando, a meu ver, nem é essa a que mais choca.
        Desculpa, mas o que foi perguntado não é cultura geral de há 15 anos, cultura geral é cultura geral, sempre! E é transversal a todas as áreas do saber. Por isso é que é “geral”…

        Aqui há um tempo circulou na net um video em que se perguntava a cidadãos americanos várias perguntas de cultura geral e as respostas eram tão hilárias como estas. O mesmo aconteceu com um video em que as Misses americanas diziam asneira atrás de asneira. Curiosamente, não vi ninguém manifestar-se contra isso e parece-me que até houve mais gente a partilhá-los nas redes sociais do que este. Porquê? Porque são americanos, é? Esses já podem ser burros, os nosso meninos não? Ou será porque se calhar muita gente (demasiada…?) se reviu neste?

        • Ana Guerreiro Pereira on 22/11/2011 at 00:21

        Susana, sabia que esse tal video americano foi manipulado? que trocaram as perguntas e as respostas de forma a parecer que tinham errado?… lá está.

        Claro que usar um video manipulado, com perguntas seleccionadas por uma jornalista que não sabe o que é um simbolo quimico, nem unidades de medida (já que estava a falar de cultura geral) e que decidiu ela mesma definir cultura que, como a susana diz e bem é conhecimento transversal e, por ser transversal é vasta e diversificada, e, para cúmulo, reduzi-la a umas quantas questões aleatórias que não passam de uma acumulação ao calhas de factos e nomes, sem qq respeito pela diversidade, geração (sim, a questão do padrinho é importante; é um filme que foi de culto há mais de vinte anos!!! hoje, é-o mais para aficionados, logo, entra no conceito de cultura especifica)…. e isto feito por quem , vamos lá repetir? por uma jornalista que revelou estar mal preparada, que não sabe o que é um estudo estatistico e por uma revista q é um pasquim.

        Mas pronto, se prefere entender a critica ao video em questão e ao estudo em questão como “será porque se calhar muita gente (demasiada…?) se reviu neste?”………… é consigo.

        Já agora, eu sabia responder a todas as questões. Trabalho todos os dias com muita ignorância, demasiada. Pior, com a ignorância do chico-espertismo e da arrogância ignorante. È interessante, então, estar a criticar este video, não é?… Talvez porque, acima de tudo, prezo a verdade, ou pelo menos a aproximação á mesma. Talvez porque, acima de tudo, não formulo opiniões com base em videos manipulados e editados, e no caso do video americano totalmente editado de forma a trocar perguntas e respostas, nem em estudos pouco crediveis.

        De resto, a ignorância não está em questão. Nem a falta de cultura geral. Que sabemos que existe. O que está em questão é um video manipulado e pouco credivel que está a formar opinião pública com base em manipulação.

        E, pessoalmente, acho interessante que a Fátima Lopes e a JUlia Pinheiro serem das que mais espalham disparates na TV e, no entanto, provavelmente responderiam correctamente a todas as questões. Talvez falhassem uma – e aí, ai, ai, era logo essa que seria seleccionada para ser “estudada”.

        Tb acho interessante que as poucas perguntas sobre cultura cientifica fossem logo as que foram mal formuladas… muito interessante. Claro que se souber quem era o padrinho, não tem problema nenhum, é-se culto (estou só a aplicar a lógica do video – só que eu em vez de “mostrar” a pergunta errada do meu entrevistado ficticio, escolho mostrar a única correcta – portanto, o meu entrevistado é mto culto, não interessando que tenha falhado todas as outras…).

        Não é a ignorância cultural q está em questão. É o estudo.

    • Nuno Henriques on 21/11/2011 at 15:21
    • Responder

    Concordo bastante com o expresso pelo autor deste artigo, mas não posso deixar de discordar com algo que considero importante.
    É que, em minha opinião, as questões ERAM de cultura geral, e não relativas a “aspectos técnicos” desta ou daquela profissão. E sim, acho que tod@s deveríamos saber quem é e o que toca a Maria João Pires.

    Respeito à não-amostra, ou à mais que expectável manipulação do vídeo, creio que isso era mais que esperado. Um vídeo com estudantes a responder acertadamente não vende revistas!

    1. Eram? Saber quem foi no padrinho é cultura geral de hoje? E saber o simbolo quimico da água, tb é?…

      Mas concordo, todos deveriamos saber quem é a MJPires, quem pintou a capela “cristina”, a mona lisa, etc. De acordo. Mas, como eu disse, quem decide o que é cultura geral? Uma jornalista que não sabe o que é uma tonelada nem um simbolo quimico e um pasquim que só quer vender?… como disse outra pessoa, noutro local, “É irritante verificar vezes sem conta a valorização social da acumulação de factos enciclopédicos arbitrários. É paternalista, moralista e perigoso.”

      E foi isso que fizeram aqui: perguntas arbitrárias. Tivessem tido a sorte de lhes calhar as que sabiam responder… mas não, tiveram o azar de lhes calhar precisamente as únicas q secalhar não sabiam.

      Quase nenhum miúdo de hoje saberá quem foi Marlon Brando e o padrinho. Tal como de certeza nós não sabemos quem serão os heróis actuais deles. Somos ignorantes e incultos, então.

        • Ana GP on 21/11/2011 at 15:48

        se calhar. 😛 desculpem, sou uma ignorante inculta que não sabe escrever (se tivesse sido entrevistada :D)

  5. Mas…

    Existia ali alguma questão que não fosse de cultura geral?!?

    Por esse ponto de vista não existem questões de cultura geral, já que são todas especificas a determinada área ou a determinada disciplina.

    Não só eram de cultura geral, como há 15 anos (no meu 10º ano) não saber responder a qualquer uma daquelas perguntas era motivo de chacota entre amigos.

    Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

    O artigo da Sábado é tendencioso, e acho que era mesmo para ser assim.

    A questão é se respostas como esta, também têm o objectivo de serem tendenciosas e ganham valor tendo esse propósito, ou são apenas parvas.

    O Nilton arranjava estas pequenas amostras de semana a semana durante um ano.

    http://www.youtube.com/watch?v=EIaDNO2Lamg

    Existem largas dezenas destes e mesmo que a amostra continue insignificante para o número total de estudantes, acho que a melhor sequência a dar a este tipo de “estudo”, ou para a chamada de atenção propositadamente exagerada para o que está a acontecer , não é refutar que existe falta de cultura geral a rodo nos jovens Universitários.

    Até porque o que eu venho a assistir é que consigo manter discussões com um largo número de pessoas em fóruns, blogs, etc. e quando encontro essas mesmas pessoas pessoalmente, os argumentos esgotam-se e em pouco tempo se acaba uma conversa.

    Eu ia mais pelo caminho: Hoje não é preciso saber, porque qualquer telemóvel tem um browser.

    1. Há 15 anos. A cultura não evolui? Saber quem era o padrinho é cultura geral? É, mas de há 15 anos. E quem decide o que é cultura geral e o que é ignorância? é culto quem sabe responder a dez questões, algumas de uma cultura geracional de há 15 anos, como a do padrinho? e é burro quem falha uma? é q foi isso que a sábado praticamente disse. E pelos vistos, cultura tb é saber o que é o simbolo quimico da água, mesmo que tal coisa não exista sequer.

      O que está em debate é o video em questão e o pseudo-estudo em questão. Não é propriamente a falta de cultura ou ignorância, que todos sabemos, bem demais, que existe. Ainda para mais, todos somos ignorantes em alguma coisa, seja ela especifica ou generalista.

      Os estudantes de letras ou afins, qd não sabem algo generalista de ciências, são desculpados com o “ah, são de letras”. Os de ciencias são ridicularizados qd não sabem algo de letras… quem decide o que é cultura geral? a sábado, esse pasquim, não pode ser de certeza.

      É verdade que é engraçado, ou mesmo assustador ver que há pessoas que não sabem responder a questões básicas. Mas, saber quem foi o padrinho, é uma questão básica?… talvez há 15 anos atrás, talvez para um estudante de cinema.

      E pq é q cinema, arte, literatura, politica, geografia, são consideradas cultura geral e qd entramos na ciencia já existe a “desculpa” de que, ah, isso é especifico?… basta ver a fritalhada que sai nos programas da fátima lopes ou da julia pinheiro. E essas de certeza que sabem quem pintou a mona lisa, a capela “cristina”, quem foi o padrinho….e provavelmente até o simbolo quimico da água… 😛

      A questão aqui é que este estudo em concreto é lixo. Não representa nem mostra nada, é aleatório, tendencioso, e ainda por cima a jornalista em si demonstrou ser ignorante. E vamo-nos guiar por ele?… acho que os programas do NIlton, um após outro, sempre são mais crediveis.

  6. Sim, é verdade… mas foi assim mesmo que foi colocado na reportagem… já pus com aspas para se perceber melhor também.

    Parece que no curso de jornalismo não se dá química nem análise de grandezas… Oh é jornalismo. E queria a senhora que estudantes de psicologia ou letras ou artes soubessem essas coisas.

  7. Já agora a propósito do vídeo (já que falaste da fórmula química da água): 1 tonelada são mil quilogramas e não mil quilos. O quilo significa mil vezes a grandeza física que lhe associarmos a seguir. Ex.: 1 km = 1000 m; 1 kg = 1000 g; etc.
    Abraço

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