Mulheres na religião

Até à minha adolescência, devido à minha família, frequentei bastante a missa: pelo menos, uma vez por semana.
A partir do momento em que comecei a pensar por mim, afastei-me da Igreja e passei a ter pensamento crítico sobre o que lá se passa.
Desde essa altura, normalmente só assisto a missas em casamentos, batizados e funerais.

Como disse há uns dias atrás, recentemente assisti a um casamento.
Já não assistia a uma missa há 2 anos, também devido a um casamento.

Não sei se foi por estar mais atento, mas fiquei chocado com a forma como a mulher foi retratada nas diversas leituras bíblicas e considerações do padre.

Crédito: Josué Michel / Unsplash

A mulher é vista como só existindo em função do homem. Sem o homem, a mulher não tem significado.
A mulher é vista como servidora do homem.
A mulher é vista como amante do homem.
A mulher é vista como esposa do homem (praticamente não existindo, se não fôr casada).
A mulher é vista como mãe de filhos: essa é a sua função principal.
A mulher é vista como cuidadora do lar: ela tem de trabalhar em casa.

Estas foram algumas das notas que fui tirando, enquanto a Bíblia era lida.
Certamente que podem acrescentar vários outros pontos.
Basicamente, a mulher é vista como um cidadão de segunda categoria.

Pode-se pensar que há cerca de 2000 anos, quando a Bíblia foi escrita, esse era o papel da mulher.
Mas sabe-se que algumas mulheres chegavam a posições de poder: oradoras como Jesus, Hypatia, etc. Maria Madalena até tem um Evangelho. E Lilith até foi uma personagem principal no começo da Humanidade (segundo a religião).

Assim, o que me parece é que os livros religiosos posteriores foram escritos por homens, e tudo o que dizia respeito a mulheres era colocado num papel secundário (como a Eva ser uma costela, secundária, de Adão). Esta foi uma forma de controlo essencial ao longo da História.

O que não compreendo é como, em pleno século 21, ainda exista tanta gente a seguir estes escritos sexistas.
E não é só na Bíblia da religião Católica. Em menor grau, ou em muito maior grau, estes “ensinamentos” sexistas estão espalhados por praticamente todas as religiões.

Em pleno século XXI, como é que as mulheres ainda aceitam que escritos de homens de há quase 2000 anos, imponham a sua supremacia sobre elas?

Faço a comparação com pessoas de “outras cores” (racismo).
Imaginem que o chamado “livro sagrado” dizia que as pessoas negras eram inferiores. Imaginem que o “grupo de elite” tinha como regra: “não se aceitam negros”. Certamente que iriam existir inúmeras manifestações contra isso, e essa religião cairia a pique na população e seria vista como uma seita racista.
Tendo em conta que Jesus era do Médio Oriente, imaginem que a sua religião, em pleno século XXI, ensinava que: “não se aceitam caucasianos”. Eu consigo prever a imensa quantidade de “virgens ofendidas” (homens caucasianos) em cruzadas contra essa religião.

Por isso, mais uma vez, deixo a pergunta: como em pleno século XXI, as mulheres aceitam (e até seguem) uma religião que as considera inferiores e que não as deixa subir aos lugares de poder?

Para mim, é incompreensível como as mulheres continuam a assistir a eventos religiosos onde os ensinamentos são constantemente a rebaixá-las.


Esta foi mais uma reflexão social que tive, após assistir a um evento religioso.

Parece-me que é uma reflexão semelhante a um extraterrestre que, vendo de fora, olhasse para a população humana (em que 49,6% são mulheres) e percebesse que metade dessa população era tratada (e aceita ser tratada) como se valesse menos.

2 comentários

    • Jonathan Malavolta on 09/09/2022 at 12:07
    • Responder

    Me lembrei de Bill Maher agora: Em uma das viagens para gravar entrevistas e documentários para seu talk show, Bill se encontrou com um grupo de caminhoneiros, todos cristãos (acho que católicos ortodoxos, a julgar por suas falas). Em um dado momento, quando todos já estavam cientes do ateísmo de Maher, o criticaram por ele falar mal de deus (do deles, é claro; se sentiram ofendidos, creio) e uma das mulheres presentes (esposa de um dos caminhoneiros) teria mandado Bill Maher ler a bíblia. Ele mandou na lata:
    “Amigos, acho que não é segredo a nenhum de nós que a bíblia foi escrita por homens. E quando digo “homens”, me refiro a quem tem um pinto entre as pernas.”
    Logo em seguida, deu uma piscadinha bem irônica para a mulher que o havia mandado ler a bíblia. Imagino que ele estivesse simplesmente mandando de volta um “leia-a você, verá o que está escrito lá sobre vocês, mulheres”.

    1. Adoro o programa de Bill Maher.
      Ele tem imenso sentido crítico 😉

      Apesar de por vezes se tornar ofensivo 😉

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