Esta Energia Escura, que é a aceleração da expansão do Universo, corresponde a cerca de 68% das forças em acção no Universo, e parece achar piada a funcionar ao contrário de todos os outros campos força conhecidos.
A saber, o campo força gravitacional aumenta de intensidade quando os corpos massivos se aproximam, o campo eletromagnético idem, basta verificarem o íman colado, ou perto, do frigorífico/geladeira.
A força nuclear forte funciona em distâncias muito pequenas e fica muito aborrecida (aumenta a intensidade) caso os quarks se tentem afastar uns dos outros, pois quer manter os núcleos dos átomos coesos.
A força nuclear fraca funciona com as partículas literalmente a atravessarem-se umas nas outras, num mecanismo chamado tunelagem quântica que tem por efeito a luz do Sol e o arrastamento dos ícones dos aplicativos nas telas digitais. Sim, do vosso telefone celular / telemóvel.
Todos, minha boa gente, gostam da proximidade, de encurtar distâncias, funcionam bem com as coisas bem perto umas das outras.
Mas a danada e fantástica Energia Escura faz tudo ao contrário, quanto mais as galáxias estão mais longe umas das outras mais rápido se afastam por arrastamento do tecido onde estão costuradas.
Nesta expansão do Universo, ou espaço-tempo, o tecido é que se expande: não é um movimento próprio das Galáxias, mas estas, coitadas, são levadas para bem longe umas das outras em grandes distâncias.
A Energia Escura abomina a proximidade e sente-se à vontade, e é cada vez mais intensa, com as escalas grandiosas das enormes distâncias.
Quanto mais longe estão as coisas, maior a sua força: mais depressa ainda faz afastar as coisas.
Isto é estranho, ninguém estava à espera (excepto talvez Lemâitre e até certo ponto Einstein).
É fácil de explicar, quase impossível de entender, e é, convenhamos, muito louco.
É a Natureza a ser como ela é em vez de ser como nós achávamos que ela deveria ser.
Entretanto, muito recentemente, uma equipa de astrofísicos descobriu uma estranha relação temporal e de massa entre o crescimento de enormes, gigantescos, buracos negros no centro, ou núcleo, dum certo tipo de Galáxias em que a produção de novas estrelas há muito cessou, já que esgotou o combustível que gera os discos proto-estrelares/planetários, e o crescimento expansivo do Universo.
De forma mais simples: afirmam haver uma relação direta entre o crescimento desses buracos-negros e o crescimento do Universo.
Acrescentando a esta extraordinária afirmação dados, que embora NÃO concludentes, apontam para um Acoplamento Cósmico descomunal e para a causa, ou origem, da Energia Escura, estar no interior dos não menos misteriosos buracos negros.
Respirem, que bem merecem, se leram isto.
Convém apontar que estes trabalhos foram recebidos com seriedade e com muito salutar ceticismo pela comunidade científica.
Desde logo porque os autores estão e estabelecer uma correlação causa-efeito frágil, desde logo porque pura e simplesmente nem apontam um mecanismo.
O facto dos Buracos Negros observados (adiante SMBH) terem aumentado a sua massa, quando foram observados num período de tempo ínfimo não refuta a teoria da co-evolução dos buracos negros dos núcleos galácticos e a evolução da galáxia onde estão embutidos.
Se os autores apontam uma massa destes SMBH entre 7 a 20 vezes maior do que a explicada pelos mecanismos de acreção de matéria e de fusão com outros buracos negros, e, ao mesmo tempo, a aceleração do Universo ter-se intensificado, isso não tem uma projeção temporal de evolução suficiente para robustecer este chamado Acoplamento Cósmico.
Os dados não atingem uma incerteza de 5 sigma, pelo que são manifestamente insuficientes para se proclamar uma descoberta.
Os autores, cientes dessas limitações, publicaram os seus trabalhos (aqui e aqui) no sentido destes serem alvos de revisão e de muitas observações independentes.
Com a frota de telescópios disponível hoje e num futuro breve será uma hipótese a refutar ou a prosseguir, caso sobreviva a esses testes.
Apesar da sua fragilidade, não deixa de ser uma hipótese atrativa, até porque se desfaz da necessidade do objeto matemático singularidade nos buracos negros e suscita um debate interessante.
Teremos de encontrar, cada um de nós, um equilíbrio entre deixar a nossa mente viajar por este fabuloso universo e, ao mesmo tempo, termos os pés bem assentes na Terra.
Este trabalho justamente desafia esse equilíbrio, o que é, como melhor diria o Dr. Spock: Fascinante!!
3 comentários
Salve Ricardo, abraço também.
A única revisão digna desse nome veio do Astrofísico Ethan Siegel que publicou um post na sua habitual coluna na publicação Big Think Starts with a bang – Ask Ethan.
O texto revela-se de grande qualidade e o Ethan edifica o seu cepticismo quanto a este “Acoplamento Cosmológico” aproveitando para nos dar uma excelente explicação do que está em causa, no fundo porque foi seguida esta linha de pesquisa.
Atribui também um sigma 3.9 σ de significado estatístico, o que é interessante mas não constitui uma descoberta.
Eis o weblink
https://bigthink.com/starts-with-a-bang/black-holes-dark-energy/
Obrigado meu amigo.
Conheço esse blog do Ethan… muito bom.
Contudo, penso que o tema está mais para uma controversa hipótese.
Vamos aguardar.
Abs
Salve meu amigo Manel.
Sabe se esse tema controverso evoluiu?
Os artigos foram efetivamente alvos de revisão?
Forte abraço.