Tomate na arte

Crédito: Just Stop Oil

Tenho muita dificuldade em entender as ações dos ativistas ambientais do movimento “Just Stop Oil”.

Como é que atirar sopa a pinturas artísticas, pára o petróleo?
Como é que vandalizar arte, protege o planeta?

O que conseguiram com atirar sopa de tomate ao famoso quadro “Girassóis”, de Van Gogh?
O que conseguiram com atirar sopa ao quadro “O Semeador”, de Van Gogh?
O que conseguiram com atirar sopa de tomate ao quadro “Rapariga com Brinco de Pérola”, de Vermeer?
O que conseguiram com atirar puré de batata a um quadro de Monet?
O que conseguiram com atirar uma torta ao quadro “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci?
O que conseguiram com atirar bolo de chocolate a uma figura de cera do novo rei Carlos III?

Conseguiram desperdiçar comida… e pouco mais.
Aliás, também estragaram molduras e vidros, que é preciso substituir, levando a um gasto maior de matérias-primas. Consequentemente, terá de haver uma maior produção e transporte dessas matérias-primas.
Ou seja, o protesto levou a um maior desperdício de recursos e utilização de combustíveis (para transporte).
Assim, a consequência final destas ações, é um agravamento das condições que potenciam as alterações climáticas…

Compreendo que o objetivo deste terrorismo artístico é terem uma maior visibilidade mediática.
Mas não compreendo a linha de pensamento que leva, no final, ao combate às alterações climáticas.

Há 7 anos, quando o Estado Islâmico queimou milhares de livros e destruiu estátuas com milhares de anos, teve muita visibilidade. Mas isso quer dizer que estava a proteger o planeta e a combater as alterações climáticas?
Claro que não. Não faria sentido essa suposta correlação. Tal como não faz agora.

Ações tremendamente negativas, têm visibilidade a curto prazo, mas não levam a resultados positivos de longo prazo.

Não cheguei a perceber algumas das ações dos ativistas ambientais nos museus.
Por vezes, atiraram sopa a um vidro (que protege a obra de arte). Assim, basta um simples pano para limpar. Ou seja, a ação de suposto vandalismo é só uma forma de dar trabalho à equipa de limpeza.
Se por acaso, a obra de arte não tem vidro, então fica irremediavelmente estragada (os ativistas dizem não se importar com isso). E aí, repito a pergunta: como isto ajuda no combate às alterações climáticas?

Também não cheguei a perceber porque atingiram duas pinturas de Van Gogh, e não atingem pinturas de Picasso, por exemplo.
Picasso era a favor de materiais amigos do ambiente?

Para quando uma educação patrimonial para que os jovens percebam que não é a destruir património da Humanidade que conseguem os seus intentos?

Quando é que estes jovens vão perceber que não é a alienar a população (praticando ações drásticas), que vão ter o apoio da população?
Estas ações não persuadem ninguém para o movimento climático, mas repelem as pessoas sensatas e equilibradas.

Quando é que estes jovens vão entender que as suas ações só levam a uma conversa/discussão sobre se as suas ações são válidas, e não a uma discussão sobre as alterações climáticas?
Note-se que ninguém discute as suas ideias (corretas) sobre as alterações climáticas, discute-se sim as suas ações radicais.

Será que estes jovens percebem que estão a seguir os passos de Mary Richardson, que em 1914 golpeou com um cutelo o quadro “Vénus ao Espelho”, de Velázquez, porque supostamente isso ajudava o movimento sufragista (direito das mulheres ao voto)? Lembro que ela só ficou na história por este seu ato de terrorismo artístico, e não é relevante no movimento sufragista. Outras mulheres, sim, foram heroínas nesse movimento sufragista. Já Mary Richardson, após estes atos, aderiu ao movimento fascista inglês.

Quando é que estes jovens vão entender que estão a ser manipulados pelas grandes empresas petrolíferas?
Lembro que alguns destes grupos de ativismo climático são financiados por milionários americanos, que fizeram fortuna precisamente à custa da exploração do petróleo e que viajam em jatos privados…


Em vez destas ações de terrorismo artístico, para mim, seria muito mais vantajoso que estes jovens estudassem ciência, nomeadamente nas áreas de desenvolvimento da “tecnologia verde”.
Se criassem tecnologia verde verdadeiramente eficiente, acessível e barata, certamente que ela seria abraçada pela civilização. Isto levaria à falência das grandes empresas poluentes, ou, no mínimo, à sua obrigação de mudar de tecnologia (para a verde) se quisessem continuar a ter lucro.

1 comentário

    • Jonathan Malavolta on 09/11/2022 at 11:11
    • Responder

    Eu sou do tipo que pratica ações, porém ações precisam ser coerentes. Se eu quero protestar contra o desmatamento, prefiro me acorrentar a uma árvore do que desperdiçar comida (afinal, eu também sinto fome) em obras de arte (sou artista de profissão, entre outras coisas, e conheço pessoalmente muitos artistas que são “amigos do verde”, inclusive que já propuseram no Congresso Brasileiro ações de desenvolvimento sustentável). Isso chega a ser infantilidade ridícula.

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