Atirar um Dardo para desviar asteróides

Em 2011, escrevi este artigo onde esclareci várias formas de desviar asteróides.
Nesse artigo, informei que, ao contrário dos filmes, fazer explodir uma bomba de modo a destruir o asteróide é o pior método de todos: em vez de um enorme asteróide, teríamos milhares de grandes detritos a cair na Terra simultaneamente em todo o lado.

Colocar uma sonda perto do asteróide e atraí-lo gravitacional, ou colocar uma sonda no asteróide e empurrá-lo para longe, seriam métodos mais eficientes.
Um outro método similar é atirar uma sonda contra o asteróide, empurrando-o ligeiramente para uma órbita diferente.

Uma característica destes métodos é que o asteróide tem que ser detectado a tempo (mais de 6 meses), e não estar quase “em cima” da Terra, de modo a haver tempo para ele, na sua nova órbita, se desviar da Terra.

Em 2017, escrevi sobre a missão DART (tradução em português: Dardo), neste artigo.

Nessa altura escrevi que:

Com esta missão, a NASA pretende pela primeira vez desviar um asteróide.
A missão chama-se DART – Double Asteroid Redirection TestTeste de Redirecionamento de Asteróide Duplo.

A técnica para desviar o asteróide chama-se Impacto Cinético: uma pequena sonda colidir com o asteróide de modo a mudar-lhe ligeiramente a trajetória.

O alvo será o asteróide Didymos.
Este asteróide passará a 11 milhões de km de distância da Terra em 2022. Ou seja, a distância é perfeitamente segura e longe para se testar este método.

O asteróide chamado Didymos (em grego quer dizer “gémeo”) é na verdade um sistema binário: são dois pequenos asteróides a orbitar-se mutuamente.
Didymos A tem cerca de 780 metros de comprimento.
Didymos B tem cerca de 160 metros de comprimento.

Didymos B leva 11 horas e 55 minutos a orbitar o asteróide principal Didymos A.

A colisão será com o Didymos B, o menor asteróide.
A colisão dar-se-à a uma velocidade de 6 km/s, o que é nove vezes mais rápido que uma bala.

Créditos: NASA / Johns Hopkins APL / Steve Gribben

Os cientistas desta missão dizem que o facto deste asteroide ser binário é “o laboratório natural perfeito para este teste”, já que se espera que “seja mais fácil ver os resultados do impacto” e também se espera que este teste não mude a órbita do asteróide duplo (de ambos os asteróides) ao redor do Sol. Espera-se sim que a órbita de Didymos B mude um pouco ao redor de Didymos A. E isso poderá ser medido pelos cientistas a partir da Terra.

Por outro lado, o facto do asteróide impactado ter somente 160 metros faz com que, caso hajam consequências imprevisíveis e o asteróide passe a vir na nossa direção, o resultado da devastação seria regional. Não seria um asteróide capaz de acabar com a Humanidade.

No entanto, pessoalmente deixei algumas dúvidas quanto a esta escolha do asteróide (ser asteróide duplo), já que poderão existir consequências imprevisíveis que afetem o asteróide principal.
Esperemos que não, já que devemos confiar que os diversos cenários foram todos previstos.
Aliás, o impacto deverá ser fraco, não tendo força suficiente para desviar o asteróide menor da sua órbita normal como lua do asteróide maior.
As estimativas (os cálculos) apontam para que a colisão reduza a órbita do Didymos B em cerca de 10 minutos.

Nesta quarta-feira, 24 de Novembro de 2021, a NASA lançou esta missão DART para desviar a trajetória do asteróide Didymos B, que no ano 2020 foi renomeado: agora chama-se Dimorphos (Dimorfos, em português).

A colisão vai dar-se no final de Setembro de 2022.

Tom Statler, cientista da NASA, disse que este teste será histórico, já que pela primeira vez, a humanidade mudará o movimento de um corpo celeste natural no espaço.

O objetivo é, evidentemente, testar métodos eficazes para desviar asteróides, caso precisemos de realmente utilizar um método no futuro: se um asteróide grande vier na direção da Terra.

Fontes: NASA, NASA (DART), NASA.

4 comentários

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    • Ademir Freitas Dias on 01/12/2021 at 03:58
    • Responder

    Embora seja cubra teorias da conspiração, acho muito estranha a natureza e alvos dessa missão. Por quê a necessidade da fazer isso em um asteroide duplo com as implicações que mencionou? Por quê não outro astro indo em outra direção bem distante de nosso planeta? E, se der errado, quem deu o direito de achar uma devastação regional como aceitável? Muito estranho, muito rápido, muito pouco discutido e explicado. Parece até que tem algum bólido vindo em boa direção mas devidamente ocultado. Apophis? Outro?

    1. Oi Ademir,

      Este está bem distante do nosso planeta 😉

      O Apophis está controlado, pelo menos durante os próximos 15 anos.
      https://www.astropt.org/category/meteoros-asteroides-cometas/asteroides/apophis/

      O problema são os asteróides que ainda não detetamos…

      abraços!

    • Jonathan Malavolta on 28/11/2021 at 20:30
    • Responder

    Será transmitido via internet, tv ou algum outro método? Estou ansioso por ver as imagens disso.

    1. Não teremos live streaming 🙂

      Mas teremos parecido… 😉

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Double_Asteroid_Redirection_Test#Espa%C3%A7onave_secund%C3%A1ria
      “Espaçonave secundária
      A Agência Espacial Italiana (ASI) contribuirá com uma espaçonave secundária chamada LICIACube (Light Italian CubeSat for Imaging of Asteroids), um pequeno CubeSat que pegará carona com o DART e se separará 10 dias antes do impacto para adquirir imagens do impacto e material ejetado, à medida que deriva passando pelo asteroide. O LICIACube se comunicará diretamente com a Terra, enviando imagens do material ejetado após o sobrevoo de Dimorphos.”

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